Pura Confusão - Cobrina escrita por LabWriter


Capítulo 22
Pura Confusão - 3


Notas iniciais do capítulo

Oiie!!!
Vamos por partes para não confundir tudo:
1: Percebi que vocês estavam se perguntando se eu vou acabar com a fic. Não, isso não vai acontecer. Acho que eu deixei as coisas meio confusas mesmo, mas não se preocupem.
2: A passagem de tempo no capítulo passado não estava nos meus planos, só que ela foi necessária para acelerar um pouco as coisas.
3: Consegui responder todos os comentários (do capítulo)!!! Sei que muitas vezes eu não respondo, mas eu leio e considero todos, ok? Lembrem-se disso. Aliás, umas duas ou três leitoras apareceram.
4: É só a Karina de novo na parada. A história vai ser bem focada nela agora.
5: Esse capítulo ficou gigante! Quase 4.000 palavras, acho que consegui compensar o outro, que ficou bem curto.
6: Muito obrigada a Katielly, que favoritou a fic.
7: Sei que falo bastante nas notas, mas eu gosto de deixá-las informadas. E LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!

Aproveitem o capítulo!!!



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KARINA

Passei os olhos pelo papel várias vezes, na esperança de que fosse uma palavra diferente. Mas não era. Ouvi o Lobão e o Gael discutindo, o médico tentando acalmá-los. Acho que me chamaram algumas vezes, mas eu não respondi. Estava tudo muito confuso, muito diferente, haviam várias peças faltando e parecia que a minha cabeça ia explodir a qualquer momento.

— Karina, filha. — levantei os olhos pela primeira vez em alguns minutos e encontrei os do meu pai, que não era meu pai. — Vamos para casa.

Apenas assenti, sem saber direito o que fazer. No segundo seguinte nós dois estávamos dentro do carro, voltando para as pessoas que nos aguardavam com o resultado do exame. Vários longos minutos se passaram até que eu me sentisse capaz de falar alguma coisa novamente.

— Eu quero saber. — disse tão baixo que achei que ele não tinha escutado. — Quero saber a história inteira, tudo o que aconteceu. — repeti, mais alto dessa vez.

Certamente seria doloroso de ouvir, e de contar, mas eu precisava entender. Os fragmentos de história que eu havia conseguido até então eram muito confusos e distantes um do outro.

— Vamos chegar em casa primeiro.

E esse foi o nosso “grande diálogo”, pois logo eu pude avistar a praça, a academia e as pessoas que nos esperavam. O Duca estava dando uma aula, a Bianca estava no escritório e o João e a Dandara deviam de estar na Ribalta. Só que eu não queria encarar ninguém. Eles eram minha família, todos eles, mas eu tinha certeza de que ficariam com pena de mim. Eu odiava que tivessem pena de mim.

O carro foi estacionado na rua mesmo, atraindo a atenção do Duca, que dispensou os alunos. Só que eu não saí. Nem meu pai.

— Eu não quero ir lá.

— Eu sei. Mas eles são nossa família, vão nos apoiar, não importa o que aconteça.

Ele estava certo, porém, eu ainda não estava nem um pouco afim de descer do carro, então resolvi fazer uma das perguntas que rodeava a minha cabeça no momento.

— Voce não parece...triste. Já esperava isso, não é?

Ele não respondeu de imediato, ficou alguns segundos pensando. Segundos esses que pareceram uma eternidade.

— Sim, eu já esperava E, Karina, você é minha filha, e exame nenhum vai mudar isso. Agora vamos lá, quanto mais rápido a gente for, mais rápido você vai poder ir embora.

Dito isso ele saiu, acredito que para fugir do assunto, e eu, sem muita escolha, fiz o mesmo. O segui em silêncio e adentrei a academia de cabeça baixa, para não ter que olhar nos olhos de ninguém. Ouvi ele contar a “novidade” a quem quer que estivesse lá, a nossa “família”.

Podia sentir os olhares em cima de mim, olhares de pena. Como já disse antes, odeio que sintam pena de mim, me sinto vulnerável, fraca. Então começaram as perguntas.

O que vai acontecer? O Lobão quer a guarda dela? O exame era verdadeiro?

Mas uma delas, feita pela Dandara e a primeira dirigida exclusivamente a mim, me atingiu em cheio.

— Como você está, K?

