A resposta da alma escrita por Nany Nogueira


Capítulo 20
A perda




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Ricardo e Amélia estavam de malas prontas para subir a serra num final de semana ensolarado.

Lourdes, mãe de Ricardo, iria ficar com o neto Miguel.

– Não esqueçam de me trazer presentes e muitos chocolates – pediu o menino aos pais.

– Não vamos esquecer, meu príncipe! - disse Amélia, abraçando o filho – Obedeça a sua avó.

– Pode deixar mamãe.

Foi a vez de Ricardo abraçar o filho:

– Comporte-se carinha. Sei que é um bom garoto, tenho muito orgulho de você e te amo muito, nunca se esqueça disso.

– Não vou me esquecer, também te amo papai.

Os dois entraram no carro e seguiram viagem.

Ricardo havia reservado um hotel em meio à natureza. Ele e Amélia puderam aproveitar, andando a cavalo, visitando vinícolas próximas e fábricas de chocolate. Jantaram à luz de velas, saboreando um bom vinho.

Ricardo era muito bem humorado e sempre arrancava risadas de Amélia, ela pegou a mão do marido e comentou:

– Agora me lembrei como me conquistou. Eu adoro esse seu bom humor Ricardo, sempre tornando minha vida mais alegre.

– Você torna a minha vida mais alegre Amélia, eu te amo, como nunca amei uma mulher. Nós construímos uma família juntos, temos um filho lindo, e um casamento de 8 anos. Devo tudo isso a você.

– E eu, a você.

Depois do jantar, os dois já entraram aos beijos no quarto e tiveram um noite de amor.

Amélia acordou feliz, certa de que estava fazendo a coisa certa. Ricardo era um bom marido e um bom pai, sempre tão apaixonado por ela e tornando sua vida mais feliz. Não iria deixá-lo por um sentimento do passado.

Ela sofreu muito com a separação dos pais e com o abandono do pai, então queria que Miguel tivesse a oportunidade de ter a família feliz que ela não teve.

Ricardo apareceu trazendo uma bandeja de café da manhã pra ela, na cama.

– Nossa! Eu mereço tudo isso? - perguntou ela.

– Merece muito mais que isso, minha princesa linda – beijando-a.

Os dois tomaram o café da manhã na cama, arrumaram-se e foram dar mais uma volta a cavalo pela manhã.

Quando voltavam abraçados ao hotel para o almoço, Ricardo falou:

– Quero me lembrar desses momentos com você pra sempre, mesmo depois que eu morrer.

– Não fale besteira. É muito novo para morrer.

– Eu prefiro ir antes de você.

– Ninguém sabe quem vai primeiro.

– Eu quero ir, porque eu não suportaria perder você.

Os dois se beijaram.

Logo depois do almoço, pegaram estrada pra voltar pra casa, era hora de descer a serra.

Um chuva grossa começou a cair e mal dava para enxergar a estrada e suas muitas curvas.

– Ricardo, melhor encostar, não dá pra enxergar nada – alertou Amélia.

– Esse trecho nem tem acostamento minha linda. Fica tranquila, sou um motorista experiente e o carro tem farol de milha.

– Eu não vejo nada, mesmo com farol de milha.

– Não tenho como parar.

– Ricardo!!! - gritou Amélia, ao ver que ele estava perdendo a direção do veículo em trecho inunando, vindo a se chocar contra a montanha.

O choque foi grande, Amélia desmaiou após o air bag abrir no seu rosto.

Ela acordou vendo luzes vermelhas a sua volta. Homens do corpo de bombeiros serravam as ferragens para retirá-la.

– A senhora pode me escutar? - perguntou um dos bombeiros.

– Sim.

– Estamos quase tirando a senhora daí, fica calma e mantenha os sentidos, fale comigo, está bem? Qual o seu nome?

– Amélia.

Ela foi retirada, imobilizada e levada para a ambulância dos bombeiros. Acordou no hospital com toda a sua família em volta: a mãe, a avó, o tio, o irmão, a cunhada, e o filho.

– Mamãe! - disse Miguel, chorando, correndo para abraçá-la.

– Tá tudo bem querido – falou Amélia, afagando a cabeça dele.

