PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 41
Capítulo 40 – Resgate




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Pokémon Estilo de Vida
Saga 03 – Guerra
Etapa 07 – Kevin

"Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo.
Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo."

Capítulo 40 – Resgate

– Achei que ia passar a viagem toda uma pilha de nervos. -

Julia olhou para Juliana e encarou-a por alguns instantes. Realmente a Maerd estava muito tranquila durante toda a viagem de avião, ao menos após ter conseguido falar com seu irmão ela pareceu ficar muito mais tranquila e já não fazia tantos planos para o resgate ao contrário dos demais que continuavam a tentar traçar planos para o combate sanguinário que estava por vir.

– Antes eu não sabia como meu irmão estava ou o que nos esperava. - Comentou Julia. - Agora só o que me resta é sentar e esperar que a idiotice que Ju fará tentando me proteger não custará a vida dele. -

A conversa era entre Julia e Juliana, no entanto, todos dentro do avião passaram a dar atenção as duas. Olharam para Julia procurando compreender o que ela queria dizer com aquilo. Não a parte do Ju, o apelido carinho pela qual ela tratava o irmão, mas que ele faria algo idiota para protegela.

– Eu conheço meu irmão melhor do que vocês. - Disse ela. - O que deve acontecer é que neste momento, três da manhã, ele deve estar fazendo de tudo para derrotar os dois exércitos antes que coloquemos os pés em Khubar. - Ela suspirou. - É um fato que se interferirmos podemos nos ferir ou morrer no combate, mas isso não o preocupa. O problema, o que roda na cabeça dele, é que em Khubar sobreviveremos. Mas, depois, aqueles que interferirem, setrão caçados pelo império e pelos Fastmas, caso sobre algum Fantasma. -

O avião balançou em meio ao silêncio que se instaurou entre eles. Eles sabiam dos riscos e como suas vidas seriam após agirem contra os Fantasmas e contra o Império. Mas, ninguém espersava que Kevin fosse tentar resolver tudo sozinho antes deles chegarem para protegê-los. Quando pensavam naquilo, eles próprios tentariam resolver isso sozinhos antes de envolver mais alguém. Não tinha como negar que Kevin faria tal coisa.

– Mas, ele não tem como derrotar dois exércitos no espaço de tempo que ele possui. - Comentou Brad Torque. - Ele morreria tentando sem conseguir. -

– Na verdade Pidgeot usando o Tornado Vertical poderia destruir a cidade de Khubar, matando todos os que estão dentro. - Comentou Marjori. - Aquela técnica especial daquela maldita ave rara dele já destruiu uma cidade antes. -

Tornado Vertical era com certeza a arma mais poderosa que Kevin possuia, não havia defesa real para aquilo e dificilmente algo ficava consciente após levar esse ataque. Dependendo das condições e do alvo poderia destruir facilmente uma cidade. Era um tunel de vento criado paralelo ao chão, um tornado que não levava aos céus, mas de um lado para o outro apenas.

– Não creio que ele venha a usar esse tipo de técnica lá, pois acabaria matando os habitantes da cidade. - Lubia parecia pensativa. - Estive com ele na cidade e vi que ele jamais faria aquilo. Ele gosta de muitas pessoas de lá. -

Ela preferiu não comentar a respeito de Maya ser identica a Julia. Não sabia explicar aquilo e nem se a menina, quando chegassem lá estaria lá ou se já teria sido capturada pelo império. Poderia Kevin querer ir atrás da menina nesse caso, mas se o pior acontecesse e Kevin morresse e a menina fosse lavada, poderia Julia, sabendo sobre a semelhança entre as duas, querer conhecer a menina e arrumar problemas com o império. A campeã de Arton seria sensata e não falaria nada que fosse fazer tudo ir além do necessário.

– Ele pode fazer o mesmo que fez no Grande Festival. - Comentou Juliana.

– Aquela ilusão? - Questionou Dark. - Como aquilo derrotaria dois exércitos? Aquelas ilusões não são letais. -

– Você não a viu sendo letal. - Disse Juliana. - Aquilo que viu no Grande Festival é apenas usando o Escuridão da Noite do Gengar. -

A coordenadora pareceu pensar sobre aquilo. Não sabia como a ilusão era feita até aquele momento e pensar no Escuridão da Noite a deixou arrepiada.