A verdade era que eu não fazia ideia de como responder a essa pergunta, pelo simples motivo de que eu não sabia a resposta. Tudo o que eu sentia agora era um vazio, mas era como se ele estivesse lá o tempo todo, e só tivesse sido descoberto naquele momento.

— Eu não sei. — respondi com sinceridade, ainda sem levantar os olhos. Eu só queria sair de lá, fugir de todas aquelas pessoas, aqueles olhares, aquelas perguntas. — Eu vou para o QG.

— Como assim? Não vai não, eu e você temos muito o que conversar. — meu pai disse, assumindo aquela pose de Mestre Cruel. Porém, não importa o que ele dissesse, eu precisava de alguém que me entenderia.

— Eu e o Cobra também.

Achei que ele diria mais alguma coisa, e talvez tenha dito, mas eu somente dei as costas e fui andando devagar até meu destino. A minha intenção era apenas contar a ele sobre o resultado do exame, afinal, nossas conversas quase não aconteciam mais, porém, quando cheguei, pude ver que ele estava ocupado demais com uma certa bailarina.

Foi como se o que restava de mim tivesse sido levado. Não sei como fiquei surpresa. O que estava pensando? O Cobreloa era o Cobreloa, eu era apenas mais uma da sua longa lista de peguetes.

Um dos meus pés já estava lá dentro, e até pensei em chamar a atenção dos dois, mas eles se agarravam com tanta ferocidade, que eu fiquei meio intimidada. Sem fazer barulho, me virei e saí.

Tarde demais.

— Karina. — ouvi sua voz me chamando. — Está tudo bem?

Um debate aconteceu na minha mente. Um debate entre me virar e fingir que estava tudo bem, ou o ignorar e sair correndo. Optei pela primeira opção, imaginando que a segunda seria muita infantilidade da minha parte.

— Claro. Pode continuar com a sua...coisa. — respondi, apontando para a Jade, que me olhava com impaciência. Só que ele não se convenceu.

— O que aconteceu? E não diga que não aconteceu nada, eu te conheço.

Por alguma razão, essa frase me deixou um pouco mais feliz. Um pouco, não o suficiente para um sorriso.

— Saiu o resultado do exame de DNA. — resolvi falar logo, parecia que a “Dama” ia voar no meu pescoço a qualquer momento. Ele ergueu as sombrancelhas e, diferente dos outros, seu olhar expressava apenas preocupação.

— E o que deu?

— O Lobão é meu pai.

Dizer essas palavras em voz alta fez tudo ser mais real. E só aí que eu percebi o quanto tudo estava errado, e que podia ficar ainda pior. Me imaginei treinando na Khan, morando com Lobão. Tudo o que passou pela minha cabeça parecera tão errado quanto assustador. Senti as lágrimas invadindo meus olhos, embaçando minha visão, mas não me permiti chorar na frente da Jade. Abaixei o olhar, controlando o pânico que me invadia.

Felizmente, o Cobra me conhecia como ninguém.

— Dama, acho melhor você ir.

— Como assim, Cobra? — ela pareceu indignada, como se mandá-la embora fosse um crime contra a humanidade.

— Eu quero falar com a Karina, a sós.

— Você faz ideia da mentira que eu tive que inventar para a minha mãe, só pra poder vir aqui?

— Está tudo bem. Ela não precisa ir. — disse com a voz falhando, apesar de pensar exatamente o contrário.

— Isso aí, Maria-macho. Eu cheguei primeiro, e nós estávamos meio ocupados antes de você chegar.

Ela se aproximou e passou os braços ao redor do pescoço do lutador que ainda me encrava com preocupação. Assenti e me virei para ir embora, aceitando minha derrota. Eu esperava, queria, que ele a expulsasse de lá e me chamasse, mas ele não o fez. Eu sabia que aquilo não ia durar muito tempo. No fundo eu já imaginava que a história de me escolher em vez da Jade era passageira. E eu estava certa.

Deixei que as lágrimas caíssem e fui direto para casa.

Quando cheguei na porta, pude ouvir algumas vozes e constatei que todos já tivessem voltado durante minha breve passada pelo QG, assim, fiz questão de secar meus olhos e abri a porta devagar.

— E aí? Como é que foi com o seu amiguinho? — a Bianca perguntou, não se incomodando em disfarçar seu desprezo.

— Péssimo. — respondi baixo, mas eles ouviram.

— O que aconteceu? Brigaram?

