As Crônicas do Apocalipse - ''A Escolhida'' escrita por PatrickTorrres


Capítulo 7
Bruxas




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CAPÍTULO 7


UMA PALAVRINHA COMIGO:
Presente.
Perdoe-me pelos momentos em que invado a história, mas tenho que te falar o que está acontecendo.
Vou te contar de agora em diante tudo o que está acontecendo com os meninos nos tempos atuais, depois do incidente na biblioteca.
Mas antes queria te dizer, que nesse exato momento, Quézia está num voo para Londres com a sua família. Ela fugiu da cidade, antes que a pegassem.
Bejamin acaba de chegar na Argentina.
Rayssa está morando no Canadá. Numa cidade extremamente fria.
E Vittória? Bom, leia tudo abaixo.

...

Vittória está sendo arrastada nos corredores de um manicômio – uma prisão para loucos -. A Casa de Madre Teresa.
– Me larguem, eu já disse que sei andar sozinha. – diz a jovem se contorcendo pelos braços dos dois homens altos vestidos de preto.
Eles a ignoraram e continuaram arrastando-a.
No final do corredor, Vittória nota uma sombra. Uma moça. Uma mulher de meia idade, cabelos brancos como a neve, mas já se percebe que são tingidos propositalmente. A mulher está sorrindo, com um ar amigável. Os seguranças se aproximam da mulher.
– Podem deixar que eu cuido dela a partir de agora. – diz a mulher olhando para Vittória.
Os homens soltaram a garota, porém ainda estão dentro da sala.
– Vão embora. AGORA. – diz a mulher de forma dura.
Vittória continua calada.
– Pode se sentar aí mocinha. – diz a mulher apontando para a cama dentro de um cômodo. – Esse é seu novo quarto.
A moça levou a garota para um quarto espaçoso, com uma cama branca e grande do lado de um bebedouro branco e limpo. Parece ser novo. No armário, existem cinco macacões de manga longa e calça comprida. Apenas uma bota de borracha preta.
Vittória olha tudo aquilo e tudo o que passa na mente da garota é onde diabos a enfiaram. Mas ela sabe o porque de tudo isso.
– Qual o seu nome? – pergunta a moça.
Vittória não responde.
– Meu nome é Jessica, pode confiar em mim. – diz a mulher com um sorriso meigo no rosto.
– V... Vittória. – diz a jovem com uma voz falhada. – fui trazida da delegacia pra cá, depois do meu depoimento.
– Sim, eu sei. E eu acredito em tudo o que você disse a eles.
...
Alguns minutos antes: Delegacia federal de polícia brasileira. Sala de depoimentos.
– Foi um demônio! Eu já disse! – grita Vittória
– Eu estou cansado das suas histórias idiotas, menina. – Diz o policial entrevistador. – Policiais!
– Vocês tem que acreditar em mim. Eu estou dizendo a verdade. – a jovem clama com os olhos lacrimejando.
– Um demônio. – diz o policial com um sorriso irônico no rosto – eu já ouvi de tudo mesmo. – zomba o policial se levantando da cadeira e se dirigindo à porta da sala.
Vittória é agarrada pelos dois homens de ternos negros.
– Levem para um hospício, e não a tirem de lá. A justiça com certeza terá boas notícias para ela. Ou não... demônio. – diz o entrevistador em pé na entrada do cômodo.
...
Lamento dizer, mas enquanto Vittória foi para o carro de polícia carregada pelos dois homens, o policial que entrevistou a garota desmaiou e morreu de derrame cerebral, ali mesmo, na delegacia.
...
– Você disse que acredita em mim? Senhora.
– Me chame de Jessica, podemos ser amigas? – diz a moça com um sorriso simpático.
A mulher tem um sotaque diferente, e tudo o que Vittória consegue perceber é que a mulher não é brasileira.
– Como posso confiar em você? Até os meus pais disseram que eu sou louca. Eles não acreditam em demônios e em nada do que eu disse, como posso confiar em alguém que mal conheço como...
– Shhhh... – silencia a mulher.
Ela olha para a porta do cômodo escancarado, pisca os olhos e a porta bate com toda a força contra o para peito.
A mulher se volta para Vittória:
– Você tem muito a aprender, Escolhida.

