PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 10
Capítulo 09 – Veneno Original


Notas iniciais do capítulo

Eu diria que esse episódio é um dos mais interessantes até agora em questão de revelações. Acho que daqui em diante não tem como eu dizer que a história está na metade.



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Pokémon Estilo de Vida
Saga 01 - Estilo de Profissões
Etapa 03 – Roger

Todos nós moramos numa casa de fogo,
sem bombeiros para chamar e sem saída.
Apenas a janela do andar de cima para olhar pra fora
enquanto o fogo queima toda a casa
com nós presos, trancados dentro dela!”

(Tenesse Willians)



Capítulo 09 – Veneno Original



Era uma tarde tranquila. O sol estava ameno e deitado a sombra de uma frondosa árvore o tempo parecia passar devagar. Mas, o jovem loiro de 16 anos apesar de ansioso com os eventos de dias a frente, queria apenas que o tempo parasse. Adorava aquela árvore, aquele lugar e aqueles sons de choro e dor que escutava.

Do outro lado da árvore um menino de cabelos pretos, olhos fundos e de estatura pequena era surrado. A maioria dos socos eram na barriga e sempre que estava prestes a cair seu corpo era erguido apoiado na árvore e segundos após achar que finalmente havia acabado voltava a levar golpes.



– Não estou mais escutando o choro de Roger ou seus socos, Razor. - O garoto loiro deitado na árvore comentou. - Espero que eu não precise levantar. -



O loiro abriu os olhos percebendo que algo havia acontecido pois todo o barulho parou. Levantou-se e foi até onde Roger deveria estar sendo surrado por Razor e viu, uma menininha loira dos olhos cacheados e olhos azuis esverdeado encarando Razor.

Era quase uma escada humana. Roger, o menino dos olhos fundos era o menor deles. A menina media mais de um palmo que Roger. Razor era mais alto que a menina talvez uns vinte centímetros, tinha o corpo aparentemente trabalhado e com algumas cicatrizes. O loiro não era muito mais alto que Razor, mas mostrava ser bem atlético.



– Vamos parar com a hostilidade que se fizemos algo com ela seremos castigados. - Disse o loiro colocando a mão no ombro esquerdo de Razor. - Faltam apenas quatro horas. Acho que até ele tem o direito de se preparar para morrer. - Um sorriso. Após a fala o loiro sorriu e virou-se de costas sem duvidar que Razor faria o que lhe foi dito.



Razor nada disse. Permaneceu encarando a menina loira por alguns segundos e finalmente sorriu cinicamente desviando olhar para Roger que estava apoiado na árvore olhando assustado.



– Após essa noite você será oficialmente meu brinquedinho particular. - Ele finalmente virou-se de costas seguindo o loiro. - Não se atrase. -



Roger tremeu em seu lugar e acabou caindo sem forças. A menina foi até ele, apressada e preocupada.



– Não sou brinquedo... Não sou brinquedo... - Era o que Roger balbuciava quando a menina conseguiu chegar perto dele.



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Os olhos se abriam com dificuldades, pareciam pesados e a cabeça latejava. O corpo estava gelado e sentia bastante frio. Tentou levar a mão a cabeça, mas a tentativa foi inútil. Estava amarrado e virado para uma parede. Forçou duas vezes, irritado, soltando gritos, mas nem mesmo eco veio como resposta. Havia apenas um barulho de chuva forte caindo.



– Não se preocupe que não vou matá-lo, apesar de desconfiar que você bem iria fazer isso comigo. -



A voz o fez gelar. Estava atrás dele e reconheceu na mesma hora, apesar de ter escutado apenas enquanto gritava e implorava por sua vida. Balançou o corpo no chão e conseguiu girar para que sua face ficasse na direção da voz.

Os olhos fundos de Roger encararam a mulher de cabelos vermelhos a sua frente. Ela estava com muitas marcas de cortes e roxos. Parecia ter enfaixado parte de sua coxa onde mais cedo ele abriu com uma faca. A mulher estava bem molhada e seu vestido com algumas partes rasgadas estava colado ao corpo. Ela tentava aquecer-se com uma espécie de manta escura.



– Por que ainda está aqui? - Perguntou Roger. - Teve a oportunidade de fugir. -



– Você é algum idiota? - Misty questionou levantando-se do canto onde estava sentada e indo até uma porta. Respirou fundo e a abriu rapidamente deixando que a visão de uma forte tempestade invadisse os olhos de Roger. - Como eu fugiria com uma chuva dessas, quase morremos afogados. Você não se lembra? - Ela fechou a porta.



