Game Of Love escrita por Mayy Chan


Capítulo 2
Segredos em Campo


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, MUCHACHAS E MUCHACHOS. Dessa vez minha demora tem explicação: levei meu computador pra formatar, ele demorou um tico pra ser entregue, resultando que, assim que o peguei, acabei o capítulo e já vim o postar. Esse é sim MUITO focado no Scorpius e na Rose e um tempão desde o último capítulo, mas espero que seja bom o suficiente, ok? Prometo que o próximo virá CHEEEEEEEEEIO de informações ;)
Não se esqueçam de comentar, ainda sou movida a vocês *--*



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Bufei pela sétima vez naquele dia. Já faziam meses que vinha estudando com Scorpius e, por mais que sua melhora tenha sido realmente impressionante, uma coisa que não conseguia enfiar em sua cabeça era Revolução Russa.

— Então a proposta mais plausível era a de Trotski ou Stalin? E qual o motivo? — questionei depois de uma explicação intensa sobre os ideais de ambos líderes.

— Trotski, porque ele tinha um exército ao seu favor. — deu um sorriso convencido, me fazendo bufar.

— E no que isso influencia? — indaguei já exaltada.

— Não se ganha uma guerra sem um exército.

— Você é burro, ou se faz de tal? Vou explicar pela última vez: a proposta de Stalin foi a mais plausível porque acreditava que o socialismo deveria ser, primeiro, fixado na Rússia. Trotski queria levar o socialismo para o resto do mundo inteiro, e isso... bem, o cara podia ser líder da Rússia, mas é óbvio que ele não poderia dominar o mundo.

— Acho que é assim que você conquista os caras. Seu cérebro me é quase um orgasmo.

Ignorei seu comentário — quase — obsceno e voltei a me concentrar no sanduíche que Dobby, o mordomo meio anão, havia trago. Ele era, de longe, uma das pessoas mais amigáveis que conhecera na casa. Por mais que houvesse uma estatura de menos de um metro e meio, sua atitude corajosa e sempre sorridente o faziam quase um amigo. Não sei como ele não havia... subido de cargo ou coisa do tipo até hoje.

— Hoje te ouvi Hagrid falando com Fred II e seu irmão no almoço. Aparentemente, o assunto era você. Qual o motivo disso?

Hagrid era o psicólogo da escola. Quando fiz treze anos, recebi uma recomendação da diretoria para reservar um horário de aula com ele, porém ultimamente só continuava as sessões mensais só pelo fato d’ele ter uma personalidade estupidamente cativante. Tinha certeza de que ele, juntamente com boa parte da minha família, estava preocupado com o aparecimento repentino de Rony Weasley na minha vida.

Há um bom tempo que mal era agraciada pela presença do meu pai. Sua profissão era ligada ao governo londrino, contudo nunca realmente soube qual pelo fato de ser algo sigiloso demais para ser compartilhado com sua filha estúpida, mesmo que ela já tenha quase idade o suficiente para dirigir.

— Não pergunte sobre minha vida particular, e eu não perguntarei dos seus motivos para estar transando com a praga ruiva que inferniza minha pobre vida escolar de menina antissocial.

— Eu não estou transando com... essa tal praga ruiva.

— Você mal sabe de quem eu estou falando.

— Por isso mesmo. — respondeu com um olhar um pouco desconfortável, o que me fez entender tudo e começar com uma crise histérica de risos.

— Eu não acredito! Você é virgem, como qualquer parte da população mundial não popular! Simplesmente não é algo crível pra mim que você nunca tenha levado nenhuma de suas namoradas pra cama, Malfoy.

— Você não tem nenhum moral pra poder falar sobre da minha virgindade, sabia? Caso não se lembre, você é tão perdedora nesse sentido quanto eu, gatinha. Não pense que eu não sei disso.

Pensei em contar sobre minha desastrosa primeira vez pra ele, porém não me senti simplesmente confortável. Não é bem algo que eu gostasse de lembrar. Depois de um tempo, se tornou só uma lembrança apagada pelo tempo... coisa que eu prefiro não contar como uma real experiência.

Só notei que estava devaneando quando Scorpius tocou levemente meu ombro, me chamando atenção para me virar para ele e olhar em seus olhos acinzentados que ultimamente haviam me trago uma certa tranquilidade. Só meu olhar desesperador deve ter mostrado que aquele não era realmente um assunto que gostava de tocar. Ele se levantou e me estendeu a mão, em um gesto quase que amigável.