>

UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE JESSICA.
É noite de natal, dia 25 de dezembro de 1935. Em algum lugar da Alemanha.
Os pais da jovem saíram durante a manhã para fazer as compras de natal. A data nunca significou muito para a adolescente rebelde e revoltada. Jessica ainda se lembra de sua primeira surra. Oito anos de idade, no porão da casa. A cada barulho do choque do cinto de seu pai contra sua pele nua, ouvia-se a palavra ‘’Disciplina’’ saindo da boca do seu pai. Sua mãe assistia a tudo, sentada em uma cadeira enquanto segurava uma garrafa de água para saciar a sede do marido durante as horas de punição à filha.
Disciplina.
Disciplina...
Ela nunca entendeu o porque de cada dor. Só sabia que tinha motivos.
Com o tempo ela passou a compreender cada coisa. Cada pedaço do quebra-cabeça.
A única coisa estranha e completamente fora do normal para Jessica naquela data, é que já são 23:00, e seus pais ainda não chegaram em casa e no noticiário as fotos dos seus pais estão sobre a frase: casal assassinado sob a ponte.
Lágrimas brotam dos olhos de Jessica, ela se levanta do sofá confortável da sala da casa, e mesmo com toda a decepção que sentia de seus pais, se viu sem chão e sem base. Ela acreditava que tudo o que eles faziam iriam construir uma melhor pessoa para o futuro. Bom, ao menos eles a fizeram acreditar nisso.
A jovem se dirigiu à cozinha de sua casa, com apenas um objetivo na mente. Ao ver a caixa negra que continha os mais perigosos dos remédios que haviam em sua casa, a jovem secou as bochechas com as mangas da camisa azul. Segurando as caixa sobre o armário ela abriu a tampa. E como se alguém a mais estivesse ao seu lado, a torneira em suas costas se abriu.
Água.
A jovem olhou assustada, a tristeza e o sentimento de dor fora substituído pelo medo. Ela sabia que estava sozinha. Ou pelo menos achava.
A torneira desliga, e desesperada a jovem se volta para a caixa. Pegando oito cartelas de uma só vez com a mão direita, retirou delas cerca de dois comprimidos de cada e os enfiou na boca. Com sua mão esquerda, pegou um copo de vidro, virou-se de costas, e abriu a torneira com o cotovelo.
Sangue saiu e encheu o copo da moça.
Ela largou o copo no chão que se espatifou como areia. Os remédios foram cuspidos da boca da jovem.
– Quem está aí? – gritou Jessica.
Nenhuma resposta.
Sussurros começaram a surgir no cômodo. Sussurros estranhos, em outra língua. Não alemão.
Escolhida, escolhida... você é nossa.
– Quem está aí?!
Os sussurros se multiplicavam, como se houvessem mais de dez pessoas ao seu redor. Gritos agora acompanhavam a trilha sonora assombrosa.
Um sussurro chegou próximo ao ouvido de Jessica, próximo demas para ser irreal.
– Vire-se.
Jessica se virou para a parede branca nos fundos da cozinha. E na parede agora completamente suja de sangue, viu uma palavra formada com espaços limpos.
Uma palavra que ela nunca havia visto na sua vida.
Uma palavra curta, mas que fez com que Jessica se sentisse arrepiada.
C O V E N.
A palavra sucumbiu pela cabeça de Jessica. Ela sabia que algo de um mundo o qual ela sabia que existia, porém não confiava, estava fazendo reverencias a seu nome.
Você é a escolhida.
Depois que ela leu as letras confusas na parede ensanguentada de sua cozinha, os sussurros demoníacos pararam. Pela mente dela só se passavam pensamentos do que poderia estar clamando o seu nome e tratando-o como algo irreverente. Ela olhava fixamente para a parede.
C O V E N.
Os sussurros que pronunciavam seu nome estavam agora calados, entretanto, soavam de forma imaginativa pelos ouvidos da jovem agora órfã. Por pouco não entregou sua alma à morte.
Por fim, Jessica fixou os olhos no chão da cozinha, retirando o olhar da parede ensanguentada.
O copo quebrado, com o que antes era sangue se tornara cacos encharcados por água, os remédios levemente umedecidos por sua saliva, que antes habitavam sua boca, estavam esparramados no chão. Ao olhar para a pia, viu que o sangue que antes marcava o metal em volta da mesma, estava transparente.
Água.
Ela se viu perdida. As alucinações a fizeram sucumbir, e seu chão entortou como uma rampa. Ela virou o seu pescoço, dirigindo o seu olhar para a parede.
O lugar, antes ensanguentado e marcado com o nome COVEN, que fora anunciado por um dos sussurros que a mandaram olhar para lá, estava tão limpo e claro quanto a noite de natal que corria do lado de fora da casa de Jessica.
Tudo de volta ao normal.
Menos a concepção sobre a vida que Jessica tinha. Ela agora sabia que tinha algo a correr atrás. Havia sido salva e convidada. Ela agora devia algo para os que salvaram sua própria vida. Ela devia algo aos sussurros alucinantes. Ela devia algo para a tal palavra “COVEN”. Ela devia algo para os demônios.
Como se nada houvesse acontecido, o impacto sumiu do rosto da jovem. O susto foi-se embora.
Jessica, ainda baqueada pela morte inesperada dos seus pais, pegou seu casaco que estava num cabide na mesma sala onde ela havia visto a noticia de assassinato com as fotos dos seus pais, abriu a porta do cômodo e saiu à meia noite de natal em busca de respostas. Abandonando assim toda a sua vida. Um caminho sem volta.

