Meceno escrita por lui


Capítulo 1
Capítulo 1




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Guerra, o pior male do mundo, é capaz de matar populações de cidades inteiram em poucos dias.

Era a terceira guerra mundial e o país estava precisando de novos soldados já que o numero de mortos era incrível. O pai de Emily foi obrigado a servir no exercito. Diariamente ela e sua mãe olhavam o noticiário em busca de boas noticias, mas o que viam as apavorava ainda mais. A população de países inteiros já tinha sido dizimada e se a guerra não acabasse logo, a espécie humana poderia entrar em extinção.

Tudo começou com uma disputa interna de um país na África, os Estados Unidos começaram a fornecer armas para um dos lados, e por vingança a Coréia do Norte que crescera muito rapidamente depois que seu ultimo líder assumira, forneceu armas para o outro lado. Acabou que alguém fabricou uma bomba atômica de potencial gigantesco que explodiu no Egito. Os EUA acusavam o inimigo de ter fornecido material e conhecimento para uma bomba deste nível e como o Egito era seu aliado, teve que revidar. Entretanto a Coreia afirmara que o único a ter uma bomba com tanto poder destrutivo era os EUA, eles nunca teriam fornecido todo o material para uma bomba.

No final, ninguém chegou a um acordo e os EUA lançaram uma bomba de hidrogênio em uma cidade da Coreia do Norte, destruiu a cidade inteira e as redondezas. Então começou o lançamento de bombas e o recrutamento de civis para a guerra.

Emily e sua mãe estavam em um abrigo anti-radioatividade, embora essas bombas não eram tão usadas, mesmo sendo as primeiras. Os governos ainda ficam receosos em matar tantos civis inocentes.

O abrigo em que as duas se esconderam não era grande coisa, era apenas uma salinha com paredes amarelas, em alguns cantos a tinta já descascava, havia dois colchões no chão e um frigobar em uma das paredes e do lado, um armário de madeira velha que cheirava a mofo. Em um dos lados, do lado oposto à entrada, havia uma porta que ligava a um pequeno banheiro com uma pia, um chuveiro e um vaso sanitário.

A mãe de Emily entrou no abrigo. Era incrível a transformação que a guerra tinha feito nas duas mulheres, a mãe perdera todo o brilho jovial que tinha, suas bochechas normalmente coradas estavam brancas e magras, o cabelo que era loiro, brilhante e macio estava acinzentado e na maioria dos dias ficava preso em um coque na cabeça. Emily não estava tão diferente, o cabelo preto e comprido de que tanto se orgulhara em tempos de paz estava sujo e mal cuidado, os brilhantes olhos pretos não tinham vida e era possível ver o medo dentro deles, sua pele normalmente branca estava ainda mais branca pela falta de sol, ela parecia doente, pálida.

Sua mãe trazia comida, era pouca, mas teria que durar uma semana, se não mais...

-Emily, você esta bem? – Sua mãe perguntou, elas se faziam a mesma pergunta sempre que se afastavam por um tempo.

-Sim mãe, como estão as coisas lá fora? – Foi a vez de Emily.

-A cidade esta cheia de cinzas e de escombros, parece que não tem um prédio em pé, mas em compensação o numero de pessoas feridas e mortas, nas ruas, é enorme. – Ela falou enquanto preparava um prato de comida para as duas.

As duas se sentaram no chão para comer em pratos plásticos com as mãos. Emily torceu o nariz com o cheiro da comida, era claro que estava estragada. Ela engoliu de uma vez a comida, sabia que o gosto seria pior que o cheiro. Ela se lembrou dos deliciosos pratos que costumava comer, os sucos doces da fruta que seu pai fazia, as deliciosas sobremesas, sorvetes, bolos, pudins, humm... Tudo isso lhe dava agua na boca, mas por agora nada podia fazer, a não ser rezar pelo fim da guerra.

Sua mãe não tinha terminado de comer quando a sirene que indicava um bombardeio tocou. Mal terminou o barulho e o chão começou a tremer, as explosões pareciam não ter fim. Emily já devia ter se acostumado, acontecia pelo menos três vezes ao dia, mas ainda a fazia tremer. Pareceu passar uma eternidade quando o bombardeio finalmente parou, mas um apito irritante ficava por mais um bom tempo no ouvido de Emily.

