A Janela escrita por Leandro Zapata


Capítulo 6
Lionel Farrow


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo, meus queridos!
Se preparem para muitas emoções com esse aqui!
~Não recomendados para pessoas com hipertensão ou problemas cardíacos~
Boa leitura!



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Grant Emmett Farrow. O nome do homem que construiu a Inteligência Artificial que destruiu o mundo martelava na cabeça de Hazel, latejando como se fosse um ferimento. A dedução de Connor apenas por uma concha com algumas iniciais dentro era absurda demais. Como ela poderia descender de Grant e ninguém ter mencionado isso quando ela saltou por uma maldita janela do tempo? Ela se recusava a acreditar.

Ela recostou-se em uma das paredes de um prédio. Connor devolveu-lhe o colar, que ela preferiu guardar em sua bolsa. Quando o fez, sentiu a maciez do lírio da paz que havia sido dado pela velha senhora da floricultura.

A única coisa que as pessoas têm é esperança.

Hazel era a única esperança do futuro. Se falhasse, a Cordis estaria extinta, sua mãe seria capturada e morta por Neuron, assim como ela própria. O que devia fazer? Arriscar sua existência pelo bem do futuro, ou falhar e voltar para um futuro totalmente destruído?

Ela não notou que havia pego o lírio e o estava girando com a ponta entre o polegar e o indicador, algo que ela costumava fazer a canetas quando ia à escola no Domo Natural. Fazia isso quando estava pensativa ou indecisa na resposta de uma pergunta. Esse lírio é tão bonito, ela pensou.

– Você está bem, Hazel? - Connor parecia muito preocupado.

– Sim, eu acho. Eu só não sei muito o que fazer nesse momento. - Ela não desviava os olhos da flor, que a encarava de volta acusadoramente, como se dissesse: você é a minha última esperança.

– Nós podemos encontrar outra maneira. - O rapaz falou após alguns minutos de silêncio. - Há sempre um outro jeito.

– Obrigado, Connor, mas não dessa vez. Eu sou o último tiro da humanidade.

Ao terminar de dizer essas palavras, ela voltou a fitar o lírio da paz, pensando na velinha que o dera. A única coisa que as pessoas têm é esperança, ela disse. Apenas para salvar essa pequena flor, já valeria a pena deixar de existir, Hazel pensou, imagina por toda humanidade.

– Vamos indo. - Ela se levantou. - Temos uma Universidade para invadir.

Eles desceram alguns quarteirões para dar a volta na faculdade. Depois de atravessar a rua, ir para rua de trás da faculdade e subir os quarteirões novamente, eles pararam na esquina para observar. Havia apenas um guarda na lateral; era o ponto menos guardado, talvez por que não havia uma entrada ali, apenas janelas.

– A terceira janela da esquerda está destrancada. - Connor disse.

– Como sabe? - Hazel estranhou.

– Fui eu quem quebrou a tranca. - Ele sorriu como se tivesse feito a coisa mais legal do mundo. - O que faremos com o policial?

Hazel saiu do esconderijo sem responder. Esticou as duas mãos na direção dele, que veio a toda velocidade na direção da garota. Ela girou para o lado de repente e, ao mesmo tempo, tirou a arma do coldre do policial. O Coalition caiu na rua, batendo de cara no chão. Hazel não hesitou e atirou na nuca dele.

Correram até a janela indicada por Connor, que a abriu devagar, olhou pra dentro e sinalizou que a sala estava vazia. Eles entraram.

Havia três guardas no corredor. Dois estavam vigiando uma porta branca, cada um de um lado, o outro andava de um lado para o outro. Hazel sacou a arma de P.E.M. Connor a olhava admirado, como se ela fosse uma heroína saída dos quadrinhos.

– Como você consegue não estar com medo?

– Eu estou com medo. - A resposta de Hazel surpreendeu o rapaz. - Estou com as pernas bambas, mas eu não deixo o medo me controlar. Meu pai me disse que eu nasci para lutar; então devo lutar com bravura.

– Eu li em algum lugar algo como “coragem não é não ter medo, coragem é ter medo, e ainda assim avançar” ... Ou algo assim. - Ele sorria; Hazel nunca achou que acharia o sorriso de um homem bonito, mas achou que o de Connor tinha seu charme. - Mas eu nunca tinha visto em ação. Meus amigos são meio covardes, sabe?

– Sei. - Ela achou o comentário um tanto estranho, mas ignorou.

Hazel apontou a arma de Pulso Eletromagnético (P.E.M) para o corredor através da fresta da porta e atirou. Todos os eletrônicos e as luzes desligaram num segundo, incluindo os policiais da Coalition. Ela atirou em todos eles no caminho para o laboratório. Guardou ambas as armas em sua bolsa e entraram.