>

*OUTRA PALAVRA MINHA.
– Acostume-se com as vezes que eu simplesmente me ‘’meto’’ na história. Já te deixei claro que tenho que te explicar bem.
Não se apresse pra saber quem eu sou. No fim você vai saber mesmo.
Os Coven são antigas alianças de bruxos. Bruxos poderosos e fortemente envolvidos com o Submundo. Um mundo que muitos já ouviram falar como um lugar tenebroso e assustador. Alguns nem acreditam que exista mesmo esse lugar cheio de sofrimento. Existem criaturas nesse lugar. Uma criatura poderosa para cada Coven.
Hoje, existem quatro Covens espalhados pela Terra. Outros sofreram declínio na época da Inquisição.
Carniopes.
Gadalfis.
Solionos.
Hundomis.
São os nomes de cada um dos Coven que ainda existem no planeta.
De onde eles vêm? Certo, vou te explicar.
Ainda na época da Antiga Jerusalém, quando Jesus ainda passeava pelos caminhos humanos, semeando a Boa Palavra, uma mulher resolveu entrar em contato com o submundo. O objetivo? Um pacto. Esse definiria a vida dela. Em troca? Ela faria tudo o que seu compactante mandasse. E o que ela receberia? Qualquer coisa que desejasse.
O nome dela era Maria Madalena.
Pouco se sabe sobre a real história da moça. Foi traída pelo seu compactante – criatura do Submundo responsável pelo Pacto de algum humano. - Já depois de sua morte, pois, um de seus desejos era que o livro que ela escrevesse sobre sua vida, fosse colocado na Bíblia Sagrada que ela já sabia que existiria.
Você já viu algum livro chamado Maria Madalena na Bíblia? Sinta-se respondido.
Não vou te contar absolutamente tudo o que eu vi, seria muito para absorver, além de perder todo o sentido da coisa.
O que eu posso te falar, é que uma das ordens do compactante de Madalena era que ela fundasse uma geração de seguidores. Ela então se tornou uma Bruxa e ensinou a mesma ‘’arte’’ para outras mulheres que, necessitadas, tinham a garantia de comida e dinheiro com as promessas de recompensa de Madalena.
Com o passar do tempo e com a morte misteriosa de Madalena, essas mulheres fizeram com que o grupo de seguidoras crescesse mundo a fora.
E bom... Ele cresceu.
Eram mais de oito milhões de Bruxas e Bruxos divididos em 90 Covens. Cada Coven tinha seus líderes que comandavam e ficavam protegidos em uma Cidade Sede.
Durante a Inquisição Católica, outro projeto também se fez baseado nos mesmos ideais. A Caça às Bruxas. Com ela, grandes Bruxos e Lideres Covens foram mortos, fazendo que, com isso, alguns grupos perdessem força.
A Caça às Bruxas durou cerca de 30 anos. Era uma obra oculta mesmo depois do fim da Inquisição.
98% de Bruxos morreram nessa época. Foram assassinados enquanto travavam uma guerra avassaladora contra a religião e seus seguidores fieis.
Quando uma das Bruxas mais poderosas... uma das líderes do Coven com maior poder de impacto no mundo foi morta pela Caça às Bruxas e pela religião, os Covens de todo o mundo criaram um Conselho de Pacto. O Pacto se resumia basicamente em se dividir em apenas quatro grupos de bruxos e se espalhar pelo mundo. Assim evitando também qualquer tipo de Ato Bruxo ou Místico em público. Se qualquer Bruxo no mundo que participava dos Covens realizasse um desses Atos em frente a humanos, este seria queimado na Cidade Sede. Atual Berlim, Alemanha.
Um livro de regras foi criado pelos quatro grupos já formados. E após o selamento do pacto que ficou chamado de Pacto de Extinção, os quatro grupos fizeram como o combinado. Se espalharam mundo à fora. Camuflando-se em meio a humanos puros e normais.
Hoje, cada Bruxa e Bruxo sabe a qual Coven pertence. Exceto os chamados Bruxos Independentes. Eles são tidos como foras da lei, e trabalham por conta própria. Todos sabem do Pacto, e qualquer Independente que desejar entrar para qualquer um dos Covens que se encaixar, terá que participar do Pacto de Extinção, após passar poe algumas modificações mentais. Os mais perigosos são os Bruxos Independentes com Bloqueio Angelical. O Bloqueio Angelical faz com que a mente do Bruxo não se encaixe em nenhum dos Grupos Covens. Assim, obrigatóriamente, eles são independentes. E se eles sairem da linha, são mortos pelo próprio Coven.
Depois de algum tempo sem nenhuma evidência de Bruxos, a Caça teve fim e os tiveram como extintos.
Existem cinco coisas que você precisa saber:
1: O Submundo cruel, tenebroso e assustador por onde vagam as almas sujas e insuficientes; o lugar tão temido pela humanidade onde habitam as criaturas mais estranhas do universo é chamado de Inferno;
2: Essas criaturas estranhas são Demônios.
3: A grande Bruxa, que tinha poder sobre todos os 90 grupos de Coven existentes antes da Caça às Bruxas, que fez com que sua morte abalasse toda uma estrutura e uma aliança, era descendente de Maria Madalena. O nome dela era Joana D’arc. Queimada aos 19 anos de idade, acusada de Bruxaria.
4: Um dos pedidos de Madalena para o seu compactante era que ela fosse mulher de Jesus.
5: Depois do fim da falsa extinção dos Covens e com a formação silenciosa dos quatro grupos; no Inferno, formaram-se quatro criaturas que só existiam no livro de Apocalipse, na Bíblia.
Cada criatura tinha um nome.
Morte, Guerra, Peste e Fome. Os quatro Cavaleiros do Apocalipse. Um para cada grupo Coven.
O que a sociedade e o mundo mal sabem, é que a Bruxaria ainda existe. Mais forte do que nunca e fazendo crescer seus grupos a cada dia, para no fim, vingar todos os seus membros assassinados.
Ah, antes que eu me esqueça, Jessica é uma bruxa, faz parte dos Solionos.

