Sora

Eu vivia uma vida colegial boa. Era popular e tinha uma namorada maravilhosa, que me entendia e me acolhia não importa o que. Minhas notas eram boas e meus pais eram orgulhosos de mim. No final de cada aula, eu andava até a mesa da minha garota, colocava o braço em volta de sua cintura, e escutava os suspiros das outras pessoas. Para todos, eramos o "casal perfeito", uma harmonia. Ayaka era alta e bonita, com cabelos brancos e olhos dourados; ela era inteligente e calma. Eu, por outro lado, era mais alto que ela, com cabelos escuros e olhos castanhos; eu estava sempre falando, mas não decepcionava na hora de demonstrar o que sabia.

Tudo tinha uma harmonia perfeita. Eu ainda me pergunto como tudo aquilo mudou em uma noite.

Eu estava andando sozinho até a minha casa, depois de deixar Ayaka em casa. Sua mãe insistira que eu ficasse para um chá e acabou escurecendo antes que notassemos. Ayaka insistiu que eu não podia andar sozinho de noite, mas eu não deixaria ela se preocupar comigo

"Não se preocupe, meu doce, eu bato em qualquer pessoa que vier de gracinha", ela me olhou preocupada, mas acabou cedendo, nos despedimos, e eu parti.

Eu andava com calma pela rua, não havia mais ninguém circulando por elas e tudo parecia pacífico. Até um som de passos chamar minha atenção e eu parar instantaneamente. O som parou junto comigo e fez-se silêncio novamente. A tentativa de andar trouxe o barulho novamente. Eu me virei, encarando a escuridão.

"Quem está aí?", eu falei para algo que parecia distânte. Minha pergunta ecoou e a resposta foi um grande peso me lançando para longe e me deixando inconsciente.

Meus olhos se abriram lentamente. Eu estava no meu quarto, e tudo aquilo parecia um sonho distânte. Meu celular apitava ao meu lado.

4 mensagens

[20:15] Ayaka

Você já chegou?

[20:45] Ayaka

Sora??

[21:00] Ayaka

Isso não é uma piada, né?

[21:50] Ayaka

Sora? Estou preocupada...

Eu cliquei rapidamente no botão de responder e comecei a digitar a resposta.

Ayaka

No início, eu não sabia o que pensar do meu relacionamento com Sora. Ele havia me pedido em namoro durante um festival e eu aceitará na emoção do momento. Desde então, fui criando uma afetividade maior por Sora. Atualmente, todos os instantes que eu passava com ele fazia meu coração pulsar.

Na noite anterior, minha mãe insistira para que Sora ficasse para um chá e ele ficou até tarde lá em casa. Ele não respondia minhas mensagens, o telefone da casa dele tocava sem ser atendido e a mãe dele trabalhava até tarde. Meu peito apertou e evitou que eu durmisse. Meus pais falavam para mim que ele devia estar bem e tentavam me acalmar, mas meu coração não se acalmou tão facilmente.

Pela manha, meu celular apitou repetidamente. Eu levantei para checar as mensagens e um sorriso surgiu no meu rosto.

[7:15] Sora

Desculpe, meu amor, eu adormeci quando cheguei em casa.

Dei um suspiro de alívio e logo outra mensagem apareceu na tela.

[7:17] Sora

Eu te preocupei?

Levantei e comecei a andar pela casa, em busca das minhas coisas para a aula. O celular continou tremendo no quarto, até que eu voltei para checar as mensagens.

[7:20] Sora

Você ficou brava comigo?

[7:25] Sora

Não fica chateada, foi um acindente...

[7:28] Sora

Vou compensar com você.

Suspirei, de felicidade e irritação ao mesmo tempo. Segui para me arrumar, fazendo tudo que tinha que fazer pelas manhãs até dar 8h. Peguei um pão para comer no caminho, me despedi de minha mãe e logo saí de casa.