Lionel e o laboratório eram exatamente como Hazel tinha visto pela Janela em 2167. Um jovem de dezenove anos trajando um jaleco branco trabalhando em um cilindro de mais de dois metros de altura. Havia dezenas de fios espalhados no chão sem utilidade. Hazel notou em cima de uma mesa que havia em um dos cantos uma concha exatamente como a que ela tinha na bolsa.

– Lionel. - Connor chamou. - Temos que conversar.

Sem tirar os olhos da máquina, o cientista respondeu: - Não posso. Estou muito ocupado agora, Connor. Minha máquina do tempo está quase completa.

– Eu sei. Ela será um sucesso. Você será capaz de viajar no tempo. De fato, fará isso amanhã mesmo. - Connor olhou para Hazel, e de volta para Lionel, que virou para olhar o amigo.

– Vai dizer que você veio do futuro para impedir por que eu farei algo que irá resultar em consequências catastróficas para o futuro.

– Sim, mas como...

– Os robôs lá fora dizem que são do futuro. Me contaram sobre ele. Eles disseram que eu sou aquele que irá mudar totalmente o mundo. Dizem que minhas invenções serão essenciais para sobrevivência humana.

– Eles estão mentindo. - Hazel deu um passo à frente; Connor sem dúvida não iria convencê-lo a desistir do projeto. - Meu nome é Hazel Emmett Brown. Sou a razão de aqueles robôs estarem aqui. Eu vim do ano de 2167 para impedi-lo de viajar para o ano de 1995 pra salvar seu irmão, Grant Farrow.

– Escute a garota, Lionel. - Connor tentou.

– Se você concluir essa máquina, seu irmão irá sobreviver, mas em 2017 ele irá criar uma inteligência artificial chamada Neuron, que usará a chamada Coalition da Rússia para dominar e destruir o mundo.

– Por que eu devo acreditar em você?

– Eu sou descendente de seu irmão. - Ela tirou o colar de dentro de sua bolsa.

Lionel arregalou os olhos e imediatamente procurou pela concha sobre a mesa. Eram exatamente iguais, mas a de Hazel era um tanto mais gasta, indicando a passagem do tempo. Ela tentou abrir para mostrar as iniciais, mas não conseguiu. Entregou para Connor, que a abriu como tinha feito antes; as iniciais de G.E.F. estavam tão legíveis quanto a que Lionel tinha com ele. Se aquela menina estava realmente falando a verdade, então significa...

– Por que está tentando me impedir? - Ele perguntou. - Se Grant morrer, você não irá existir. Você nunca nascerá.

– Não importa. O mundo é um grande deserto; vivemos dentro de domos de vidro, pois o ar não é mais respirável. - Por alguma razão, lágrimas nasceram nos olhos de Hazel; Lionel pareceu comovido. - Minha mãe foi capturada pelo ditador Neuron. Impedir você é a única coisa que irá salvá-la. Que irá salvar a todos.

Lionel se virou para a máquina do tempo que criava. Ele pesava o que tinha acabado de aprender. Por um momento Hazel teve esperança. Desde seus quinze anos que não tinha esperança. Ele é um Emmett também; é seu ascendente; ele irá fazer o que é certo.

– Não posso, Hazel. - Ele disse. - Eu tenho que salvar meu irmão. Sinto muito, mas você vai ter encontrar outra forma de salvar o futuro.

As pernas de Hazel ficaram bambas, suas mãos tremeram e as lágrimas turvaram sua visão. Do nada, Connor enfiou a mão dentro da mochila de Hazel e sacou a arma que ela tinha tirado do policial da Coalition e apontou para Lionel, que recuou, surpreso.

– Lionel, o conhecimento que você tem e que essa sala e essa máquina contêm deve morrer aqui.

– Você terá que matar se quiser me impedir!

Connor olhou para Hazel de uma forma que fez o coração da garota acelerar. Então o rapaz atirou, acertando o cientista no coração. Ela, com a ajuda de Connor, cumpriu sua missão.

Entretanto, ela ainda estava ali.

Se a teoria estava correta, a linha de tempo em que ela nasceu não existe mais e, portanto, nem ela deveria existir. Por que ainda estava ali? Ouviu um barulho de vidro quebrando, algo atingiu Connor no pescoço. Em seguida, foi a vez dela. Em segundos, a escuridão tomou conta da mente de Hazel.

Ela abriu os olhos e viu um teto cinza. Sentou-se. Felizmente, não estava nua, e mais felizarda ainda, pois algumas pessoas estavam em volta dela, todos observando-a. Olhou em volta, e reconheceu o rosto do Dr. Lake Harkness e o de sua mãe, havia outras pessoas, que ela deduziu serem membros da Cordis.

Estava de volta em 2167 e nada havia mudado.