>

–Oi? - Indagou Vittória com uma surpresa tão iminente quanto as marcas de água em um aquífero.
–Eu disse que eu acredito em você. - Disse a mulher com seu sotaque.
–Não é disso que estou falando. - Iniciou Vittória, se levantando da cama do quarto do manicômio. - Você falou algo sobre eu ser a escolhida! - A voz dela agora estava ligeiramente alterada. Vibrante e falha.
– Eu? Eu não disse nada sobre isso. - Mentiu Jessica.,
– Falou! É claro que falou. Você acha que estou louca? Ouvindo coisas que não foram ditas?!
–Você está num manicômio. Devo pensar o contrário? - Brincou Jessica. - Olha, o que eu quero te dizer é que, eu acredito em tudo o que você falou no seu depoimento, fui informada de tudo. E eu sei que demônios existem sim. E sei o que eles fazem.
– Como assim você "sabe"? Afinal, de onde vem o seu sotaque? - Vittória caminhava de um lado pata outro no seu novo quarto, inconformada e confusa.
– Alemanha. – disse a mulher em um tom bonitinho.
– Você não respondeu todas as perguntas, senhora! - resmungou.
– Jessica. Chame-me de Jessica. - a mulher, sentada na cama com uma postura ereta e elegante, olhava diretamente para a face de Vittória. -Sou sua amiga, não sou?
– O fato de você acreditar em mim não nos torna amigas.
– Acho bom se acostumar com minha presença, minha jovem. - Começou a mulher - eu tenho muito a te ensinar. Agora, conte-me tudo o que viu naquele dia.
– Olha, eu estou começando a achar que você está dizendo que acredita em mim para evitar um assassinato, vocês, provavelmente, devem dizer isso para todos os loucos que entram aqui. Mas eu não sou louca! - ela agora estava parada, de costas na parede do quarto, braços cruzados sobre os seios.
– Olha, isso é verdade. - riu a mulher. - mas eu realmente acredito em você. Quando vi o seu caso, fui a única a me oferecer, sabia? Normalmente eles obrigam as pessoas a irem. Ah, e eu sei que você não é louca.
– Sabe?
Jessica fez que sim com a cabeça.
A mulher se levantou, indo para a estante com gavetas no canto da sala, o móvel refletia as formas com seu brilho novo. Vittória olhava para a mulher, ela caminhava para uma bolsa grande e espaçosa de pano rosa, sob o móvel.
Jessica pegou a bolsa, e levou para a cama sem dizer nada.
Suas mãos bateram no colchão da cama, indicando que a Vittória se sentasse.
– Abra. - Disse Jessica.
–Não! Eu não sei o que diabos tem aí.
Um silêncio se fez.
– Abra.
Como se tivesse sido hipnotizada, Vittória se calou, sua pele empalideceu, os olhos ficaram vazios e parados. Domados pelo controle. Ela abriu a bolsa, e colocou-a entre o corpo de Jessica e o seu.
O rosto da jovem voltou ao normal, as bochechas coraram.
– O que você fez?! - gritou Vittória.
Sem nenhuma palavra, Jessica pegou alguns porta retratos, livros de dentro da bolsa e deixou-os sobre a cama. A situação irritava Vittória.
– Pegue.
– Não!
– Ok, Pegue se quiser. Tentei ser sua amiga, mas sua arrogância me surpreende.
Jessica se levantou, deixando tudo sobre a cama, e saiu em direção à porta.
– Espere. - pediu Vittória. Mas já era tarde.
Vittória então se viu sozinha em seu novo quarto. Uma assassina. Eram isso que pensavam dela. A ficha ainda não havia caído. Ela está condenada a viver aqui. Como loucos. Com loucos!
