O que?! Matemática?! escrita por Triccina Ofner


Capítulo 2
Primeiro dia, primeiros conflitos!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^.^



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Posso listar as coisas que me faziam lembrar de Lucas que eu tentei abandonar, mas é claro que seria inútil, não deixaria nunca de ouvir Nirvana, The doors, Led Zeppelin e tantas outras bandas, como muito menos pararia de jogar Final Fantasy, Harvest Moon e Mortal Kombat por causa daquele infeliz atormentador de irmãs alheias. Eu era seu saquinho de risadas, a zoeira nunca tinha um final quando ele estava lá em casa, eu realmente o odiava. Mas no fundo, lá onde os baús amaldiçoados da alma guardam os segredos mais profundos que todo mundo sabe, mas você acha que é super secreto, eu gostava dele, gostava quando ele me zoava, e quando passava a mão na minha cabeça me chamando de pirralha nanica. Lucas não fazia aquilo por maldade, não 100%, apenas uns 90, 95%, os outros cinco ele gostava de mim.

Ele começou a se apresentar e a pedir para que cada um de nós fizéssemos o mesmo. Eu queria apenas que o sinal tocasse e que a minha bolinha de papel fosse uma pedra bem grande e pesada, e que voasse sozinha na cabeça dos meus inimigos.

— Pam, o que foi que você está assim? – Perguntou Lola, minha colega de classe, éramos boas amigas, mesmo que não curtissemos as mesmas coisas. – Você conhece esse gato? Da onde?

— Ele é, ou era, amigo do meu irmão. – Eu virei para trás para falar com ela.- Me belisca e diz que isso é mais um daqueles meus sonhos estranhos em que um tubarão invade a sala, come o professor e todos correm felizes e desesperados! Ai!- Ela realmente me beliscou, e nenhum tubarão apareceu.

— Pamella! Quer compartilhar algo com a sala? – Fiquei vermelha na hora e me virei para frente do quadro.

— Não é nada não. Professor... – Ainda estava digerindo a ideia de chama-lo de professor, ele apenas levantou as sobrancelhas e voltou a escutar os colegas.

Eu rezava aos céus de Asgard, para que o sinal tocasse e a minha vez não chegasse. Maldita mania de sentar na primeira carteira da quarta fila. Não existia reza ou pacto que impedisse esse desastre.

Chegou então na vez de Guilherme, meu amigo de infância. Nós somos vizinhos, praticamente. Ele mora a algumas casa perto da minha e nossas mãe estudaram juntas. Desde de pequeno ele frequenta a minha casa, jogamos video game, lemos quadrinhos, sempre com os mesmos gostos. Isso mudou no ensino médio, ele se juntou ao lado negro da força. Começou a andar com uma galerinha diferente, que curte festinha, músicas da moda e outras coisas desse universo paralelo que eu desconheço.

— Meu nome é Guilherme, tenho dezessete anos, pretendo terminar o ensino médio e começar a faculdade de engenharia química e talvez, arrumar uma namorada.

— Hum. – Lucas fez sua clássica expressão de deboche e olhou para turma. – Alguma garota se habilita?

Muitos cochichos surgiram e algumas garotas novas se olharam como se estivessem lendo uma a mente da outra. Guilherme era bem atraente na verdade, sempre com o cabelo arrumado, sorrisos para dar e vender, gentil, engraçado, com grana pra bancar algumas saidinhas e festinhas. Para mim, o que era atraente nele sua sinceridade. Obviamente que eu o conheço desde que eu nasci, quase. Ele é brincalhão, preguiçosos, tem uma péssima mania de ignorar o que você diz, além de ser bem infantil quando contrariad                                                                                                                                   o.

Olhei para Guilherme, fiz uma expressão de ânsia, ele apenas deu risada. O enjoo em si não era mentira, em vez de lindas borboletas no estômago, estava com morcegos debatendo-se em minhas entranhas, apresentações me deixam ansiosa. 

Após uma longa tormenta e tortura chegou a minha vez. Eu não poderia me negar a falar, pois seria pior, e ouviria cochichos vindo das carteiras atrás de mim. Estava repetindo em minha mente todo o discurso, com as mãos suadas e frias.

— Você eu já conheço. – Ouvi algumas risadas, eu sentei de volta na cadeira perplexa, continuava nervosa e agora com muita vergonha – Como é seu nome, e o que pretende fazer depois que sair do colégio?

Lola ficou sem reação no momento, ela provavelmente sentiu a aura escura que me rodeava. É aparentemente ele era o mesmo Lucas de cinco anos atrás. Fazendo de tudo para me deixar nervosa, sempre sendo infantil e sem noção!

