Como amar escrita por blackHeart


Capítulo 4
Oficial


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ♥ Digam algo. Só pq vcs comentam que decido continuar. x.x



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Ino foi a primeira a descer do carro, ainda que tenha feito devagar. Ao ver o cachorro mais de perto, entretanto, foi como se levasse um soco no estômago. O ar sumiu por tempo indeterminado, e lembranças nebulosas cercaram-na como se fossem mortíferas.

Havia uma bota militar afundando na lama, e Ino podia ouvir o som da água e da terra abaixo dos pés. Conforme a imagem ia subindo ao longo do corpo, uma roupa amarrotada marrom e verde ganhava contornos femininos, e a silhueta, por conseguinte, parecia menos robusta e mais delineada. No peito, uma tira negra identificava a pessoa ereta. Yamanaka. Também era possível ouvir o som da respiração pesada e desesperada, como se a respiração estivesse muito difícil.

A lembrança, como veio, se foi. Gaara já estava ao seu lado, e ele parecia entender o que estava acontecendo com a mulher. O ruivo realmente compreendia a situação, mesmo porque o estado de espírito da moça não deixava margem para outras interpretações. Ino ficara por pelo menos meio minuto presa num devaneio longínquo, parada no meio de sua porta, na frente de um animal morto.

– Vamos entrar. – Ele falou, colocando a mão no ombro dela e descendo suavemente até as costas, obrigando-a a andar. Por trás do som calmo de sua voz havia uma ordem. Faria um chocolate quente para os dois, e enquanto Ino tomava o dela e o dele esfriava, enterraria aquele animal que, por ora, preferia acreditar que morreu atropelado, e não assassinado.

Era apenas uma desconfiança que cada vez mais crescia. Diante do sentimento, das coisas que Sasori disse sobre a loira e de todo o mistério que rondava sua casa no momento, o Sabaku tinha em mente que precisava proteger a garota de alguma coisa, nem que fosse dela mesma.





– Será então que você era uma agente de campo? – Ele perguntou após tê-la escutado atentamente. Estava sentado junto com ela no tapete macio da sala de estar. As xícaras recém esgotadas de chocolate ficaram esquecidas na mesa de centro, e o alvo da atenção dos dois era a caixinha onde Aiko e Rukia dormiam tranquilamente.

– Não vi meu rosto, mas acredito que sim. Que era eu. – Ela respondeu. Estava poucos centímetros longe do ruivo.

– Entendo. – Ele falou da boca pra fora, pensando numa Ino fardada e que se auto defendia. A imagem era sexy, mas distante da Yamanaka que ele conhece. Não que ela não pudesse se defender sozinha agora, mas desmemoriada é mais difícil. – Eu vou te dar roupas minhas. Amanhã eu... Te levo em algum lugar pra comprar o que você precisar.

A loira se limitou a assentir, entretida com a feição sempre serena do rapaz. Gaara continuou a encarando de volta, sem medo de focar a atenção nos olhos dela. Eram de um azul mutante, topázio. Uma coloração que ao redor parecia mais escura, e quanto mais se aproximava da pupila, mais claro o azul se tornava.

Nunca saberia explicar aquele olhar. Era como uma das poucas coisas em sua vida que não conseguiria descrever sem interromper-se com o famoso “não tem como explicar”.

Aquela constatação pareceu inspirá-lo por um breve momento, momento este que não hesitaria em colocar no papel. Levantou-se num rompante, fazendo a garota fitá-lo com ainda mais atenção, enquanto se dirigia ao seu notebook de trabalho.

Ele estava descalço, e ela se pegou observando o pé dele, algo que a loira julgava muito íntimo para se analisar. Não pode evitar, entretanto. Gaara tinha as unhas num formato mais quadrado, ao contrário das dela, que eram totalmente redondas. A calça de moletom que ele trocou quando entrou, porque havia se sujado de terra enquanto enterrava o pobre animal morto, estava levemente erguida, de modo que as sardas do homem estavam todas em seu campo de visão. Era gracioso.

Ainda olhando-o, foi envolvida por um bom sentimento, por uma sensação tranquila e por boas lembranças. Não era uma surpresa. Gaara e sua casa contribuíam para bons pensamentos.

Respirava fundo novamente, mas sua respiração foi brutalmente interrompida por um tapa forte nas costas. Como estava exausta, seu corpo cedeu, e a jovem Yamanaka não teve como barrar a queda até a grama fria e cortante. Aquele ambiente não era acolhedor nem do lado de fora, onde tudo se resumia a paisagem. O homem responsável por fazê-la ir ao chão estava em pé ao lado de seu corpo, com as mãos na cintura e uma expressão dura.

– Por que está no chão? – Ele perguntou friamente.

Por que não estou descansada. – Respondeu no mesmo tom. Podia estar fraca, mas não queria se humilhar tanto ao ponto de mostrar uma voz afetada.

Por que não está descansada? – Ele retrucou, ainda com o mesmo tom alto.

Porque cobri três garotas.

Por que cobriu três garotas se é um rodízio, Yamanaka?

Porque elas desistiram. Me voluntariei, ou então o time masculino podia conseguir entrar aqui.

Muito bem, Yamanaka. Você está fora, já pode descansar para a fase dois do seu treinamento.”

A fase dois... Queria se lembrar de como era a fase dois. Parecia uma conquista, e para uma militar, a conquista da fase dois deveria significar muito.