— Vamos, é minha vez de te ajudar.

— Qual é! Você só usa esses meus treinos para treinar com um adversário de estatura... um pouco inferior.

— Acredite, te ver tentar fazer uma cesta é de fato uma das partes prediletas do meu dia. Falando nisso, você vai para onde hoje?

Uma das grandes desvantagens de se morar em um cassino, é que eu não podia realmente dormir lá com uma frequência aceitável sem acordar no meio da madrugada com o barulho quase que insuportável. Acho que o único lado bom dos negócios, é que é dali que sai a mensalidade abusiva da minha escola, que estava entre uma das melhores de toda Londres.

— Não faço ideia. Hoje a casa da Dominique está quase cheia por causa de uns parentes franceses que chegaram, e Alvo está com um tipo de alergia contagiosa que passou pro tio Harry e a tia Gina. E também não sou muito acostumada a ficar com outras pessoas da minha família. Não duvido nada que vou acabar tendo que ir pro cassino novamente.

— Você podia dormir aqui. — falou com simplicidade. — Seria como... uma noite das garotas.

— Você é um cara.

— E daí? Fala pra sua mãe que minha irmã que te chamou pra dormir aqui.

— Sua irmã tem oito anos. — revirei os olhos.

— Qual é, Rose! Eu odeio te ver dormindo naquele cassino, e você sabe disso.

— Pra que todo esse ódio no coração, Malfoy? Sabia que faz mal?

— Tem todos aqueles caras bêbados te cantando quando você entra, sempre vem um idiota reclamar com você como se o cassino fosse se sua responsabilidade, fora que todo dia que você dorme lá chega na escola com a maior cara de quem dormiu. E, claro, você não fez isso por causa do barulho infernal, dos gritos, e também pelo fato de que provavelmente tem alguém transando no andar de baixo. Você é exposta a sexo, bebidas, e não duvido também nada que acabe tento um ou outro problema com a máfia.

Fiquei um bom tempo calada o ouvindo falar. Não que o que ele dissera fosse mentira, na verdade era a mais dura e sensata verdade sobre meus problemas pessoais. Se eu gostava de ser exposta assim? De forma alguma. Porém não era como se eu realmente estabelece muitas barreiras pra o tanto de informações que o loiro poderia captar sobre a minha pessoa apenas de observar.

Notei que minhas bochechas haviam corado apenas quando ele me deu um meio abraço e beijou o topo da minha cabeça de forma protetora. Há um bom tempo Scorpius havia mostrando que nada de ruim poderia acontecer comigo em sua presença inestimável. E, céus, como era bom ter essa proteção pela primeira vez na vida.

Ao invés de seguirmos para a parte traseira da casa, onde havia um lugar reservado para uma cesta de basquete, fomos para a cozinha. Astoria estava sentada na cadeira, concentrada em um livro extremamente grosso de páginas amareladas e uma capa grossa.

— Mãe, a Rose pode dormir aqui hoje? — questionou o loiro passando diretamente pra geladeira, onde ele pegou uma caixa de suco.

Um sorriso genuíno — e levemente malicioso — iluminou seu rosto. Graças a minha recém-descoberta da virgindade de Scorpius, esse comportamento nem me soou estranho. Se eu tivesse um filho de dezessete anos virgem, eu também gostaria que ele trouxesse uma garota pra casa, afinal me é bem agradável a ideia de ver meus genes sendo repassados pra uma nova geração.

— Claro.

— Então depois peça para Dobby arrumar o quarto de hóspedes.

— Como assim? Ela não vai dormir no seu quarto?

Algumas pessoas tem o talento nato de enrolar. Questões disfarçadas, olhares significativos, e até gestos corporais. E, bem, a senhora Malfoy não estava nesse grupo seleto de pessoas.

— Não, mãe, eu não iria pra cama com uma dama tão sem classe quanto Rose. Ela fala enquanto dorme.

— E, sem querer parecer rude, mas eu me resumo a dormir com alguém que tenha pouca higiene o suficiente para beber direto do gargalo. — Enruguei o nariz ao ver a forma típica (e, particularmente, nojenta) do loiro beber o suco.

— Bem, que seja. Você já avisou sua mãe?

Droga! Um ponto a menos pra Rose Weasley e sua memória de merda. Sinceramente, não culpo o meu cérebro seleto, porque boa parte do tempo era realmente difícil lembrar que eu tinha uma mãe.