Escuridão da Noite usa as sombras para criar uma ilusão, no geral a própria ilusão causa dano ao adversário uma vez que manipula a mente da pessoa. O dano é direto na mente adversária. Alguns pokemons fantasmas conseguem, sem muito esforço, manter a ilusão por um longo tempo. Sem que esse venha a ferir por definitivo suas vitimas. Alguns duvidam disso, mas é uma técnica e com isso o pokemon pode controlar o nível de força que usará.

– Mas, se ele quiser tornar a ilusão letal ele pode combinar o Escuridão da noite a dois a três outros ataques. - Comentou Julia. - Não é dificil e nem estressante para Gengar realizar isso, é quase natural para um fantasma. Se ele focar na ilha principal poderia manter toda a ilha sobre ilusão coletiva por horas. -

– Além disso dois segundos de distração é o suficiente para que aquele time Berseker dele faça uma chacina. - Brad deu uma risada que não deu para entender se era ironia, nervoso ou maudade. - O Maerd tem forma de por fim a situação, segurar a luta até chegarmos ou distruir a cidade. - Ele suspirou. - Certamente ele deve ter outras formas, mas em todas elas as pessoas da cidade sofreriam junto. -

Um silêncio ocorreu entre o grupo. Seria Kevin capaz de fazer os habitantes da cidade sofrerem para poder vencer os Fantasmas e o Império, já que visivelmente as alternativas que ele possuía não pareciam distinguir amigos de inimigos?

– Ainda tem uma bela tempestade que está prestes a cair sobre Khubar. Acredito que nossa entrada será bem complicada. - O piloto, que nada tinha haver com aquilo, avisou. - Acredito que precisarei circular a área da ilha e vocês se jogarem com alguns pokémon aéreos fortes para aguentar relâmpagos e ventos fortes. -

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Eu nunca vi nada selvagem como Kevin e seus pokémon. Aqueles olhos cheios de vida que escondem toda uma tristeza e amargura de uma vida de lutas e perdas, o sorriso dos lábios que cativa e faz você acreditar que há motivos para sorrir. Quem poderia dizer que ele poderia lançar sobre as pessoas um olhar tão frio e sem vida como o de agora.

Arrepio-me de medo ao olhá-lo assim. Ele me contou que as vezes, dependendo do que ele esteja sentindo e da situação, manifesta uma aura assassina que qualquer um que esteja perto pode sentir. O ambiente fica estranho, o ar pesado, a sensação de que algo ruim acontecerá é eminente e todos ficam acreditando que esse algo ruim é a própria morte pelas mãos dele. Mas, ele ainda não está manifestando essa aura.

Na verdade, esse olhar é diferente do que vi quanto ele enfrentou Razor. É quase como se ele não estivesse aqui. Sem contar que a sensação também é diferente. Mas, independente destes fatores, ele ainda parece muito seguro só que faz e totalmente selvagem.

Meganium está dando uma surra no Vileplume, Roger não consegue dar um comando que não possa ser defendido ou ridicularizado rapidamente e olha que Kevin sequer está dando comandos.

Protegida atrás de um barco virado Riley observava a luta que já durava quinze minutos. A morena estava apavorada com tudo aquilo, mas segurava a vontade de chorar para que nada de errado acontecesse naquela estranha batalha. Ela entendia que algo não estava certo e isso a deixava ainda mais amedrontada.

Ela não notava, mas durante toda a batalha Roger a olhava e parecia indeciso sobre algo. Ele as vezes tocava a arma, que estava presa ao uniforme, mas repreendia-se imediatamente ao olhar para a jovem Mevoj. Se ele matasse Kevin na frente dela jamais poderia alcançar o amor da menina e tinha certeza, o mesmo tipo de incidente que ocorreu com Maya poderia ocorrer com Riley.

Se meu pokémon guia não estivesse esgotado... A verdade é que Mysti não me ensinou a lutar melhor, mas a tirar o melhor das situações. De armar, de me preparar para a luta criando a oportunidade para alcançar meu objetivo na luta. De certo, todas até agora sempre foram matar meu adversário. Mas, lutar contra Kevin Maerd Júnior de supetão com Riley nos observando desde o começo é impossível. Mesmo que eu tivesse oportunidade de armar contra ele, o que aprendi sobre ele me diz que eu precisaria de colocar todos os meus pokémon contra ele. Essa luta termina com minha derrota, mas quem será que...