Quando Vittória pensa no momento que inventou uma desculpa fajuta para sair da cidade e evitar qualquer chance de ser pega e condenada, sente dor.
Quando pensa que seus amigos a deixaram a mercê da sorte, e que ela não conseguiu ter o mesmo destino deles, de sair da cidade para nunca ser pega e esquecer tudo o que aconteceu, ela sente dor.
Ela então, com os olhos encharcados se lágrimas, pegou um dos porta-retratos da cama.
Em um, a primeira coisa que se notava eram as palavras num canto da imagem: Berlim, 1997.
Na imagem, via-se oito pessoas, todas vestidas de capas negras até os pés. Capas que refletiam o brilho do sol.
As pessoas, brancas e loiras, com a pele tão clara quanto a neve, estavam lado a lado. Quase que iguais.
Nos olhos de cada uma das pessoas, via-se ódio. Uma expressão pacata e raivosa que se lia com facilidade.
Eram quatro homens e quatro mulheres. O cenário eram montanhas rochosas com árvores secas e cobertas de neve.
Vittória, assustada com o que acabou de ver, já sabia com o que estava lidando. Ela lembrou de uma vez -ainda quando Alex era vivo e engraçado-, quando Bejamin entrou pela porta da sala de aula, e começou a falar sobre Bruxos. Sobre os Covens.
Vittória se lembrou, de como Bejamin e os outros riam dela, quando ela ainda pensava em Bruxos. E sempre que falava deles, eles zombavam dela, até mesmo Alex – que Deus o tenha-.
Voltando o olhar para a foto, já tendo certeza do que se tratava - Bruxos - os olhos de Vittória se expandiram, quando viu, no canto da foto, uma mulher com cabelos brancos e leves sardas no nariz. A sua juventude e beleza chamava a atenção de qualquer pessoa, parecia ser poderosa, misteriosa, porém, amigável.
Jessica.
>
Quando Vittória notou que na foto, aquela mulher que exalava poder até mesmo pelos seus poros da pele era Jessica, um baita susto veio à sua mente. Seu interior foi tomado por um terror maior do que a sensação de ver um amigo sendo estrangulado por um demônio.
Vittória se levantou da cama tão rápido quanto uma fruta durante sua queda em uma estação propícia, correndo até a porta com a fotografia na mão. Ela abriu a porta e correu em busca de Jessica. Era a primeira vez que ela corria pelos corredores do manicômio. O passo desacelerou, e Vittória parou de correr para deslumbrar o assustador local.
As paredes brancas, com várias portas. Cada porta um maluco, pensou Vittória. No teto dos corredores, lustres simples iluminavam cada passagem. As portas, todas sem muitos detalhes, estavam fechadas.
Cada porta tinha um crucifixo preso em seu centro.
Quando Vittória parou de observar o ambiente, voltou a si, olhou para a fotografia em sua mão, e correu. Foi quando chegou a uma sala aberta e espaçosa. Grande e cheia de mesas e cadeiras. Várias pessoas,- pacientes, -estavam sentadas em mesas, ocupando cadeiras ao lado de enfermeiros. Os funcionários davam comida para eles. Notava-se que todos, absolutamente, todos tinham algum problema psicológico. A única pessoa com uma roupa fora do padrão era Vittória.
Os pacientes estavam vestidos com camisolas brancas até os joelhos, algumas sujas, os funcionários estavam todos vestidos de azul escuro com bonés do mesmo tom sobre a cabeça. Todas as mulheres tinham um coque no cabelo.