-Fique aqui, vou da uma olhada se está tudo bem – A mãe dela falou. Emily queria impedi-la, mas tremia tanto que mal conseguia se mexer.

Quando a mãe saiu o silencio tomou conta de tudo, Emily podia ouvir as batidas de seu coração assustado. O silencio parecia uma sombra se aproximando do canto onde Emily tremia, deslizando em sua pele, sussurrando-lhe ao ouvido, lhe apavorando ainda mais.

A porta bateu e lhe deu um susto, mas era apenas sua mãe, só que ela carregava um garoto, ele estava ferido na cabeça. Ela não pode reparar na fisionomia do rapaz antes que sua mãe dissesse em tom de urgência:

-Ainda respira, pegue o balde com água e toalhas limpas – Emily pegou as coisas que ela pediu enquanto sua mãe o deitava na cama.

Emily molhou a toalha branca e ao mesmo tempo algo bateu na porta tentando derrubá-la, isso assustou as duas mulheres e fez Emily começar a tremer de novo.

Sua mãe a segurou pelos ombros e olhou dentro de seus olhos.

-Você precisa se acalmar – Emily respirou fundo e seu coração começou a desacelerar – Agora você vai se esconder, eu cuido de tudo por aqui.

-Mãe...

-Olha, quando tudo estiver bem, cuide do garoto, tenho a impressão de que ele pode te proteger. – Emily acenou com a cabeça, sua boca estava seca de medo. No fundo ela sabia o que ia acontecer, mas rezava para estar errada.

A porta estremeceu mais uma vez. As duas levaram o garoto para dentro do armário e Emily se escondeu junto. Com o cheiro de mofo invadindo suas narinas, ela mal ousou respirar.

-Eu te amo mãe – Emily conseguiu encontrar sua voz.

-Eu também – As duas se abraçaram – Cuide dele – Ela fechou o armário quando a porta finalmente cedeu.

Emily não podia ver quem tinha entrado.

-Olhe só Meridan, tivemos muita sorte não acha? Em vez do peixe que procurávamos achamos um tubarão. Como vai Catarina? – Duas pessoas tinham entrado no abrigo e eles conheciam sua mãe. Emily não sabia se ficava aliviada com essa informação ou mais assustada.

-Guerd, devia saber que você estava por trás dessa guerra! – Era a voz de sua mãe.

-Guerra, uma coisa incrível para aqueles com poder, mas um desastre para a ralé.

-Como você pode gostar de algo assim, até os poderosos perdem!

-Os incompetentes que perdem, e você já deve saber que eu não sou um incompetente. Mas isso é coisa do passado, onde está seu suposto maridinho?

-Você o fez ir à guerra, nunca mais tive notícias dele por sua culpa! – Emily sabia que lágrimas tinham começado a sair dos olhos de sua mãe, ela sempre chorava quando falava de seu pai.

-Pare com isso, sabe que não vai me comover, estou aqui por um motivo que tenho certeza que você sabe qual é.

-Sei, é?

-Vamos Cat, me diga, onde está o herdeiro? Sei que você o escondeu, entregue-o e pouparei sua vida.

-Você nunca vai achá-lo.

-Sabe que não devia duvidar de mim. Meridan, ele esta aqui?

Algo farejando se aproximou do armário onde ela estava, Emily não ousou se movimentar, mas o que quer que fosse se afastou.

-Não senhor – Meridan falou.

-Bem, eu pensei que você a manteria junto. – Guerd falou depois de um tempo.

-Você se enganou. – A voz de sua mãe parecia aliviada.

-Diga-me onde o escondeu ou morrerá...

-Se eu te contar, de que valerá eu o ter escondido?

Emily pode prever o que iria acontecer antes mesmo de ouvir sua mãe gritar. O grito lhe atravessou o peito como facas e ela começou um choro silencioso.

