Mônaco, Reviera francesa. 

Toda missão tem seu risco. A equipe sabia disso. Essa missão tinha um grande risco de falhar. Mas era esse sentimento de adrenalina que estava fazendo Clarissa Morgenstern esquecer de todos os seus problemas e mergulhar de cabeça no que estava por vir.
Na noite anterior ao evento tão aguardado pela equipe, por volta de meia noite, Luke dispensou a equipe para descansar para o dia seguinte. Todos precisavam estar dispostos para o evento no próximo dia. Clary odiava admitir mas ela precisava dormir urgentemente. Somente Jace estava ainda na delegacia mas não demoraria para ir embora. Ele passou na mesa que Clary estava para se despedir.

— Me espere, estou quase acabando. - Falou a ruiva.

A Morgenstern terminou de procurar na pasta cheia de papéis o que precisava. Colocou as folhas dentro de sua bolsa, tomando cuidado para não amassa-las. Vestiu o casaco enquanto ia em direção à porta, onde o loiro a esperava com as chaves na mão. Eles se locomoveram em direção ao carro, um peugeot 2008 preto. Clary foi dirigindo até o local onde a equipe estava passando a noite.

Eles não dirigiram uma palavra um para o outro até o primeiro sinal que pegaram fechado. Jace olhou para a ruiva ao seu lado, ela mantida o olhar para frente e batucava o dedo, que continha um anel de prata, no volante.

— O que você sabe sobre Stephen Herondale? - Arriscou perguntar Jace.

— A pergunta certa seria: o que eu não sei sobre Stephen Herondale. - Falou a ruiva olhando para ele.

— Eu sei que ele é do alto escalão da Scotland Yard, que treinou você e mais um arremato de pessoas. - Falou Jace.

— Ele é o inspetor chefe da Scotland Yard, já foi comandante de uma unidade que combatia crises organizados pelo Reino Unido mas a unidade foi fechada após... Bem, eu acho que depois dos últimos acontecimentos desses dias, você sabe o motivo. - Falou Clary acelerando novamente o carro.

— Imagino...

—Você pensa que ele está vivo, não pena? - Ela desviou o olhar do trânsito por um segundo. 

— Você vai me chamar de maluco ou coisa parecida, mas você provavelmente intenderia se não conhecesse seu pai. - Falou Jace olhando o tráfico na janela ao seu lado. - Quer dizer, as histórias não batem. Com certeza não batem! Essa família Herondale tem dinheiro e comanda uma das maiores instituições de combate ao crime enquanto a minha tem uma pequena propriedade de plantação de milho em Iowa.

— Com certeza você não esperaria o que vou dizer agora, não depois dos foras, coices, respostas mal humoradas e discussões que tivemos... Mas sei que isso é complicado para você. Eu tenho problemas com a minha família, Mark tem problemas com a família dele. Todos têm. - Consolou a ruiva.

Jace tinha uma consciência mínima sobre esse lado "humano" de Clarissa Morgenstern.

— Sim, que família não tem?

— Meu pai fez da,minha família uma instituição de combate ao crime na Alemanha. Por causa disso, meu irmão nem olha na minha cara. Acredite, tudo aquilo escrito sobre mim naquele jornal não é nem um terço do que a "Instituição Morgenstern" fez ao longo desses anos. Isso está deixando Stephen mais calmo em relação a mim, eu acho. - Clary estacionou o automóvel no estacionamento da hotel que a equipe estava.

O que poderia ser verdade. Já que a única ligação que Clary recebeu de Stephen foi aquela em Haia.

— E eu acho que voltamos no assunto Stephen Herondale - Falou o loiro enquanto a ruiva tirava a chave da ignição.

— No final todos são iguais. Stephen, Velentin, Robert... - Suspirou a ruiva cansada ao apertar o botão que desmembrava o cinto de segurança.

Os dois saíram do carro e a ruiva trancou o peugeot. Eles seguiram até a recepção do hotel em silêncio, o ultimo comentário flutuava entre os dois.

— Você pretende dormir? - Perguntou Jace quando os dois estavam no elevador.

— Não, trouxe uns documentos comigo para analisar. - Falou a ruiva e mergulharam no silêncio até as portas do elevador se abrir.

— Você deveria descansar. Amanhã ou hoje, não sei que horas são, será pesado - Aconselhou.

— Todos os dias são pesados. A adrenalina que me move. - Falou Clary ao sair do elevador.

— Isso se chama transtorno de ansiedade. Tem tratamento.

 Jace se impressionou ao arrancar uma mínima risada da ruiva. Bom, já era alguma coisa.

— Okay, obrigada pela dica. Boa noite. - Falou ela enquanto destrancava  a porta do quarto que estava.

— Boa noite.

Ao entrar no quarto e encontrar Isabelle Lightwood babando no travesseiro, Clary cogitou em ser amiga de Jace. Ele não era uma má pessoa. Mas somente cogitou a possibilidade.

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Era quase duas da manhã e a ruiva estava sentada na pequena mesa que havia no quarto. A cadeira era extremamente desconfortável e a luz do seu computador estava no mínimo para não incomodar a Lightwood que estava no décimo sono. Apesar da pouca luz e o cansaço, Clary analisava uma das folhas que tinha trazido consigo.