Roger lembrava-se. Como poderia esquecer que a chuva já estava forte quando finalmente alcançaram a primeira cidade e que as ruas estavam alagadas. O jipe, apesar de forte, não aguentou a enxurrada. Misty, amarrada pelas mãos e pernas, gritava que ele precisava diminuir a potencia e seguir para um local alto. Roger ignorou. Inexperiente no voltante fez o veículo ser arrastado pela enxurrada. O carro virou e água começou a entrar. As cordas se afrouxaram e Misty conseguiu soltar-se, nadando para fora em seguida.

Roger estava pouco mais de cinco metros dela, tentando agarrar-se a uma escada de incêndio que levaria ao segundo andar de uma casa. Quando Misty conseguiu se aproximar do local ele agarrou-se em Misty, na tentativa de salvar-se, e acabaram os dois sendo arrastados. Ele desmaiou em seguida.



– Estamos a uns quinhentos metros daquela escada. A casa tinha um andar e um terraço com uma espécie de galpão nele. Consegui nos trazer para cá e felizmente tinha essas cordas, estojos de primeiros socorros, mantas, lanternas e outros. - Misty não questionava a sorte que tinha. - A água não parece que vai subir até aqui. -



– Por que me ajudou? - Berrou Roger irritado por ter sido salvo por alguém que pretendia matar e só não havia feito de imediato pois achou que uma refém para fugir. - Vai me torturar? -



– Quando se tem a vida salva, independente do motivo, dizemos obrigado. - Disse Misty encolhendo-se na manta. Esta com muito frio e o barulho da tempestade parecia aumentar a sensação.



Roger ficou ainda mais irritado, mas resolveu parar de lutar. Tinha que poupar energia. Não precisava de muito para compreender que seria entregue às autoridades. Precisava de um plano e nele tinha que incluir, libertar-se, matar a ruiva e fugir.

Mas, estava perturbado o suficiente com o sonho que teve. Odiava lembrar de seu passado. Odiava lembrar-se que era fraco e que de alguma forma ainda poderia ser, já que não sabia se agora havia alcançado seus rivais.



– Quem você está tentando encontrar? -



A pergunta da mulher fez com que Roger olhasse-a por alguns instantes. Havia perguntado tantas vezes sobre o campeão para ela, antes de fazê-la desmaiar que não imaginava que ela fosse querer tocar nesse assunto.



– São dois campeões e eles podem estar em qualquer lugar. Imagino que tenha ido até Cowboy por acreditar que ele fosse lhe dar uma pista, mas faria mais sentido ir à casa deles, a família certamente teria uma pista. - Misty comentou.



Realmente parecia ser muito mais rápido e eficiente ir até a família. Roger até estava tentando fazer isso, mas no caminho acabou sabendo sobre Cowboy e que ele tinha algum contato com o campeão. Talvez ele pudesse estar escondido ali e sair da região de Sinnoh para depois voltar demorado.



– Imagino que deva ser muito fácil enfrentar a família dele. - Ele deu um sorriso debochado. - Não conseguiria tirar nada deles e provavelmente morreria. -



Misty escutou aquilo com curiosidade. Para achar a família do campeão perigosa ele deveria conhecê-los bem. Julia Maerd, a irmã de Kevin, era uma mestra pokémon e certamente poderia fazer frente a ele se tivesse chance de reagir, mas de nada sabia da família de Barreira.



– Ele é que está tentando te fazer de brinquedo? - Questionou Misty.



Roger ficou calado sem dizer nada e não conseguiu esconder o espanto. Mas, rapidamente começou a se sacudir tentando se soltar.



– Vadia! Deixa eu me soltar que vou arrebentar com você e aquele patife do Razor! -



Misty observou aquela reação e levantou-se rápido pegando uma vassoura e ia acertar a cabeça dele com força, ele levantou-se de repente e as cordas caíram. Roger estava solto, sorrindo para Misty com um olhar assassino. Mas, por um instante ele tinha certeza que ela não parecia estar temendo-o.



– Essa vassoura não vai protegê-la. -



Roger avançou e de repente viu-se no chão cheio de dores, com a cabeça rodando e sendo amarrado novamente. A chuva caia forte em meio a trovões e ele ficando cada vez mais assustado como que havia acontecido.



Como? Roger tentava ordenar as ideias. Não conseguia entender como havia sido derrubado pela ruiva. Teria sido um sonho? Estava ferido ou doente e não sabia? Ele fechou os olhos deixando-se prender. Precisava pensar.



Ele atacou-a de frente, jogando as cordas na direção dela para que ela se atrapalhasse. Ele não viu, mas a mulher abaixou-se acertando suas pernas com uma rasteira. Segundos depois ele estava caindo de costas enquanto ela batia em sua cabeça com o cabo da vassoura diversas vezes. Tudo isso rápido e sem a menor dificuldades. Sendo que Roger não conseguiu acompanhar.