Mesmo quando teve certeza de que Guerd tinha ido embora, ela ficou onde estava, sofrendo a perda de sua mãe e se martirizando por não ter feito nada. Emily olhou para o rapaz que ela protegia. Apenas um feixe de luz entrava no armário, o suficiente para ela poder ver o rosto dele. O cabelo preto e liso, não tão preto como o seu, tinha sangue seco juntando vários fios, a pele bronzeada estava suja de fuligem e o rosto, muito bonito na opinião de Emily, tinha vários cortes.

As últimas palavras de sua mãe voltaram “Cuide dele”. Emily abriu a porta com medo do que veria, mas não havia nada no chão, nenhuma gota de sangue, nenhum sinal de que Guerd, Meridan ou sua mãe estivessem estado ali.

Ela correu para pegar as toalhas e o balde. Ela limpou os ferimentos e enfaixou a cabeça dele cuidadosamente, do jeito que sua mãe tinha lhe ensinado. Chorou silenciosamente enquanto trabalhava, mas obrigou sua mente a focar no que sua mão fazia. Agora a grande dificuldade, levá-lo até a cama. O garoto era maior do que Emily e dava para ver que por baixo da camisa ele tinha músculos, ele devia ser muito pesado.

Ela secou os olhos ainda úmidos pelas lágrimas recentes e ficou olhando para o belo rosto em busca de uma inspiração quando ele abriu os olhos de repente. Os olhos eram verdes e combinavam perfeitamente com ele. Emily não pode deixar de pensar como não havia adivinhado a cor deles.

-Ah, você acordou – Emily falou.

Ele levou a mão à cabeça e sentiu a faixa que ela tinha colocado.

-O que aconteceu? Quem é você?

-Sou Emily, estou responsável por cuidar de você.

-Como vim parar aqui?

-Não se lembra de nada – Isso era um péssimo sinal...

-Eu me lembro, mas as coisas estão confusas, eu estava na rua, ouvi um sino irritante, de repente tudo virou o caos, caiam bombas por todo o lado. Eu corri para debaixo de um prédio, mas esta começou a desabar, alguma coisa acertou minha cabeça e eu cai. Fique consciente por um tempo, a ultima coisa que eu lembro é de uma mulher que me parecia familiar.

-Essa mulher era minha mãe, depois do bombardeio ela saiu para ver se estava tudo bem, e voltou com você.

-Onde ela esta? A sua mãe.

Um nó se formou na garganta de Emily, lagrimas subiram aos olhos, mas ela engoliu o choro. Ela já chorara muito por um dia, não ia chorar de novo, ainda mais na frente do garoto.

-Ela morreu... – Sua voz falhou na ultima palavra. O garoto pareceu chocado.

-Há quanto tempo eu dormi?

-Não sei bem, meia hora, uma hora talvez.

-E ela morreu durante esse tempo? Como? – Emily não entendia porque ele parecia alarmado, nessa guerra, pode ser a ultima vez que você vai ver uma pessoa.

Ela contou toda a historia para ele, falou de Guerd e de Meridan, que eles estavam procurando pelo herdeiro e como eles achavam que sua mãe o tivesse escondido e como ela se recusou a revelar onde ela estava, eles a mataram.

O garoto tentou se levantar quando Emily terminou de falar, mas ele ficou branco e as pernas fraquejaram. Emily correu para apoiá-lo e o levou para uma das camas.

-Você está muito ferido para andar sozinho, deve ficar deitado.

-Não preciso disso, me solte. – Ele a empurrou e Emily caiu no chão – Desculpa – Ele não parecia nem um pouco arrependido o que inflamou a raiva em Emily.

-Olhe aqui! Se não fosse por mim, nem por minha mãe que morreu por que foi te ajudar, você estaria morto! Está ouvindo? MORTO! Você não quer ajuda? Beleza, dissesse isso antes de minha mãe te trazer para dentro e morrer no seu lugar! Ela está morta... – Sua voz falhou e lagrimas de raiva de tristeza escorreram de seus olhos.

Emily achou que ele fosse dizer que não era culpa dele o tal de Guerd ter escolhido aquele abrigo para entrar, mas ele apenas cerrou os dentes e sentou na cama.

-Só acho que você deveria saber, você está em perigo...


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Notas finais do capítulo

tomara que tenham gostado



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