A Vida Alheia escrita por Jess


Capítulo 1
I - Despudorado




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Depois de mais um dia cansativo na empresa em que trabalhava, Clarisse dirigiu até seu prédio; no caminho pensou em passar na manicure. Afinal, era um final de tarde, não passavam das 18h30minh, ela ainda devia estar atendendo, mas decidiu deixar para o dia seguinte.

Clarisse estava feliz por poder voltar cedo para seu apartamento, esse acontecimento raro era por causa do feriadão que se seguiria, todos na empresa decidiram sair mais cedo.

Entrando no elevador suspirou pesadamente e agradeceu-se por ter desistido da ideia inicial de ter um animal de estimação quando comprasse um apartamento. Lembrou-se de quando deixara a casa de seus pais para morar sozinha, trabalhar e carregar a imagem de uma mulher independente; só que nessa época ela não pensou no quanto seria difícil.

A porta do elevador abriu-se, ela obrigou-se a arrumar a postura que já não era tão elegante quanto fora naquela manhã, e saiu do elevador cumprimentando rapidamente a Dona Carmen que morava no mesmo corredor que ela e era uma fofoqueira por trás da imagem de velhinha que faz bolinhos e chá toda tarde.

Andou com o máximo de classe que conseguia até chegar a sua porta e abri-la, quando já estava dentro de casa segura longe dos olhos de Dona Carmen, ela despencou dos saltos jogando-os para longe e mostrando toda a sua revolta contra aqueles instrumentos de tortura forjados pela indústria da moda e pela ditadura da beleza.

Jogada no chão, foi se despindo sem ligar para o quanto a situação era cômica, se algum dos seus sócios visse aquilo nunca mais seria respeitada perante eles, Clarisse movia-se com uma lagarta em quanto tirava a meia calça e jogava para qualquer lugar, logo depois arrastando-se para o sofá, pondo as pernas para o alto e tirando a camisa e a saia social.

Depois de mais algum tempo jogada, ela recuperou um pouco do bom senso e resolveu encher a banheira para tentar relaxar em meio a espuma, sais de banho e o aroma adocicado.

"Ótimo, já coloquei a banheira para encher... Agora só falta por a pizza no micro-ondas." pensou indo mancando até sua pequena cozinha.

Dentro da banheira de agua quente com uma fatia de pizza portuguesa na mão direita , aquele era o lugar certo para estar numa quinta feira num final de tarde, mas é claro que depois viria a penitencia por estar comendo uma fatia grande cheia de presunto, mas era quinta então ela se permitiu não ter tanta culpa.

*********

Clarisse saiu da banheira quando a agua já estava ficando fria, seu corpo estava mais relaxado, mas ainda sentia-se estranhamente tensa.

Talvez, alguns exercícios esgotem minhas forças pensou preparando seu colchonete e seus outros utensílios de frente para a janela que era quase uma varanda de tão grande que era o espaço ali.

Ela alongou-se como costumava fazer quando praticava balé com seus dezesseis anos. Agora com vinte e sete não tinha o mesmo corpo de quando fazia balé, mas manteve-se com o corpo atlético por causa das sessões de treinos, seja na academia ou em casa.

Depois de dez minutos de abdominais e de mais dez de agachamento, Clarisse sentou-se na varanda e olhou o horizonte, em vez de árvores e um sol vermelho, ela viu prédios e uma imensidão cinza. Entretanto o que lhe chamou a atenção foi o que se passava no prédio de frente com o seu, no apartamento de frente para sua janela, que tinha como espaço entre os dois a largura da pista mais as duas calçadas. Dentro do tal apartamento Daniel, o vizinho de janela ou de varanda; ela nunca tinha percebido a existência dele, mas naquele momento arregalou os olhos e tentou enxergar melhor.

Daniel estava com uma garota que conheceu na praia naquela mesma tarde, e que depois de ter terminado de fode-la na varanda iria encontrar alguma desculpa para manda-la embora depois de pegar o telefone da garota que insistia em gemer grudada em seu ouvido, mas é claro que ele não ligaria.

Clarisse observava a sena com lábios entreabertos, e quando conseguiu piscar seu primeiro pensamento foi em como o rapaz era bonito e o segundo, era no quanto aqueles dois eram despudorados e que deviam ser presos por atentado ao pudor. Ela entrou rapidamente e fechou a cortina fingindo estar indignada por ter sua sessão de exercícios interrompida por causa de um showzinho do vizinho.

Com a janela fechada Clarisse continuou com suas abdominais, tentando esquecer a imagem que piscava em sua mente como um Outdoor rodeado de luzes piscantes.

Depois de tanto tempo sem sentir uma inquietação como aquela, bastou uma imagem para que ela percebesse o tempo se encontrava sem uma boa noite de sexo. Mas convenhamos, é muito mais fácil colocar a culpa da sua inquietação no vizinho despudorado do que se passar por uma mulher insatisfeita sexualmente. Ela sabia que tinha suas necessidades, mas insistia em repetir em pensamento como um mantra do "Eu não irei perder meu tempo com qualquer cara só para transar, não sou um animal, sei me controlar. E além de tudo tenho que focar em minha vida profissional, pois sinto que a qualquer momento meus sócios ou a empresa rival podem armar algo para mim".

Clarisse exercitou-se até cair exausta no tapete, mesmo estando suada e ofegante os pensamentos não saiam de sua mente. Ela não sabia como todas as pessoas que trabalhavam com ela conseguiam simplesmente aproveitar um feriado saindo mais cedo e esquecendo o trabalho, como conseguiam esquecer dos papeis para assinar, dos gráficos, das metas, das substituições, dos estagiários que faziam de tudo um pouco e das reuniões que eram feitas para que qualquer decisão fosse tomada, e é claro as reclamações, pedidos de aumento, discussões, demissões, comentários maldosos entre as secretárias, cafezinhos ao som do teclado e os saltos pontiagudos batendo no chão.

Ela dedicava-se totalmente ao trabalho, tivera um pequeno romance com seu sócio minoritário no inicio de sua carreira, mas obviamente não deu certo por causa da mania que tem de por o trabalho em primeiro lugar, os dois acabaram discutindo por causa do trabalho e não durou muito tempo a relação deles. Acabaram tornando-se amigos e colegas de trabalho


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Notas finais do capítulo

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