– Imagino que esteja surpreso em descobrir que sou mais forte e habilidosa que você. - Misty parou de amarrá-lo e desfez os nós que já havia feito-o deixando-o solto. - Na fazenda você me pegou de surpresa, por trás em um ambiente que se eu te desse a surra que você merecia, eu seria muito questionada. -



Roger levantou-se passando a mão na cabeça e olhando para a mulher que foi para o seu canto e enrolou-se novamente na manta. Não acreditava que ela o deixaria soltou. Levou a mão aos bolsos, ia queimá-la viva usando Vulpix. Mas, não encontrou suas quatro pokebolas. Olhou para ruiva que o olhou de forma debochada como quem perguntava se realmente ele achava que ela era tão burra.



– Quem é você? - Perguntou Roger com um misto de curiosidade e preocupação. - Está a serviço de um dos meus primos? -

Misty olhou sem nada dizer. Havia escondido os pokémon dele para não correr o risco de ser surpreendida. Os seus ficaram na fazenda de Cowboy. Não tinha ideia quem eram os primos dele. Mas, não iria falar para ele que a ex-lider de ginásio e agora aspirante a mestra pokémon de água viveu um período obscuro em sua vida. Ninguém sabia e ninguém iria saber que depois de Ash virar-lhe as costas quando mais precisou o falecido Giovanni, líder da Equipe Rocket, ajudou-a.

Roubar, ferir, torturar, matar e manipular estavam agora em seu dna. Enquanto era uma agente Rocket ela expandiu seu repertório e sua mente. Havia deixado a garotinha que fora de lado para se tornar uma mulher poderosa. Após a segunda queda da Equipe Rocket ela retomou sua vida e recebeu a visita de James, que a muito havia separado-se de Jessie, oferecendo-lhe uma proposta de sociedade para a liga pokémon aquática.

Ela estava no auge por saber o que fazer e quando fazer. Naquela situação sabia que matar o garoto poderia fazer com que achassem que ela arquitetou tudo aquilo. Tinha que o manter vivo e entregá-lo as autoridades. Esse era o plano até começar a perceber que o garoto não era apenas um maniaco. Não sentia pena das pessoas há muito tempo, mas algo lhe dizia que esse garoto merecia uma chance.



– Você sabe o que é disputa de liderança da geração? - Roger pegou uma manta enrolando-se. Viu a ruiva dar uma negativa com a cabeça. - Isso explica tudo. -



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As muitas tochas espalhadas iluminavam o ambiente, dando um tom sombrio para aquela noite escura. Quatro adultos estavam sentados em cadeiras grandes sendo que muitos outros transitavam pelo local. Cameras de filmagem espalhadas e um grande telão mostrava um homem de pele dourada. Mas, Roger não estava interessado naquelas pessoas e equipamentos e sim no que estava abaixo dele.

Amarrado e pendurado de ponta a cabeça, por uma corda, ele escutava rugidos e outros sons animalescos virem do buraco abaixo dele. Ele respirava pesadamente, temendo o que o aguardava. Ao seu lado estava o loiro que gostava de deitar na sombra das árvores e Razor, igualmente amarrados e pendurados. O foço tinha pelo menos 10 metros de profundidade e não se podia ver o fundo de onde estavam, apenas que os sons animalescos eram de pokémon muito irritados.



– Dou inicio disputa de liderança da geração desta família! -



A voz ecoou pela noite e de repente Roger sentiu-se caindo. O ar estava frio e o choque com o fundo fora mais duro do que gostaria. Doeu e tinha quase certeza que uma costela havia se partido. Fora tão difícil girar para que não caísse de cabeça. Respirava fundo e de forma barulhenta até perceber que a sua frente estava um pokémon serpente que assustou-se com sua chegada e ficou a encará-lo. Segurou a respiração e os movimentos. Sabia que a serpente já se sentia ameaçada e faltava muito pouco para atacá-lo.

Um barulho forte surgia. Uma confusão se formava e a serpente simplesmente lançou-se para o outro lado, afastando-se da confusão e deixando-o de lado.

Sentiu-se com sorte e começou a se mexer, tentando libertar-se. Recebeu uma pancada nas costas e logo depois sentiu uma lateral que o lançou contra a parede do buraco em que estava. A dor fora grande e quase desmaiou.



Concentrar! Concentrar! Roger sabia que sua vida corria mais perigo do que nunca naquele momento.



