A resposta da alma escrita por Nany Nogueira


Capítulo 13
O submergir de memórias


Notas iniciais do capítulo

Um agradecimento especial à "Jujubasp" por acompanhar minha história e comentar!



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Dia dos namorados...

Amélia levantou-se a muito custo, pois sempre detestou acordar cedo, com chuva e frio menos ainda, mas a obrigação a chamava.

Quando a moça entrou na cozinha para tomar o seu café da manhã, encontrou a avó, exultante, segurando um buquê de rosas vermelhas.

– Quem ganhou isso? - perguntou a moça desconfiada.

– Você! - respondeu a avó entregando as flores para a moça.

– Eu nem sabia que tinha namorado.

– Abra logo o cartão, até desconfio de quem seja, mas quero ter certeza.

Amélia também desconfiava de quem poderia ter mandado as flores, e ao abrir o cartão suas suspeitas se confiram, eram de Fabiano. Ele escreveu “feliz dia dos namorados, minha bela”.

– Ele é louco! - disse Amélia, nervosa, atirando as flores no chão.

– Enlouqueceu garota? Está com raiva por receber uma declaração de amor no dia dos namorados? Pelo menos seja gentil e agradeça a ele – falou a avó, indignada.

– Nem morta! Já era pra ele ter entendido que não quero nada com ele e me deixar em paz.

– Eu não criei uma neta tão mal-educada! O que ele vai pensar se nem agradecer?

– Eu não dou a mínima para o que ele pensa! Eu odeio ele! - gritou Amélia, colocando para fora toda a sua raiva.

A moça foi chorar em seu quarto, sentia uma angústia tão grande que não sabia explicar. Sua mãe entrou no quarto:

– Sua avó me contou o que aconteceu.

– Também veio aqui me dizer pra eu ter educação e agradecer as flores?

– Não, vim aqui para te contar uma história: quando eu era menina, deveria ter uns 14 anos, tinha um vizinho que era apaixonado por mim. Ele era mais velho, um rapaz feito, e eu ainda uma menina que me sentia incomodada com os galanteios dele. Ele colocava rosas em baixo da janela do meu quarto e eu ficava com raiva e rasgava as pétalas da flor. Hoje eu vejo que era bobagem fazer isso. Mesmo que eu não quisesse nada com o rapaz, não precisava ser tão estúpida, afinal, ele só estava demonstrando carinho por mim e esse gesto sempre deve ser recebido de coração aberto.

– Tá mãe, eu já entendi.

– Não precisa namorar esse rapaz, o Fabiano, mas pode receber a demonstração de afeto dele com o coração aberto, sem tanto ódio.

A mãe de Amélia deu um beijo no rosto da filha e saiu do quarto. A moça até estranhou, mas gostou dessa nova mãe que estava conhecendo. O tratamento de regressão também trouxera bons resultados para a mãe.

Naquele mesmo dia, Amélia sentiu dor no peito ao ler numa rede social a declaração de amor que a namorada de Gustavo fez para ele, mas, depois, ela começou a analisar a foto que havia junto com o texto. Gustavo sorria com os lábios, mas não com os olhos. Ela podia jurar que ele não estava feliz, mas tentando ser feliz. Além disso, a declaração havia partido da namorada e ele não havia escrito uma linha em retribuição. Tais pensamentos paificaram a alma de Amélia.

No fundo, Amélia sentia que o coração de Gustavo sempre seria dela, independentemente da pessoa com a qual estivesse.

Naquele mesmo dia, Amélia percebeu o interesse escancarado de um colega de trabalho por ela. O nome dele era Cléber. Ele se aproximou da mesa da moça e começou a puxar conversa, querendo saber qual era o seu trabalho e perguntando quais eram os seus planos para o dia dos namorados, ao que a moça mentiu:

– Eu não tô muito legal hoje, acho que estou me gripando.

– Então não vai ter noite romântica hoje? O namorado vai ficar chateado.

– Pois é, fazer o que? - respondeu a moça, deixando ele acreditar que era comprometida.

Além de Cléber ser mais baixo que Amélia, a qual era alta para uma mulher, o rapaz não a atraía, sem contar que sempre parecia ter o coração completamente preenchido por Gustavo, sua obsessão, cuja altura inferior à dela não a incomodava.

Era só com Gustavo que gostaria de estar junto no dia dos namorados.

Alguns dias depois, Amélia assistia a um filme na casa de uma de suas melhores amigas, Isabela, junto também estava Mariana. As três moças comiam pipoca, sentadas na cama do quarto de Isabela.

