A Janela escrita por Leandro Zapata


Capítulo 7
Connor Hartdegen


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo!
Alguém além de mim ta chorando por aí?
Boa leitura!



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Hazel abriu os olhos. Estava em um quarto de três paredes pérola e uma trabalhada em cor de rosa; estava deitada em uma cama muito macia; sentou-se e olhou em volta. Havia ali um guarda-roupas, uma penteadeira, uma estante com dezenas de livros e uma escrivaninha. Ela levantou num susto. Onde estava? Ou melhor, quando estava? Os objetos ali não eram do ano de 2167 que conhecia.

Ouviu uma batida na porta. Ela mal pode conter as lágrimas quando viu a cabeça de seu pai surgindo no vão da porta.

– Hazel, tem um... - Ela abraçou-o com força, deitou a cabeça em seu ombro e deixou as lágrimas de alegria correrem. - O que foi, querida? Parece que não me vê a anos.

– E não vejo. - Ela se afastou um pouco, confusa, tinha algo a perguntar. - Papai, que dia é hoje?

– 09/09/2167. - Howard franziu o cenho. - Você não está de férias para confundir as datas.

– Hã... - Ela não sabia o que dizer.

– Tem um homem lá em baixo te esperando. Ele disse que te conhece, mas eu nunca o vi.

Ela estranhou, parou para pensar. Queria que fosse Connor, mas era impossível. Ele não tinha saído de 2004. A segunda pessoa que veio à mente dela era um pouco mais provável, apesar de ainda ser uma visita estranha.

– Ele é um cientista?

– Sim. Tem algo que queira me contar?

– Não, pai. Tenho uma ideia de quem seja apenas. Diz que eu já vou descer.

Desconfiado, Howard deixou a filha sozinha. Foi até o guarda-roupa e abriu-o. Havia dezenas de peças de roupas e ela deduziu que todas serviriam nela perfeitamente. Aquele era seu quarto. Enquanto se vestia, ela tentava associar tudo o que havia acontecido. Lembrava-se de ter sido trazida de volta de 2004; lembrava-se de Neuron matando a mulher loira e sua mãe; então era a vez dela. Será que ela estava morta e aquele era seu Paraíso?

– Talvez a pessoa que me espera saberá me dizer. - Hazel disse para si mesma.

Encontrou sua mãe na cozinha, fazendo uma torta de morango. Ela abraçou-a tão apertado quanto tinha feito com o pai, mas ela preferiu não chorar, para não assustar a mãe ou levantar perguntas.

Um homem vestindo jaleco branco conversava com Howard enquanto tomavam uma xícara de chá. Como Hazel havia imaginado, seu visitante era o Dr. Lake Harkness. Ele sorriu, mas havia algo estranho, não era como se a conhecesse, era algo mais como “então você que é Hazel Brown”. Ela sorriu de volta.

– Então, de onde vocês se conhecem? - Howard perguntou, desconfiado

– Não nos conhecemos, senhor Brown. Pelo menos, não nessa linha de tempo. - Seu pai pareceu ainda mais confuso; Hazel segurou a risada. - Como um cientista, você deve estar ciente sobre as teorias de viagem no tempo, não?

– Um pouco. Não é minha especialidade.

– Acha que ele deve ir conosco, senhorita?

– Mas é claro! Ele vai gostar de ver A Janela. - Hazel afirmou.

– Então, vamos. - O Dr. Harkness sorriu.

Eles decidiram ir com o carro de Howard, um clássico modelo completamente restaurado por ele que ainda usava rodas para se locomover. Um das poucas centenas ainda em circulação no mundo. Eles pararam diante de um prédio enorme, mais de cento e trinta andares. Ele era de um tom azulado belíssimo, quase se camuflando ao céu.

Eles entraram pela porta da frente, tomaram o elevador e subiram até o último andar. Hazel impressionou-se com a vista. Prédios e árvores vivendo em perfeita harmonia. Exatamente como aquela que Hazel viu pela Janela na Torre de Vigilância da Cordis.

A sala em que estavam era muito parecida com aquela em que ela viu a Janela pela primeira vez, mas ao invés do cinza escuro, as paredes eram brancas. As cortinas vermelhas, entretanto, eram exatamente iguais.

