Sora

A tensão acabou me dominando e eu comecei a recuar cada vez mais. Soji já conseguia se levantar e me olhava abismado. Aoi e Sion nos observavam de longe, dando gritos incompreensíveis a distância. E Ayaka ainda lutava vorazmente contra o monstro, sem sequer perceber nossa presença. A luz azul começou a brilhar novamente de minhas mãos, dessa vez me envolvendo em uma chama azul. Soji começou a recuar, assustado, “Esse poder...”

Sion conseguiu correr até nós e falava com paciência e medo. “Sora, você tem que abaixar a chama...”, ele falava com calma, o que me fazia ficar cada vez mais tenso. A chama começava a se espalhar a minha volta, consumindo as poucas coisas que haviam ali. “Abaixe a chama, Sora.”, Sion gritou para mim e, dessa vez, não chamou somente a minha atenção, mas a do monstro também.

Ele se virou para nós, olhando para a chama azul. “O poder do submundo...”, a voz dele ecoou em minha mente, de modo medonho. Mas ele parecia ter mais medo de mim e logo começou a fugir para longe. Não tardou para que um corte final aparecesse em seu corpo e ele sumisse como uma sombra. Ayaka caiu perfeitamente em pé no chão e me olhou. As chamas não pareciam a assustar como aos outros, mas ela me deu um alerta calmo.

“Sora, controle o seu medo.”, a espada em sua mão desapareceu e ela começou a se apróximar. Os outros pareciam se afastar cada vez mais, com medo do poder que emanava de mim. A chama começava a se espalhar cada vez mais, chegando mais perto de Ayaka a cada instante.

“Se afaste, Ayaka... Eu não sei o que isso pode fazer com você.”, eu consegui falar, recuando. Mas ela não parecia se importar, continuava se aproximando cada vez mais.

“Nada vai acontecer comigo, agora se acalme.”, eu balancei a cabeça, incapaz de escutar o que ela estava tentando me falar. “Controle o seu medo.”

Meu coração acelerava cada vez mais, quanto mais Ayaka se aproximava de mim. Seus passos pareciam fazer as chamas se espalharem cada vez mais e uma dor começava a crescer em meu peito. “Eu não consigo.”, por alguns instantes, parecia que aquela escuridão que estava em Ayaka antes começava a me dominar cada vez mais. E se eu matá-la... Nunca me perdoaria., eu pensei, engolindo em seco. “Se afaste.”, eu falei de modo mais duro e, acompanhando meus pensamentos, as chamas começaram a se espalhar mais, chegando a parar na frente de Ayaka.

Aquilo não a impediu, ela pisou diretamente naquele fogo azul. Do seu corpo, uma leve luz emanou e as chamas a sua volta começaram a desaparecer. Ela se aproximou cada vez mais de mim, até que parou a minha frente. Suas mãos delicadamente encostaram nas minhas e ela me olhou com um sorriso manso. “Você consegue, Sora.”, eu me concentrei no brilho de seus olhos por alguns instantes, me imergindo em tudo que a existencia dela significava. Quando olhei novamente, as chamas a nossa volta haviam desaparecido, deixando somente as marcas no chão.

Ela se afastou em seguida, olhando para mim com calma. “Você é mais perigoso do que eu imaginava, Sora.”, ela falou, olhando para Soji, Aoi e Sion, que agora se aproximavam novamente. “A partir de hoje, eu terei que acompanhar o treinamento dele...”, ele assentiram. “E de quem foi a ideia de trazê-lo para o campo de batalha?”, ela se direcionou para eles de modo mais sério.

“Minha, Líder.”, Soji falou. Apesar de ter sido Sion, ele parecia bem confiante em assumir a culpa no lugar dele. “Foi tudo meu plano.”

“Isso é impressionante vindo de você, Soji...”, ela deu um suspiro de decepção, olhando para ele intensamente. “Não repita.”, ele fez um sinal de respeito para ela.

Ayaka se virou, olhando para o céu avermelhado com calma. “Devolva a essência desse mundo”, depois de alguns instantes, o céu tomou sua cor azulada novamente e as sombras retornaram ao seu devido lugar. Eu olhei em volta, as pessoas pareciam começar a aparecer novamente na rua, como se nada houvesse acontecido.

“Incrível! Tudo está de vol-“, eu me empedi quando olhei novamente para onde eles estavam. Não havia ninguém lá, como se eu estivesse sozinho nesse tempo todo. “Ayaka?”, não havia ninguém, além das pessoas normais que agora andavam na rua.

Ayaka

Sombras. Você percebendo ou não, elas sempre estão lá. Por isso que escolhi esse nome para definir quem somos. Ninguém sabe como fomos criados, ou porque, tudo o que sabem é de nossa existência. Sabem que fazemos alguma importância para esse mundo, mas quase ninguém entende qual. E, ainda assim, vivemos nesse mundo. Aparecendo e desaparecendo constantemente, existindo e não existindo. É a nossa essência, a completa e perfeita mistura entre luz e escuridão. Um dia, talvez, sejamos aceitos na realidade dos humanos normais e possamos viver entre eles. Mas é muito claro que esse dia não é hoje e, talvez, nem seja nesse milênio. Tudo o que entendemos é que o mundo precisa da nossa existência.

Sion, Aoi e Soji me observavam, esperando que eu lhes explicasse o que estava acontecendo. Infelizmente, tudo era complicado demais para eles conseguirem entender e eu mesma fazia o meu máximo para aceitar aquilo. “Milady...”, Aoi se aproximou, me olhando de modo nossivo. “Ele não é humano, é?”

Todos ficamos em silêncio, até que eu abri um sorriso sarcástico para eles. “Eu falei...”, eu os olhei diretamente, “Que não deviam ter encostado na alma dele.”

Com aquilo, eu me virei e me transportei de volta para o mundo normal onde todos viviam. O mundo da luz.