Entre o Espinho e a Rosa escrita por Tsumikisan


Capítulo 3
A Festa de Slughorn


Notas iniciais do capítulo

hehe, capitulo especial :3



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A sala de Slughorn era enorme, talvez graças a uma magia de extensão. O professor cumprimentou a mim e a McLeggen com igual entusiasmo, mostrando todos os cantos da sala com um grande sorriso. Agradecemos com igual vigor, apesar dos nossos sorrisos serem um pouco entediados. McLeggen segurava meu braço com uma força desnecessária, como se temesse que eu fosse fugir.

— Noite agradável. – ele comentou, pegando duas bebidas de um elfo que passava.

Franzi as sobrancelhas, desaprovando o fato de elfos domésticos serem os serviçais, mas ele não notou. Bebeu em um só gole e olhou inquisitivamente para mim. Bebi um pouquinho também, olhando ao redor. Não havia praticamente ninguém que eu conhecia. Achei que Gina viria, mas quando perguntei ela deu um sorriso meio fraco e comentou que não era muito a praia dela.

— Aquele seu amigo, Potter, vai vir?

— Que? Ah, sim. Ele vai. – Comentei, sem dar realmente atenção.

— Interessante. Ele não quis me aceitar no time, acredita? Preferiu aquele ruivo. Você é amiga da irmã dele né?

— Sou. – disse, friamente. Esperava que Harry não se atrasasse. – E eu acho ambos brilhantes.

— Você acha? – ele riu. – Por que não me viu jogar. Cem defesas, sem intervalos, acredita?

— Hmm.

— Eu conheço jogadores importantes é claro, eles me ensinaram tudo. Você já deve ter ouvido falar de Victor Krum, um grande amigo meu. Ele confia em mim, sabe?

Quase engasguei com a bebida. Era bem a cara do McLeggen, não conseguir olhar o suficiente para outro lugar que não seja o próprio umbigo. Talvez ele devesse ter notado que eu tinha ido ao baile do tribruxo com Victor. Fingi que estava apenas impressionada com tamanhos contatos. Mal ele sabia que na verdade Victor me escrevia nas férias e nunca sequer mencionara o nome de McLeggen.

— Acho que deveríamos até fazer um brinde sabe? – ele comentou, pegando outro copo. – As cem defesas perfeitas e sem intervalos de Córmaco McLeggen!

Ergui o copo, parecendo entediada. Infelizmente, ele teve a ideia de olhar para cima no momento em que brindamos. Um visgo estava parado ali desde que havíamos chegado, mas eu o ignorara e ele parecia não ter visto até aquele momento. Agora olhava para mim maliciosamente, inclinando-se. Respirei fundo e esperei os olhos dele se fecharem para sair correndo.

Ouvi alguém me chamar e torci com todas as forças para que não fosse ele. Mas na verdade era Harry, que por fim me alcançou.

— Hermione!

— Ah, Harry! – sorri, aliviada. – Ai esta você, que bom! Oi Luna!

Começamos a andar em direção as cadeiras postadas no fundo da sala. Eu olhava para os lados, procurando McLeggen, mas pelo visto eu consegui fugir dele.

— Que aconteceu com você? – Harry perguntou.

— Ah... Acabei de fugir... Quer dizer, deixar o McLeggen de baixo do visgo.

— Bem feito. – ele disse num tom de voz mais parecido comigo dando ordens. Sorri.

— Achei que era quem mais aborreceria o Rony. – comentei, sem graça. – Fiquei em duvida entre ele e o Zacarias Smith, mas achei que...

— Você pensou em vir com o Smith? – Harry parecia indignado.

— Pensei, e estou começando a desejar que tivesse vindo. McLaggen faz Grope parecer um cavalheiro. Vem, aqui podemos ver se ele vier.

Infelizmente acabamos nos sentando do lado da professora Trelawney. Luna a cumprimentou animada, mas eu apenas acenei com a cabeça e duvido que ela tenha me visto. Bebi um pouco da minha taça, a mesma que McLaggen havia me entregado mais cedo. Harry parecia muito sério.

— Você esta pretendendo dizer ao Rony que interferiu nos testes para goleiro?

Ergui as sobrancelhas, indignada. Apesar de tudo, não seria eu que acabaria com a autoestima dele desse jeito. Eu podia estar querendo me vingar, mas não zerar as chances de que um dia nós voltássemos a conversar.

— Eu não tenho a menor intenção de contar ao Rony o que poderia ou não ter acontecido nos testes. – respondi com a pouca dignidade que me restava.

— Ótimo. Por que ele ficaria arrasado de novo e perderíamos o próximo jogo...

