Não recomendado para menores de 10 anos.

Advertências: Palavras de baixo calão.

Três horas depois[1] e finalmente chegamos ao nosso destino. Ville Kiss era bem bonita, devo admitir.

Ela logo tratou de me mostrar à casa que ela morava. Era grande e aconchegante, num estilo rural misturado com o urbano. Pude ver a cozinha e a sala, logo ela me apontou meu quarto no final do corretor, tinha quarto de hóspedes e o dela também. Abri meu quarto ansiosa, até esquecendo que ela carregava minhas malas. O único defeito é que ele era rosa e roxo, mas ela bem agradável. Eu esperava um quarto branco e menos menininha, mas assim tá bom também.

– Gostou minha querida? – Ela tinha aquele sorriso amável de sempre. Não, não era uma pessoa ruim e sim um tanto doida. Eu tava rezando para ela tirar aquela fantasia.

– Sim, tia! É muito bonito! – Que foi? To tentando agradar a mulher, caralho!

– Pois vista alguma roupa, vou lhe comprar novas. Iremos a uma lojinha perto daqui.

– Não tem necessidade, tia... Eu trouxe umas roupas, se eu lavar e secar no dia seguinte, consigo sobreviver.

– Pois eu quero! Ande e não discuta! Você tem que estar linda! – Ela disse com firmeza e deixou a mala na cama, saindo em seguida. Agora me diga, que parenta obriga uma adolescente a fazer compras? Só eu mesma, viu.

Eu vesti uma calça jeans preta, uma blusa branca e um tênis all star. Prendi meu cabelo em um coque, querendo ser clichê igual às garotas da fanfic, só que o coque frouxo soltou e eu apertei tanto que meu cérebro quase saiu.

Peguei meu celular novamente e por sorte tinha pegado sinal, sorri lendo as mensagens.

“Já sinto sdds sua puta. Dps me conta tudo, tudo msm viu!” Clari, 14h40m.

“Pode deixar, já cheguei e vou fazer umas comprinhas ;D Vou postar no insta, nega!” 17h00m.

“Minha mãe ta na msm, pelo menos não piorou. O que eu faço da minha vida sem ver vc furtando as roupas da minha irmã? Por falar nisso, ela quer arrancar teu coro.” Nich, 14h35m.

“Arranca o dela por mim. Já cheguei aqui e caraaaaaaa, Ville Kiss é bem bonita.” Enviada, 17h00m.

Depois de responder, eu peguei meu fone e coloquei Wonderwall do Oasis para tocar, saindo do quarto. Fiquei muito chateada por as outras meninas nem me mandarem uma mensagem... Mas elas devem estar de namorico por aí, deixa quieto.

– Querida, se arrumou tão rápido! Aliás, está muito simples!

– Shiu, vamos fazer uma selfie para o instagram. – Ela ficou meio “que porra?” quando eu cheguei perto dela e tirei uma foto. Sério que ela não sabe o que é selfie?

Postei mais ou menos assim: #selfie #tiazinha #frança #villekiss #chegueiparaarrasar. Sim, eu tenho probleminhas.

– Certo... Agora que tu fez sua “selfie”, vamos indo.

–x-

Finalmente chegamos ao shopping onde tinha uma loja de roupa. Não uma, milhares delas. Minha tia fez questão de ir andando para eu conhecer a cidade e segundo ela, era “pertinho” dali. Nunca pensei que fosse ser otária, fui otária.

Eu continuava com o fone no ouvido, agora ouvindo Make me wanna die do The Pretty Reckless.

Olhei para o celular e vi que estava sem sinal. Maravilha, sem comunicação por enquanto com meus amigos... Eu podia jurar que minha tia estava falando comigo, mas eu não to ouvindo nada além de minha música e...

– Thalia! Você está me ouvindo, garota? – Agatha gritou tirando meus fones.

– Ai, ai! To ouvindo, que foi?

– Eu perguntei em qual loja você quer ir.

– Tanto faz. - E eu a segui para uma loja qualquer, olhando as roupas com calma e não conseguindo achar nenhuma que me agrade. Olhei para os lados procurando minha tia e quando a vi, estava com uma pilha de roupas.

– Ande, você vai experimentar todas! – Pronto, começou o tormento...

–x-

Já era a vigésima roupa que ela me mandava vestir... Daqui a pouco eu visto a loja inteira!

Agora era um vestido preto e colado, típico para dias de noitada.

– Eu to um bagaço! – Gritei dentro do vestiário.

– Saia daí, ande! Deixa-me ver!

– Não!

– Sai logo! – O.K, concordamos que eu já vesti coisas menores e mais apertadas... Só que somente em festas onde todo mundo está bêbado demais até para distinguir quem é homem e quem é mulher, imagine as roupas!

Sai dali com o olhar típico de “Não sou obrigada a passar por isso” e minha tia deu palminhas.

– Você está linda! Tão parecida com sua mãe...

Fiz uma careta. Não sabia se era uma ofensa... Pois bem...

Voltei para dentro daquele vestiário e coloquei minhas roupas normais, pegando meu fone de volta com ela. Acabou que eu levei todas as vigésimas roupas mesmo, por insistência de minha tia.

Saímos daquela loja e fomos para a praça de alimentação comer alguma coisa. Eu estava faminta e cansada – não, cansada não. Acabada, eu diria.

Comi sem muito ânimo minhas batatas fritas e bebi meu suco de laranja, sentia Agatha me fitar.

– O que foi? – Perguntei só que meu tom de voz saiu rude demais e eu recuei um pouco.

– Nada. Você tem que ir amanhã à sua nova escola, eu me esqueci de algumas coisas para complementar... Espero que goste de lá. Sua mãe me contou das outras escolas... Não vou te repudiar se bater em alguém, contanto que ganhe a briga. – Eu sorri, essa mulher é das minhas! – Aliás, tenho uma coisinha para te dar. – Ela remexeu no bolso de seu casaco e tirou um colar, com uma correntinha preta e uma pedra violeta. – Era de sua mãe que me deu quando eu fiz sua idade, que ganhou ao nascer de minha mãe que ganhou de minha avó. Nem sei como não está desgastada... – Ela olhou para o meu pescoço e viu o colar que minhas amigas me deram, se entristeceu. – Oh, mas você já tem um colar...

– Não tem problema, eu uso os dois. – Sorri para ela que logo sorriu também e eu me virei em sua frente, para que ela possa enfim colocar o colar.

Eu a abracei fortemente em seguida. Não sei; ninguém me deu tanta atenção como ela me deu somente hoje... Nem mesmo minha esforçada mãe conseguia tanto.

Pela primeira vez, eu acho que estou feliz com o desconhecido.