— Pode-se dizer que sim. — com a intenção de fugir de mais perguntas, fui para o meu quarto.

Posso dizer que o resto do dia passou “normalmente”. Eu não falei com ninguém, só me joguei na cama e ouvi música o dia inteiro. Exatamente como eu estava precisando. Felizmente, ninguém me incomodou.

Já eram umas 20h00 quando meu pai entrou no meu quarto. Sabia que ele queria conversar, mas eu não estava muito afim, então o ignorei. Porém, poucos segundos depois, senti a música se distanciando dos meus ouvidos.

— Você ainda quer saber a história inteira?

Fiquei surpresa em ver que ele realmente me contaria, sem que eu precisasse pedir várias vezes. De prontidão, me sentei na cama e ele entendeu, se sentando ao meu lado.

Ele respirou fundo, e começou:

—Você deve saber que eu sempre fui muito ciumento. — revirei os olhos em resposta. — E a sua mãe estava fazendo aquela peça com o René, "Romeu e Julieta". Toda vez que tinha aquela cena do beijo eu tinha que me controlar pra não arrancar ela do palco. Um dia, eu estava aqui, cuidando da sua irmã, e sua mãe ficou lá na Ribalta, tirando o figurino e a maquiagem. Mas ela estava demorando demais, então eu fui dormir.

Novamente, ele respirou fundo, e, apesar de nunca ter ouvido dele essa parte da história, eu sabia que era uma das mais difíceis de se contar. Mas ele continuou.

— De madrugada, eu ouvi uns barulhos na sala, vozes. Levantei da cama para ver o que era e encontrei sua mãe e o René entrando. Ela estava cheia de marcas no pescoço, com o cabelo todo desarrumado. Já dá pra imaginar o que eu pensei, não é? — assenti, imaginando a cena. — Bom, pouco tempo depois ela apareceu grávida de você.

O ar escapou dos meus pulmões por um momento.

O René? Então minha mãe realmente tinha traído meu pai? Mas eu sou filha de outra pessoa.

— Mas isso não faz sentido. Se ela apareceu com o René, como eu sou filha do Lobão? — perguntei me levantando e andando de um lado para o outro do quarto. Novamente, aquela sensação de que minha cabeça estava prestes a explodir.

— Eu não sabia disso até alguns poucos meses atrás. Eu estava indo abrir a academia quando ele apareceu, dizendo que ele e a Ana tinham um caso e que era seu pai. É claro que eu não acreditei, afinal, pra mim, se alguém que não eu fosse seu pai, só podia ser o René. Mas ele continuou dizendo que tinha sido ele. E, você sabe, o pai do esquisito sempre jurou que não teve nada com a sua mãe.

Eu me sentei, na cama da Bianca dessa vez, apenas ouvindo.

— Então eu procurei o Spinelli. E ele me contou que realmente não tinha um caso com ela.

Depois de ouvir tudo isso, apenas uma coisa me veio a mente.

— Porque você não me contou? Todos esses anos... você já sabia. Porque não me contou?

— Ai, Karina. Vai trazer isso agora?

Acho que essa era a uma das perguntas que ele mais temia com essa conversa, mas eu queria saber.

— Vou, vou trazer isso agora.

— É verdade. Eu já suspeitava há muitos anos. Mas eu queria te proteger, não queria que você ficasse magoada.

Claro, tinha que ser isso.

— É sempre a mesma desculpa. Você, o Pedro, o Duca, a Bianca, o João. Nunca querem me machucar. Só que adivinha? Não funcionou. — eu já estava quase gritando, mentiras era um assunto que me revoltava. Principalmente por saber que minha vida sempre foi repleta delas. Senti meus olhos arderem pela segunda vez no dia.

— Se acalma, Karina.

Uma raiva me subiu. De repente, eu estava falando tudo sem pensar.

— Agora tudo faz sentido. Você sempre preferiu a Bianquinha, não é? Afinal, ela realmente é sua filha.

— Isso não é verdade. — ele se levantou, tentando se aproximar, só que eu me afastei.

— Não é verdade? Por favor. Eu não posso lutar, mas foi só ela fazer bico que você liberou a Ribalta. Ela pode ficar com até tarde com o Duca. Por quê?

— Sua irmã é maior de idade, é normal que eu confie mais nela. Além disso, eu já perdi as contas de quantas vezes você mentiu para mim. — ele começou a elevar o tom de voz também.