— Quadribol! Vocês só pensam nisso? Córmaco só fala nisso. Eu e o Rony brigamos por causa disso. Não há nenhum outro assunto não?

Harry abriu a boca para responder, mas eu vi McLaggen se aproximando e levantei de súbito. Com um olhar enviesado para Harry, me afastei abrindo caminho na multidão. Acho que nas circunstancias, até vir com o Malfoy seria menos entediante. Talvez pudéssemos conversar sobre o que ele queria dizer naquele dia em que nos encontramos nos corredores. Passei a semana inteira tentando entender, mas ele estar arrependido era a única opção e era boa demais para ser verdade.

— Professor, encontrei esse aluno lá em cima. – a voz de Filch interrompeu minha linha de pensamentos. Ele parecia extremamente contente, o que não era um bom sinal. – Ele diz que foi convidado para sua festa!

— Está bem, eu não fui convidado! – ouvi a voz arrastada de Malfoy. – Estava tentando entrar de penetra, satisfeito?

Andei pela multidão, tentando me esgueirar aqui e ali. Malfoy estava sendo segurado pelo braço por Filch no meio de uma roda que havia se formado para apreciar o show. Ele pareceu me notar na multidão. Nossos olhares se encontraram por um instante, antes que ele o desviasse. Seu cabelo estava muito bagunçado e ele tinha uma aparência pálida e cansada.

— Tudo bem Argo, tudo bem. – o prof. Slurghon se intrometeu. – Hoje é natal, e não é crime ter vontade de ir a uma festa. Só dessa vez vamos esquecer o castigo; você pode ficar Draco.

Filch fez um muxoxo de aborrecimento e saiu mancando da sala, Draco olhou para mim de esguelha e se juntou ao professor Slurghon. Tentei passar despercebida novamente para chegar mais perto.

— Gostaria de dar uma palavrinha com você, Draco. – Snape apareceu subitamente ao lado deles, interrompendo meus planos.

— Ora vamos Severo, não seja tão duro! – o professor Slurghon insistiu, mas eu sabia que era uma causa perdida.

— Sou o diretor da Casa dele e cabe a mim decidir se devo ou não ser duro. – Snape respondeu friamente. – Venha comigo, Draco.

Eles se retiraram. Hesitei, por um minuto pensei em segui-los, mas meu bom senso impediu. Alias, eu devia satisfações para o McLeggen. Ele ficaria furioso comigo depois, quando descobrisse que eu tinha desaparecido bem debaixo do ego enorme dele. E eu também precisava falar com Harry. Fui até onde Luna estava conversando sonhadoramente com a Trelawney, mas ele não estava ali.

— Luna aonde Harry foi? – perguntei.

— Banheiro... – ela respondeu sem olhar para mim.

— Você pode me fazer um favor? – ela assentiu, interrompendo a conversa com a professora e finalmente me olhando. – Diga ao Córmaco McLeggen que eu tive que subir por que, ah... Estava me sentindo mal por causa da bebida, sim?

— Sim claro. – ela sorriu para mim. – Você não gosta muito dele não é?

Sorri para ela também. Luna me surpreendia com tamanha sensitividade.

— Porque não veio com Rony Weasley então? – ela perguntou do nada.

— Ah, bem... Eu não gosto muito do Rony também. – menti descaradamente.

— Acho que ele te deixou triste. – ela comentou, virando a cabeça um pouco para me analisar. – Mas você ainda gosta dele. O jeito com que você olha...

— Olha Luna, tenho mesmo que ir. – cortei o resto da frase, ficando ligeiramente vermelha. - Pode avisar ao Cómarco para mim?

Ela fez que sim com a cabeça e voltou a conversar com a professora. Me afastei, olhando para os lados com medo de ser interceptada por McLeggen. Porem consegui chegar a porta sem que ele me visse. Respirei aliviada, mas assim que abri dei de cara com o professor Snape.

— Aonde vai senhorita Granger? – ele perguntou com desprezo.

Me cansei da festa, senhor. – respondi timidamente.

Ele pareceu satisfeito com minha desculpa e se virou para que eu pudesse passar. Segui livremente pelo corredor escuro, meus ouvidos apurados a procura do menor som.

— Alguém poderia pensar que você esta bisbilhotando, Granger.

Prendi a respiração. Ele estava sentado nos pés de uma escada, girando a varinha na mão. Parecia absolutamente nervoso com alguma coisa, o rubor lhe subindo pelas faces. Eu não havia me preocupado em trazer minha varinha para a festa, mas ele não parecia com vontade de me atacar. Soltei o ar lentamente, me perguntando por que ele ainda estava ali depois da festa.