Os pensamentos de Roger pararam ao escutar um estalo da luta. Meganium havia passado os chicotes em volta do pescoço de Vileplume e o enforcamento parecia ter sido executado para qualquer um presente escutar. A pokémon planta de Kevin apenas virou-se para Roger mostrando que ele seria o próximo. Roger deu um passo para trás e sacou a arma rapidamente.

– Roger, não! - Riley gritou do seu lugar levantando-se, ela pareceu que correria para abrir os braços na frente de Kevin. Mas, Meganium a impediu com os chicotes.

Roger viu os olhos dela se encherem de lagrimas. Ele sabia, agora ele sabia, a pokémon de Kevin o mataria. Se ficasse vivo, ia ser levado até o Imperador e sua traição seria revelada. Precisava fugir, mas só conseguiria fugir se Kevin estivesse ali. Precisava dar algo para Kevin se distrair, mas só havia três coisas que faria ele se distrair.

A primeira opção era Meganium. Feri-la faria Kevin e Riley distrair-se com o resgate. Mas, a pokémon era forte demais e percebia que talvez tivesse que descarregar um pente inteiro contra a pokémon para poder realmente deixá-la em choque a ponto de ser uma distração.

Com isso a segunda opção ia para Riley. Kevin não conseguiria deixar a menina ferida. No entanto, além dela estar agora protegida por Meganium, que certamente pararia qualquer bala, ele jamais poderia atirar nela. Mesmo que apenas uma bala de raspão, ele preferia se matar ali mesmo a atirar na garota que amava.

Foi um movimento rápido de trocar o alvo da arma e disparar três a quatro vezes contra Kevin. Ele era a única opção, sabia que Riley nunca o iria perdoar por tentar matar Kevin, mas ela já o odiava e se ficasse ele iria morrer.

Riley arregalou os olhos esperando que o corpo de Kevin caísse e Roger preparou-se para correr assim que o corpo de seu alvo fraquejasse, mas nada aconteceu. Roger atirou mais duas vezes, mas Kevin continuou de pé encarando-o, como se nada tivesse acontecido.

– O que é isso? - Gritou Roger andando de costas e se afastando. - O que é você? -

Roger correu pela noite, deixando a todos para trás, inclusive, o corpo de seu pokémon falecido.

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– Que... Que... - A dor impedia de falar com perfeição. - Que tipo de monstro é você? -

O berro ecoou pela noite que havia a poucos instantes tornado-se silenciosa. A faculdade havia sido palco de uma luta que horrorizaria a qualquer pessoa que tivesse assistido, mas a verdade era que quem via não estava na condição de apenas espectador.

Kevin ficou parado sem dizer nada enquanto seu pokémon, Luxray, matava tudo que se mexe-se em sua direção. Começou com os ataques relâmpagos sendo invocados e acertando os postes de energia e os geradores em volta, tudo foi ficando na escuridão.

A escuridão foi rompida, parcamente, por Luxray que começou a emanar eletricidade estatica por seu corpo. Sua aparência era de uma criatura sombria e sanguinária. Atiraram contra ele, mas ele fora muito mais rápido e retalhou cinco de seus adversários que gritaram de agonia por longos minutos, já que não morreram de imediato. Quem tinha liberou pokémon para tentar parar aquele raio que matava no meio da escuridão.

Ocorreu um combate entre Luxray e o Vaporeon de Murilo. Mas, a escuridão parecia favorecer muito mais a Luxray iluminado e causando terror do que a Vaporeon e sua clara desvantagem de tipo. Ao final, o que ocorria era um massacre.

– Que tipo de monstro libera uma criatura demoníaca para matar dezena de pessoas e pokémon e fica apenas assistindo, sem dizer nada? -

Murilo havia sido o único a ficar vivo até ali e não foi por ter se escondido. Comandou de perto seu pokémon e por duas vezes tentou fugir, mas Luxray parecia decidido a matar todos como se fossem apenas brinquedos. Para o único sobrevivente era claro que aquele pokémon elétrico já havia feito aquele tipo de coisa antes.