O filme mostrava Paris e isso fez as memórias do passado de Amélia submergirem de forma espontânea. De repente, ela se sentiu na capital francesa, com sua irmã (Isabela) e sua dama de companhia (Mariana). A angústia veio tão forte que quase sufocou o seu peito.

Quando o filme acabou, Amélia levantou-se rapidamente da cama da amiga, pegou a bolsa e disse:

– Preciso ir.

– Mas já? - perguntou Isabela sem entender.

– Por que vai sair correndo desse jeito? Não íamos pedir pizza agora? - - perguntou Mariana.

– Não estou correndo, só com pressa.

– Tem compromisso no domingo? - perguntou Isabela, desconfiada.

– Muita coisa para estudar, tchau – saindo apressada.

Amélia chegou em casa, sentou no sofá e quando a avó perguntou por que havia voltado cedo da casa da amiga, querendo saber se algo havia acontecido, a moça começou a chorar copiosamente.

– Você brigou com as suas amigas? - perguntou a avó, preocupada.

– Não. O filme mostrava Paris e isso me deu vontade de chorar.

A avó ficou sem entender, querendo dar calmante à moça.

– Vó, não quero calmante, não preciso de nada, só preciso chorar, me deixa, tá? - indo para o seu quarto.

Naquela noite, Amélia não conseguia dormir. Memórias espontâneas da França renascentista vinham a sua mente. Via-se no Palácio, deitada na sua cama enorme, temendo o marido, que assim que se deitava queria possuí-la, mesmo contra a sua vontade. As cenas dos estupros contínuos do marido vinham como flashes que fizeram a moça abrir os olhos na tentativa de parar de vê-los, em vão.

Amélia não suportava mais a angústia e resolveu adiantar sua sessão de regressão, precisava entender o que estava sentindo.

A sessão foi profunda, tudo começou a passar na cabeça de Amélia como se fosse um filme, desde a infância da princesa na França, até a sua morte de parto e sua alma vagando pelos corredores do Palácio.

Via-se como uma pequena princesa, com cabelos negros e pela branca, usando um vestido azul de babados, espiando atrás da porta do gabinete de seu pai, um nobre.

Seu pai havia acabado de fechar um acordo de casamento com Fabiano (um rapaz ainda jovem) e a noiva seria a princesinha, então com algo em torno de 8 anos.

Fabiano saía do gabinete e via a menina, sorrindo para ela. Mas, ela não respondeu ao gesto, estava desconfiada e assustada depois do que ouvira.

O pai vira a filha e se zangou, dizendo que já havia dito várias vezes que ela não podia ficar ouvindo conversas de adultos atrás das portas.

A ama de Amélia, Beatrice, a avó na vida atual, aparecia, pedia desculpas ao nobre e brigava com a menina, que estava atrasada para a aula particular.

A princesinha não gostava das aulas e ainda teve que ouvir sermão do professor, um senhor com óculos de fundo de garrafa, pelo atraso.

A cena mudou, ela se via, ainda pequena, descendo as escadas do Palácio e encontrando sua madrasta, a mãe da vida atual, grávida.

– Tomara que esse bebê morra! - gritava a princesinha para a madrasta, deixando-a alarmada.

Depois, já via o bebê, era um menino lindo, num bercinho, tendo em volta toda a família: os pais e as irmãs (Amélia e Isabela). A madrasta estava orgulhosa de ter dado um filho homem ao nobre, ao contrário da mãe de Amélia.

A princesinha não conseguia sentir ódio do bebê, ele era fofo e só sentia amor. O ódio que sentia pela madrasta não havia se transferido ao pequeno. Mas, a madrasta repetia que a menina faria mal ao seu filho.

Os maus-tratos da madastra à enteada eram frequentes e ela proibia a menina de brincar com o seu filho.

Amélia via-se sentada no tapete de uma das salas do Palácio, brincando com o meio-irmão, que tinha um cavalo de madeira, mas a madrasta aparecia e a expulsava, mandando ficar longe do garoto.

A menina corria o Palácio atrás da ama, mas não a encontrava em lugar nenhum. Passava pela cozinha e perguntava aos empregados, mas ninguém tinha visto. A pequena já estava angustiada quando a encontrou no Jardim, mais precisamente na horta, colhendo verduras.

– Eu quero colo – pedia a princesinha estendendo os braços com os olhos cheios de lágrimas.

A ama largava a cesta com as verduras no chão, pegava a menina no colo e subia com ela para o quarto da pequena.

A princesinha chorava sem parar, dizendo que a madastra a odiava.