— Você não pareceu estar gostando. – ele comentou, indicando o corredor que eu havia seguido. Sabia que ele estava se referindo a festa.

— Ah, não... Estava muito quente.

— Quente, é? – deu uma risada seca. – McLeggen deve ter feito você sentir um calor e tanto.

Fiquei um pouco vermelha, mas o encarei num gesto de desafio.

— Não é da sua conta.

— Claro que não. – outra risada. – “Ei Córmaco... Você gostaria de ir a festa de natal comigo? Por favor?”

— Você ouviu!? – exclamei, horrorizada.

— De passagem. – ele deu de ombros. – Você não devia ficar implorando as pessoas a saírem com você, Granger. É patético.

Ignorei, mais vermelha do que nunca. Eu queria voltar para o meu dormitório, mas para isso teria que passar por ele. Parecendo ler meus pensamentos, ele se levantou, mas não se desviou do caminho. Ao invés disso veio em minha direção, parando bem próximo a mim.

— E não devia ficar chorando pela escola também, por causa do Weasley. Ele não te merece nem pintado de ouro.

Ele passou por mim, deixando-me perplexa. Pensei em deixar ele ir, mas minha curiosidade foi maior. Sem olhar para ele, comentei, em voz alta:

— O que você quis dizer? Naquele dia?

— De que dia esta falando, Granger?

— “Você, dentre todos eles, devia ser inteligente o bastante para não fica guardando rancor” – foi a minha vez de imitar a voz dele. – O que isso quer dizer?

Ele demorou um tempo para responder. Achei que estava cogitando a ideia de me deixar ali com a pergunta no ar. Ou quem sabe me azarar, por que ele continuava girando a varinha nas mãos. Por fim, ele suspirou e disse:

— Eu estou cansado, Granger. Cansado disso tudo, sabe? Eu fui criado assim, para ser essa pessoa. Mas essa pessoa ultimamente tem me dado nojo. – sua voz tinha tanto rancor guardado que eu me assustei. – E no dia que você estava chorando, aceitou minha ajuda sem perguntar o que estava me levando a aquilo. Foi incrível. Eu estava preparado para insultos, talvez uma azaração, já que você parecia muito nervosa. Mas você aceitou aquilo como se esperasse o tempo todo que eu fosse uma pessoa gentil. E talvez aquilo tenha me dado esperanças, esperanças para acreditar que eu não sou só mais uma peça no jogo de você-sabe-quem. Para acreditar que um dia eu possa mudar.

Suas palavras me tocaram. Consegui entender o que ele sentia claramente. Agora estava explicado o por que dele sempre parecer pálido e cansado. A casa dele provavelmente era um ponto de encontro não só para comensais da morte, como para o próprio Voldemort. O que será que ele tinha de ouvir, todos os dias?

Não sei o que me impulsionou. Mas eu me adiantei até estar bem próxima a ele. Draco estava de costas para mim, mas eu o abracei assim mesmo, meu rosto encostado em suas omoplatas. Ele respirava pesadamente, como se uma grande pedra estivesse comprimindo seus pulmões. Sua mão subiu lentamente e tocou a minha, segurando-a como um bote salva-vidas. Sorri internamente. Aquela noite havia sido um completo desastre, mas isto? Isto era especial.

— Você me perdoaria? – ele sussurrou de modo que só eu poderia ouvir.

— É claro.

Algo estranho aconteceu. Ele se virou para mim e segurou meus ombros. Acho que, no fundo, eu já sabia o que estava por vir. Os lábios de Draco estavam frios e tinham um gosto levemente salgado. Ele me beijou com cautela, como se temesse um tapa se fosse muito longe. Minhas mãos agiram sozinha, segurando seu pescoço com delicadeza. Eu sou uma pessoa inteligente, e não tentaria descrever um beijo. Esse gesto não é entendível para qualquer um, apenas as duas pessoas que estavam participando. E no caso de Draco, a única coisa que eu poderia dizer é que foi muito bom. Incrivelmente bom. Nada que eu tivesse provado antes.

Ele me soltou rápido demais, mas suas mãos continuavam em minha cintura. O encarei timidamente e ele sorriu, o primeiro sorriso que eu via em seu rosto naquele ano. Sorri de volta e o abracei de novo. Rony não passava nem perto dos meus pensamentos, nem McLaggen, nem Harry, nem nenhum outro garoto em especial. Só pensava em Draco.

Subindo as escadas do meu dormitório, após um boa noite apressado, foi que eu pensei que talvez o gosto salgado em sua boca fosse resultado de algumas lagrimas.


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