— Erm... vou fazer isso agora.

Fui para um espaço mais reservado, e tirei meu celular do bolso. Estava cheio de notificações de mensagens não lidas, ligações perdidas e também uma ou outra do meu aplicativo preferido de controle de livros e seriados. Abri a lista de contatos, e o nome da minha mãe era um dos poucos que estampava com uma foto que ela mesma tirou ao me dar o celular de aniversário.

Esperei que ela atender, o que só aconteceu depois de uns cinco toques.

Rose?

— Mãe? Como vai?

Bem. Cansada, mas bem. Como vai a escola?

Típico, mamãe. Será que você poderia ao menos perguntar ao menos como estou, como qualquer mãe faria?

— Bem... Eu te liguei pra perguntar se eu posso dormir na casa do meu colega. O cassino está barulhento demais, e eu preciso dormir bem ao menos essa noite.

E por que não na casa de Dominique? Ou mesmo a do seu tio Harry, ele vai amar...

— A casa da tia Fleur está cheia de parentes, e aparentemente os Potter pegaram uma epidemia contagiosa.

Me fale o nome desse garoto então.

— Scorpius. Scorpius Malfoy.

O telefone ficou mudo por uns segundos. É, aparentemente o sobrenome do meu mais novo “aluno” tinha um efeito sobre minha adorável mãe. Será que eu poderia usar isso de vantagem algum dia?

Me deixe falar com Astoria. Mas antes, quero que saiba que eu não vou tolerar netinhos, ok senhorita?

— Ok, mãe. — revirei os olhos. — Agora vou passar para a senhora Malfoy. Até mais, tchau.

Tchau, até e te amo.

— Também te amo.

Sim, eu tinha o hábito de dizer que amava minha mãe ao fim de cada ligação. Não é como se sua pouca consideração pela minha companhia mudasse o fato de ela ser minha mãe.

Assim que passei o celular pra Narcisa, segui Scorpius até a parte traseira da casa. Ele estava lá, me esperando com aquele sorriso divertido, e uma bola em mãos, fazendo uma daquelas coisas ridículas dos atletas de a girar sobre um dedo. Então ele a fez quicar uma vez no chão e passou para mim. Depois de um tempo, comecei a realmente segurar a bola com as mãos, e parar de machucar minha cara com isso.

— Vamos lá, quero ver uma cesta de três pontos. Não vou te bloquear dessa vez, ok?

Confirmei rapidamente com a cabeça e, com a bola em mãos, corri até a área próxima a cesta, me dando impulso o suficiente e tentando “enterrar” logo após. Infelizmente, o impulso não foi o suficiente e eu havia errado mais uma vez.

— Eu não sei fazer isso. Prefiro os lances a distância, eles são bem melhores.

— E por que são melhores, Weasley?

— Porque eu sou baixa.

— Exatamente. Viu? Está aprendendo mais rápido que minha irmã.

— Será que preciso ressaltar mais uma vez o fato de ela ter oito anos de idade? E, falando nisso, onde ela está?

— Na casa da versão infantil de Lily Luna Potter. Daqui há uma hora e meia ela deve estar de volta.

— Eu gosto dela. O senso de humor Malfoy existente em seu DNA é um pouco mais... suave e gentil. Dois tipos de qualidades que você nunca poderá ter, infelizmente.

— Eu me acho gentil. — deu de ombros, enterrando facilmente a bola, da forma que eu devia ter feito.

— Não, você é um saco. Um cara completamente egocêntrico, narcisista, e também com sérios problemas em poder manter um humor consideravelmente saudável. O que, sinceramente, é uma pena, pois eu amaria que você tivesse umas piadas legais pra levantar o meu astral, e não dobrar meu nervosismo.

— A culpa não é minha de você ficar simplesmente muito sexy quando está nervosa. E, claro, também é uma ótima notícia saber que tenho esse efeito sobre a sua pessoa. Agora, se não se importa, eu tenho a obrigação de te ensinar a fazer isso até o fim do semestre para recompensar os prazeres que sua mente genial pode me oferecer.

Continuamos treinando até se tornar quase insuportável de se manter de fora por causa do frio, e também pelo fato de já estar escurecendo. Nenhum tipo de treino poderia impedir Scorpius Malfoy de ter sua tão sagrada janta, o que devia ser sua refeição favorita de todo o dia.

