Stop! escrita por Elizabeth


Capítulo 2
Cabelo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/588418/chapter/2

‘’- Veja Otavia, como o cabelo dela é bonito -’’

Sua mãe sempre lhe dizia o quanto o seu cabelo era lindo. O quanto era longo. Macio. E de como era perfumado. E forte. E negro. Dizia-lhe que com ele, iria conquistar corações.

Quando criança, Lizz sorria. Sempre sorria. Amava receber os elogios de sua mãe. Sempre perguntando o porquê dela não possuir cabelos iguais aos seus. A encarava com as sobrancelhas franzidas, e indagava, sem entender, o porquê de Lúcia não ter um fio em sua cabeça careca.

Adorava passear os dedinhos em volta daquela pele macia e limpa, tão desconhecida. Fazia sua mãe rir, apenas com aquele pequeno ato de carinho. E ria junto a ela. Uma risada infantil, gostosa de ouvir.

‘’ Lizz, Não incomode sua mãe’’ Seu pai sempre dizia.

‘’Oras querido. Deixe ela se divertir. ’’ Sorria. Aquele sorriso verdadeiro. Feliz.

A volta para casa, era triste. Lizz chorava. Era assim todos os dias. Sua mãe afagava seus cabelos, sempre que isto acontecia. E ela acalmava-se. Sabia, iria embora, mas voltava no outro dia.

‘’Papai, por que a mamãe precisa ficar aqui? ‘’ tristemente perguntava. ‘’Sinto a falta dela’’

‘’A mamãe está doente, filhinha. Tenha paciência. Logo ela estará conosco novamente. ’’

Uma semana depois, Lúcia morreu por causa do câncer que a consumia.

Capitulo um - Cabelo

‘’Que lembrança desnecessária’’ Pensava.

Era uma manha de segunda-feira, fria e de nuvens cinza. Lizz odiava sonhar essas coisas que lhe faziam falta. Sentia-se vazia de espírito, como era comum todas as manhãs. Seu despertador tocou, assustando-a pelo barulho alto e repentino. Com preguiça, mostrara o braço fino e o levara ate o objeto. Voltando a reinar o silencio. Resmungou alguma coisa e com dificuldade ficara em pé ao lado da cama. Coçou os olhos vermelhos, e de modo cambaleante fora ate a saída do quarto, encontrando-se em um corredor. Abriu a porta do banheiro, logo em seguida tirando o pijama de cor negra. Ligou o chuveiro, permitindo que os fios grudassem ao rosto de queixo fino.

Era deprimente. Lizz Lee era deprimente. Seu corpo era magro de mais. Seus olhos eram fundos de mais. Seus seios eram pequenos de mais. Seu rosto era fino de mais. Lizz era feia de mais. Ela sabia disso. Todos sabiam disso. Faziam questão de lembrar a ela. Era quieta de mais. Estudava de mais. Putinha de mais. Ridícula de mais. Chorava de mais. E apanhava... Muito pouco. Era isso que eles diziam.

O corpo não estava desnudo. Apenas coberto por uma calcinha e um sutiã de cores bege. Os olhos negros estavam atentos. Grudados no espelho longo à frente.

‘’Nojento’’

A sua imagem era nojenta. Aquele corpo era nojento. O cheiro dele era nojento. As manchas roxas, os cortes, tudo aquilo era nojento. O ódio que sentia era nojento. O desejo de vingança era nojento. Lizz era nojenta.

Ajoelhou-se. Enjoada com o que via. Chorou, mesmo segurando o choro.

‘’Irei me atrasar para o colégio. ’’

Chovia. Lizz não esperava que fosse chover. Mesmo com o tempo frio. Com as nuvens cinza. Lizz não esperava por aquilo. Estava toda molhada. O Uniforme se grudava. E aquilo a deixava toda envergonhada.

‘’Serei motivo de chacota’’

Todos a encararam. Em seguida, todos riram dela. O professor a encarou com o semblante transbordando pena. Lizz encolheu-se, abraçando o próprio corpo. Cobrindo o sutiã que ficara a mostra, graças ao uniforme que ficara transparente.

‘’Retardada’’ Um bolinha de papel fora jogada.

‘’Hey! Comporte-se, ou terá uma conversinha na diretoria. ’’ Jorge, professor de Filosofia, aproximou-se de Lizz, e pediu que a mesma conversasse com a coordenadora.

Sentia-se melhor. Estava totalmente seca.

‘’Amanha devolva o uniforme’’ Disse Dona Elizabeth.

Lizz, sem graça, sorriu.

‘’Sim senhora’’

Na volta para sua classe. Encontrou-se com Otavia e Daniella. Tremeu. As duas a encaram com repulsa. Assim como quase todos os outros.

‘’Veja Otavia, como o cabelo dela é bonito’’

‘’Ela não merece este cabelo’’

‘’Ninguém tão feia como ela merece este cabelo’’

Daniella sorriu, segurando o braço morto de Lizz. A puxou ate o banheiro feminino e a jogou de joelhos no chão.

‘’Putinhas não podem ter um cabelo tão bonito’’

Lizz gemeu. ‘’Por favor, meu cabelo não’’ Pensou.

‘’Me dê esta tesoura, Daniella. ’’

Assustou-se, arregalando seus olhos negros.

‘’Por favor... O cabelo não. ’’ Implorou ‘’É a única lembrança que tenho de minha mãe. ’’

Otavia sorriu. Um sorriso maldoso.

‘’Vamos, Dani, segure os braços dela’’

Debateu-se. Gritou. ‘’Meu cabelo não’’ Chorou. Daniella cobriu-lhe a boca. Segurou-a com força. Lizz era fraca de mais. Gemeu, observando o barulho que a tesoura fazia ao cortar seus cabelos negros. Otavia e Daniella riram, ao terminar o serviço. Suas faces demonstravam orgulho.

‘’Veja Otavia, que cabelo ridículo’’

‘’Ela merece este cabelo’’

‘’Todos, tão feio quanto ela, merece este cabelo’’

Os dedos pálidos. Trêmulos. Passearam pelos fios curtos. Mal cortados. Lágrimas abandonaram seus olhos. Sujaram sua face. Aquele cabelo... Aquele cabelo já não trazia mais felicidade.

‘’Mamãe’’


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stop!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.