Conseguiu focar-se e não desmaiar. Então viu o loiro bem próximo a ele, quase solto. Dois pokémon o atacavam com mordidas, pareciam cães, talvez lobos. Mas, fosse o que fosse ao invés de estarem o estraçalhando estavam praticamente o ajudando. A cada mordida que tentavam dar, ele girava um pouco para o lado e as cordas iam sendo roídas. Já havia sangue do jovem, sem dúvida, mas não parecia abalado com aquilo. Estava usando o ataque dos pokémon a seu favor. Viu o loiro soltar-se enquanto ele ainda tentava achar a primeira ponta da corda.

O jovem saltou conseguindo evitar duas mordidas e foi se esconder atrás de Roger.



– Não! Não! -



O loiro foi deixado de lado e Roger passou a ser mordido enquanto gritava. O menino de olhos fundos não tinha as habilidades do loiro. A única coisa que sabia fazer era libertar-se, enquanto amarrado. Ele tentava girar como o loiro fez, mas o impedido pelo garoto que se escondia atrás dele. Foram seis mordidas fundas, até sentir que a perna, quase estraçalhada estava livre. As mordidas também arrebentaram as cordas.

Um mordida mais forte diretamente no pé que o fez urrar de dor mais alto que qualquer outro grito que tivesse dado até então. Começou a ser arrastado, pelo pé, pela arena buraco em que estava. Sentia que estava quase tendo o pé arrancado. Conseguiu soltar um braço e por onde passava tateava procurando por uma pedra. Quando a achou jogou direto na cabeça do pokémon. Seu pé foi solto e um rugido de furia foi escutado após um ganido de dor.

Roger levantou-se acabando de tirar as cordas que estavam com ele de forma apressada. Olhou em volta enquanto juntava a corda em uma espécie de laço. Parecia haver mais de cinquenta pokémon lutando uns contra os outros naquele buraco. Não via o loiro ou Razor. Tinha certeza que iria morrer ali. Olhou para cima e viu três coisas reluzentes em uma plataforma suspensa por correntes. Quando caiu aquilo não estava lá. Sorriu olhando para a plataforma, mas a visão da plataforma turvou-se.

Foi derrubado pelo pokémon que o mordera tantas vezes antes. Por instinto colocou o braço esquerdo para defender o rosto. Quando ele cravou os dentes em seu braço Roger conseguiu passar a corda no pescoço do pokémon e puxou na tentativa de enforcá-lo, mas o lobo parecia totalmente convencido de arrancar o braço de Roger.



– Você se soltou primeiro que eu? -



Era a voz de Razor. Mas, Roger não quis olhar, não tinha como olhar. Estava quase tendo o braço devorado. Usou as pernas para abraçar o corpo revolto do pokémon que o atacava e apertou. A criatura assustada soltou o braço e Roger que rapidamente forçou ainda mais a corda.

Girando o corpo para cima de seu agressor ele montou em cima dele com todo o peso que possuía. A criatura tentava se soltar a todo custo, mas aos os movimentos iam reduzindo conforme o ar ia acabando. Roger agarrava-se a corda, como se estivesse em um rodeio.



Caia! Caia! Caia... por favor, caia! Por favor... Morre logo! Era como uma prece desesperada pois sabia que um dos dois precisava morrer e não seria ele.



O pokémon tombou para o lado e Roger caiu também querendo um tempo para respirar. Mas, viu algo gigante correndo em sua direção sendo seguido por muitos outros. Começou a rolar tentando sair do caminho e escutou aplausos, muitos aplausos. Continuou rolando e tentando olhar a plataforma. Havia apenas dois pontos brilhantes.



Eu vou morrer! Eu vou morrer! O pensamento de Roger diante dos aplausos era apenas um. Chocou-se contra a parede e viu que Razor estava ali ainda libertando-se das cordas. Eu tenho uma chande?



– Tenho uma chance! - Gritou ele levantando-se como podia.



Sentiu algo enrolar-se nele e começar a apertá-lo. Era uma serpente que enrolou-se completamente antes que ele pudesse reagir. Mordeu-o três vezes, sem ele ao menos perceber o movimento. Sentiu as mordidas arderem. Tinha certeza que havia sido envenenado.



– Uma... chance... eu... - Ele balbuciava sentindo o veneno correr por suas veias.



– Otário! - Razor estava livre e apesar de muito ferido, podia andar. - Eu quero que sobreviva para ser meu brinquedinho! - Razor falava para Roger, longe da serpente. - Mas... AQUI! AQUI! AQUI! AQUI! - Ele começou a gritar chamando a atenção dos pokémon para aquele ponto enquanto ele começava a escalar o foço com as mãos nuas. - Você servirá de distração enquanto alcanço o meu ovo. -



Roger estava sendo esmagado. O veneno corria por seu corpo e ele apenas via, a horda de criaturas vindo em sua direção enquanto Razor escalou rápido e alcançou a plataforma suspensa.



