Incondicionalmente. escrita por Boladossaura Rex, Lunna


Capítulo 3
Quem raios anda com uma algema?


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas! Aqui é a Nai postando mais um capítulo para vocês (sério? Nós jurávamos que você estava tricotando um tapete!) e quero dizer que estou muuuito feliz pelos comentários e acompanhamentos que temos recebido. Vocês são demais!
Boa leitura!



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Grewn não gostava de acordar cedo. Na verdade, ele não gostava nem de acordar.

O despertador enlouquecido o fez despertar com um pulo. Grewn entendia porquê alguém teria jogado aquilo fora, o aparelho era uma criação dos infernos. O jovem desligou-o antes que seus ouvidos explodissem, e se preparou para entrar mais uma vez no fim do mundo.

Ele gostava de ir a floresta, parecia o lugar mais humano que tinha sobrado no planeta. Lá ele podia baixar um pouquinho a guarda, podia pelo menos assoviar sem se preocupar com um alien pulando em seu pescoço e o decapitando. Mas, ei! Grewn estava sendo otimista! Se algum alien o pegasse, faria bem mais que decapita-lo. Ele era o sobrevivente ladrão, o procurado miserável que era conhecido como um serial killer de aliens sem sanidade. E os alienígenas tinham ideias bem criativas sobre como punir um mané.

Ele pegou seu facão, junto com uma bolsa de pano e um cantil de água. Ele já tinha virado profissional. Todos tinham suas manias heroicas: o Super Homem era profissional em correr por aí de lycra, o Homem Aranha era profissional em soltar teias enquanto faz piadas idiotas, Grewn era profissional em saltitar pela floresta e pegar frutas. Aquilo era tão másculo.

Ele atravessou a cortina de folhas que camuflava a caverna, e a luz do sol fez seus olhos doerem. Talvez passar tanto tempo em um buraco escuro tenha transformado ele em um vampiro. Nossa, era melhor nem pensar naquilo. O garoto caminhou rapidamente em meio das árvores, contando silenciosamente o tempo. Ele só tinha três horas antes da próxima ronda de helicóptero feita pelos aliens, tinha que pegar tudo que precisava e voltar para a caverna evitando fazer coisas idiotas, como morrer. Três horas parecia tempo suficiente, mas o maldito TDAH de Grewn sempre fazia ele se distanciar de seu verdadeiro objetivo. Ele tinha quase morrido muitas vezes, e quase morrer não era muito agradável.

Viu? Ele estava devaneando de novo. Tinha que se concentrar em pegar suprimentos, não morrer, achar um McDonald’s. Espera, McDonald’s? Deveria ser a saudade da vida antiga controlando seus pensamentos. Ele sentia saudade da faculdade, de seus antigos amigos, de sua avó... Ele só queria voltar no tempo, queria ser um universitário de novo, queria ouvir as reclamações de Haley, levar empurrões de Chase por ser mané, sentir o cheiro dos biscoitos da avó, comer um cheeseburguer do McDonald’s enquanto Katy dizia o quanto aquilo era calórico e que ele iria morrer como um velho gordo. Ele tinha tudo aquilo, tinha uma vida perfeita, e em um piscar de olhos tudo tinha sido tirado dele. Droga, ele conseguia sentir saudade até de juntar o lixo nos trabalhos comunitários, estava mesmo desesperado.

Ele pegou algumas maçãs de uma das árvores. Desde que os alienígenas tinha vindo a Terra, era possível encontrar frutas frescas em toda árvore. Grewn não conseguia entender como raios eles tinham feito aquilo, já tinha levantado a hipótese de que eles tinham saído por aí de helicóptero derramando sementes para todo lado, mas convenceu-se de que era só uma ideia louca que ele colocaria em uma tirinha de gibi. Então agora ele achava que os aliens tinham subornado formigas para enterrar as sementes para eles depois de colocar um monte de elementos químicos loucos na terra para que todas germinassem independente do clima. Sim, para Grewn aquilo fazia sentido.

Mais sete maçãs, cinco laranjas, algumas ervas, legumes frescos, pêssegos e tomates. A floresta era um verdadeiro supermercado, pena que não vendia FriBoi nem pizza congelada. Grewn tinha que se conformar em correr atrás de coelhos e rolinhas para ter proteína. Assim, lá ia nosso herói, correndo como um louco atrás de animaizinhos, pisando nas predas para não deixar pegadas na terra que o entregariam e se sentindo um vampiro vegetariano idiota. Aquilo era tão tosco que quase dava vontade de rir.