– Que susto nos deu Amélia! Sempre falei que aquele serrra é perigosa! Mas ninguém me escuta! Depois não diz que não avisei! - falou a avó com seu tom de recriminação que lhe era peculiar e que não iria mudar nos seus 90 anos.

– Sente-se bem minha filha? - perguntou a mãe de Amélia, preocupada.

– Dói tudo – respondeu Amélia.

– Isso é normal da porrada do acidente – comentou o tio – Mas, você vai se recuperar logo, vai ficar mais forte que uma lutadora de MMA depois dessa.

– Para onde levaram o Ricardo? - quis saber Amélia.

Todos ficaram em silêncio no quarto.

A mãe de Amélia disse a Miguel:

– Vem com a vovó, vamos fazer um lanche.

O menino saiu e o irmão de Amélia teve coragem de contar:

– Ele não resistiu mana, eu sinto muito.

– O quê? - perguntou Amélia, começando a chorar – Miguel já sabe?

– Não sabemos como contar a ele – explicou o irmão.

– Pensamos que era melhor você contar – completou a cunhada, Alana.

– Como eu vou contar isso ao meu filho? É muito cruel com uma criança perder o pai tão pequeno! Meu filho precisava tanto dele! Por que Deus fez isso? Por que não teve piedade de um garotinho? - questionou ela, revoltada.

Alana era espírita e soube falar à cunhada palavras de consolo:

– É do ser humano se revoltar em algumas situações. Eu entendo a sua dor. Mas, Deus sabe o que faz. Podemos não entender na hora, mas tudo tem um propósito. Ricardo foi uma pessoa muito especial na sua vida. Ele te encontrou para que juntos pudessem gerar o Miguel, que é um anjo para toda a família. Você tiveram uma história, mas o tempo de Ricardo na terra acabou, ele fez a parte dele e evoluiu o quanto pôde. Chegou a hora dele voltar para a espiritualidade para se aprimorar ainda mais e ajudar seus companheiros, voltando para a terra quando estiver preparado. Mesmo no outro plano ele pode sentir a sua dor e ficará tão triste quanto você. Viva esse luto, mas aceite que seu marido precisa ir, deixei-o ir, para que seja feliz. De lá, ele sempre olhará por você e pelo Miguel.

O irmão de Amélia olhou para a esposa e viu que um anjo guadião inspirava as palavras ditas por ela.

Amélia saiu do hospital para o enterro do marido. Contou ao filho minutos antes, explicando que o papai tinha ido pro céu por ser um homem muito bom, tanto que Deus o queria por perto.

O menino chorou muito, dizendo que ia sentir saudade, sendo consolado pela mãe.

Amélia e Miguel jogaram rosas brancas sobre o caixão de Ricardo, enquanto ele descia em sua cova. Mãe e filho choravam muito, abraçados. Lourdes, mãe de Ricardo, não suportou a cena e desmaiou, sendo retirada por familiares.

Quando chegou em casa, Amélia não podia suportar olhar para o local. Tudo lembrava Ricardo. Ela se sentou no sofá e não conteve o choro. Miguel sentou-se ao lado dela e fez carinho nos cabelos loiros da mãe:

– Não chora mamãe, o papai vai ficar triste. Não está sozinha, eu vou cuidar de você, agora sou o homem da casa.

– É sim, meu amor – falou Amélia, secando as lágrimas – Por isso que seu pai tinha muito orgulho de você.

Amélia pediu uma licença do trabalho logo após o óbito do marido, pois não suportava as pessoas lhe olhando com cara de pena ou tentando animá-la dizendo coisas como: “Você é muito jovem e muito bonita, fica triste não, logo arranja outro”.

Durante a licença, Amélia foi viajar pela Europa com Miguel. Foram a Itália ver o que havia restado do Império Romano, à França visitar os Palácios Renascentistas e, voltando ao Brasil, foram ao nordeste, em Pernambuco, onde viveu o Juiz da vida anterior de Amélia.

Miguel ficou encantado pelo lugar e parecia já conhecê-lo, dizendo em uma das praias:

– Essa praia é bonita, mas a que vem depois dessa é ainda mais bonita, mamãe, vamos lá?

– Vamos, querido.

No meio de uma feira, tocava forró e casais dançavam. Miguel puxou a mãe pela mão e disse:

– Vamos dançar, mamãe.