– Não chore querida, não se importe com ela. Você teve uma mãe um dia que a amou muito. Ela desejou muito ter você, mas infelizmente morreu quando você nasceu, mas você não tem culpa nenhuma nisso – contou a ama.

O tempo passava, Amélia era uma mocinha e arrumava-se para o baile, finalizando o look com um colar de pérolas comprido que fora da sua mãe. A madrasta entrava no quarto e dizia:

– Pensa que vai aonde? Ao baile? Não vai mesmo – trancando-a.

Amélia deitava-se na cama em soluços. Olhava pela sacada de seu quarto e via os convidados chegarem. Eram muitas carruagens. A moça tinha certeza de que a madrasta não queria que ela fosse, porque seu pai sempre preferia dançar com a filha que com a esposa.

A madrasta tinha ciúme do amor enorme que o pai de Amélia sentia por ela, tanto que inventou que o General, tio de Amélia na vida atual, era seu pai na outra vida.

Na verdade, o General era o melhor amigo de infância da mãe da princesa e jurou a ela antes dela morrer que protegeria sua filhinha.

Amélia não acreditava no que a madrasta dizia, sabia que era mentirosa e nem ligava quando ouvia ela dizer: “bastarda”.

No final da noite, a madrasta voltou ao quarto da princesa e riu da tristeza dela. Amélia reagia, mas era agredida pela mulher, que arrebentava o colar de pérolas do pescoço da moça, a qual entrava em desespero, por ser uma lembrança de sua mãe.

Mais um avanço no tempo. A ama aparecia dizendo que era hora de Amélia descer, porque o seu noivo tinha chegado para o jantar. A moça ia a contragosto.

Na cabeceira da mesa, sentava-se o pai da princesa, ao lado direito, a própria, ao lado esquerdo, Fabiano, e ao lado de Amélia, a madrasta.

A madrasta fingia gostar de Amélia na frente de Fabiano e até segurava a mão da moça e a chamava de querida. Sentia vontade de gritar: “falsa”, mas as regras de etiqueta a impediam.

Depois do jantar, a princesa correu para o quarto, mas a ama foi buscá-la mais uma vez, pois seu noivo e seu pai a queriam na sala.

Ela teve que se sentar no sofá ao lado de Fabiano. Ele se aproximava demais, ela se afastava e ele insistia. Pegava a mão dela e o simples toque dele a incomodava. Ele se despediu da moça com um beijo na testa e foi embora, para o alívio dela.

Já era o dia da festa de noivado da princesa. A dama de companhia, sua amiga Mariana nessa vida, a ajudava no banho e a se arrumar.

Amélia descia e o salão nobre do Palácio, já estava lotado, o pai a levava pelo braço. Fabiano a esperava sorridente, pegava a sua mão e a beijava. Os dois iam caminhando pelo salão. A noiva segurava o braço do noivo e todos olhavam com admiração para o casal.

Os dois dançavam juntos e Fabiano apertava muito a cintura de Amélia e a puxava para si, ela tentava se soltar em vão.

A festa terminou e Fabiano a chamou para o jardim, ela não queria ir, mas o pai fazia sinal para que fosse.

Fabiano sentou-se com Amélia em um banco, acariciou o rosto dela e a beijou. Foi só um selinho, mas o suficiente para gerar repulsa à noiva.

O casamento se aproximava. Isabela, irmã de Amélia, mais velha, havia vindo para o evento. Isabela já estava casada com alguém que o pai havia arranjado.

Amélia confessava à irmã todo o seu descontentamento com o casamento. Isabela dizia que também se casou sem amor e que não era infeliz. Amélia explicava que era completamente apaixonada pelo cavaleiro que passava todos os dias em baixo da sua sacada e lhe atirava um rosa vermelha.

Lembrou-se que havia conhecido Gustavo em um duelo, no qual fora com a ama, ainda uma pré-adolescente. Gustavo venceu o opositor e acenou para o público, mas, em especial para Amélia, sentada num camarote.

Na ocasião, Amélia falou à ama que Gustavo acenava para ela, mas a ama disse que era bobagem da sua cabeça, que o cavaleiro acenava para o público.

Isabela prometeu à Amélia que iria ajudá-la a encontrar o cavaleiro uma vez antes do seu casamento, apenas para se despedirem.

No Jardim, Isabela armou o encontro de Amélia e Gustavo. O cavaleiro descia do cavalo, tomava a mão da princesa, beijando-a, os dois iam caminhar, ela segurando o braço dele. Afastavam-se de Isabela e o rapaz a beijava. Ao contrário do selinho de Fabiano, Amélia adorou o beijo de Gustavo. Depois, começou a chorar ao pensar que isso nunca mais iria acontecer, pois ela se casaria em breve. O cavaleiro disse:

– Só não vai acontecer se você não quiser. Eu estarei por perto, para o que você precisar, eu prometo.