Mas Grewn não conseguia rir, estava ocupado demais sendo sacaneado por um coelho.

O animal corria como o vento, e Grewn precisava dividir sua atenção entre pega-lo, pisar nas pedras e não deixar a comida cair. Como ele era um cara louco com TDAH, a parte de prestar atenção em muitas coisas até que não era problema, mas não conseguir pegar um coelhinho gorducho começava a deixa-lo frustrado.

Logo ele tropeçou, caindo de queixo na grama e engolindo terra. Ele olhou para o coelho, que virou de costas e balançou o rabo como se dissesse Há! Mané! Foi derrotado por um roedor! Cuidado comigo que eu estou com tudo! Certo, estava começando a virar uma ofensa pessoal.

Ele se levantou. Talvez fosse mero orgulho idiota, mas Grewn não conseguia aceitar não conseguir pegar um coelhinho. Qual é, ele já tinha conseguido derrotar (não ileso, mas mesmo assim) dois aliens enormes e armados, e iria ser derrotado por um roedor fofinho que gostava de rebolar? Não parecia muito respeitoso.

De repente, Grewn se sentiu um idiota por não ter pensado naquilo antes. Ele tinha cenouras. Que diabos, seja menos burro. O garoto tirou uma delas da sacola e jogou para a esquerda, mas ainda perto de si. O coelho olhou desconfiado, como se perguntasse Cara, que diabos é isso?, mas se aproximou e deu uma dentada na cenoura. Quando estava prestes a correr com a mesma, Grewn atirou-se para o lado e agarrou a criaturinha. Perdeu! Pensou ele.

Ele levantou-se com o coelho em suas mãos, que parecia bastante insatisfeito por ter sido sacaneado. Grewn teve que resistir a tentação de dar uma risada louca, aquilo talvez o entregasse e ele estaria morto. Estava tão ocupado sendo feliz com sua realização que nem ouviu o barulho de uma pessoa se aproximando.

– Olá?

Uma voz feminina fez o coelho voar das mãos de Grewn, e sair correndo em meio as árvores. Os instintos do garoto dispararam, ele sacou seu facão e golpeou. Infelizmente, a garota foi rápida o suficiente para desviar.

Yvie viu a árvore atrás de si ficar amarelada. Aquilo era veneno? Em um instante, seu cérebro começou a trabalhar. Ela sacou sua arma. ZAP! Um lazer cortou o ar em direção a Grewn, que atirou-se para o lado, antes de se esquivar de outro disparo. Que diabos, pensou ele, quem anda por aí com uma arma de raios lazer?

Antes que pudesse brandir novamente a faca, Grewn foi chutado pela morena e bateu com força contra uma árvore. Yvie aproximou-se dele, e apontou a arma para sua cabeça. Aquilo não o mataria, mas Grewn não sabia disso (e realmente não ia arriscar descobrir), e mesmo que reagisse, o lazer o faria sentir muita dor. Ah, e Yvie tinha um pé, uma arma e um pé era o suficiente para ameaçar um humano.

– Larga a faca, não quero atirar em você. – falou ela, séria.

Apesar da arma apontada para sua cabeça, Grewn não pôde evitar dar uma risada irônica.

– Engraçado, acho que você não percebeu que acabou de atirar.

Antes que pudesse responder, Yvie viu o humano sumir de sua vista e aparecer atrás dela. Raios, agora tinha um facão em sua nuca e ela estava espremida contra uma árvore. Sinceramente, humanos tinham táticas de luta muito toscas.

– Ops.

A voz do humano sussurrou, fazendo-a sentir um arrepio. Argh, mas que droga de corpo humano! Ele sempre tinha reações idiotas: arrepios, espasmos, espirros... Yvie não suportava os espirros. Algo que ela deveria colocar em seu trabalho: os humanos tem corpos estranhos e insuportáveis. Ah, e velhos fedem.