No canto da sala espaçosa, uma mulher estava chorando, de joelhos. Sozinha sem ninguém dando atenção. Vittória foi andando até a mulher.
Ao chegar, viu que na roupa dela, tinha comida derramada.
– Ei, o que aconteceu com você? - disse Vittória.
– Eles me abandonaram no meu quarto! - gritou a mulher com os olhos vermelhos e encharcados de lágrimas. - Eu estava com fome! Só queria comer! - a mulher agora batia as mãos contra o chão duro do local. - SÓ QUERIA COMER. COMER. COMER. COMER. COMER.
Vittória ouviu passos atrás dela, eram duas funcionárias, vestidas com longos vestidos negros folgados e um véu sobre os cabelos soltos. Cada uma com um crucifixo sobre o peito. Freiras.
– Porque ela está com toda essa gritaria? - disse uma das mulheres. Era uma senhora, aparentava ter cerca de cinquenta anos.
– Eu... - começou Vittória - Eu não sei, cheguei e a vi nessa situação.
A outra mulher agarrou no braço a moça de joelhos e, de forma agressiva olhou nos olhos dela:
– Porque está chorando, idiota? Não fez isso nem quando esquartejou sua família. – a mulher olhou para a freira mais jovem – Leve-a daqui, Elizabeth.
Vittória sentiu um baque. Enquanto a moça mais jovem, obedientemente, carregava a paciente para um dos corredores, a freira mais velha parou e olhou bem nos olhos de Vittória, examinando-a de cima a baixo.
– Você não é aquela assassina? do demônio?
Um silêncio veio em resposta. Ódio apareceu no olhar da freira.
– Acho bom ir trocar estas roupas, sua maluca. Isso não são vestes de pacientes. Não aqui no meu manicômio.
Antes que Vittória pudesse responder, uma mão tocou no seu ombro. De forma leve e amigável, era Jessica.
– Eu cuido dela, Madre Margot. - disse Jessica com um tom bonito.
– Acho bom. - a mulher saiu em direção ao corredor que a outra freira havia levado a mulher que chorava.
Vittória se virou para Jessica e viu que agora ela estava vestida como uma funcionária, o coque de cabelo branco se destacava nas roupas escuras.
– Acho que você tem algumas perguntas, vamos voltar para o seu quarto. Você precisa trocar estas roupas.
– Te achei! Eu sei o que você é! - sussurrou Vittória, balançando a fotografia em sua mão. - Eu sei o que você faz! – seu sussurro estava desesperado.
– Sabe mesmo?
>
Quando se sentaram no quarto, Jessica entregou uma camisola para Vittória.
– Vista isso, agora que já tomou banho. Vai fazer você parecer normal aqui dentro, e não chamará atenção.
Normal aqui dentro, as palavras ecoaram na mente de Vittória que obedientemente deixou a toalha cair e colocou a camisola tão clara quanto a neve.
Ela olhou de novo para a cama onde deixara a fotografia de Jessica com outros jovens.
Ela se sentou em uma cadeira enquanto arrumava o cabelo, olhando direto para Jessica.
– Você quer me dizer o que você é? ou terei de ser direta? – sua voz já estava calma.
– O que você acha que eu sou?
– Você quer mesmo que eu diga?
– Você quer dizer? Você acha que sabe? - repetiu Jessica.
– Sim, eu sei quem você é, eu sei o que você faz, e também sei o porque você me chamou de escolhida! - disse Vittória com uma voz trêmula.
O olhar de Jessica nem se quer mudou. Continuou cerrado em direção aos olhos de Vittória.
– Pois diga. Diga o que eu sou! Diga em alto e bom tom para que todas as paredes desse lugar possam ouvir!
– Uma Bruxa.