Ouviu passos pesados atrás de si. Quando olhou, viu um ser humanoide de mais de dois metros de altura. Seus dois olhos vermelhos observavam-na com ódio, superioridade e crueldade. Hazel não imaginava que olhos artificiais poderiam transmitir tais sentimentos.

– Hazel Emmett Brown. - Sua voz era surpreendentemente humana. - Sua mãe me falou muito de você. Você tem uma habilidade interessante, seu pai lhe deu, não?

– Não ouse falar do meu pai, seu monstro. - Ela vociferou, enquanto levantava.

Neuron chutou-a no estômago: - Eu não disse que tinha permissão para ficar de pé. - Ele sorria maliciosamente. - Como você percebeu, sua pequena empreitada ao passado não funcionou. Grant ainda foi salvo.

– Como? Connor matou Lionel.

– Observe.

Neuron apontou para Janela.

Hazel viu ela mesma sendo carregada para fora do laboratório. Em seguida, os mesmos policiais da Coalition voltaram para buscar Connor. Ela não tinha noção do que eles fariam com ele, e isso a assustou mais do que a ideia de viajar no tempo.

Outro policial entrou, mas esse parecia diferente dos outros e Hazel sabia o porquê. Ele era um droid completo, um ser totalmente de máquina. Seus dois olhos vermelhos entregavam sua origem. Ele fez como Lionel o faria, mas muito menos cauteloso.

– Eu dei àquele droid o conhecimento para consertar terminar a máquina do tempo. - Neuron informou.

A imagem acelerou, chegando ao dia seguinte. O mesmo droid agora colocava plutônio na máquina do tempo, posicionou-se entre os dois discos; apertou alguns botões no cilindro principal e desapareceu; a máquina explodiu em seguida.

– É preciso que ele faça exatamente como Lionel, ou pode haver consequências. - Neuron explicou.

Neuron rebobinou as imagens na Janela até o dia 05/04/1995. O droid surgiu do nada. Assim com Lionel tinha feito na primeira vez que Hazel viu o passado, ele roubou o carro da família Farrow. Seguiu pela autoestrada, desapareceu e o carro bateu sozinho. Grant Farrow estava a salvo.

– Agora, senhorita Brown, vamos ao que interessa. Tragam-na.

Dois policiais arrastaram a loira que Hazel havia salvo naquele beco no dia em que tudo começou, e jogaram-na ao lado da Hazel, que imediatamente perguntou como ela estava.

– C3PO e R2PO. - Neuron falou demonstrando raiva pela primeira vez. - Eram os nomes dos policiais que você matou naquele beco para salvar essa mulher.

Tirou de sob o terno uma arma prateada e de empunhadura branca. Não era uma arma comum do mundo moderno, mas sim uma que ele conservou durante mais de um século. Ele apontou para a loira e disse antes de atirar:

Requiescant in pace. - Descanse em paz, em latim. - Qual é a sensação de ter matado dois policiais para salvar uma pessoa em vão?

– Ainda me sinto ótima. - Hazel não tinha ideia de onde tinha tirado coragem para falar tais palavras.

– Tragam a mãe.

– NÃO! - Hazel gritou, tentou se levantar, mas Neuron a impediu. - Deixe ela fora disso!

– Seu pai me disse exatamente essas mesmas palavras para mim, e eu tive pena de você e de sua mãe. Eu escolhi salvá-las, apenas para vocês me traírem e se juntarem a Cordis. - Brigitte foi jogada no local onde a loira tinha sido morta; seu cadáver já havia sido retirado. - Brigitte Emmett Brown, descendente de meu criador, esposa do brilhante Dr. Howard Brown, eu, Neuron, Senhor Supremo do Mundo, condeno-te a morte por traição.

Hazel começou a chorar desesperadamente. Não sabia o que fazer. Tentou usar seu poder, mas não conseguiu. De alguma forma, Neuron o havia neutralizado. A única forma de ajudá-la era jogar seu corpo na frente da bala. Ela levantou, estava pronta para fazer isso, mas Neuron atirou em sua coxa. Hazel não conseguiu dar o último passo que salvaria sua mãe e foi ao chão.

Requiescant in pace. - Neuron atirou.

A existência de Brigitte terminou ali, diante dos olhos lacrimosos de Hazel, que se sentia um lixo impotente, incapaz de fazer qualquer coisa.

Chegara a vez de Hazel ser julgada.

– Coloquem-na de joelhos. - Dois policiais obedeceram; Hazel sentia a coxa latejar. - Hazel Emmett Brown, descendente de meu criador e última das famílias Emmett e Brown, eu, Neuron, Senhor Supremo do Mundo, você é acusada de traição, viagem ilegal ao passado, ameaça a minha vida e assassinato de incontáveis policias da força Coalition. Sua punição é a execução imediata.

Hazel levantou os olhos, sentia ódio pelo monstro diante de si. O monstro que destruíra toda sua família.

Requiescant in pace.


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