Murilo havia conhecido Kevin em Hoeen, quando ambos jogavam nas sombras. Naquela época Kevin possuía criaturas assassinas, mas nenhuma que viesse a se comparar a aquele Luxray. De fato era como se o pokémon elétrico tivesse passado por guerras incontáveis ou soubesse exatamente o ataque do oponente, antes mesmo que ele pensasse em realizar o ataque.

Brincar com a adivinhação ou ter o conhecimento do futuro parecia absurdo, mas nem tanto quanto acreditar que aquele pokémon já havia lutado em diversas batalhas a ponto se poder lidar naquele dia com uma dezena de assassinos armados e uma duzia de pokémon que fariam inveja a qualquer treinador pokémon de elite. Se uma das hipóteses tinha de ser real, deixando de fora qualquer outra possibilidade, seria a do tempo.

– Por que não diz nada? -

Murilo gritou com Kevin a resposta veio como um rosnado e uma descarga elétrica que percorria o seu corpo. Não morrera, mas teve certeza que a morte estava próxima. Queria entender aquilo tudo antes de morrer, antes de não mais estar vivo.

Ele nunca fora um guerreiro, fora um grande trapaceiro que guerreava pela própria vida. Entrou naquela por uma vingança com recompensas, mas as coisas caminharam para algo muito mais perigoso que ele esperava. Se na equação não houvesse o Império, acreditava que teria tido sucesso em matar Kevin e ganhar o mundo três vezes mais rico do que já esteve em algum momento de sua vida. Mas, O império chegou e mudou completamente o jogo. Fugir não era opção enquanto Kevin não morresse. Aliar-se ao império não era opção, pois eles não faziam aliados. Esperar Kevin ser derrotado pelo império não era opção já que os demais Fantasmas eram loucos e queriam arrancar um pedaço dele com as próprias mãos.

Estava preparado para morte naqueles termos que compreendia. Mas, não estava preparado para a morrer sem compreender porque existia um pokémon como Luxray e porque ele acompanhava Kevin.

Queria respostas. Queria a origem daquele demônio que o tiraria daquele mundo. Mas, a resposta que vinha era apenas silêncio e um rosnado baixo que o aterrorizava.

Ninguém fica bom desse jeito. Ninguém pode lutar desse jeito. Meu Vaporeon consegue se recuperar se entrar em contato com a água e fiz questão de estourar um cano para que ele pudesse fazer isso e mesmo com a desvantagem de tipo, ele teria força para manter uma batalha por horas e o que aconteceu aqui foi um massacre de segundos. Como se Vaporeon e Luxray já tivessem travado batalhas diversas vezes e nada fosse novidade para Luxray. Luxray poderia ter habilidades psíquicas e vislumbrar o futuro com o movimento Visão do Futuro, mas ainda assim seria impossível não ter sido acertado por nada. Então o que resta é ele ser um demônio...

Uma pausa de pensamentos forçada por uma nova descarga elétrica os sentidos quase foram embora, mas um choro o trouxe de volta. A única pessoa que ainda estava viva e permaneceria naquilo que era para ter sido o massacre de Kevin e virou uma chacina.

– Lí... Li... - Murilo não conseguia mais falar. - Essa... Essa... Kevin é esse tipo de pessoa! - Ele berrou e sentou que uma descarga elétrica passará por seu corpo com muito mais força do que jamais sentira.

Livia estava amarrada em um ponto onde Luxray sabia a localização e por isso a nenhum momento passou por ali ou disparou seus ataques naquela direção. Escutou a luta, sem poder ver o que acontecia. Tendo noção apenas dos gritos e gemidos daqueles que a sequestraram, caindo aos montes. Um atrás do outro. Se apavorou diante dos diversos gritos e apenas chorou durante todo o tempo por medo, raiva e pelo sofrimento que estava ocorrendo a sua volta.

Sabia que Pokémon poderiam ser letais, mas era a primeira vez que sabia que eles poderiam ser crueis. Não escutara Kevin comandar e isso indicava que ele agia sozinho, por conta própria. Se agia por conta própria queria matar aqueles assassinos e pokémon.

Será que todo pokémon possui essa natureza violenta e sanguinária? Será que a doçura que apresentam não passa de... passa de... falsidade daqueles que são muito fracos? Confusa lívia apenas sentiu suas cordas serem cortadas por algo que arrepiava seu corpo.