– Não... - Balbuciou Roger enquanto sentia que o braço bom havia quebrado.



O desafio de liderança da geração familiar era algo obrigatório para os homens nascidos nos Países Livres e seus descendentes que almejassem viver no pais algum dia. Quando todos de uma geração completavam treze anos o Imperador os chamava para o desafio, que variava conforme o que era sorteado. Irmãos e primos confrontavam-se em uma disputa de vida ou morte onde uma hierarquia era construída entre eles definindo quem seria o líder da família daquela geração e os seus sucessores em casos de fatalidade.

Roger era o mais novo da família e nunca deu a minima para essa história de liderança familiar até começar a ser espancado e forçado a servir aos dois primos mais velhos.

Roger não sabia como era o desafio quando o dia chegou, mas sabia que teria de enfrentar pokémon selvagens e possivelmente furiosos, encontrar um ovo pokémon e voltar o mais rápido que pudesse. Se fosse o primeiro a conseguir fazê-lo seria o líder e nenhum dos outros poderia levantar a mão contra ele, questionar suas ordens e decisões, com pena de ser executado por isso.

Sem saber o que enfrentaria foi amarrado e jogado dentro de um foço com pokémon prontos para matá-lo. Tinha que proteger-se dos pokémon, desamarrar-se, arrumar uma forma de escalar as paredes do foço, encontrar o local onde o ovo estaria e sair do foço com o ovo que quando chocasse originaria seu pokémon guardião e simbolo de sua posição.

Era importante completar a prova ou mostrar ao menos algo que valesse a pena ser salvo. Caso contrário o competidor morreria com os perigos do desafio. Era importante adquirir o ovo, pois dizia-se que jovem e pokémon estariam para sempre ligados. Mesmo que este já tivesse outros inúmeros, esse seria como seu primeiro pokémon. O companheiro de uma vida.



– Eu... - A visão ficou totalmente turva e antes de tudo escurecer sentiu uma nova mordida da serpente.



Não ocorreu sonhos, apenas escuridão. Após quatro mordidas, tantos ferimentos e criaturas enlouquecidas correndo em sua direção, tinha certeza que morreria. Não havia intervenção na disputa. Ou ele saia carregando o ovo ou morria. Precisava de um feito significativo para alguém intervir e quando perdeu os sentidos tinha certeza que não havia feito nada para ser salvo.

Mas, Roger deu por siem um local claro, cheio de luz e paredes brancas. Vários tubos estavam ligados a ele, bem como várias partes engessadas.



– Estou vivo? -



Roger balbuciou quase que para si mesmo, atordoado com tudo. Estaria morto e aquele era aforma que as pessoas entravam no mundo dos mortos? A mente se tornou uma confusão e o corpo começou a mostrar que estava vivo, pois tudo doía. Estava a ponto de gritar.



– Oi! -



A voz o fez tremer. Tentou segurar, mas não conseguiu. Começando a chorar compulsivamente. Sentiu que uma mão tocou seus dedos da mão engessada. Ele não queria que ela o visse chorando, mas a tristeza e a felicidade estavam lhe causando tanto efeito quanto as dores que sentia. Chorar era a única coisa que conseguia.



– Está tudo bem. Já acabou! -



A voz de menina tentou confortá-lo. Mas, Roger não queria encará-la. Queria poder esconder o rosto de vergonha, mas seu corpo estava preso a cama, certamente imaginaram que ele iria surtar ao acordar. Foram longos minutos dele chorando e a menina de pé ao lado dele segurando seus dedos, até que ele finalmente conseguiu coragem de olhar para ela.

Cabelos castanhos ondulados, um olhar inocente de coloração castanha. A pele branca e o cheiro gostoso de algo doce que vinha dela. Não acreditava que deixaram-na visitá-lo. Na verdade, nem a queria ali para que os primos não chegassem perto dela.



– Por que estou vivo? -



Roger viu a expressão de incredulidade da menina ao escutar a pergunta. Ela retirou sua mão da dele e procurou uma cadeira para arrastar para perto dele e sentar-se. Ela parecia ter a mesma idade, movia-se de forma calma e delicada. Quando sentou olhou de volta para ele.



– Quando se tem a vida salva, independente do motivo, dizemos obrigado. - A menina parecia bem triste. - Depois que desmaiou foi mordido mais 10 vezes pela serpente. Sua irmã pediu para que pudessem enterrar seu corpo junto ao da sua mãe, sem que ele estivesse destruído. O pedido foi atendido e entraram no foço para buscar seu corpo antes que os pokémon o destroçassem. Mas, quando chegaram lá você estava vivo e semiconsciente. -



Roger pareceu não acreditar.



