Ainda Manhã de Sexta; Sol/Calor — Domonicky

Depois de descontar toda a raiva num travesseiro, resolvi organizar minhas coisas antes dela voltar. A metade do guarda a roupa que ficou na parte dela do quarto seria dela e isso ficou subentendido desde que divide o cômodo.

Quando coloquei tudo no lugar e a gaiola de Lola já estava acima da mesa do meu notebook ouvi um miado. Isso mesmo, um miado! E vinha da mochila daquela irritante. Encarei a mochila preta e vi o zíper levemente aberto... e um gatinho enfiou a cabeça ali. Tudo bem que aquele gatinho preto dos olhos azuis claros era a coisa mais fofa do mundo... se eu gostasse de gatos. Ele saltou da cama para o chão com os olhos vidrados na minha calopsita. Ah, não! Ele saltou sobre a mesa e deu um tapinha na gaiola. O felino era miúdo, cabendo na palma na mão... e estava querendo comer um pássaro com o dobro de seu tamanho.

Nessa hora Taylor entrou no quarto e encarou o gato.

— Duque! — ela disse num tom reprovador que fez o pequeno animal a encarar — A gente ficou com a parte de lá do quarto, fica lá — ela apontou e o gatinho caminhou de cabeça baixa para o lado deles do quarto.

Encaro o gesto impressionada, mas lembrando que eu estava nutrindo um ódio puro pela dona do tal Duque encarei a garota seria.

— Um gato? — disse cruzando os braços.

— Uma calopsita? — ela repetiu, mas tinha um sorriso provocador no rosto.

Ah, aquele maldito sorrisinho. Ele brincava nos lábios delas de um jeito infantil e sedutor. Me vi encarando aqueles lábios por mais tempo que deveria e desviei o olhar. Eu vacilei de novo, aquela garota conseguia pulas as paredes e me fazer abaixar a cabeça. Ela merecia um soco, um maldito soco naquele sorriso torto. Grunhi novamente e cerrei os punhos.

— Seu gato não fica aqui. Odeio gatos. — digo e então ela se aproximou, mas ainda perto da porta.

— Sua calopsita não fica aqui. Odeio calopsitas. — ela repetiu ainda com o sorriso.

Avancei contra ela e a vi recuar um passo e erguer os braços em defesa. Ah... então ela também se intimidava comigo...

— Qual o problema? — Victoria apareceu na porta.

— Ela tem um gato! — reclamei.

— E daí? — Katheriny surgiu ao lado da namorada.

— Odeio gatos.

— Katyyy — disse Taylor, num tom manhoso. Ela era muito parecida com um gato. — Eu tenho esse gato desde os 13 anos, por favor, não deixa essa garota o tirar da minha vida agora. Você sabe, ele é muito comportado!

— Ele quis comer minha calopsita!

— É mais fácil é a calopsita comer ele — riu Vic. — Esse gato ai é inofensivo pelo que Kat me contou.

Okay... respirei fundo. Realmente seria um longo tempo até eu me livrar daquela garota.

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Noite de Sexta, lua cheia/leve brisa fria — Kat

— Amooooor — disse numa voz que aprendi a fazer pela Taylor.

Estávamos no nosso quarto, deitadas na cama de casal. Ela lia um livro e eu jogava Call of Duty ao lado dela.

— Falaaa — ela imitou minha voz de um jeito terrível.

— Vamos comer pizza? — pedi sorrindo como uma criança que nós sabíamos que eu era.

— De novo, criatura? — ela me olhou por cima do livro. — Fomos, tipo, semana passada!

— Mas eu amoooo pizza... e Taylor também! — disse com um biquinho.

— Tô começando a sentir ciúmes — ela murmurou antes de puxar meu lábio inferior com os dentes. Tão meiga. — Se arrume que eu vou avisar as duas... que estão tão quietas que eu acho que Nicky a matou.

— Não, Ty tem o dom de fazer as pessoas desabarem com um olhar.

Sorri e recebi um selinho dela. Fui direto para o banho antes dela mudar de ideia. Vesti um jeans novo e uma camiseta branca, nos pés simples all star pretos foram o suficiente. Vic se arrumou toda, como sempre. Ela usava um vestidinho branco florido e uma tiara na cabeça que só deu um ar ainda mais inocente e fofo.

Domonicky estava sentada no sofá de cara amarrada enquanto Taylor estava ao seu lado arrumando os cadarços do all star. Nicky usava uma camisa azul simples e shortinho jeans com all star branco. Ty já estava num casual estilo nerd: camisa xadrez preta abotoada até o ultimo botão e mangas bem dobrados no pulso. Uma pequena e engraçada gravata borboleta amarela bem amarrada no colarinho da camisa. Usava jeans colados e all star do Batman por cima da barra deles. No rosto seu ray-ban preto com o símbolo do morcego na lateral.