Caiu, sentindo o peso do corpo puxar-lhe para o chão. Demorou alguns instantes, no meio daquela escuridão para entender que havia acabado. Mas, o que a fez acreditar foi quando Luxray iluminou-se por completo, e tudo ficou iluminado ao redor.

Ela viu corpos e muito sangue caído arregalou os olhos assustada, colocando a mão no rosto em sequencia, tentando esconder-se de tudo aquilo. Luxray diminuiu a intensidade de seu brilho e até o ponto em que só iluminasse o caminho e não mais que isso.

Demorou talvez mais do que Luxray gostaria até que a loira levantasse e o seguisse. Talvez ele pudesse ter dado alguma dica de como ele poderia fazer isso, mas a verdade era que ele não sabia como. Não era bom em contato humano e certamente a jovem humana a sua frente não estava em boas condições após de tudo o que presenciou.

Dois a quatro minutos em direção ao centro da cidade, era isso que ela entendia e imaginava. No entanto, não havia zigue-zague ou preocupações de evitar chamar a atenção. O silêncio era tanto que na verdade não acreditava que realmente ocorreu algo na cidade e a única certeza de que tudo aconteceu era pela destruição.

– Para onde está me guiando?

Não queria ser ela a romper o silêncio. Não tinha condições de ser ela. Afinal, depois de tudo o que ocorreu, esperava que Kevin mostrasse alguma consideração por ela, mas ao invés disso apenas começou a caminhar sem nada dizer. Andava bem a frente dela, num passo vagaroso, como que soubesse que ela não aguentaria caminhar mais rápido que aquilo. Mas, silencioso e frio como ela nunca o vira antes.

– Fale alguma coisa! -

Lívia não conseguia ouvir nada vindo dele e isso a irritava. Não era para ser algo ruim ou mesmo se importar. Mas, depois de tudo o que ocorreu acreditar uma palavra ao menos deveria sair daquela boca. Nem que fosse um simples pedido de desculpas. Mas, nada foi dito.

Livia parou de andar e alguns passos depois Kevin e Luxray perceberam o ocorrido. Eles pararam e se viraram para ela. A loira estava suja da terra e manchada com um pouco de sangue, mas parecia entrar sintonia com o ambiente em sua volta.

Escombros de prédios e outras construções pintavam um cenário pós guerra que a loira não sabia se tinha acabado ou não. Via o que parecia serem corpos, mas não ousava tentar identificar.

Dois grupos caçaram Kevin por causa dos pokémon que eles possuem. Tudo isso aconteceu porque Kevin poupou aqueles pokémon assassinos como esse Luxray que me salvou. De fato Kevin tenta abraçar o mundo e trazer todo mundo para a luz, despertando o melhor que há neles, como um herói. Mas, seus pokémon são monstros e despertaram o que há de pior nas pessoas.

Não lembro onde escutei, mas alguém disse uma vez que nunca viram nada selvagem sentir pena de si mesmo. Que eles morreram de tanto cantar antes de sentir pena de si mesmo. Certamente eles jamais pararam de matar, e continuaram de matar até o último minuto de vida.

Meu pai odeia treinadores e eu me mantive afastado dos pokémon por causa deles. Mas, hoje eu vejo que essas criaturas são o que despertam o pior nas pessoas e estou vendo agora que o pior do Kevin é despertada quando ele está com os pokémon.

– Como? -

Lívia havia escutado passos e olhou ao redor e viu aproximando-se deles um Meganium, a pequena Riley e outro Kevin. Ela olhou para o que chegava com Riley e depois para o que esteve com ela. Piscou algumas vezes e pôs a mão na cabeça perguntando-se se estava enlouquecendo. Tornou a olhar os dois e de repente viu que ambos desapareceram.

– São ilusões, eu acho. - Disse Riley.

A menina parecia muito abatida. Estava completamente suja de sangue e caminhava com passos pequenos e arrastados, olhando de um lado para o outro, temerosa de que algo viesse a surpreendê-la.

– Ilusão? - Lívia perguntou. - Quer dizer que ele não foi resgatar você nem a mim? -

Riley franziu o cenho sem entender bem. Ela desconhecia o que a loira havia passado e que quase fora torturada, mas não conseguia ver como ela a questão das ilusões. Acreditava que havia sido salva por Kevin e que aquela imagem dele que a acompanhou todo o tempo era a forma dele mostrar que estava com ela.

