POV Lana Rockefeller

Parei por um instante, olhando para o portão da escola, me preparando para a falsidade que estava por vir. Odeio meu pai por me fazer ter que suportar isso todos os dias, odeio essas pessoas pobres e falsas que tenho que aturar por 6 horas seguidas, odeio ter que estudar nessa escola meia boca. Sou da casta 3, devia estar estudando em uma das melhores escolas, e não em uma em que até pessoas da casta 7 convivem. Mas não, para meu pai sempre primeiro o trabalho.

Bufei quando a inspetora apareceu no portão e começou a me chamar, mandando eu entrar. Apenas sorri docemente e caminhei portão adentro, acenando para todos que acenavam, o que eu sei fazer de melhor.

Carolyn e Mônica já me esperavam na entrada da primeira aula, com suas roupas bregas e botas velhas, com o mesmo cheiro de perfume barato que usaram o ano todo.

– Pensei que você não viria hoje. - diz Carolyn, sua voz aguda soando alta como sempre.

– Só me atrasei uns minutinhos. - sorrio, mostrando meus dentes perfeitamente brancos.

– Vamos entrar logo, não será bom para nossa reputação chegar atrasadas na aula. - Mônica diz segurando em meu braço e dando um leve puxão.

Lancei um olhar mortal para ela, que rapidamente me soltou. Odeio que me toquem, principalmente essa gentinha sem classe. Respirei fundo, me controlando, joguei os cabelos para trás e entrei na sala. O professor ainda não tinha chegado, um velho calvo e esquelético. Meus saltos soaram altos, todos me observaram, o que já chegou a me incomodar, mas hoje não.

Sentei na primeira carteira em frente a mesa do professor, como faço todos os dias, e Carolyn senta a minha direita e Mônica a minha esquerda. Pego minha lixa e começo a fazer minhas unhas, deixando claro que não quero ser incomodada.

– Então, você já recebeu a carta ? - suspiro internamente e sorrio quando olho para Carolyn.

– Que carta ? - me faço de desentendida.

– Da Seleção. A minha chegou ontem, passei a noite respondendo o formulário. - ela diz toda alegre, mostrando seus dentes tortos para quem olha-se.

– Mais que ótimo. - digo com falsa alegria.

– Você vai participar ? - é a vez de Mônica.

– Por que eu não participaria ? - ' e perder a chance de me livrar de vocês ?'. Minha mente completa.

Elas começam a falar sobre como seria se fosse Escolhidas e sonhar com coisas que nunca aconteceriam a nenhumas delas, porque certamente elas não serão escolhidas. E as poucos eu vou largando-as, voltando a lixar minhas unhas e mostrar que quero ficar na minha.

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POV Anika Brodbeck

Mau entro em casa e já ouço os berros de minha querida mãe.

– Anika, vai lavar logo aquela louça. Você por acaso acha que eu sou sua empregada para largar aquela montanha para eu lavar quando chegar? - ela berra de seu quarto, com sua voz irritante.

– E por acaso eu sou a sua? - digo baixo.

– Você falou alguma coisa ? - ela diz saindo de seu quarto e me lançando seu costumeiro olhar de ódio.

– Eu disse que já estava indo, mãe. - largo minha bolsa no sofá e vou para a cozinha.

– Acho bom. - ela volta para o quarto, e bate a porta com bastante força, o que anda acontecendo muito ultimamente, 'quero só ver quem é que vai ser o culpado quando ela cair'.

Quando olho para a pia, apenas reviro os olhos. A montanha que ela gritou era um misero prato e um copo. Lavei rapidamente e fui para meu quarto, arrancando as roupas rapidamente e jogando-as em qualquer canto e tomo um banho bem quente, para relaxar os músculos, que já pediam arrego. Me esfreguei até tirar o cheiro de sabão em pó das roupas que tive que lavar.

Esse é meu trabalho, não me orgulho muito, mas a quem perguntar eu digo com dignidade que sou lavadeira, e sou uma 6.

Saio do banho e visto uma roupa leve, e antes de ouvir outro berro de minha mãe, vou pegar as correspondências. Olho cada uma, e muitas delas são de cobranças, mas uma me surpreende, pois é para mim, e não é dívida, o que me deixa mais intrigada.

Ponho todas as cartas no balcão da cozinha, e escondo a minha no bolso de trás de meu shorts jeans, e corro para aprontar o jantar.

Cerca de uma hora e meia depois já estou tirando a mesa, e enquanto minha mãe vai assistir TV, e saio de fininho para o nosso pequeno jardim.

Já é cerca de 8 horas da noite. Deito na grama, que precisa urgentemente ser aparada, e olho as estrelas. O céu está limpo.

Minha curiosidade já está a mil, então eu pego a carta rapidamente e a abro sem ao menos olhar o remetente. Fico perplexa por alguns instantes. A Seleção.

Sorri.

Essa pode ser minha escapada dessa vida infernal que eu tenho, pode ser o que meu pai sempre sonhou para mim antes de sua morte, antes de eu perde-lo para sempre. E essa seria minha chance de mostrar para minha mãe que eu sou útil em alguma coisa, já que para ela eu sou a desgraça em pessoa. Leio atentamente o questionário, respondendo mentalmente cada pergunta.