Era uma notícia de cinco anos atrás. Sobre um clube de pessoas pertencentes à alta sociedade de Mônaco que faziam um retiro em um local a cinco quilômetros de Mônaco, ou seja, no território francês. Segundo a notícia, o retiro era para arrecadar fundos para a caridade, um evento beneficente. Os membros que participavam do retiro geralmente doavam peças de alto valor, como: pinturas, relógios, joias... Com essas doações era feito um leilão e o dinheiro arrecadado era revertido a caridade.

Uma coisa chamou a atenção da ruiva. O nome do retiro. perierat, animae. Almas perdidas em tradução livre. Ela já ouvirá falar sobre esse nome antes.

Quando ainda trabalha na Scotland Yard teve um caso de desaparecimento de um grande empresário inglês. Ele tinha ido a Reviera Francesa atrás de um leilão de obras de arte para redecorar a casa ou alguma razão parecida. Nunca mais voltou da Reviera Francesa. O corpo foi achado perto da fronteira da Itália após alguns dias de investigações. O caso foi fechado e dado sem solução, já que não acharam o autor do assassinato.

Por coincidência - ou não - o nome do leilão era realizado por uma organização chamada Âmes perdues. Almas perdidas em tradução livre do francês. Ela precisava dos detalhes sobre esse caso que estava nos arquivos na Scotland Yard.

Ela entrou no seu servidor da Scotland Yard mas não havia nada que prestasse ali. Só havia somente casos antigos e insignificantes. Os arquivos dos casos não solucionados somente poderiam ser abertos por ordem judicial. Mas não custaria tentar.

Ela mandou uma mensagem pelo sistema de chat do servidor para Jam Carstairs, perguntando sobre esses arquivos.

CMorgenstern: Preciso que você adicione mais um favor na sua lista de favores que eu te devo.

CMorgenstern: Preciso de um arquivo sobre um caso da Scotland Yard.

Não demorou muito para o colega responder.

JCarstairs: Que tipo de arquivo?

Clary revirou os olhos. James estava com um pé atrás em relação a que finalidade ela estava querendo o arquivo.

CMorgenstern: Um arquivo de um caso sem solução.
JCarstairs: Qual caso sem solução?

CMorgenstern: Mais ou menos um ano e meio atrás. Desaparecimento de um empresário bilionário inglês na Reviera francesa. Foi encontrado morto perto da fronteira da Itália e França. Após isso o caso foi fechado e taxado como sem solução.

JCarstairs: Cabe à eu perguntar: é você que quer esse arquivo ou o ICC?

CMorgenstern: Interesse mútuo.

JCarstairs: Tem a ordem do ICC?

CMorgenstern: Não. Veio a calhar agora. Não vou ter uma ordem do Tribunal as duas da manhã.

JCarstairs: Não vou mexer nos arquivos da Scotland Yard sem nenhum mandato jurídico a uma da manhã.

*CMorgenstern digitando...*

JCarstairs: Nem adianta me pedir para mexer os pauzinhos para você. Já tem muitos nomes naquela notícia sobre o escândalo do século da SY. E se aparecer mais um, a Scotland Yard será taxada como a Instituição mais corrupta do século!

CMorgenstern: Espere eles desenterrarem os podres da polícia da Alemanha ou polizei Morgenstern. Os escândalos Scotland Yard são tranquilos em relação aos deles.

JCarstairs: Falando no escândalo... Stephen estava a sua espera uns dias atrás.

CMorgenstern: O plano original era esse. Eu ir até Londres e ter uma longa conversa com ele e com os responsáveis a segurança dos arquivos nos servidores da Scotland Yard. Mas como você deve ter percebido, não fui.

JCarstairs: E quando você realmente pretende fazer isso?

CMorgenstern: Quando Hodge Starkwather me confinar na minha sala na sede do ICC. Na verdade ele já fez isso.

JCarstairs: Então quando vem?

CMorgenstern: Quando minha parte da investigação estiver concluída, aí eu posso cogitar de ir até aí.

JCarstairs: Ou quando Hodge Starkwather aparecer com um mandato de prisão na sua cara.

CMorgenstern: O ICC tem muitos crimes de guerra para julgar. Muitas prioridades.

JCarstairs: Sua despreocupação me comove, sabia?

CMorgenstern: Não é despreocupação. É se concentrar no que realmente é importante.

JCarstairs: E isso não é importante? É a sua carreira e o nome da sua família que você está tentando limpar. Pelo que me lembro de você falar depois de tudo o que aconteceu.

CMorgenstern: Obrigada por me lembrar. Boa noite, Carstairs.

JCarstairs: Devo esperar a ordem do ICC?

CMorgenstern: Verei com Graymark hoje mais tarde. Te dou o retorno quando souber.

JCarstairs: Gostei da atitude. Sem meios ilegais, é um bom começo, sabe? Boa noite, Clary.

Ela sentiu-se exausta após o fim da conversa. Conversar aquelas coisas com Jam fez seu psicológico cansar. Ele era um bom amigo, uns dos poucos que a ruiva poderia considerar.

Ao olhar para o relógio percebeu que ainda havia algumas horas até a alvorada. Tinha a opção de ficar acordada pela terceira noite seguida ou dormir pelo menos um pouco. A segunda opção foi a mais atraente. Foi o que a ruiva fez. Dormiu até o sol nascer, indicando o começo de um novo dia.