>
Jessica riu.
– Na mosca.
O ar ficou silencioso. Vittória sabia o que estava falando, e agora, tinha certeza absoluta que estava certa.
– C... Como assim? Todos acham que vocês estão mortos. Todos extintos. - Indagou Vittória surpresa.
– Você tem muita sabedoria, minha jovem. Você e todos aqueles seus amigos. Mas ainda acreditam em muitas mentiras sobre este mundo.
– Senho... Jessica, pode me contar exatamente tudo? - perguntou Vittória.
– Que bom que você já me chama pelo meu nome.
Jessica contou a Vittória tudo sobre a Bruxaria. Desde a sua origem até a sua falsa extinção. Toda a história de Maria Madalena, e todo o envolvimento das bruxas com a Bíblia.
– Maria Madalena? Mas hoje ela é uma santa! - vociferou Vittória.
– Joana D'arc também tem lugar de prestígio na igreja. - respondeu Jessica. Seu sotaque estava tao iminente quanto a transparência da água.
– Você falou de um... um compactante. Quem foi o compactante de Madalena? Quem deu início a isso tudo?
– Esse segredo é mantido às sete chaves. Preso por runas poderosas na mente dos maiores Bruxos do mundo, que estão na Alemanha. A Cidade Sede dos Solionos. Ninguém mais sabe esse segredo além de Crotes Moderis.
– Runas? Solionos? Crotes Moderis?
– Runas são marcas que funcionam com magia, são feitas por Bruxos treinados para isso. Quanto aos Solionos, são um dos quatro grupos Covens dos quais lhe falei. É a eles que eu pertenço. Crotes Moderis é o maior de todos os Bruxos ainda existentes, o ultimo descendente de Madalena vivo.
– E o que vocês são, digo, os Solionos?
– Somos o maior grupo Coven. O que tem mais poder. O que guarda todos os seguredos, somos os que mandam em todas as ações do Pacto de Extinção.
– Uau. - Vittória parecia incrivelmente surpresa -, você disse algo sobre eu ser "a escolhida".
– Sim, a minha história não é muito diferente da sua. Muitas coisas aconteceram comigo para eu me tornar uma Coven.
– O quê, digo, o que aconteceu?
Jessica contou a Vittória sobre o seu dia de natal e o seu quase suicídio. Contou também sobre os sussurros que diziam sobre ela ser a escolhida.
– E o que você quer dizer com isso? - perguntou Vittória.
– Quero dizer que os Covens, estão, a cada oito anos depois do selamento do Pacto de Extinção, escolhendo uma garota e um garoto para serem Bruxos.
– Como você sabe?
– Provavelmente você não foi a única a presenciar algo sobrenatural nas ultimas horas. Algum garoto por aí presenciou. O destino do garoto não será muito diferente do seu, ele vai encontrar algum Bruxo que vai ensinar a ele tudo sobre Bruxaria. Durante oito anos. Até o tempo de um novo Escolhido chegar.
– Você está dizendo que eu serei uma Bruxa?
Jessica assentiu com a cabeça.


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