Voltou o olhar para o ruivo, que digitava rapidamente no notebook. A luz da tela clareava o rosto dele, uma vez que a luz não estava acesa. Ele fazia aquilo às vezes. Precisava tanto despejar as ideias que teve, que nem acender a luz ele conseguia.

Ela riu, se levantou, e carregando as xícaras que deixaram na mesinha, dirigiu-se ao interruptor e o acendeu, depois caminhou para a cozinha.

– Obrigado! – Ele gritou depois de alguns segundos da ação, e Ino sorriu sozinha novamente, jogando água nas louças e esticando a manga para lavá-las.






– É o nosso segundo. – Gaara falou com o cenho franzido. Ino havia tomado banho há pouco, e agora já usava uma camiseta dele e uma calça de tecido fininho, que ela amarrou dos lados. – Nem parece que paramos pra comer em algum lugar, estou envergonhado. – Falou, mas sem realmente parecer constrangido.

– Está uma delícia! – Ela murmurou, ao que o telefone tocou. Distraída com o seu lámen, só ouviu a conversa do seu salvador enquanto comia.

– Oi. – Ele falou baixo. – Eu sei, Temi. Eu vou aí amanhã, ok? É que não deu.

Temari estava reclamando dos dois dias que Gaara não foi visitá-la, e mesmo que disfarçasse a voz, o tom naturalmente mimado da irmã claramente estava amargurado.

– Desculpa. Até. – Ele se despediu.

Ino estava olhando para o pote sem realmente vê-lo. Uma lembrança em especial se repetia em sua mente como um loop, e ela soube que havia passado por aquilo mais de uma vez.

O pote de plástico cheirava a frango. Com a habilidade de uma mulher que muito fez aquilo, enrolou o lámen fumegante no hashi, levando-o a boca com um mero assopro. A careta de dor suavizava aos poucos, enquanto ela repetia o processo às pressas. Estava fardada, dentro do alojamento, sentada na beliche de baixo, comendo no escuro e olhando para os lados frequentemente, como se esperasse alguém irromper pela porta sem o mínimo de paciência para esperá-la terminar. Assim aconteceu, mas o rosto da pessoa estava encoberto pelas sombras do quarto e pela névoa que eram suas lembranças perdidas.”

– Ei. – O Sabaku chamou pela última vez, acariciando sua cabeça até a nuca da loira, amassando seus cabelos longos, repetidas vezes. – Outra lembrança? – Sua voz era compreensiva e carinhosa.

Ela ergueu o rosto, e viu-o de baixo com certa adoração. Claro que ele deveria ter notado aquilo. Ela podia jurar que seus olhos estavam molhados sem nem vê-los.

– Sim. – Respondeu. – Parece que elas vem quando faço algo que já fiz.

– Então nesse passo, você se lembrará de tudo. – Ele sorriu. – Quer contar?

– Foi uma memória simples. Nada novo.

– Então termine de comer. Estou com sono, vou começar a preparar seu colchão.

Ino não sentiu mais a mão dele. Lamentou por isso, vendo-o se afastar calmamente.






Sabia que Gaara tinha aceso a lareira para ela, pois era uma noite bem fria. Aquela constatação, porém, era um pensamento distante, quase perdido. O conforto era tão absoluto enquanto virava para a esquerda envolta na coberta fina e de tecido quase liso, que imaginava o colchão de solteiro que Gaara arrumou sendo muito maior do que realmente era.

A figura do ruivinho era a de proteção absoluta, aliando a figura paterna com a representação de um homem atraente. Os cabelos rebeldes dele quando os colocava para trás – e eles voltavam bagunçados, era talvez o ato quase inconsciente mais divertido que ele fazia.

Lembrava-a de alguém.

Alguém que invadia seus sonhos, e que tinha os mesmos cabelos vermelhos, mas mais escuros. Os de Gaara eram de um vermelho vivo, de forma que ela sabia que não era ele observando encoberto pelas neblinas de suas memórias.

O sono veio forte, baqueando-a em pouquíssimo tempo entre o limbo de estar acordada – ou não, ela nunca saberia dizer.

Ino apanhou o livro pesado e de capa dura, cujas cores eram escuras e opacas. O nome Akatsuki se destacava grosseiramente e em relevo, mas a estranheza do termo não lhe causava vontade alguma de ler.

Ainda assim, como tinha o dia inteiro de folga, achou que o tempo seria bem gasto se lesse um pouco.

Depois de dez folhas lidas, Ino fechou o livro com força, raivosa com o autor que tivera a coragem de descrever as montanhas de forma completamente equivocada. Abriu o livro novamente, procurando a fotinho do maldito que escrevera com palavras tão rebuscadas um monte de mentiras sobre seu lar. Ela sabia que era sobre aquelas montanhas que ele estava falando. Não havia foto, mas um nome em dourado e letras pequenas. Sabaku No Gaara.

Ela não sabia quem era, graças aos Deuses.

Colocou o livro em cima do peito, porque estava deitada, e respirou fundo. Dormir ou não dormir? Quando decidiu dormir, a porta ruidosa do alojamento se abriu devagar, e desta vez ela viu o rosto. E ele trazia uma sensação esmagadora de tensão, ao mesmo tempo que a presença era aliviadora, bem vinda. Uma contradição sem explicação alguma.

O oficial Kankuro.


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