Para aquela moreninha Kevin ter aparecido para ela e Roger, mesmo que em forma de ilusão, fez toda a diferença. Ela se acalmou e Roger temeu o destino. Kevin poderia não ter feito nada, deixando-a sozinha, poderia ter mandado só Meganium que certamente a deixaria mais aliviada, mas ela só se acalmou por ver a imagem dele.

– Realmente não diria que resgatei nenhuma das duas. -

A voz de Kevin surgiu de cima e tanto as meninas quanto os dois pokémon olharam para o céu que já gotejava. Uma gigante ave descia dos céus, ambas puderam identificar Pidgeot como a ave e Kevin montado nele acompanhado de um cansado Gengar.

– Fui o culpado de terem corrido tantos riscos. - Disse Kevin saindo de Pidgeot e sendo abraçado por Riley que correu ao encontro dele. - Sendo assim, não posso dizer que resgatei alguém. Na verdade, tenho que me desculpar por fazê-las passar por isso. Sinto muito! -

– Não foi culpa sua! - Disse Riley.

Naquele momento Lívia ficou sem saber o que dizer. A verdade é que ela queria dizer que era culpa do loiro sim, mas vê-lo com a menor e vê-lo realmente pedindo desculpas, com olhar sincero e visivelmente arrasado com tudo o que acontecera mexia com ela.

– Mais dos pokémon do que sua. - Diz Lívia.

Kevin ergueu Riley e a colocou nas costas de Pidgeot. Logo depois encarou Lívia, aloira que naquele momento parecia querer culpar os pokémon pelos problemas ocorridos. Ela não estava errada sobre a culpa que os Bersekers, a questão era como ela chegava a essa conclusão e porque a voz dela saía com mais ressentimento do que imaginava.

Kevin deu um passo em direção a Lívia que apenas o olhou. Não percebeu quando ele deu outro, apenas se deu conta que era abraçada de forma terna e carinhosa quando sentiu o calor do abraço em contraste com o vento e gostas de água gelada que estavam no ambiente.

– Finalmente o achei. -

Nem mesmo Riley havia interrompido aquele momento. Se Kevin gostava dela ou de Lívia, naquele momento não importava. Estava cansada, havia visto pessoas demais morrer, vira o amigo de infância assumir sua posição de assassino e pensar em ciúmes naquele momento era um absurdo. Além disso, ela tinha um prometido e seria justo se Kevin tivesse alguém para depois que ela se fosse. Embora, ainda estivesse em sua mente a questão de Kevin poder ser o prometido.

Riley foi a primeira a ver duas figuras aproximando-se do local onde estavam. Os pokémon demoraram a sentir a aproximação, devido ao cansaço. Kevin desfez o abraço e girou Lívia para trás, ficando a frente do grupo, até mesmo de seus pokémon.

– Vejo que realmente era um pokémon fantasma. - Um sorriso vinha de Lord Empalador que parou de caminhar jogando um amarrado Roger no chão de escombros. - Estive em dúvidas realmente. Achei que era um psíquico. -

Kevin viu que Luxray e Meganium tomaram a frente para protegê-lo. Ele tocou a pokémon planta e a fez ir para trás. Ela parecia contrariada, acompanhando Lord Empalador estava um Cacturne com cara de lutador. Seria uma batalha de planta contra planta que ela gostaria de fazer, mas Kevin parecia não querer aquilo.

– O que você quer? - Perguntou Kevin. - Não tivemos sangue o suficiente para uma noite? -

– Quero quatro coisas. - Disse Lord Empalador. - A primeira mostrar que reconheço suas habilidades. Acho que posso dizer que tenho um grande prazer em saber que meu filho morreu pelas mãos de um assassino de elite, afinal abateu mais de trezentos soldados sozinho. -

Ao dizer aquilo todos puderam ver uma pokebola ser erguida em sinal de desafio. Lord empalador estava desafiando Kevin para uma luta honrosa.