– Razor saiu com o ovo e você aparentou desmaiar quase no mesmo instante. - A menina pareceu desviar o olhar. - Até decidirem por lhe dar um enterro digno foram quase trinta minutos. Você levou quatorze mordidas envenenadas e quando chegaram em você perceberam que ainda estava vivo e semiconsciente, assustaram-se. Alguns pokémon morreram com apenas uma mordida e não resistiram nem por dez minutos. - Ela olhou para ele. - O Imperador recordou que a muito ninguém matava um pokémon com as próprias mãos e que o último a sobreviver ao veneno de por metade do seu tempo tinha levado apenas cinco mordidas. - Ela suspirou. - O Imperador decretou que você deveria viver, entendia sua teimosia em não morrer como um ato significativo de vontade de viver. -



– O Imperador? - Ele parecia incrédulo.



– Sua irmã está com seu ovo. Ela sabe que ele pode fazer o jogo virar a seu favor. - Disse a menina que saiu da cadeira e debruçou-se sobre ele. - Mas, me prometa que não vai enfrentá-los de novo. Que vai aceitar esse destino! -



Roger fechou os olhos voltando a chorar. Jamais poderia prometer isso. Tinha certeza que precisaria enfrentar os primos novamente. Se não enfrentasse não apenas ele seria brinquedo de Razor, mas também ela.



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Apresentar trabalhos era algo complicado para qualquer aluno de ensino médio do colégio de Riley. Um deslize e seria motivo de piada para a escola toda. Afinal, a escola adorava uma zoação. A sorte era se as apresentações ocorressem sextas depois do almoço. O final de semana sempre rendia um assunto melhor que um mico durante a aula.

No entanto, Maya não queria arriscar. Estava disposta a fazer com que qualquer pessoa passasse vergonha durante sua apresentação, mesmo que essa pessoa viesse a ser o professor Cody Mevoj.

Ela e Riley teriam que falar sobre um país que foi invadido e os habitantes conseguiram acalmar os invasores fazendo-os desistirem da violência. Após falarem sobre vários dados do país e as motivações para a invasão fariam uma encenação, Tangrow de Mevoj seria o invasor e a pequena Chickorita de Riley seria o povo local.



– Senhoria Neet! Quem disse que poderia trazer pokémon para a sala de aula? -



Cody nunca se importou muito com as travessuras de Maya, mesmo quando colocava Riley em apuros. Mas, não gostava de ver seus pokémon nas mãos da menina. Ela sempre causava encrencas e não tinha muitas habilidades com as criaturas.



– Quando falei que iriamos fazer uma visita ao seu local de trabalho, não houve oposição por parte da planta. - Sorriu Maya vendo Tangrow abraçando seu dono e começando a enrolar-se nele com seus chicotes provocando risos na turma. - Para finalizar nossa apresentação, eis aqui nossa encenação. Um estrangeiro invadindo a sala de aula e atacando os nativos. - Os alunos davam risadas da situação onde o professor já estava sendo até erguido pelas varias trepadeiras. - Acaba com ele plantinha! - Disse Maya incentivando.



Riley observava abraçada a sua Chickorita. Fizeram várias simulações em casa e todas deram certo. Sua pequena pokémon precisava apenas usar o Sweet Scent. Uma técnica que lançava no ar um pólen doce e calmante que fazia todos a sua volta ficarem relaxados.



– Agora é a vez dos habitantes acalmarem as coisas. - Diz Maya ao ver que o professor havia sido virado de ponta cabeça. - Sua vez Riley. -



– Ok! - Riley respirou fundo e esticou Chickortia na direção de Tangrow. - Sweet Scent! -



Chickorita era um pequeno pokémon planta quadrupede considerado bem habilidoso e bonito. Media geralmente por volta de cinquenta centímetros, corpo beje, lembrando uma batatinha longe com patas. Tinha uma folha na cabeça, um olhar gentil e animado, além de uma espécie de colar de sementes em volta do pescoço.

Os polens que utilizava saiam de sua cabeça, justamente da pequena folha sem sua cabeça. Não demorou para Tangrow diminuir sua animação e todos começarem a aplaudir.



– E isso demonstra... Opa! - Riley ia finalizar apresentação, mas percebeu que Tangrow continuava animada e começava a esticar seus tentáculos pegando os alunos nas cadeiras e erguendo-os, assim como fizera com o professor. - Chickorita, continue com o Sweet Scent! -



A pequena plantinha de Riley esforçava-se, mas parecia que a quantidade do pólen que conseguia produzir não era o suficiente naquele momento. Riley percebia que sequer estava sentido o aroma gostoso que deveria estar sendo produzidos.