Depois de alguns segundos eu consegui olhar para ele. Perguntava-me o que era aquele sentimento, eu estava feliz por ele ser meu professor e ainda ser o mesmo comigo, mas me sentia envergonhada e furiosa, uma nostalgia ruim que embrulhava meu estômago. Eu apenas deitei a cabeça na carteira e fiquei lembrando dos bons momentos. Quando Paula era chata, mas divertida e Pedro gostava de me ver por perto, e pedia para o Lucas ser menos insuportável. O sinal finalmente tocou e o professor começou a arrumar suas coisas para ir para próxima sala. Eu levantei a cabeça, esfreguei os olhos e arrumei o cabelo, que bem provável o deixei mais bagunçado do que ajeitado.

— Até depois Ella. – Lucas disse sorrindo com o canto da boca como sempre fazia. – Vê se não dorme na próxima aula.

— Vou dormir só para te contrariar. – Eu então sorri, um pouco mais relaxada. – Tchau professor.

Lucas pisou fora da sala que a bagunça começou. Carteiras sendo arrastadas e as pessoas conversando, eu nem tinha reparado ainda quem estava na minha turma. Virei-me para Lola que já estava de pé conversando com as outras garotas. Eu fechei a cara e voltei a cabeça para a carteira, pois ela era e sempre será minha amante nas horas chatas e solitárias.

— Pam? - Aquela voz e dedos em meu cangote, Guilherme queria levar um soco na fuça! – Minha mãe não vai acreditar que o Lucas vai nos dar aula. Que viagem. Não mudou nada.

— E o que era aquele All Star? Acho que é o mesmo que ele tacou na minha cabeça quando eu era menor – Guilherme não segurou o riso lembrando da cena trágica. – Bons tempos aquele. Você não me abandonava por saia.

— E você também não mudou nada. Chata, mal-humorada e com sono.

— Puberdade, hormônios. É, é uma fase difícil.

Demos risada e ficamos conversando sobre as férias. Ele tinha ido viajar para Blumenau em Santa Catarina ver a tia e a avó. Os bolinhos da avó dele eram incomparáveis, o aroma de infância se misturava com a fome e deixavam eles ainda mais gostosos.

Antes da professora chegar em sala, eu não poderia ter um minuto de paz. A pessoa que eu mais detestava na minha vida, que tinha o prazer de me humilhar e me incomodar não podia deixar de me dar as boas vindas de começo de semestre.

— Nossa Pamella, de novo na turma A? Pensei que tinha ficado de recuperação ano passado. Sabe como é, o pessoal fala bastante. Deve ser difícil usar blusa de manga no calor. – Ela puxou as minhas mangas, olhou meus braços e fez uma cara de decepção.  – Eu disse que não era suicídio!  – Mesmo que boa parte da turma a olhasse com desprezo, ela continuaria a fazer piadas.

— Garota.  – Juntei o máximo de força pra tentar retrucar.  – Tu já tem quase dezessete anos e ainda tenta ser uma Regina George tupiniquim?  – Ela me olhou com desprezo.  – Deve ser muito triste ser você.

Meu coração disparou. Eu não achei que conseguiria retrucar, quase nunca consigo. Tentei me manter firme, mas a vontade de chorar era maior. O nó na minha garganta ficava mais dolorido. Não podia dar o gosto pra ela. Mas cada segundo era torturante e antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa ela deu as costas e voltou pra carteira dela. 

Clarisse, há cinco anos, resolveu descontar todas as frustrações da sua vida em mim. No sétimo ano, eu vestia alguns números a mais, e não ligava, porém ela me lembrava todos os dias como eu era desprezível e feia. No ano seguinte ela queimou minha pasta de desenhos. Minha mãe até tentou entrar com um processo, mas não deu em nada. No nono ano ela me queimou para todos os professores. No primeiro do médio as pessoas passaram a ignorá-la, justamente por ela ser infantil. Então, por algum motivo, Clarisse resolveu que esse ano, não me deixaria em paz.

A professora finalmente entrou em sala. Usava um perfume forte, frutal sem dúvidas. Os cachos volumosos e um lindo sorriso, dando bom dia para classe. Ela era uma das mulheres mais lindas que eu já havia conhecido. Mesmo alta, usava uma sandália com saltinho. Acho que naquele momento eu havia me apaixonado, não no sentido carnal, por ela. 

Ela escreveu seu nome no quadro, junto com o e-mail. Cristhina lecionava sociologia. Falava da ementa com paixão, e já tentava nos animar para o vestibular. Perguntou o nome de todos com muita simpatia. queria que aquela aula durasse o resto do dia, mas seriam apenas duas aulas na semana, segunda e sexta.

A nova professora foi embora e os tormentos antigos voltaram, professora Marta, de inglês e a professora Jane, de história. Teríamos duas aulas seguidas de história após o intervalo. 

Durante o intervalo, deitada no gramado e jogando no celular, ouvia a movimentação. Os meninos jogando bola, o grupinho do violão, os meninos próximos comentando o último campeonato de LOL. Nenhum som irritante por perto. Ao menos durante esse período pude ficar sozinha e em paz. 

 – Mais um ano Pamella. Aguente mais um ano e caímos fora daqui. – Disse a mim mesma.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos por lerem ^.^
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bjos



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