Stop! escrita por Elizabeth


Capítulo 3
Suja




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‘’- Como ela fede! -’’

’ O que houve com o seu cabelo?’’ indagou Roberto.

‘’Papai... Papai eu... ’’ Lizz estava envergonhada.

‘’Como pôde?’’ desprezível. Lizz era desprezível ‘’Sua mãe adorava-o tanto. E veja o que fez’’

‘’Papai... Entenda. Eu... ’’

Segurou-se. Fungando após a tapa que recebera.

‘’Vá para o seu quarto!’’

Capitulo Dois - Suja

Seu pai não havia falado consigo. Estava irritado. Bravo. Mas Lizz não o culpava. Se culpava. Era fraca. E odiava ser fraca.

Estávamos em uma quarta-feira. Dia quente e ensolarado. Lizz já não tremia tanto assim. Mas todos a olhavam.

‘’Veja. Que ridícula’’

‘’E aquele cabelo. Meu Deus’’

‘’Que horrível’’

As pessoas poderiam ser realmente cruéis quando desejavam ser. Elas poderiam pisar em você. Machucar você. Assassinar você. Não era preciso armas. Não era preciso mãos. Não era preciso pés. Bastavam apenas palavras.

Lizz sabia bem daquilo. Mas nem todos sabiam. A maioria tinha a certeza, de que para morrer, era necessária a agressão física. Lizz entendia. Apenas Lizz, ali entendia. Como era estar morta, mesmo ainda estando viva.

‘’Mas que vergonha’’ Pensou, adentrando a sala. Todos a olharam. Alguns riram, e os bagunceiros lhe zoaram.

‘’Credo. Que coisa horrorosa’’

‘Que ridículo?’’

‘’Lizz é realmente feia’’

Não! Não iria chorar. Aliás, para que chorar? ‘’Toda essa gente. Sentindo-se bem em machucar. Tendo suas vidinhas perfeitas e miseráveis. Não duvido nada. Há alguns anos, será apenas lixo na sociedade. ’’ Que asqueroso. O ódio de Lizz era asqueroso. A inveja de Lizz, era deprimente. Riu.

A aula se passava normal. Quieta. Ninguém sussurrava. Ninguém andava. A maioria apenas estudava. Alguns rabiscavam, outros desenhavam. Talvez o motivo fosse o professor de Sociologia. Era um homem alto. Magro. Tinha os cabelos negros, levemente manchados com o cinza da idade. Lizz adorava suas aulas. Eram sempre tão depressivas. Tão quietas. A voz do professor a acalmava.

‘’Lizz’’ Gustavo a chamou, quando viu a garota guardar seu material escolar ‘’venha cá. Vamos conversar’’

Lizz tremeu. Curiosa. Estava realmente curiosa. Viu, pelo canto do olho, todos da sala abandonarem o local. Suspirou, sentando-se a frente do professor.

‘’O que houve com o seu cabelo?’’

Desviou o olhar. Movimentando os seus dedos um no outro.

‘’Eu resolvi corta-los’’

Gustavo estreitou os olhos. Desconfiado.

‘’Você mesma o cortou?’’

‘’Sim... Professor’’ gaguejou

Lizz falhou-lhe o ar. Estava nervosa. Nervosa demais.

‘‘E por que resolveu corta-los no banheiro da escola? ’’

Surpreendeu-se. Não havia se preparado para aquilo.

‘’Meu... Meu pai nunca iria permitir. Então o fiz aqui. Sem pensar. Mas não me arrependo’’ Mentiu. Mentiu de maneira miserável

Gustavo não havia acreditado.

Lizz sorriu, e sem encara-lo, saiu da sala.

Otavia e Daniella eram melhores amigas. Sempre juntas. Inseparáveis. ‘’Chega a ser insuportável. ’’ Era o que Lizz pensava. Na hora do almoço, elas gritavam. Não conversavam. Eram tão soltas e mal educadas. Todos ali a escutavam. Mesmo que tentassem não escuta-las. Eram rudes. Metidas a valentonas. A baderneiras. Implicavam com a maioria das garotas. Lizz sabia. Ela sempre via. Mas também notava uma coisa. ‘’Qualquer um pode maltratar alguém mais fraco que você mesmo’’

Dona Vera, era a faxineira. Tinha uma filha, morena, de cabelos cacheados e de lábios fartos. Não via. Mas todo dia sua filha era vitima. Lizz gostava da força dela. Da capacidade que ela tinha de dar a volta por cima. Mas Lizz pensou ‘’Se eu tivesse amigos. Eu também seria. ’’

Próxima aula era Matemática. ‘’Eu odeio Matemática’’ choramingava. Todos já voltavam para as suas classes. ‘’Não quero voltar para a classe’’ Mas teria que voltar. Após suspirar, caminhou lentamente ate o banheiro feminino. Não iria cabular a aula. Longe disso. Apenas lavaria a face.

‘’Olhe o que encontramos aqui’’

Lizz saltou assustada. ‘’Por favor. Por favor, não’’ Implorou em pensamentos.

‘’Mas não é que fizemos um ótimo trabalho’’ Sorriu Otavia.

Tremeu. Iria cair de joelhos. Estava com medo.

‘’Vamos Otavia. Estamos atrasadas’’ Chamou à amiga, Daniella.

Lizz agradeceu, aliviada.

‘’Espere!’’ interveio ‘’Vamos enfiar a cara dela no vaso sanitário’’

‘’Mas está imundo’’

‘’Quem se importa’’

Otavia riu. Logo depois Daniella riu também. Lizz encolheu-se.

‘’Não! Por favor. ’’ Implorou, sentindo as duas agarrarem seus braços ‘’ Por favor’’ Debateu-se ‘’ Não! Não quero isto. Solte-me!’’

‘’Cale-se, sua putinha de merda’’ Otavia ordenou, pisando com força em seu pé. Lizz gemeu. Obrigaram-na a sentar no chão de azulejo frio. Seguraram-lhe seu cabelo desarrumado e enfiaram sua face para dentro do vaso. Lizz arregalou os olhos. Afogando-se com aquele liquido fétido e amarelado.

‘’Quanto tempo acha que ela aguenta?’’ Otavia brincou.

‘’Vamos. Já chega. Não queremos nada sério’’ Daniella avisou, puxando-a de volta.

Lizz sujou-se. Enojada consigo mesma. As duas riram.

‘’Como ela fede’’ Disse, tampando o próprio nariz.

Chorou. Mas chorou alto. Ninguém ali estava preocupado. Ninguém ali iria escuta-la.

‘’Eu estou totalmente podre’’


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