Antes de tudo, fomos tomar banho. Como havia dormido na casa de Dominique no dia anterior, acabei levando para a escola minha mochila de roupas e consequentemente para cá, pois estava certa de que iria ser levada para o cassino. Entretanto, Astoria parecia realmente ter feito um bom trabalho quando convenceu minha mãe que aqui era o melhor lugar para passar a noite.

O banheiro era bem parecido com o da casa do tio Harry. Branco, de cerâmica, e com uma banheira. Porém, como tinha preferência pelo chuveiro, preferi apenas o ligar dentro do box. O ralo da banheira estava aberto, então pude deixar com que meu corpo se relaxasse sobre o contato da água quente.

Quando acabei, me enxuguei e fui em busca da roupa que dizia “eu-não-quero-dormir-com-o-seu-filho-mas-também-não-sou-uma-mendiga-e-muito-menos-me-sinto-em-casa”. Não que eu acreditasse que esse tipo de roupa existia, pois no fim acabei preferindo apenas minha calça jeans predileta, uma sapatilha vermelha e um suéter esverdeado. Deixei meu cabelo solto, e desci as escadas até a cozinha.

Ok, quando você dorme na casa de uma pessoa, nunca se espera algo muito especial pra janta. Normalmente, quando dormia na casa de qualquer pessoa, pedíamos uma pizza e comíamos na frente da TV. Por mais que conhecesse Scorpius há um bom tempo, jamais pensei que os boatos que sua família seria refinada até dormindo eram verdade... porém isso simplesmente se confirmou quando me sentei na mesa de dez cadeiras que se encontrava repleta das mais variadas coisas.

Dei um singelo “Boa noite” para o senhor e a senhora Malfoy, e me sentei logo em seguida. Em algum momento, Lizzie havia chegado. Fui cumprimentada pela garotinha com um abraço acalentador, e uma corrente de perguntas que foram interrompidas pela chegada de Scorpius. Sim, ele fora o último a terminar de se arrumar, contrariando todas as regras do universo, e também o fato de que eu passei quase meia hora me arrumando.

— Boa noite, adoráveis seres que habitam meu coração gélido. Vim lhes agraciar com a minha adorável e tão requisitada presença.

— O seu ego é tão grande que duvido que tenha espaço para mais alguém dentro do seu coração. — rebateu a garotinha loira, com seu típico tom atrevido e sorrisinho esperto.

— Acredite, Lizz, meu coração não é tão restrito quanto esse seu cérebro de oito anos.

— Garotos, não briguem a mesa. — indagou Draco, com seu típico tom de “eu-sou-o-rei-do-mundo”.

Lizzie foi a primeira a se servir, colocando praticamente só macarrão no seu prato, assim como Scorp fez em seguida. Eu tentei ser o mais controlada o possível: não coloquei de tudo e nem muito para não parecer uma esfomeada, e também não coloquei pouco de uma só refeição para não parecer metida. No fim, acabei com arroz, um pedaço da torta de frango, salada, macarrão e uma coisa que eu não sabia o que era, mas que rendeu uma risadinha baixa do garoto ao meu lado. Ao menos essas eram as coisas que eu sabia do que eram feitas, ou ao menos tinha uma básica noção. Um prato do mesmo tamanho de ambos os irmãos.

O único problema, foi que quando eu comecei a comer, a comida não estava exatamente muito agradável. Tudo tinha um gosto meio borrachudo e sem tempero. Pela primeira vez na vida, a salada era minha parte predileta da refeição, mas, provavelmente, só achava isso porque era tão ruim quanto eu pensava.

Esconder a careta não era exatamente a parte mais complicada, já havia me acostumado por causa do tanto de vezes que fui a cobaia das experiências culinárias da minha melhor amiga — e prima nas horas vagas — Dominique Weasley.

— Com licença, eu vou dormir agora. Vamos, querida?

A palavra “querida” me soava tão estranha saindo da boca de Draco Malfoy, que quase fui rendida aos meus esforços de manter uma boa feição quanto a comida.

— Claro. Crianças, tenham uma boa noite e não se esqueçam de lavar seus pratos. — piscou e acompanhou o marido para dentro da casa.

Os acontecimentos a seguir, foram praticamente o que tinha mentalizado nos meus sonhos: Lizzie e Scorpius retiraram seus pratos quase cheios da mesa, e tomaram o meu também.

— Cara, ele demorou tanto dessa vez que quase tive um ataque cardíaco sobre aquela mesa.