– Tangrow pare agora! - Disse Riley tentando ter pulso firme com o pokémon do pai na esperança dela obedecê-lo, já que Maya já havia gritado varias vezes e até mesmo a pokebola havia falhado na tentativa de conter o pokémon que parecia altamente animado. - Chicotinho, não! - Ela afastou-se vendo que ela e sua Chikorita iria também ser envolvidas. - Abracinho, não! É para parar! -



Riley olhou para Maya, mas a menina já não estava lá. Foi só então que percebeu, todos os alunos já estavam envolvidos pelos tentáculos e um burburinho começava. Estanhou que ninguém estivesse gritando, mas agradecia por isso. Ficou parada onde estava enquanto sua Chickorita ainda tentando usar o Sweet Scent. Ela sabia que se saísse de onde estava iria ser envolvida.



– O que é isso senhor Mevoj? -



Na porta da sala apareciam duas pessoas, Maya que parecia assustada e uma senhora gorda, visivelmente furiosa, trajando terninho preto feminino e óculos. Tinha algumas folhas de papel na mão e não acreditava no que estava acontecendo na sala de aula.



– Está tudo bem senhora diretora. - Disse Mevoj forçando um sorriso. - É apenas um abraço cole... - Mevon parou não acreditando no que Tangrow havia acabado de fazer.



A diretora foi envolvida e puxada para dentro da sala, mas pelos pés. Ela ficou de ponta a cabeça e quase chocou-se contra ele. Mevoj desviou o olhar, não queria falar com a mulher naquela situação. Viu que Maya estava ainda na porta olhando sem saber o que fazer e logo atrás dela parecia que surgia uma outra pessoa.



– Não é todo dia que se vê isso. -



Maya virou-se e viu um rapaz atrás dela. Loiro, alto, olhos azul esverdeados, um sorriso diferente no rosto, talvez achando graça da situação. Cabelos arrepiados trajando uma calça cheia de bolsos e uma jaqueta beje.

Ele estava na sala da diretora quando Maya abriu a porta pedindo por ajuda. Ela poderia ter ido aos coordenadores ou zeladores, mas não encontrou ninguém antes. Nunca o viu na escola e ficou muda olhando-o por bons instantes até que diretora gritasse com ela e ela pudesse voltar a realidade.



– Queria que a diretora pensasse que nem você. - Comentou Maya. - Vai me suspender com certeza! -



Maya viu que o loiro olhou-a e sorriu. Passando por ela e entrando na sala. Tentou impedi-lo, mas um dos chicotes acabou agarrando-a e ela foi erguida. Acompanhou-o ainda com os olhos. Ele caminhava com calma pela sala, evitando os chicotes. Parecia estar curtindo tudo aquilo diferente da diretora que brigava com Mevoj.

A loira viu quando ele parou olhando o pokémon o rosto dele foi fechando o semblante. Mas, de repente fez um movimento com a cabeça, como se estivesse tentando sentir algo no ar.



– Hum... - Ele olhou em volta e sorriu. - É uma ótima ideia! -



Abaixou-se. Levantou a barra da calça revelando uma espécie de tornozeleira onde estavam presas três esferas multicoloridas. Ele pegou uma e enquanto levantava-se ampliou a esfera. Era uma pokebola. Levou a mão para o lado, dando um passo para o outro lado, e a pokebola se abriu. Um pokémon surgiu e olhou em volta e rapidamente estava assumindo um olhar irritado.



– Segura a onda Meganium. - O rapaz passou a mão na cabeça da pokémon. - Use o Aroma Doce. -



Devia medir mais de dois metros. Num tom de pele esverdeado claro, puxando para o beje, parecia uma versão gigante de Chickorita diferenciando-se pela coloração e pelo colar em volta do pescoço que era de flores ao invés de sementes.

Maya tinha absoluta certeza que a pokémon fez uma cara de entediada ao escutar o comando, mas acabou usando o movimento. Um pólen rosa claro começou a sair das flores de seu pescoço e logo foi em direção ao pokémon trepadeira.

Toda a animação de Tangrow foi passando. As pessoas levantadas foram sendo abaixadas e os chicotes recolhidos. Talvez tenha levado cerca de um minuto, mas ao final o pokémon estava calmo diante da sala, observando quase que hipnotizado.



– Volte! - Maya da porta usou a pokebola para recolhê-lo.



A maioria saiu correndo da sala gritando enquanto a diretora começava a gritar com o professor arrastando-o para porta. Maya saltou para longe da porta para não ser pisoteada.

O loiro olhou para a garota que havia ficado na sala. Ela estava abraçada a Chickorita com olhos cheio de lagrimas e parecia que estava tremendo. A pequena pokémon havia saído do colo e parecia tentar se esconder atrás das pernas de sua dona. O loiro ia na direção delas, mas escutou a confusão na porta.