— Sabe porque eu minto pra você? Porque você me prende nessa bolha e não me deixa fazer nada. E, acredite se quiser, suas filhas mentem muito mais do que você imagina. — falei sem pensar, e ele adquiriiu um olhar que exalava desconfiança.

— O que você quer dizer com isso?

— Quer mesmo saber?

Ele assentiu, ainda mais desconfiado.

— Aquele dia que você e o Duca estavam me procurando e eu estava aqui, eu tinha acabado de chegar. E sabe onde eu estava? Com o Cobra. E nós não estávamos lutando.

Vi seu rosto passar de desconfiado para furioso e vermelho em poucos segundos. Parecia que ele ia cuspir fogo a qualquer momento. Então eu percebi o que tinha feito, e que o Cobra estava ferrado.

Karina, sua idiota. Olha o que você fez.

— Você tinha acabado de terminar com o Pedro, e já estava com outro?

Quase não pude acreditar no que estava ouvindo. Era nisso que ele estava pensando depois de tudo? Torci para que ele não estivesse pensando em adiocionar qualquer coisa àquela sentença.

— Minha filhinha, agindo que nem uma vagabunda.

Abri a boca, surpresa com o que ele tinha acabado de dizer. Tudo o que eu queria, era atingí-lo de alguma forma, assim como ele tinha feito comigo. Logo soube o que dizer.

— Puxei da minha mãe.

Foi uma questão de milisegundos entre o momento em que eu percebi que havia alcançado meu objetivo, e o momento em que eu estava no chão, com a mão no rosto. Assim que percebi o que tinha acontecido, não fui mais capaz de segurar o choro.

— Você me bateu. — foi a unica coisa que consegui dizer, em meio ao silêncio repentino que dominou o quarto.

Vi em seus olhos que ele estava arrependido, mas eu não estava nem aí. Não conseguia, e nem queria, ficar naquela casa por nem mais um minuto.

— Filha, me desculpa. Você sabe como eu sou.

Ele se aproximou, e eu imediatamente levantei e dei dois passos em direção a porta.

— Fica longe. Não encosta em mim.

— Karina, por favor. Me escuta...

Não esperei ele terminar, simpesmente me virei e saí. Ouvi ele indo atrás de mim. Ao chegar na sala, encontrei a princesinha, o João e a Dandara, que obviamente já tinham percebido há algum tempo que havia alguma coisa errada.

— O que aconteceu? O que foi essa gritaria toda? — minha irmã perguntou, visivelmente preocupada.

— O que aconteceu no seu rosto? Está vermelho.

Obviamente, quem disse isso foi o João. Olhei de relance para meu pai e foi o suficiente para que todos entendessem o que tinha acontecido.

— Eu estou saindo. — informei, já indo em direção a porta.

— Como assim, K? Já está tarde. — novamente, a Bianca.

— Eu não estou muito afim de ficar aqui agora.

— E pra onde você vai?

— Para o QG. — fiz questão de olhar bem para o meu pai quando disse isso.

Ignorando todos, abri a porta e saí de vez, antes que alguém tentasse me impedir. Torci para que a Jade já tivesse dado o fora, pois dessa vez eu não sairia de lá com tanta facilidade. Quando cheguei, o lugar já estava fechado, mas aceso.

Bati na porta várias vezes, e não demorou muito até que o Cobra surgisse dos fundos. Sem camiseta, o que me distraiu por uns dois segundos. Ele não parecia surpreso pela minha presença ali. Acho que depois de tudo o que tinha acontecido, não havia muito que eu pudesse fazer que o surpreenderia. Principalmente porque era sempre ele que estava catando meus caquinhos. Como naquele momento.

Ele abriu a porta, adquirindo uma expressão preocupada ao ver a marca vermelha em meu rosto.

— O que aconteceu?

— A Jade ainda está aí? — perguntei, o ignorando.

No fundo (talvez não TÃO no fundo assim), eu torcia para que ele negasse. Pois ele estava sem camisa. Então se ela estava lá, eu provavelmente estava atrapalhando alguma coisa. Uma coisa que eu não queria que estivesse acontecendo.

Felizmente, alguma coisa estava dando certo naquele dia.

— Não, ela foi faz tempo. Não queria problemas com a mamãezinha.

— Eu te acordei?

— Não, eu estava só pensando na vida. Agora você vai me contar o que aconteceu? E porque o seu rosto está machucado?