– Doutor, - Hazel perguntou - o que aconteceu?

– Como você deve saber, A Janela mostra o passado, mas não apenas isso, ela mostra o passado em diversas linhas de tempo diferentes. Nós esbarramos em algumas já. A primeira que tem seu curso natural, como tudo devia ser, é a que Lionel Farrow não volta ao passado e Grant morre.

Hazel olhou para Howard, que se concentrava, tentando entender o que estava acontecendo.

– A segunda é a da qual você veio. Um futuro em que a Inteligência Artificial dominou o mundo. Nela, apenas Lionel volta ao passado e salva seu irmão, Grant. Correto?

– Isso mesmo. Foi essa alteração que nos tirou da linha do tempo natural.

– A terceira - o doutor continuou - é a que você volta ao passado, em que você afeta a vida e o conhecimento de Connor Hartdegen, o que leva a morte de Lionel antes que ele viaje no tempo.

– Mas Neuron já tinha mandado seus agentes ao passado, por isso eles foram capazes de impedir que a linha de tempo fosse mudada drasticamente, ou seja, eles garantiram que Neuron seria criado.

– Exato. - O cientista olhou para Hazel. - Você é uma menina muito esperta. Devia ser cientista. - A menina sorriu em resposta. - Depois disso, Neuron destruiu a Janela, que poderia ser uma ameaça a ele mesmo. Seus policias tendo sucedido na missão, eles foram mandados de volta para o futuro. Entretanto, havia um pequeno detalhe que Neuron esqueceu; uma pequena alteração no passado.

– Connor. - Hazel concluiu.

– O rapaz passou treze anos investigando e observando Grant. Quando chegou em 2017, mais especificamente dia 15/02/2017, Connor matou Grant antes que ele criasse Neuron, mas depois de ele ter uma filha.

Os olhos de Hazel marejaram. Connor havia encontrado uma forma de, não apenas salvar o futuro, mas de garantir que ela nasceria. Ele dissera que podia encontrar uma forma; e encontrou.

– Desse ponto em diante ele criou uma quarta linha do tempo. Essa em que estamos agora.

– Sabe o que aconteceu com ele? - Hazel perguntou.

– Infelizmente, a Janela parou de funcionar essa manhã, assim que vimos o que aconteceu em 2017.

As lágrimas escorreram dos olhos de Hazel, que simplesmente não conseguia decidir se eram de alegria ou de tristeza. Alegria por que tinha seu pai e sua mãe de volta; por que o futuro fora salvo. Não por ela, mas pela única pessoa por quem ela tivera sentimentos. Tristeza por que nunca saberia o que aconteceu com ele; se fora feliz ou não; e nunca mais o veria, já que ela mesmo não poderia voltar ao passado.

– Tudo isso é verdade, Hazel? - O pai perguntou. - Esse negócio de linhas de tempo?

– Sim, pai. Cada palavra.

Howard ficou pensativo por uns minutos, como se tentasse absorver o conhecimento que acaba de adquirir. Então perguntou:

– Como era o nome do rapaz que vocês comentaram mesmo?

– Connor Hartdegen.

– Eu já ouvi esse nome em algum lugar. - Howard passou a andar de um lado para outro, como fazia quando estava frustrado por não se lembrar de algo. - Mas é claro!

– No que você está pensando, pai?

– Vamos para casa. - A voz de Howard parecia urgente.

Eles voltaram ao carro clássico do pai e rodaram até em casa. Quando chegaram, já passava do meio dia. O almoço estava pronto, mas Hazel não tinha fome, ao contrário de seus pais, que devoraram as saladas como se fosse a primeira que comiam na vida.

– Já passou seu momento sagrado de almoço, pai? Podemos resolver o mistério de Connor? - Ela reclamou.

– Mas é claro. Siga-me.

Eles moravam em um apartamento e, portanto, não tinham muito espaço. Contudo, eles desceram até um nível abaixo do estacionamento no subsolo. Ali era o laboratório de seu pai, no qual ele costumava trabalhar pelo menos dez horas por dia, exceto aos sábados e domingos, dias que passava com a família.