— Foram quase dez minutos, cara irmãzinha. Dez minutos gastos atoa quando eu podia estar sendo feliz, em paz, com um bom hambúrguer ou coisa do estilo.

— Erm... sem querer atrapalhar todo esse momento afetivo, mas será que podem me explicar o que está acontecendo?

— Você é nossa nova guerreira, Weasley. Definitivamente a primeira pessoa que aguentou tempo o suficiente para fazer uma careta para a comida horrível do meu pai.

— Não é tão péssima assim. — enruguei o nariz. É, aparentemente eu fui pega.

— Nosso pai é hipertenso. Ele não pode comer nada com sal, e essas coisas. E, para piorar, ainda tem um afeto enorme por comida orgânica, o que é realmente um saco.

— Então, nossa mãe se enche de piedade, e deixa sempre algo realmente comível para podermos degustar quando ele não está de olho. — Scorp complementou sua irmã, logo puxando uma vasilha grande de dentro do forno. — A parte mais divertida é que nunca realmente sabemos o que vamos comer.

Tentei encarar aquilo como um lado bom da situação. Obviamente, para mim, que era acostumada a sempre saber o que iria comer, isso me parecia algo realmente estranho. Porém, assim que senti o cheiro inconfundível de tacos, me coloquei imediatamente ao lado de dos dois. De fato, minhas estadias fora do cassino sempre iam acabar em pizza.

Nos sentamos no chão, comigo no meio, e começamos a comer diretamente da travessa. O sabor ardente e cheio de temperos, tampou todas minhas lembranças da refeição anterior.

— Vai ser engraçado ver a reação das pessoas quando nos verem chegando juntos na escola amanhã.

Inclinei minha cabeça para olhar nos olhos cinzentos do garoto. Ele comia calmamente seu taco, porém um pouco do molho deixou o canto da sua boca sujo. Dei de ombros, e voltei para minha posição anterior.

— Já deixo claro que você provavelmente vai ser tachado eternamente como o cara que dormiu com “Rosevelta, a Estranha” pro resto de todo o ensino médio.

— Eu posso aguentar um pouco de bullying. — me deu uma de suas típicas piscadelas, e logo continuou. — Falando nisso, por que “Rosevelta”? Esse apelido tem algum motivo?

— Aimée Velta era a melhor aluna do ginásio, mas depois de tornou uma... meretriz. — tomei cuidado com a escolha das palavras por causa de Lizzie. — E, depois de um incidente que aconteceu comigo, esse ficou sendo meu apelido. Antes eu tinha muitas amigas, era popular até. Só que agora prefiro viver debaixo dos holofotes.

— Mas... você não quer ser notada?

— Claro, eu amaria que realmente se lembrassem que eu sou humana. Queria mesmo ter uma vida social mais ativa... mas bem, isso não é mais importante mais.

— Entendi... — deixou subentendido que mais tarde falaríamos sobre isso.

Para deixar claro que aquele assunto não seria tocado, dei boa noite e subi para o quarto de hóspedes que, por coincidência ou não, era ao lado de Scorpius. Chegando ali, coloquei pijama e me joguei sobre a cama mais macia do que eu esperava. Já estava com uma coberta perfeita para aquela noite fria.

Ao invés do que pensava, não consegui dormir imediatamente. Pensamentos sobre meu pai, meu irmão e minha mãe entorpeceram minha mente. Quando notei que dormir realmente não era mais opção, peguei minha mochila a procura de alguma tarefa para adiantar.

Meia hora mais tarde, já havia acabado todos os exercícios possíveis do livro de física, então desci as escadas em direção a sala. A TV estava ligada no meu canal predileto, e “Amor Assassino” já estava quase no fim daquele episódio.

— Acho que o amante ajudou a mulher.

— Não, na verdade foi o jardineiro. A tesoura dele não foi revistada, porque ele a levou pra o outro emprego na hora da entrevista, mas foi a arma do crime. E, claro, ele também foi o responsável por arrastar o corpo.

— Sabia que assistir seriado criminal com você é um saco?

— Sabia. — peguei a tigela de leite com cereal pra mim.

Scorpius me olhou com aquele típico olhar de irmão mais velho preocupado que me fazia derrubar quase qualquer barreira, e fez a pergunta que sabia que viria mais cedo ou mais tarde:

— O que faz as pessoas te odiarem tanto? E por qual motivo, razão ou circunstância você permite?

— Eu não quero falar disso...

