O que?! Matemática?! escrita por Triccina Ofner


Capítulo 3
Memorias da rua tal


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura a todos ^.^



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Estava andando devagar ouvindo minhas músicas e pensando na manhã estranha e sem nexo que tive. Clarisse voltando a fazer bullying, professores menos hostis, a professora nova que eu me apaixonei perdidamente por ela. E principalmente o fantasma mais infeliz voltou para me assombrar, Lucas. Por que isso tinha que acontecer? Eu queria apenas ter um professor de matemática chato que me daria nota baixa apenas por não gostar de mim, ou me amaria por meu falso desempenho em sala de aula, afinal estou na turma A, tenho que ao menos mostrar que eu tenho um pouco de inteligência.

Lembro-me que no sexto ano eu estava na turma D, pois quando fiz a prova para entrar no colégio eu estava com sono e eu não queria estudar onde meus irmãos estudavam, seria um desastre. Mas acabei passando na prova, em primeiro lugar da turma D, por um triz eu não vou para a C. Quando cheguei no nono ano me mantive na A até o terceiro. Meus irmãos também nunca tiveram uma nota baixa ou regular, e assim como eu, nunca se preocuparam em estudar. Acho que uma que herdamos dos nossos pais foi a capacidade de aprender com facilidade. Mamãe trabalha como professora em uma Universidade Federal, ela é formada em letras. Cria sozinha, eu e meus irmãs, há dez anos. Meu pai faleceu quando eu tinha apenas seis anos. Ele era oficial médico do exército, contraiu o parasita da malária . Ele passou um mês lá. Começou a passar mal nos últimos dias, com febres altas e anemia. Papai morreu em poucas semanas, foi triste e desanimador. Pedro e eu que éramos mais ligados com ele, adorávamos pescar e visitar o quartel. Sofremos tanto e nunca mais pescamos. Paula se manteve forte, mas ouvíamos sempre ela e a mamãe chorarem em seus quartos. Doença idiota.

Começou a tocar um clássico e eu estava feliz por ouvir uma boa música: Babe, I'm Gonna Leave You, mamãe sempre chora ao ouvir esta música. Realmente, papai a deixou só, no verão.

Eu ouvi o som da campainha batendo e um berro, longo e longe, tão longe quanto meus próprios pensamentos.

— Sai da frente!- Eu olhei para trás, uma bicicleta desgovernada ia me atropelar. Eu saltei para o lado e tropecei. – Ella você está bem?

— Não graças a você! Psicopata! Tentando me matar com uma bicicleta.

— Os freios estão estragados, me desculpe. – Lucas estendeu a mão para me ajudar a levantar. – Pare de ser orgulhosa.

— Sinto como se você fosse me soltar quando eu pegar em sua mão.

— Eu não tenho mais dezessete anos, Pamella. – Eu então a segurei e ele me puxou, acabei ficando bem perto do seu rosto. 

— Você está com uma espinha no meio da testa! – Ele corou na hora e se afastou.

— Você está bem? – Peguei minha mochila e sai andando – Pelo visto está.

— Por que você, sei lá, não some logo. Foi totalmente idiota o que você fez na sala.

— Eu sei. Eu fiquei surpreso com você sendo minha aluna.  – Ele começou a andar, carregando a bicicleta, ao meu lado.  – Eu lembro que você não queria estudar na mesma escola que a gente. Sem contar que você não tem redes sociais. Foi uma surpresa!

 – Podia ter conversado com o Pedro ou a Paula! Eu sei que você e meu irmão vivem trocando mensagens. E para de me seguir!

— Não estou te seguindo, voltei a morar na casa antiga.

— Mas seus pais não tinham ido morar no litoral?

— Sim, mas como era mais perto da escola eu “aluguei”. - Ele gesticulou as aspas com uma mão. – Voltei a ser seu vizinho.

— Que triste. – Eu olhei no meu celular, Paula já gritava por mim, para eu ir almoçar. Ela estava de folga aquele dia. – Quer ir almoçar lá em casa? Paula vai gostar de te ver.

— Eu me mudei há pouco tempo e nem deu tempo de visitá-las, acho que vou aceitar. Só não ponha veneno na minha comida.