Uma figura estava parada no portão. Sora estava com as mãos no bolso e olhava para o além, pensativo. Ele usava gola alta, apesar do calor que já estava fazendo.

"Sora?", eu balbuciei, abrindo o portão e me aproximando dele, "Você nunca sai tão cedo, por que está aqui fora?"

"Eu vim aqui compensar com você. Vou te levar pra escola.", Ele passou a mão até meu ombro, me puxando para ele.

"Se eu soubesse que teria esse tratamento, ficaria chateada mais vezes", Sora deu uma risada leve e começamos a andar.

Conversamos casualmente pelo caminho, mas Sora parecia desanimado, seu rosto estava levemente pálido e ele eventualmente se perdia em pensamentos.

"Sora.", ele me olhou surpreso, abrindo um sorriso falho.

"O que foi, meu anj--"

"O que aconteceu?", o rosto dele escureceu por um momento, e ele observou o além. Eu esperava pacientemente pela resposta dele.

"Não foi nada.", ele tirou o braço do meu ombro e continuiu andando.

Deixei ele dar sua distância, enquanto pensava sobre isso.

Sora

Naquela manha, eu pulei da cama para ir buscar Ayaka em casa. Busquei minha roupa e fui logo para baixo do chuveiro. A água estava quente e logo deixou o banheiro cheio de vapor. Parei na frente do espelho, passando a mão para desembaça-lo.

Meus olhos logo captaram um pouco de sangue escorrendo em meu pescoço, vindo de dois buracos em meu pescoço.

"O que... É isso?", murmurei para mim, passando os dedos pela ferida. Uma onda de dor passou pelo meu corpo, me deixando tonto. "Deve ter sido ontem... Mas que porra, vai me dizer que um morcego me mordeu?!", suspirei, entrando no quarto.

"Ayaka ficaria preocupada se visse isso.", peguei minha blusa de gola alta e vesti, ignorando o calor do dia.

Sai antes que me atrasasse e, quando cheguei, fiquei esperando ao lado do portão dela. Meu celular apitou.

[7:40] Ayaka

É mesmo? Hahaha

Dei uma risada, olhando para a rua. Minha mente ainda questionava como aquela mordida havia aparecido em meu pescoço, mas nada me via a cabeça. Eu estava em casa, não é? Não havia explicação...

Ouvi passos se aproximando e, em seguida, a calma voz de Ayaka me despertou de meus pensamentos.

Eu não consegui disfarçar bem, e Ayaka havia acabado se preocupando comigo. Eventualmente, ela olhava para mim durante a aula, e me lançava um olhar entristecido.

Ayaka

Sora continuou com aquele olhar perdido e eventualmente ele olhava para mim, desanimado. Minha cabeça não achava motivo para ele estar daquele jeito...

Na sexta aula, fomos para uma aula física. Sora permanecia com uma toalha no pescoço para evitar o suor. Foi durante o esporte que um garoto esbarrou nele e acabou fazendo ele cair, lançando a toalha longe.

Meus olhos logo foram atraídos pela ferida em seu pescoço e meu coração começou a correr muito forte.

Eles não teriam feito aquilo ao Sora, teriam...? A raiva borbulhou em mim e eu corri para fora da quadra. A enfermeira me deixou ir para casa assim que viu meu pequeno show de "estou mal".

Eu não consegui parar por um instante, estava inquieta por todo o caminho até chegar em casa. Minha mãe chegava tarde, então a casa estava silenciosa. Fechei a porta do meu quarto com um brusco movimento e abri o computador. Uma chamada imediatamente apareceu na minha frente, com diversas pessoas diferentes.

"Teremos uma reunião essa noite.", eu suspirei.

"Sobre o que, Minha Lady?", uma das vozes perguntou com curiosidade.

"Sobre a merda que vocês fizeram.", eu bufei de frustração, "não se atrasem.", fechei a tela do notebook bruscamente e me joguei na cama. O teto me entreteu até eu adormecer...