— Rose, eu não vou te julgar, nem mesmo comentar se você não quiser tal coisa. Respeito seu espaço e o que mais pedir. Mas simplesmente não posso ver você ser tratada assim, de forma tão cruel sem mesmo saber o motivo.

— Cruel seria se elas me esmurrassem, coisa que até hoje nunca aconteceu.

— Não, elas te ignoram como se você não fosse humana. Acabam com sua dignidade e orgulho, porque você e permite... É tão complicado.

— Foi minha escolha. Não posso julgar o fato de eu ter o apelido de uma vadia.

— Rose...

— Eu não quero falar disso, tudo bem?

— Tudo bem. — me puxou para perto, e nos envolveu em uma espécie de abraço desajustado.

Permiti meus olhos se fecharem, e de repente todas minhas preocupações haviam ido embora...

••

Acordei com o barulho quase infernal do meu celular despertando. Em algum momento da noite, vim parar no meu quarto, mas não me lembrava de tal ocorrido. Meu pijama estava um pouco amassado, porém nada alarmante. Fui para o banheiro, tomei um banho rápido e procurei alguma coisa usável na minha mochila. Por fim, acabei preferindo uma calça jeans clara, um All Star de estrelinhas e uma blusa azul. Como lá fora parecia estar frio, acabei complementando meu visual com um suéter da mesma cor, luvas e um cachecol. Droga! Odeio quando ocorrem essas mudanças de tempo repentinas.

Desci as escadas calmamente, até ver que a casa estava praticamente vazia, a não ser por uma mulher que fazia algo no fogão. A cumprimentei e sentei no balcão, com minha mochila já em costas. Como a casa dos Malfoy era próxima a escola, eles não tinham que seguir o mesmo cronograma que eu.

Quando eram sete e quinze, comecei a me desesperar e entendi que a casa estava realmentevazia. Scorpius não tinha acordado simplesmente porque... bem, isso era algo que teria que descobrir quando o vesse.

Deixei minha mochila na cadeira e subi as escadas de dois em dois degraus. Só na metade do caminho que realmente fui lembrar que não sabia exatamente onde era o quarto que estava procurando. Mas, por fim, a sorte ficou do meu lado e nem foi tão difícil de identificar devido ao fato da porta ter um pôster enorme de um time qualquer de basquete.

Bati na porta e, assim que notei que não receberia resposta, abri a porta lentamente. Diferente do que pensava, o quarto não era tão bagunçado. Admito que achei umas roupas no chão, mas acho que eram só as que ele usara ontem pro jantar. Isso me fez pensar com qual roupa ele dormiu, coisa que não dava pra ver agora pois todo seu rosto estava coberto com exceção apenas da cabeça.

— Scorp. — sussurrei o balançando de um lado pro outro com delicadeza. — Scorpius. — aumentei a velocidade dos movimentos e ele mal se mexeu.

Por fim, peguei um dos travesseiros que estavam sobre a cama e bati com força em sua cabeça. Claro que, como qualquer humano, ele se levantou um pouco transtornado. Entretanto, quando ele se levantou, eu que perdi um pouco a noção das coisas mundanas.

Céus, você tem que ver os bens que o basquete pode fazer pra um cara como Scorpius. Não saberia definir bem como era sua fisionomia, porém poderia facilmente comparar com a de uma daquelas esculturas medievais dos deuses gregos.

— Gosta do que vê? — questionou com seu típico sorriso de lado.

— Você tem pouco mais de meia hora pra se arrumar antes que eu volte aqui e chute a sua bunda, Malfoy.

— Pra isso você teria que entrar no banheiro e, juro por tudo que é sagrado, eu não sou habituado a tomar banho de roupa.

— Eu tenho minha forma própria de jogar.

Quando desci, ainda fiquei o esperando por, mais ou menos, uns quinze minutos. Assim que ele terminou de se embelezar, fomos diretamente para o carro sem trocar nenhuma palavra. O mais impressionante é que, ao invés da maioria dos nossos silêncios passageiros, esse durara até metade do caminho.

— Hoje tem treino do time de basquete. Onde você vai dormir hoje?

— Na casa da Domi. Os parentes dela devem ter saído já.

— Isso é bom. Gosto de você com ela, parecem ser realmente amigas.

— Corrigindo, ela é tudo que eu tenho.

Tinha. — me deu um daqueles sorrisos abertos que me fazia querer rir junto.