Acho que ele já imaginava qual seria a minha resposta para ambas as perguntas, mas se sabia mesmo, não disse nada.

— Eu briguei com meu pai. — sabia que ele faria mais perguntas, e que se eu não falasse o que queria logo, perderia a coragem, então fui direto ao ponto. — Possodormiraqui?

Falei tudo tão rápido que achei que ele não tinha entendido uma palavra, mas ele logo tratou de me puxar pra dentro.

— Quer conversar?

Nossas conversas não estavam lá essas coisas, então apenas balancei a cabeça negativamente.

— Quer lutar?

~~~&~~~

Já era quase meia-noite. Eu e o Cobra estávamos deitados no chão do QG, em silêncio. Nossos corpos estavam suados devido as muitas horas de luta, agora, sem o gesso, eu podia fazer isso a vontade. Era incrível como eu me sentia muito melhor lutando do que conversando com alguém. Com ele era o mesmo. Esse era um ponto que tínhamos em comum: a dificuldade em lidar com sentimentos.

Por algum motivo, comecei a me lembrar da minha adolescência.

Quando eu era mais nova, fazia de tudo para mostrar aos outros que eu não tinha sentimentos. Na verdade, acho que isso é meio comum. Afinal, do começo ao fim da adolescência, agimos como idiotas a quase todo momento. Mas a questão é: acho que todas as vezes em que tive vontade de chorar e gritar, mas não o fiz por medo do que os “meros mortais” pensariam de mim e descontei no saco de pancadas, me mostraram que esse era o jeito com o qual eu lidava com as coisas. O problema, é que parece que quando eu finalmente descobri a única coisa que realmente me ajudava, as pessoas passaram a pisar em mim a todo momento. Dessa forma, eu parei de me importar com os outros.

Quando finalmente percebi que a opinião deles não importava tanto quanto a minha própria, decidi mostrar quem eu realmente era. Aí eu já tinha uns 15 anos. Pedi ao meu pai para cortar o cabelo bem curto, e ele mesmo o fez para mim. Claro que a Bianca surtou, e eu quase me arrependi, mas então me lembrei do motivo de ter feito aquilo. Eu e mais ninguém. Passei a comprar roupas que eu achava confortáveis, sem me preocupar se eram bonitas. Na verdade, nunca me preocupei com isso, mas sim com os outros. Sempre os outros.

Foi uma época....interessante. Senti que finalmente tinha me encontrado. Aquela era eu: cabelo curto, roupas folgadas, Muay Thai. E agora, estava tudo bagunçado novamente. Ainda mais do que antes.

Despertei dos meus pensamentos quando ouvi o Cobra me chamando.

— Estava longe, hein, pequena.

Dei um meio sorriso ao ouvir um dos apelidos que ele dera para mim. Quando as coisas entre nós ainda estavam normais.

— Só pensando. — respondi me sentando e ele fez o mesmo.

— Posso saber no que?

— Na vida. Na bagunça que ela é.

Ele não disse mais nada e, mais uma vez, mergulhamos em um silêncio profundo. O qual não durou muito.

— Você vai ficar aqui mesmo? — ele perguntou de repente.

— Tem algum problema? Se você quiser eu...

“Arrumo outro lugar para ficar” teria dito, se não tivesse percebido que não havia outro lugar para ficar. Minha voz morreu durante a frase, em um claro sinal de que não sabia o que faria.

— Não, não tem problema. Eu vou pegar uma toalha. — ele disse, percebendo que eu não completaria minha frase nessa vida.

Estava prestes a perguntar algo como “Uma toalha ? Pra que?”, quando me toquei.

Dãã. Pra tomar banho, Karina. Sua idiota.

Alguns segundos depois ele voltou com a toalha.

— Pode ir, eu vou depois. Daqui a pouco vou lá deixar uma camiseta pra você.

— Você vai entrar no banheiro durante meu banho? Não, nada disso. Enlouqueceu? — soltei as palavras meio desesperada e ele riu, o que me deixou irritada.

— Não tem nada aí que eu já não tenha visto.

Meu rosto devia estar completamente enrubescido. De vergonha, na maior parte, mas também de irritação, devido ao sorriso que ele tinha no rosto ao dizer tais palavras. Minha vontade era de lhe dar um soco ou algo assim, mas eu apenas o ignorei e fui em direção ao banheiro.

Tenho que admitir, o banho ajudou bastante. Saí com o corpo relaxado, porém ainda de cabeça cheia. Como o prometido, havia uma camiseta “me esperando”. Vesti meu top e calcinha e a camiseta. No começo me preocupei se não seria pouca coisa, mas a camiseta dele ficou mais como uma camisola em mim, então nem me preocupei.

Saí do banheiro e escutei algumas vozes. Obviamente, ele estava falando com alguém. Cheguei mais perto e pude reconhecer a voz. João.

— Eu sei que ele quer que ela volte, mas acho que hoje não vai rolar.

— Mas ela está bem? Acho que você está sabendo que ele bateu nela. — o viciado disse com uma certa tristeza na voz.

Resolvi intervir, já que eles estavam falando sobre mim.

— Pode dizer que eu estou bem. E o Cobra está certo, eu não voltar. Pelo menos não hoje.

Os dois se assustaram ao ouvir minha voz. Por um segundo, pensei que o João ficaria me encarando por estar com roupas que não me pertenciam, mas ele não o fez. Já o outro, não posso dizer o mesmo.

Por longos e constrangedores segundos o Cobra encarou minhas pernas e foi subindo o olhar pelo meu corpo, parando em meus olhos e logo tratando de prestar atenção em outra coisa.

— Você está bem mesmo? — o João perguntou.

Pude perceber preocupação em seu tom, acho que ele realmente se importava comigo. Imediatamente me senti um pouco melhor. Apesar de ele estar envolvido em algumas mentiras que constituíam minha vida, sabia que podia contar com ele. Talvez as coisas não estivessem tão bagunçadas, afinal. Posso afirmar com certeza, que foi naquele momento que comecei a ver o João como um irmão.

— Na medida do possível. Obrigada pela preocupação.

Ele assentiu, se despediu do Cobra e se virou para ir embora. Mas não sem antes fazer um comentário completamente desnecessário.

— Bonitas pernas, aliás.

Estava demorando.