Isabela começou a chamar Amélia desesperada. A madrasta estava espreitando. A princesa mentia à madrasta dizendo que saíra para tomar um ar ao ser questionada sobre o que fazia no Jardim. Na sequência, ela pisou de propósito na saia do vestido longo da madrasta, fazia isso desde pequena para provocá-la, mas dessa vez pediu desculpa de forma dissumulada.

A ama já procurava a princesa, pois estava escurecendo e Amélia não podia pegar sereno, pois tinha problemas respiratórios (muito provavelmente resquícios da morte na fogueira por inalação de fumaça na vida anterior).

Chegou o dia do casamento, Amélia, então com quase 15 anos, era arrumada pela dama de companhia Mariana, pela governanta do Palácio e mais duas empregadas, a ama olhava de longe. O rosto da moça expressava toda a sua tristeza apesar de todo o luxo de sua vestimenta. O vestido de noiva era todo de renda e tinha um véu muito comprido que a moça tinha medo de pisar. Na cabeça, ia a coroa.

– Por que está tão triste? Que menina não sonha em ser uma princesa? Você está vivendo seu conto de fadas, garota, não seja boba! - dizia a governanta enquanto terminava de arrumar seu cabelo.

– Eu não sonho e esse não é meu conto de fadas!

Todas saíam e ficava apenas Mariana no quarto, Amélia pedia a ela que a acompanhasse em seu novo Palácio. Mariana sorria e dizia que obviamente iria, afinal, era sua dama de companhia.

O pai de Amélia já a esperava perto da carruagem na frente do Palácio. Estendia o braço e conduzia a filha, mas a moça corria em direção ao General, parado ali perto, abraçava-o e dizia:

– Me ajuda por favor! Não quero me casar! Só você me escuta!

O General a abraçava e dizia:

– Eu não posso fazer nada minha querida – acariciando os cabelos dela – Mas, eu juro que se ele te fizer sofrer eu acabo com ele.

O pai se aproximava possesso:

– Chega! Garota mimada! Eu fiz tudo por você e agora quer me envergonhar desse jeito? Vai jogar fora esse ótimo casamento que eu arranjei pra você? Não vê o quanto me preocupo com você?

– Não se preocupa comigo! Nunca se preocupou comigo, nunca quis saber como eu me sinto. Está apenas me vendendo para ele! Só se preocupa com você mesmo!

– Menina malcriada! Entra nessa carruagem agora, que eu estou mandando.

Amélia subia, sentindo-se sem saída. O pai ajudava com o véu comprido.

A igreja estava lotada, tinha pessoas até do lado de fora. A marcha nupcial tocava e Amélia caminhava segurando o braço do pai até Fabiano, vestido com uma farda militar e com uma coroa na cabeça, sorrindo sem parar.

O pai de Amélia também tinha uma farda militar, cheia de medalhas e ele entregava a filha satisfeito.

O padre começava a cerimônia. Amélia conhecia aquele padre, era o seu irmão da vida atual, só que bem diferente: um senhor gordo de olhar sereno.

Ao final, Fabiano a beijava e Amélia sentia-se mal, como sempre. Jogavam pétalas de rosas brancas em cima do casal.

A moça tinha que passar no seu Palácio antes de seguir viagem para o Palácio do marido, para pegar sua bagagem. Aproveitou para se despedir dos criados. Estavam todos enfileirados na frente do local e a princesa abraçava um por um, agradecendo a todos por terem cuidado dela desde que nasceu.

A ama iria ficar, mas a princesa não se conformava com isso. Implorou ao pai e este liberou a empregada para acompanhar a filha ao novo Palácio. A dama de companhia Mariana, já aguardava na carruagem e Amélia pode entrar lá com a sua querida ama, também.

A princesa olhou para trás e sentiu tristeza, sentia como se fosse a última vez a olhar para o Palácio no qual nasceu e cresceu. O pai e a madrasta acenavam, juntos, ela segurando o braço dele e muito feliz por ter se livrado da enteada.

O meio-irmão, então com algo em torno de 6 anos, corria atrás da carruagem, ainda vestindo o terno que usou para ser o pagem da meia-irmã, acenando. Amélia pensou que não veria o irmãozinho crescer e isso a entristeceu ainda mais.

Uma nova vida iria começar para a princesa francesa no seu novo Palácio, mas nada feliz...


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