– Há cerca de dois meses, eu e sua mãe estávamos trabalhando naquele pequeno canteiro na ala leste, sabe? Aquele que ninguém cuida.

– Sei, sim. Prossiga.

– Enquanto cavávamos para plantas umas mudas, nós encontramos isso aqui.

Abriu um armário ao lado de uma máquina cuja função era desconhecida. Ele tirou de lá uma caixa de metal com mais ou menos o tamanho de um livro de mil páginas com quase trinta centímetros de comprimento. Ela estava fechada por um cadeado de senha com espaço para uma de seis números. Na tampa em alto relevo no metal estava escrito: Hartdegen.

– Eu e sua mãe não queríamos arrombar o cadeado. Nós tentamos várias senhas até que desistimos. Não tínhamos nenhuma pista... Até agora. Você tem alguma ideia?

Ela parou para pensar. Se fossem letras, talvez poderia ser seu nome. Entretanto, números ela não tinha ideia. Talvez nem de Connor aquela caixa tenha vindo. Se realmente ela viera de Connor, então uma sequência de números poderia ser. A única que poderia ser.

– 24-03-04. - Ela disse por fim.

– É uma data?

– Sim. É a data que nós nos conhecemos. - Suas bochechas ficaram vermelhas feito pimentão.

Howard colocou os números ditos e, como por mágica, o cadeado abriu.

O conteúdo da caixa não surpreendeu Hazel. Apenas um pedaço de papel sobre um caderno fino com capa preta e dura. Ela pegou o papel e desdobrou-o uma vez. Havia ali escrito “leia o caderno primeiro”. Ela sentiu as lágrimas surgirem nos olhos, mas ela sabia que eram de alegria.

– Tudo ok, filha?

– Sim, pai, não se preocupe. - Ela pegou o caderno e correu de volta para o seu quarto.

Ela levou três dias para ler todo o diário que Connor havia deixado. Ele contou os acontecimentos dos treze anos que passaram depois dela ter sido mandada de volta para o futuro.

Os policiais da Coalition levaram-no para seu apartamento. Quando acordou, achou que tudo havia sido um sonho; que Hazel nunca tinha existido, até que ele viu a morte de Lionel sendo passada na televisão e que Grant Farrow havia herdado todo o dinheiro de Lionel. Por alguma razão ele se lembrava de Hazel e da outra linha do tempo, na qual Grant morreria.

Durante esses treze anos, Connor trabalhou para Grant, que era um gênio da computação. Foi seu assistente, cumpriu todas as suas vontades. Durante esse período, Connor não citou nenhuma mulher, ou namorada ou esposa, nem mesmo sua mãe. Ao mesmo tempo em que ela se sentiu aliviada por ter sentimentos pelo rapaz, sentiu-se triste, pois ele dedicou toda sua vida para salvar Hazel e o futuro; e por isso não encontrou amor.

Nas últimas páginas porém, havia uma revelação. Connor passou a estudar biologia em uma universidade renomada da Romênia. Seu objetivo era descobrir uma forma de ver Hazel de novo. Ele estudou dezenas de espécies de peixes e outros animais capazes de sobrevier ao frio extremo e, até mesmo, congelamento. Ele também estudou uma espécie de água-viva capaz de se regenerar de tal maneira, que ela é geneticamente imortal.

Combinando essas duas habilidades, Connor criou um soro que chamou de Pedra Filosofal, em homenagem a pedra mitológica capaz de dar a um homem a imortalidade. Depois de assassinar Grant, garantindo assim que o futuro fosse salvo de Neuron e que Hazel nascesse, ele aplicou a Pedra Filosofal em si mesmo e depois se congelou, na esperança de que um dia, no futuro, Hazel o salvasse, descongelasse e poderiam ficar juntos.

O papel presente na caixa era um mapa indicando onde ele esconderia seu corpo. Hazel sabia que o que o plano de Connor era completamente absurdo. Nada garantiria que Hazel, ou qualquer outro, encontrasse a caixa deixada; também não havia garantias que ninguém encontraria o corpo dele por em seu esconderijo. Foi um tiro totalmente no escuro. Contudo, a primeira parte deu certo. Ela agora tinha esperança de vê-lo de novo.