~~~&~~~

O Cobra tinha acabado de sair do banho, nós estávamos comendo algumas “porcarias da loja”, como ele mesmo chamava. Dessa vez o lugar não estava silencioso, nós estávamos conversando normalmente, o que não andava acontecendo muito. Claro que o meu humor não era dos melhores, afinal, o dia tinha sido mais do que péssimo, mas eu me permiti não pensar em exame de DNA, Gael, brigas, Bianca, Duca, Pedro e nem em nada disso. Minha cabeça precisava de um descanso, e isso, eu só conseguia com uma pessoa. E ela estava sentada bem ao meu lado.

Somente uma hora depois que o sono veio com tudo para cima de mim. Já era tarde e eu estava bem cansada de tudo o que acontecera. O Cobra estava do mesmo jeito.

— Vamos dormir? Estou cansado.

— Eu também. Vamos lá.

— Ok, fica na cama que eu fico no chão.

Ao ouví-lo dizer isso, me senti extremamente mal. Eu chego na casa do cara, luto com ele por mais de três horas, tomo banho, como e ainda faço ele dormir no chão? Ah não.

— Não precisa. — disse, recebendo um olhar mais do que confuso. — Deita comigo. Não tem problema.

— Tem certeza?

Não.

— Sim, chega aí.

Em condições normais eu não faria isso, mas eu estava cansada (culpada) e não havia motivo para frescura. Não com tudo que já tinha acontecido entre nós. Ele aceitou a ideia e se deitou ao meu lado. A cama não era muito grande, então tivemos que nos apertar. Não que isso fosse grande coisa, afinal, tinha certeza de que com ele isso não seria um problema.

Como eu previ, depois que nos sentimos confortáveis um com o outro, ele me puxou mais pra perto e me abraçou. Aceitei o gesto de boa vontade e logo nós dois adormecemos.


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Notas finais do capítulo

Só pra vocês terem ideia: acabei de copiar e colar 10 páginas do Word, o pc quase travou.
Então, eu sei que eu já perguntei, mas poucas pessoas responderam. Vocês querem uma segunda temporada? Vai ser curta, acho que uns dez capítulos, porém, só vou fazer se vocês quiserem.
Outra coisa: queria fazer um agradecimento muito, muito, muito especial a algumas leitoras. Leslie, lua de pão, Baixinha e Mandy. Muito obrigada, vocês são minhas leitoras fiéis :3
Comentem o que acharam e respondam a minha perguntinha, please.
Beijos e até o próximo capítulo!!!