Yvie respirou fundo. Um truque que tinha aprendido sozinha e que o humano não pareceu conhecer, isso afastava sua pele da lâmina. Parte de Yvie agradeceu por ele não surtar e gritar RAIOS, MORRA DE UMA VEZ! – ela já tinha tido que lidar com humanos que surtavam assim, não tinha sido nada agradável – e a outra parte dela queria surtar e gritar RAIOS, MORRA DE UMA VEZ! Sério, ter humanos simplórios tentando insignificantemente mata-la já estava ficando chato.

– O que vai fazer, humano? – perguntou ela, em tom de escárnio – Me matar? Em que isso lhe serviria?

Ela esticou os dedos e tocou o braço do garoto. As juntas de sua mão formigaram levemente enquanto um turbilhão de emoções invadia seu cérebro. Eis uma das vantagens de ser um Sigmo: sem segredos, você podia saber exatamente o que a pessoa sentia apenas com um toque. Se bem que, com os Sigmos era muito mais fácil, aquele humano sentia tantas coisas que chegava até a ser confuso. Uma mistura louca de raiva, rancor, tristeza... Tédio? Yvie considerou aquilo uma ofensa pessoal.

Grewn ouviu atentamente suas palavras, e por cinco segundos realmente miseráveis, pensou em dizer Eu não vou matar você, vou morrer! Iuhu! e deixar que ela o matasse. Seria muito mais fácil, muito mais relaxante do que continuar vivendo exilado e sobrevivendo a base de caça e furtos. Ele não via mais sentido naquela droga de vida, poderia simplesmente desistir...Então seu lado que ainda tinha sanidade veio a tona. Ele não era um suicida, não se renderia aos aliens. Ele lutaria até o fim por sua espécie, mesmo sabendo que o fim poderia ser, sei lá, daqui a cinco minutos.

– Em que isso me serviria? – Grewn deu uma risada mais sinistra do que ele pretendia – É um a menos de sua espécie, um ponto a mais para a minha. Quanto menos de vocês matarem mais dos meus, melhor. Isso me serve muito.

Yvie rolou os olhos. Ela não tinha culpa de ser fria, era algo natural, inevitável.

Humanos morriam! Algo simples e aceitável, eles estavam destinados a morrer. Se aquele serzinho de espécie inferior e inteligência seriamente limitada não aceitava isso, a culpa não era dela.

– Já que suas razões são claramente justificas, tem todo o direito de me matar. Mas só pra saber, eu não mato.

Não mais. Completou mentalmente.

Um silêncio perturbador. Grewn não sabia por quê, mas estava hesitante em mata-la. O que significava que o plano da garota estava dando certo. Ela sentiu a lâmina da faca se distanciar mais alguns centímetros de seu pescoço, ele estava baixando a guarda. Espécie simplória, não eram nem ao menos capazes de descobrir que estão sendo enganados. Tisc.

– Não vai me matar? Então acho que não tenho mais nada para fazer aqui, adeus.

Yvie deu-lhe uma rasteira (um movimento nada heroico. Mas que se dane) e saiu em disparada pela floresta. Ela pôde ouvir, ao longe, os passos rápidos do garoto correndo atrás dela. Raios, por quê aquele humano tolo não facilitava as coisas?

Grewn estava louco da vida. Tinha sido sacaneado por um coelho, depois por uma alien. Aquilo era sacanagem demais para um dia só. Felizmente, suas pernas eram mais compridas que as da garota (uma das vantagens de ser alto como um poste) e ele conseguiu alcança-la. Lançou-se sobre ela, fazendo os dois caírem no chão.

Yvie teria lhe dado um soco naquele mesmo segundo se não estivesse sem apoio e com um humano louco em cima dela. Argh, ela iria arrancar a cabeça daquele maluco quando saísse dali.

Ele rolou para o lado, segurando-a fortemente pelo pulso. Ele provavelmente diria algo muito inteligente, como: Há! Peguei você, mané! Ou Viu? Viu? Eu corro demais! Você não me escapa! Quando sentiu algo prendendo-se em seu pulso. De repente, ele não era mais tão demais.

– Quem raios anda com uma algema?


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Notas finais do capítulo

Então foi isso pessoinhas! Espero que tenham gostado, o capítulo ficou meio longo mas eu espero que não tenha ficado cansativo. Continuem acompanhando, que a Lunna não demora (se demorar, eu ajudo vocês a jogar ela de um penhasco ^^) para postar o próximo capítulo.

Beijos! ♥



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