— Veneno não. Agulha! – Ele sorriu de canto de lábio e eu também. – Assim posso ver você sofrer até a morte.

— Como você é má.

E assim foi o caminho torturante até em casa, conversas nostálgicas, brincadeiras sem graça, ele me contando sobre a faculdade.  Mesmo assim foi divertido, consegui dar bastante risada, e ver que ele estava igual a antes, brincalhão, chato e irritante, saudades que eu tinha da expressão de deboche quando arcava com as sobrancelhas.

Quando Paula o viu soltou um berro e o abraçou, eu apenas fui até meu quarto largar minhas coisas. Liguei meu videogame, pois o vício já era rotina e minha irmã não havia terminado o almoço.

Meu irmão havia me dado um PlayStation 4 e eu o amei muito por causa disso, jogamos muito online. É uma boa maneira de nos mantermos unidos. É claro que eu tinha meu clássico e amado Switch, que eu havia comprado com o meu dinheiro suado de trabalho durante as férias. Comprei um usado, mas que estava intacto e com dois jogos.

Meu paraíso, meu quarto. Lá ninguém ousava entrar nem me incomodar. Meus desenhos jogados pela escrivaninha, meus gibis enfileirados bonitinhos, meu CDs bagunçados em cima do som, e meu violão velho que eu nunca havia aprendido a tocar no canto, guardado e sozinho, eu morria de dó de vende-lo. Meu santuário, onde as paredes já tinham me ouvido rir e chorar, ouviram sobre minhas paixonites e minhas decepções. Meu templo imaculado. Meu...

— Seu quarto mudou bastante, menos a bagunça. – Me deixe em paz! Lucas é um intrometido. – Imagino que os mafagafos te idolatrem.

— Pode me fazer um favor?

— Não seja malcriada com o seu professor.

— Que professor entra no quarto da aluna?

— Touché. – Ele sentou na minha cama, que absurdo, meu professor de matemática sentado na minha cama, tomando o meu controle, deitando e jogando o meu jogo. – Acho massa Skyrim, tá em qual missão?

— Da Dark Brotherhood. Pode devolver? – Ele me olhou e me ignorou. – To em duvida se mato o Cícero dessa vez ou, não. 

 – Que maldade, ele é o melhor sidekick do jogo.Tirando a Serana.

 – Ao menos isso concordamos. – Ele sorriu e eu senti um gelo no peito.  – Já volto.

Levantei as pressas e o deixei no quarto jogando enquanto fui no banheiro. Peguei meu celular e comecei uma conversa com Rebeca, uma amiga que se mudou do colégio no primeiro ano, por conseguir uma bolsa. Como todos os mais 3 amigos que tenho, ela não gosta das coisas mesmas coisas que eu. Odeia video game, gosta de shopping, ser sociável e é bem popular. 

Contei à ela o ocorrido, ela apenas deu risada e perguntou como ele estava, respondi que o mesmo babaca de sempre, fazendo piadas e abusando da minha boa vontade.

Voltei no quarto ele ainda estava jogando, desisti e fui na cozinha ver se o almoço estava pronto. Paula mandou eu voltar lá em cima e chamar aquele atraso de vida.

Quando entrei no quarto, Vi Lucas mexendo nas minhas coisas, mas especificamente no meu livro do Pequeno Príncipe, onde eu guardava as memórias mais valiosas da minha vida. A flor de jasmim que meu pai me deu, a lavanda que minha irmã me trouxe da Europa, as violetas que colhi do vaso que minha mãe derrubou no dia da morte do pai e a tulipa que meu irmão me deu. Mas o que ele não podia achar, ele achou.

— Não acredito que você ainda à tem. – Disse ele pegando aquela rosa branca conservada pelas folhas do livro. – Ella...

— Você não tem o direito de mexer ai.

— Só me responda, está é a rosa que eu lhe dei quando eu me mudei?

— Se eu responder você promete nunca mais mexer nas minhas coisas sem permissão? – Lucas concordou com a cabeça. – É, é ela sim.


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Notas finais do capítulo

Eita, parece que o fantasma da paixão de infância voltou com tudo!
Obrigada e não deixem de comentar ♥



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