– Confesso que fiquei surpreso quando conseguiu aplicar um ataque pesadelo por toda a ilha e no final, quando viu que alguns não iriam simplesmente morrer, fez todos acreditarem que eu era você e os colocou para me atacarem. Tive que matar bons homens e perdi cinco pokémon. - A pokebola erguida mostrava que era um desafio. - Mas, não significa que eu possa deixá-lo sair vivo. Afinal, matou muitos dos nossos. - Ele sorriu. - Por isso a segunda coisa que vim fazer é matá-lo em uma luta honrada. -

Lívia subiu na ave gigante e olhou para Riley. Elas não tinham ideia do que realmente ocorreu no restante da cidade com as ilusões que Gengar fabricou, mas pelo que parecia, Kevin havia conseguido derrotar os dois exércitos apenas com aquilo.

– Acredito que eu não tenha a menor possibilidade de recusar, não é? - Kevin suspirou.

Imaginava que poderia fugir sem problemas após tudo o que fez. Imaginou que Roger continuaria fugindo e que Lord Empalador fosse reagrupar em sua base. Não imaginou que os dois estariam na frente dele antes que conseguisse retirar as meninas da ilha.

– Que bom que compreendeu! - Lord Empalador encarou-o. - Estou ansioso para enfrentá-lo, mas a terceira coisa que me trouxe até vocês é que preciso de testemunhas. -

– Testemunhas de nossa luta? -

Kevin olhou para trás preocupado com as meninas e novamente tocou em Meganium. A pokémon resmungou, mas foi para trás e subiu em cima se Pidgeot.

– Teremos testemunhas para nossa luta, ao menos uma. - Disse Lord empalador. - Riley voltará comigo após eu vingar meu filho e meus soldados. Caso não o faça o pai dela morre, bem como a mãe e muitas outras pessoas. A loira pode partir se quiser. -

Roger resmungou qualquer coisa no chão, mas estava amordaçado e não conseguiu se fazer entender.

– Riley está prometida e casará como deve ser. - Disse Kevin. - Mas, hoje ela vem comigo. E se matar o pai e a mãe dela, não terá porque ela voltar para vocês depois. -

Os dois se encararam. A luta realmente seria forte e os pokémon visivelmente estavam escolhidos. Luxray já faiscava em seu lugar enquanto Cacturne parecia não conseguir se segurar no lugar, pronto para iniciar a batalha.

– Bem... Então as meninas terão de ficar aqui até o final da luta para ver qual de nós dois morrerá ao final. - Disse Lord Empalador. - Mas, as testemunhas que me referia não eram de nossa luta. É para a morte dele. -

Lord Empalador baixou o olhar e encarou Roger. Riley arregalou os olhos, mas logo em seguida fechou os olhos cobrindo o rosto com as mãos.

– Recebemos o vídeo de que matou o próprio pai e recebemos a informação de um dos olheiros que você causou a morte de sua irmã. - Lord Empalador encarou o amarrado e amordaçado - Por matar o pai em uma luta desonrosa e assassinar a própria irmã te condenamos a morte. -

– Quase esqueci. - Lord Empalador se abaixou e tirou a mordaça. - Suas últimas palavras? -

Roger olhava assustado para Lord Empalador. Olhou para Riley, ao lado de Lívia. A morena estava com o rosto escondido, chorando e não querendo ver aquilo. Por fim, olhou para Kevin. O rapaz que salvava todos e que ele não conseguiu matar. Aquele rapaz loiro que era o treinador perfeito, o assassino perfeito e havia conquistado o amor de Riley. Aquele rapaz que era tudo o que ele quis ser.

– Kevin é o filho da coordenadora estrangeira! Ele é o prometido de Riley! - Ele berrou.

Kevin franziu o cenho e olhou para Lord Empalador que não esboçou reação. Ele olhou para trás, procurando por Riley. A menina estava olhando para ele, surpresa. Nenhum dos dois parecia saber se era verdade ou não, mas Riley agora sabia que de alguma forma era verdade. Era aquilo que Barreira tentou dizer, bem como Rodolfo.

– Vou desconsiderar suas últimas palavras! - Lord Empalador se ergueu e fez o mesmo com o corpo de Roger, jogando-o para cima. - Empale-o! -

Cacturne deu dois passos a frente e um espinho gigante surgiu e seu braço. Fincou-o rapidamente ao chão deixando o corpo de Roger Cair sobre o gigante espinho, perfurando o coração e fazendo o sangue começar a gotejar pelo chão.


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