Na orelha seus piercings brilhavam. Ela tinha 3 (2 na parte de cima e 1 no lóbulo) na esquerda e na outra 2 no lóbulo e um transversal. Sem falar naqueles alargadores no símbolo do homem morcego que combinavam com o boné. Taylor estava naquele dia que usava até a cueca de determinado herói. E eu não duvidava nadinha que ela não estivesse com sua box do Batman.

Victoria, como uma perfeita riquinha, pediu para seu mordomo nos levar para pizzaria. Ah, amor... era tão divertido ver a cara do seu motorista para nós. Ele olhava como se fossemos mendigos. Bom, Taylor era infantil num nível enorme, então ele pensava que aquele ser que se achava o Batman era uma pré-adolescente com gigantismo.

Ao chegarmos na pizzaria do senhor Carlos; o nosso tão querido Carlão; sentamos todos numa mesa do lado de fora e Domonicky teve de se sentar ao lado de Taylor. Eu encarava o olhar da minha melhor amiga para a companheira de quarto. Era aquele olhar.

Vamos deixar uma coisa bem clara aqui: Taylor já havia gostado de muitas outras garotas antes, mas ela não falava. Então ela é, provavelmente, a única garota de 17 anos que nunca beijou alguém NA VIDA! Tudo bem que ela tinha seu jeito de ‘porra loka’, mas ainda era uma nerd inocente no sentindo de namoro. Taylor apaixonada era daqueles que escreve poesia e toca violão para a pessoa. Namorar para ela era sair a tarde e andar de mãos dadas pelo parque.

E aquele olhar bobo na imensidão azul e intensa que Taylor chamava de olhos entregava tudo: Ela estava afim da Domonicky. Mas era obvio que ela ia fazer de tudo para a garota não descobrir, mas tinha algo naqueles olhos que entregava seu plano travesso. A cada pizza que Nicky pedia, Ty pegava um pedaço sem ela ver. Beberica seu refrigerante. Tudo para irrita-la. Foi então que notei o motivo: A garota só dava atenção para ela quando isso acontecia.

Irritar Domonicky era o modo de Taylor fazer a garota a notar ali. Só que ela não sabia o quão agressiva a outra era e... uma hora ou outra, minha melhor amiga levaria um haduken.

— Então, Taylor — disse Victoria encarando a garota. — O que pretende cursar?

— Ciência da Computação — ela sorriu levemente, seu tom e fala perfeitamente perfeito. — Quero ser Analista de Sistemas!

— Hm... — Vic sorriu para ela. — Katheriny me falou muito sobre você, fiquei até com ciúme.

— O que ela disse sobre mim? — Taylor corou. Ah, céus! Ela era exatamente igual desde que nós conhecemos. Tão tímida e tão fofa!

— Disse que sua comida preferida é ‘Boeuf Bourguignon’ — ela disse com um francês horrível.

— Boeuf Bourguignon — Taylor corrigiu no seu tom perfeito. — É, realmente é minha comida favorita.

— Comida de rico... — resmungou Domonicky, claramente irritada. Ty a encarou com aquele olhar bobo que só eu parecia notar.

Então algo deu errado no plano da minha amiga de chamar atenção: Ao provocar a garota amada mais uma vez, o Batman levou um soco na cara.

Num único movimento, Nicky quase nocauteou a Ty. Minha amiga caiu da cadeira, batendo com as costas na calçada num bague surdo. O boné se perdeu em algum lugar no chão junto com os óculos, Taylor apertava os olhos... eu não sabia se era pelo fato de sua sobrancelha direita estar sangrando pelo golpe forte que levou, ou pelo fato dela não tá enxergando nada sem os óculos. Dúvida eterna.

Depois disso, minha amiga ficou no chão, estática. Até que começou a rir. Isso irritou profundamente Domonicky, que provavelmente queria continuar fazendo Ty de saco de bancada. Mas minha amiga ria... como se a dor a divertisse. Ela recolocou o boné e os óculos, indo ao banheiro sem dizer nada para parar o sangramento.

— Domonicky, cê fumou o que mulher?! — Victoria disse a encarando de boca aberta. — Você podia ter deixado a menina cega e....

— Mas eu não deixei — ela respondeu, ríspida. — A idiota ainda estava rindo, provavelmente nem doeu tanto assim.

— Você a feriu, saiu sangue! — Vic continuou com a bronca.

— Você não é minha mãe — ela a encarou com um olhar frio... onde vi uma preocupação e um profundo arrependimento.

Ah, Taylor, você a conquistou de jeito!