—Ele aceitou—Ana falou antes de ler a agenda de Clarisse, em seu tom havia todo o sentimento de vitória que uma secretária poderia ter.

Clarisse riu da expressão de sua secretária e fez uma nota mental para lembrar-se de um aumento.

—O que disse para ele aceitar?

—Falei que seria importante conhecer outros acionistas, "mostrar serviço" para as outras pessoas, afinal nunca se sabe quando vai precisar de um emprego....

—E você está certa... Ver e ser visto. Agora leia minha agenda, que daqui a pouco você vai passear.

—Com o seu cartão?! 

—Sim, contenha um pouco desse ânimo; levará o Daniel junto para que ele prove a roupa para me acompanhar.

—E eu achando que seria um prêmio.... Fui rebaixada a babá.— Ana disse fazendo uma careta que fez Clarisse sorrir.

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—Hoje você será a Julia Roberts em Uma Linda Mulher. —Ana brincou puxando um Daniel atordoado entre araras e mannequins.  —Elisa compra os ternos, fraques e smokings do Felipe aqui, e fica tudo bem bonito, então imagino que vá ficar bom em você também.

—Ana, tem quanto tempo que você trabalha na empresa?

Aquela poderia parecer uma pergunta normal de um recém contratado, mas vinda do Daniel significava um "Ana, tem quanto tempo que você trabalha para Clarisse?". A secretária já tinha percebido uma curiosidade anormal proveniente dele.

—Menos tempo do que eu gostaria, adoro o lugar e me pagam bem. —Disse se limitando a mover os ombros e observar um terno.

—Entendo o que quer dizer Ana, é bom gostar do que fazemos...

—Você gosta do que faz?

—As vezes. —Falou com humor, mas havia certa sinceridade ali e Ana pode perceber.

—Em tudo existem momentos ruins, olhe para esse momento: Eu sendo babá e você tendo um dia de princesa. Acho injusto.

—Mas você que decidiu não ir, e me colocou para trabalhar no seu lugar, tenho que ganhar algo com isso.—Deu de ombros e recebeu um olhar cortante.

—Vamos escolher logo que ainda quero ter tempo para comprar coisas pra mim e depois comemos alguma coisa as custas da empresa.

—Vou poder usar suspensórios como um mafioso?

—Está de brincadeira comigo?

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Clarisse aproveitou o silêncio do escritório sem Ana para trabalhar no seu projeto, reler, acrescentar... Tudo em seu computador pessoal, "por segurança" pensou se sentindo paranoica mais uma vez no dia.

Trabalhou sem parar até ouvir duas batidas em sua porta e lembrar que Ana estava fora, não tinha quem anunciasse, então ela gritou um "Entre", seguido pela entrada de Susana na sala.

—Cadê sua secretária?

—Sendo a babá do meu vizinho.

—O que?! Colocou até sua secretária para olhar seu vizinho gostoso?— Perguntou enquanto sentava em frente a mesa da amiga.

—O Cássio disse que me mandaria um designer, para tentar resolver o problema na criação, e mandou. Mas mandou o meu vizinho que aparentemente é designer e é um boçal.— Contou rapidamente ajeitando-se na cadeira.

—Me pergunto como perco todas essas fofocas da empresa.— Exasperou-se.

—Você trabalha, por isso não sabe dessas fofocas.

—Tenho que parar com isso de trabalhar....

—Não tem.—Clarisse rebateu.

—Mas pra que a Ana está de babá dele?— Indagou voltando ao assunto inicial.

—Ele irá comigo para o jantar com os investidores.— Decretou depois de um suspirar cansada.—Eles foram comprar uma roupa apresentável para o ambiente.

—Deixou a Ana ir?!

—Sim, queria que eu fosse escolher roupa para o funcionário? —Indagou sem entender o que Susana queria dizer.

—Poderia ver mais de perto o que viu pela janela, poderia ver no provador...

—Poupe-me desses pensamentos pornográficos.—Reclamou apertando os olhos.

—Pelo menos depois do jantar, tente socializar um pouco com o rapaz, não faz mal a ninguém.