Os dois dançavam e Amélia sorriu ao ver a empolgação de seu menino.

– Sabe mamãe, uma vez tive um sonho esquisito. Eu e você estávamos num forró como esse...

– E dançávamos juntos como agora?

– Não. Não podíamos dançar juntos, você era homem.

Amélia apenas sorriu, sabendo exatamente do que o menino estava falando.

– Mas você é mais bonita agora! A mãe mais linda do mundo! - elogiou o pequeno.

– E você é o filho mais lindo e mais puxa saco do mundo! - disse Amélia em tom de brincadeira.

Mãe e filho voltavam para o Rio Grande do Sul, quando o avião fez escala em São Paulo, alguns passageiros embarcaram.

– Com licença, meu assento é aqui – disse uma voz masculina.

Amélia virou-se e viu que era Gustavo.

– Tem certeza? - perguntou ela, tentando dissimular seu choque ao vê-lo.

– Sim – confirmou ele, mostrando sua passagem.

Gustavo passou para o seu assento ao lado de Miguel.

– Como você está Amélia? - perguntou Gustavo, após se acomodar.

– Do jeito que dá – respondeu ela, friamente.

– Sinto muito pelo seu marido.

– Sente mesmo?

Miguel interrompeu:

– Vocês já se conhecem?

– Eu sou amigo da sua mãe – contou Gustavo.

– Na verdade, ex-professor – falou Amélia.

– Meu nome é Miguel – apresentou-se o garoto.

– Prazer Miguel, eu sou o Gustavo – cumprimentou, apertando a mão do garoto.

– Você gosta de figurinhas?

– Quando eu era pequeno tinha várias álbuns.

– Quer ver o meu?

– É claro.

Gustavo e Miguel conversaram animadamente durante todo o vôo de São Paulo a Porto Alegre.

O piloto informou que estavam prestes a aterrisar.

Miguel falou a Gustavo:

– Você é legal, quer ser meu amigo?

– Pensei que eu já fosse seu amigo.

– E já é. Posso te adicionar nas redes sociais?

– Claro. Estou nos contatos da sua mãe.

Amélia interveio:

– Não gosto de Miguel entre muito em redes sociais, só nos finais de semana, com a minha supervisão.

– Você pode supervisionar o que converso com ele – respondeu Gustavo.

O avião aterrisou, foram todos pegar suas malas na esteira. Gustavo perguntou:

– Vocês estão de carro?

– Vamos pegar um táxi – respondeu Amélia.

– Eu levo vocês.

– Não precisa.

– Eu quero ir com ele, mamãe – pediu Miguel.

No carro, a conversa de Gustavo e Miguel continuou. O garoto perguntou:

– Você é solteiro Gustavo?

– Eu estou solteiro sim.

– Minha mãe também está, vocês podiam namorar né?

– Miguel! - falou Amélia, em tom de repreensão – Sua mãe não está solteira, está viúva.

– Mas vúva também não tem marido e pode ter um – observou o menino.

Gustavo riu e Amélia ficou constrangida.

Assim que chegaram ao apartamento, Amélia chamou Miguel para conversar:

– Não gostei nada do que fez, falando aquela besteira para o Gustavo. Eu entendo que esteja sentindo falta de um pai, mas, acredite, Gustavo não é a pessoa mais indicada para ser o seu pai, ele tá velho e nunca teve filhos.

– Mas ele gostou de mim.

– Aguentou você por algumas horas, duvido que teria paciência o tempo todo. Ele tá acostumado com a vida livre de solteirão dele, não iria querer assumir a responsabilidade de uma família. Além disso, eu estou muito bem sozinha. Temos um ao outro e não precisamos de mais ninguém, entendeu?

– Eu só queria que você voltasse a ser feliz mamãe. Eu vejo que seus olhos são tristes desde que o papai morreu.

– Eu sinto falta do seu pai, sofro de saudade, mas vai passar. Eu vou superar isso e você também. Não fique tentando me arrumar um namorado e nada de adicionar o Gustavo em redes sociais.

Miguel não foi muito obediente. Só esperou Amélia entrar no banho para entrar na nternet, acessar uma rede social, vasculhar os contatos da mãe e adicionar Gustavo.


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