Universidade de Nova York, Estados Unidos da América

12 de Janeiro de 2177

A doutora em Microbiologia e Regeneração Atômica pela Universidade Internacional de Lviv, sediada na Ucrânia, Hazel Emmett Brown entrou mais uma vez na sala onde o corpo de Connor Hartdegen estava guardado.

Ela encontrou-o exatamente no local onde ele tinha se escondido, no Polo Sul. Ela levou pelo menos oito anos de sua vida estudando tudo que o mundo sabia sobre genética e biologia. Estudou os mesmos animais que Connor havia estudado e procurava uma forma de trazê-lo de volta.

Levou dois anos para conseguir desenvolver o mesmo soro que Connor havia desenvolvido, a Pedra Filosofal. Ela estudou sua reação em corpos humanos para saber como que o corpo do rapaz estava. Até que um de seus estagiários veio com uma solução simples: injetar o soro que eles haviam criado no corpo descongelado de Connor. Três reações poderiam acontecer disso: seu estado permaneceria o mesmo de agora ou então os efeitos dos soros se anulariam e ele voltaria ao seu estado normal, como estava antes da primeira injeção da Pedra Filosofal.

O último e o mais assustador das consequências seria a overdose. O efeito poderia se duplicar e, se isso acontecesse, as células dele evaporariam.

Durante meses, estudaram as reações de uma adição a mais do soro. As chances eram de 33.3333% para cada um deles, ou seja, as chances eram iguais para todos. Até que algo mudou.

Dez anos descongelado desaceleraram os efeitos do soro no corpo de Connor, que estava começando a apodrecer. Se ela não fizesse algo, ele morreria de vez. Ela não tinha outra escolha. Eles injetaram a dose da Pedra Filosofal direto no cérebro do paciente.

Sem pensar, ela pegou uma seringa com adrenalina dentro. Ela injetou diretamente sobre o coração. As máquinas ligadas no corpo do rapaz começaram a apitar, indicando que o batimento cardíaco estava voltando, mas ainda não era o bastante, pois ainda não tinha atividade cerebral. Pelo menos, ele estava vivo.

– Doutora. - Aline, uma de suas estagiárias chamou. - As partes do corpo dele que estavam apodrecendo, estão voltando ao normal. As leituras do soro de Pedra Filosofal dobraram, mas não está causando danos as células, mas sim regenerando aquelas que estavam mais ruins. Está vicejando os órgãos e os músculos.

– Quanto tempo até que a regeneração seja completa? - Hazel perguntou.

– Se continuar com essa velocidade, cerca de três ou quatro horas.

A cientista pegou uma cadeira, colocou ao lado da cama de Connor e sentou-se, dizendo: - Traga-me uma xícara de café.

– Sim, senhora.

Hazel não tirou os olhos dele durante as 3h47min que o soro levou para regenerar todo o corpo dele. Depois disso, a máquina ligada ao cérebro dele mostrou sinais de atividade cerebral. Depois de mais uma hora, Connor acordou.

Hazel levantou-se com tudo, jogando a cadeira no chão. Aproximou-se dele e, assim que a viu, a reconheceu imediatamente. Ele sorriu exatamente como tinha sorrido antes para ela. Seu sorriso ainda era muito bonito, apesar dele estar com 32 anos.

– Você me achou. - Ele sussurrou, ainda sem forças.

– E você descobriu um jeito de salvar o futuro e a mim. - Ela disse. - E ainda se congelou para me ver de novo.

– Eu fiz tudo isso, né? Deu certo.

Hazel o beijou. Cento e sessenta anos os separavam, mas ela não se importou. Neuron não existia mais, o mundo era uma perfeita harmonia e ela conseguiu Connor de volta. No fim, tudo estava bem.


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Notas finais do capítulo

Por favor, digam suas opiniões, elas são muito importante para me motivar e melhorar!
Espero que gostem do final!
E não se esqueçam, semana que vem é a estreia da esperada websérie "Auror Potter e o Mestre dos Disfarces"!! Não percam!



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