Poderia ela estar apaixonada?

Não, não poderia.

Temperance Brennan se recusava acreditar que nutria sentimentos além de amizade por Seeley Booth. Ele apenas era muito gentil, e cavalheiro, e... Perfeito?

“Pare de pensar nisso” ela murmurou, subindo para seu quarto.

Vestiu seu pijama, e guardou o vestido com carinho antes que de cair nos braços de Morfeu.

...

Mais tarde quando descia para o café da manhã ficou surpresa de não encontrar seu pai na mesa.

“Ele esta com um cliente no escritório” sua mãe respondeu já adivinhando a pergunta.

“Há essa hora? Deve ser importante”.

Ela sentou-se ao lado do irmão, que a observava cautelosamente.

“O que foi? Ainda com inveja dos meus olhos?” ela perguntou, rindo.

“Como foi o baile ontem?”

“Ótimo, por quê?”

“Só estou pensando porque aquele cara fez tanta questão que você fosse” ele murmurou “Vocês se conhecem não faz nem um mês”.

Brennan suspirou.

“Ele é meu amigo, apenas isso. Pare com suas desconfianças sem fundamento” e complementou “Além do que, não sou mais criança. Sei cuidar de mim mesma”.

“Estou apenas cuidando da sua honra” ele comentou emburrado “Eu conheço esses tipo de amigos”.

“Estou pedindo pra que cuide da minha honra Russ? Acho que não” pegou uma fatia de pão e levantou-se da mesa “Digam ao papai bom dia por mim, vou para o hospital”.

“Tempe” Christine sussurrou.

E tudo que escutou foi o barulho da porta batendo.

...

A casa da família Booth amanhecera silenciosa pela primeira vez em semanas.

Seeley acordara cedo como de costume e estava na cozinha tomando seu café.

A noite passada provavelmente fora uma das melhores que ele tivera em tempos e sorriu. Apesar dos contragostos – Hannah – tudo havia transcorrido mais do que bem graças a um fator crucial.

A companhia.

Temperance Brennan, a mulher que ele conhecia há semanas e simplesmente havia dominado seus pensamentos. Era a qual ele dormia sonhando e acordava pensando.

Nunca se sentira tão bem ao lado de uma pessoa, como quando estava com ela. E pelos Deuses, Booth desejava estar todo tempo junto dela, desfrutando das inúmeras sensações e experiências que compartilhavam...

Ele parou um momento. Será que ela se sentia da mesma forma que ele?

Era recíproco?

A amizade, claro. Não havia nada demais entre eles, apenas eram duas pessoas que se davam muito bem e apreciavam a companhia um do outro.

Era isso, certo?

“Céus! O que esta acontecendo comigo?” ele murmurou baixo.

“Bom dia, querido” Marianne beijou o filho, surpreendendo-o “parece que alguém acordou de bom humor”.

“O mesmo para você, senhora Booth” ele respondeu, rindo.

Ela se aconchegou na mesa, enquanto um criado a servia.

“Esse foi o melhor baile em tempos, não concorda? Quem pode acordar de mau humor depois de ontem”.

Booth apenas sorriu, voltando sua atenção ao jornal.

“Jared ainda esta dormindo?”.

“Não mais, família” o irmão entrou no cômodo “Então, sentiram minha falta?”.

“Menos do que você espera” Seeley comentou “Está sóbrio agora?”.

“Sempre bancando o responsável, não irmão?”

Marianne interveio antes que uma discussão começasse.

“Eu estava pensando de convidar a família Brennan para um jantar, o que acha querido?”

“Eu acho hmmn... Ótimo” ele respondeu surpreso, largando o jornal “Quando?”.

“Talvez para sexta feira...”.

Jared se acomodou na mesa, confuso.

“Não conheço nenhuma família Brennan” ele disse “São novos ou algo do tipo? Alguma garota que eu deva conhecer?”.

“Fique longe, eles não precisam de mais problemas” Booth alertou.

“Eles são a família do novo advogado de seu irmão, meu filho” a mãe explicou “Uma família bem simpática, pelo menos a filha e o pai”.

“Filha?”

Seeley se levantou, pegando seu casaco.

“Olhe eu já disse, fique longe. Ele é um ótimo advogado e não quero problemas só porque você acha que pode fazer algo com a filha dele” avisou carrancudo “Eu sou paciente, mas nem tanto. Então não pressione” e completou deixando o cômodo “tenham um bom dia”.

Quando o mais velho já não estava mais com eles, Jared olhou para sua mãe, intrigado.

“Ele gosta da filha desse advogado ou algo? Ele está bravo” ele riu “Parecia com ciúmes”.

Marianne suspirou.

Já havia algum tempo que havia notado o comportamento um pouco duvidoso de seu filho quando se tratava de Temperance, porém escolhera não interferir. Não importa o que estava acontecendo, Seeley era maduro o suficiente para saber o que seria bom para ele, e ela confiava em sua escolha. Independente se ela fosse uma enfermeira ou uma dama da sociedade.

“Você sabe que ele teve vários problemas com o antigo advogado” ela explicou “E o senhor Brennan realmente é ótimo pelo o que ele me disse, então não faça meu que possa prejudicá-lo meu filho”.

“Amo minha família mãe, apenas adoro provocá-lo” ele sorriu “Estou ansioso para conhecer esses Brennan’s. Quando será esse jantar mesmo?”.

“Até o fim da semana provavelmente”

“Bom, mal posso esperar”.

...

Era quarta feira e Brennan como sempre estava no hospital. O dia estava particularmente calmo, apenas redobrando os cuidados de pacientes internados enquanto algumas pequenas ocorrências chegavam.