– … não tente defender suas filhas! Eu vou... -



A diretora esbravejava tanto que algumas salas de aula já tinham parado seus afazeres e observavam o ocorrido. Maya havia ido até Riley tentar acalmá-la, mas parecia inútil. A menina parecia travada em seu lugar.



– Aroma Doce em direção a... - O loiro olhou para Meganium que olhava de forma desafiadora e debochada para a Chickorita. - Por isso ela está amedrontada. - Suspirou. - Você já foi mais nobre, Briguentinha. Agora, pare com a provocação e Aroma Doce na direção da porta, por favor! -



A pokémon deu uma risada e não demorou muito para que o pólen atingisse a diretora e muitos que estavam no corredor. A gritaria foi diminuindo até passar para sussurros. Aquilo chamou a atenção de Maya e Riley que passaram a observar o loiro agradecendo à pokémon antes de recolhê-la. O loiro percebeu os olhares, mas acabou sendo chamado por outra pessoa.



– Rapaz do estágio? -



O loiro olhou para a porta e viu o professor fazendo-lhe sinal para ele se aproximar. Maya continuou a acompanhá-lo com os olhos até ver a conversa entre eles terminar e após apertar a mão do professor, sorrindo, o loiro virou-se para elas.



– Foi uma ótima ideia! Seu Aroma Doce afetou a sala ao invés de Tangrow por causa daquilo. - Ele apontou para algo acima das duas meninas. - Ainda assim, uma ótima ideia! - Sorriu para elas antes de sumir pelo corredor.



As meninas olharam na direção que ele apontou. Havia um ar condicionado ligado quase que em cima de Riley. Ele não parecia estar gelando, mas definitivamente estava ligado. Então perceberam que toda a essência liberada por Chickorita foi enviada para os alunos ao invés de para Tangrow, por isso a sala não gritou enlouquecida. Mas, não tinham ideia do que era Aroma Doce, não sabiam que era um outro nome para o Sweet Scent.

Enquanto isso Cody caminhou até sua cadeira e sentou-se colocando as folhas que a diretora lhe deu junto aos seus pertences. Estava visivelmente cansado e preocupado.



– Quem era ele? - Perguntou Maya.



– Universitário em busca de estágio. A diretora não os quer aqui, estava para gritar para ele ir embora quando o incidente começou. - Ele riu. - Ela disse que cansou de gritar e era para eu dispensá-lo. Acabei esquecendo de devolver o currículo dele. - Ele apontou as folhas que foram rapidamente pear por Maya.



– Desculpa pai. - Murmurou Riley.



– Tudo bem. - Disse Cody. - A faxina da casa é de vocês por um mês. -



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Estava amanhecendo e a chuva havia parado, mas as nuvens continuavam carregadas para castigar a todos a qualquer momento. Roger e Misty podiam ver a cidade alagada pelo retrovisor do carro, ficando cada vez mais distante.

Roger não saberia dizer o que fez ele confiar em Misty. Mas, pelo sim e pelo não, acabou saindo do galpão onde estavam acompanhado da ruiva. Ambos por livre e espontânea vontade um na companhia do outro. Roubaram o primeiro carro que acharam que o dono abandonou as pressas durante a chuva.



– Tem certeza que eu posso superar qualquer um usando os pokémon? -



Roger não havia contato de sua vida para Misty por completo, mas estava claro que o menino lutava por sua liberdade a todo custo. Misty havia lhe dito que talvez no braço jamais pudesse superar algumas pessoas, por mais que trabalhasse duro. Talvez tivesse que matar a pessoa e assim não poderia saborear a vitória. Mas, não havia trabalho duro que não fosse recompensado no mundo pokémon. Fosse quem fosse poderia ser derrotado se treinasse duro e criasse um elo com seu pokémon.



– Até mesmo matar, usando os pokémon fica mais simples! - Disse a ruiva. - Te ensinarei tudo o que eu puder durante um dia a partir das seis horas de hoje enquanto isso você me leva na direção do litoral. -



Roger admitia que estava curioso sobre como a mulher poderia ajudá-lo. Ela visivelmente tinha muitas habilidades que não aparentava ter. Aceitava qualquer ajuda para superar seus primos e não mais ter que obedecê-los pela eternidade. Podia ter perdido o desafio, mas existiam formas de assumir a liderança e estava disposto a qualquer coisa. Afinal, não era apenas sua vida que estava em jogo.



– O que você vai ganhar com isso? - Questionou Roger a Misty.



– Um assassino! - Sorriu a mulher sentada no banco do passageiro.




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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam da promoção! Tem episódio no comecinho que quase tem a quantidade certa para mostrar mais um personagem!!! ^^



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