“Pelo que estou vendo Rory, você poderá estar em casa com sua família logo”.

“Maravilha, assim posso te levar a um passeio certo Tempe?”

Ela riu, e afagou os cachos dele.

“Talvez daqui á uns cinco anos, quem sabe” respondeu divertida “Tenho certeza que há varias damas em seus quinze anos que ficariam felizes em receber sua visita”.

Rory sorriu, corando.

“Nah, você é a mais bonita. Mas como saberei que você ainda estará esperando por mim depois de cinco anos?”

“Eu não pretendo me casar, pode ficar sossegado” afirmou retirando as bandagens do braço dele.

“Não foi o que escutei. Mamãe disse que todos estão comentando sobre a moça dos olhos azuis que estava acompanhada de um tal de Booth” ele explicou “Ele é seu pretendente?”

Brennan o encarou surpresa. Sabia que haveria comentários, mas eles estavam circulando rápido demais.

“Ele é meu, hmmn... Amigo!” respondeu rápida.

“Espero que sim, se não vou ter que chutar o traseiro dele que nem você me ensinou”.

Ela gargalhou voltando a sua tarefa. Rory não era o primeiro a ter essa ideia e provavelmente não seria o ultimo.

“Temperance?”

Ela escutou o som da voz conhecida e seu corpo tremeu. Mas não era um tremor de felicidade que desfrutava quando estava com uma certa companhia, e sim de medo.

“Senhor Stires” Brennan cumprimentou metódica “O que está fazendo aqui? Precisa de algum tratamento?”.

“Não, eu... Queria falar com você” e completou “Se possível, é importante”.

Ela o encarou por alguns instantes antes de terminar com o braço de Rory.

“Claro, me siga, por favor,” suspirou.

Michael Stires estava de volta, e sua paz tinha ido embora.

...

O convite para o jantar na casa dos Booth havia chegado pela quinta de manhã, e a família Brennan com muito prazer agradeceu a proposta e confirmou sua presença. Russ não estava muito contente com ideia, mas não teve muito escolha, afinal não haveria muitas desculpas disponíveis, e recusar um jantar desse porte seria mais que falta de educação.

Ao fim da tarde de sexta feira, uma carruagem estava estacionada em frente à residência a espera de Max e sua família. Enquanto aguardavam Christine na sala, ele percebeu sua filha absorta em pensamento, figurativamente longe e antes que pudesse perguntar o que a incomodava sua esposa chegou ao cômodo arrastando todos para fora.

O caminho era curto e não levou mais que quinze minutos.

“Sejam bem vindos, por favor, se acomodem” Marianne informou “Meus filhos já estão descendo. Fizeram uma boa viagem, espero?”.

“A melhor em tempos, senhora Booth” Christine respondeu “Você tem uma casa muito agradável”.

A anfitriã concordou e sorriu quando viu os três filhos adentrarem ao espaço.

Seeley cumprimentou a todos com um sorriso no rosto, e sentiu sua mão machucada doer quando chegou à vez de Russ.

Era claro que ele não tinha muita simpatia por Booth.

Também percebeu o olhar sempre penetrante de Temperance apagado. Parecia preocupada, mas fez seu melhor quando a caçula da família foi para seu lado e as duas começaram a conversar.

O jantar transcorreu sem incidentes, os presentes envoltos em conversas alheias. Após a cozinheira anunciar que a sobremesa seria servida em meia hora, Marianne levou os convidados pela sala onde continuaram a conversa.

Seeley não pode deixar de perceber que sua preocupação tinha sim fundamento. Ela estava quieta, mais que o normal. Percebeu em seus olhos um vazio perturbador enquanto ela tentava focar em algo para se concentrar.

Em vão.

Sua mãe começou a guiá-los para a biblioteca e teve a oportunidade perfeita.

Cutucou o braço de Brennan apontando para a cozinha caminhando em seguida. Esperava que ela capta-se a mensagem.

Estava sentado no terceiro degrau da escada que ficava atrás da casa e não demorou muito e percebeu passos se aproximando.

“Hey, sente-se aqui, está bem fresco” ele bateu no espaço vazio ao seu lado.

Ela deu um sorriso curto, acomodando-se no local.

“Esta tudo bem?” Booth perguntou, a preocupação era evidente em sua voz “Você parecia meio triste hoje”.

Ela suspirou, passando as mãos pelo rosto, observando o nada.

“Eu só...” palavras fugiam da boca dela.

Seeley percebendo a situação passou um braço pelos ombros dela, trazendo para mais perto, confortando-a. Suas mãos deslizavam pelos braços esguios enquanto sentia a respiração inconstante dela em seu pescoço.

“S-sinto muito” ela murmurou baixinho “É que... Algo aconteceu hoje eu n-não...”.

“Esta tudo bem, Tempe” ele a apertou mais, depositando um beijo no topo de sua cabeça “Você pode falar sobre o que quiser comigo, eu estou aqui. Quando se sentir pronta, apenas jogue pra fora”.

Brennan recebeu os gestos de afeto dele de bom grado, tudo que precisava era de um ombro amigo. Apenas queria ficar ali e esquecer-se de tudo. Porque as coisas tinham que ser tão complicadas?

Minutos se passaram e os dois continuaram abraçados nos degraus apreciando a companhia um do outro. Ela sentiu quando a mão quente dele deslizou de seus cabelos para a curva do pescoço dela onde pousou delicadamente, os dedos longos acariciando-a.

E quando Brennan se deu conta da proximidade percebeu que estava praticamente drapejada nele, mas por algum motivo pareceu certo.

Então apenas cuspiu as palavras que a atormentavam há dias, sentindo a tensão retornar ao ambiente.

“Michael quer que eu me case com ele”.