— Não seja tão pessimista. Duvido muito que ela venha a me abandonar porque resolvi dormir na sua casa por causas totalmente profissionais. — bufei, tentando defender meu ponto de vista.

— Não falo por isso, ruiva. Agora você me tem.

Olhei profundamente para os olhos acinzentados de Scorpius, que apenas continuava olhando para a rua. Era como se nada fosse mais importante do que manter os olhos naquela rua cinza e sem graça, mas que de repente parecia... um lugar importante. Não pelo fato de ser o lugar onde passava desde sempre para poder chegar na escola, e sim pelo que acabara de ouvir. Estaria eu me tornando mais estúpida?

— Você também. — sussurro, um pouco relutante.

— Eu o que?

— Pode... contar comigo.

Vi um sorriso se espalhar pelo seu rosto, e seus braços passarem sobre meus ombros em um meio abraço. Tudo parecia estar em paz...

••

— Qual é seu problema? — a voz nem um pouco aveludada de Dominique.

— O que eu fiz agora?

— Você dormiu na casa de um cara que faria nossa casta prima Molly abrir as pernas e nem me avisa, sua fodida?

Revirei os olhos, deixando bem claro que o uso de xingamentos nem um pouco bem escolhidos. Claro que tudo que ela queria era apenas ouvir sobre as fofocas mais quentes porque, mesmo sendo uma punk problemática, ainda era uma abelha e as fofocas seu mel.

— Os Malfoy resolveram se apiedar da minha pobre alma sem lugar pra ficar.

— Vocês se conhecem há quanto tempo? Duas semanas?

— Oito meses, Domi, oito meses. Não que tivéssemos arrumado muito contato nesse meio tempo, mas ao menos tivemos tempo o suficiente para termos um mínimo de intimidade.

— Céus, você nasceu com a bunda virada pra Lua, sabia? É quase injusta essa sua sorte.

Sabe quando uma situação é simplesmente difícil demais para ser entendida por alguém que não a enfrenta? Esse era o buraco do meu elo com a Domi: ela poderia saber que eu odiava o cassino, mas nunca entenderia o motivo pra tal aversão. Afinal, a loira jamais estivera realmente sozinha, sempre tinha um dos pais em seu pé para fazer as tarefas, ou mesmo não esquecer de tirar as roupas do chão do quarto.

Foi quando olhei de soslaio para Fred Weasley II, o nosso primo mais engraçado. Não sei bem se a parte engraçada nele era sua habilidade para sempre levar as coisas para o lado positivo, ou mesmo seu jeito tão... dele de ser.

— Eu estou saindo com ele.

— Quem? Fred?

— Não, Teddy. — revirou os olhos de forma irônica, fazendo uma careta logo após. — Claro que é com ele, otária.

Teddy, o namorado de Victoire era nosso alvo principal de zoeira. O cara poderia ser o cara mais sedutor de toda Hogwarts, mas, aparentemente, preferia um estilo mais exótico com seu cabelo azul e o piercing nos mamilos. Claro que o cara de começo não foi muito aceito pela família — principalmente Louis, que quase partiu pra agressão direta, mesmo sendo uns três anos mais novo.

— Isso não é meio que incestuoso?

— Lucy está namorando aquele Zabini, e nem por isso está praticando zoofilia.

— E é por isso que você é minha melhor amiga. — atravesso seus ombros com a mão e sorrio genuinamente.

As coisas estavam simplesmente boas demais...

••

Eu sabia que nada na minha vida pode ser agradável por um período maior do que o de três horas. Bufei, tentando fazer com que aquele vestido branco não me deixasse parecendo uma palmitona de um metro e meio, e ao mesmo tempo tomando cuidado para não suar com o esforço e acabar estragando a obra de arte — vulgo, maquiagem — da madrinha Gina.

Cá entre nós, sempre achei a escolha do meu pai de fazer do tio Harry meu padrinho mais sensata do que a da minha mãe de fazer Luna a minha madrinha. Agora, além de eu ser uma aberração ruiva da cara cheia de sardas estúpidas, ainda tinha que aguentar o fato de ter quatro pessoas para ficar encima de mim, e de todos meus pretendentes possíveis.

Aparentemente, logo hoje, Rony Weasley havia decidido fazer uma surpresa pra sua filha, coisa que ele não fazia há... uma vida inteira? Não querendo duvidar de seus esforços — mesmo sabendo que ele não fez nenhum —, mas não acredito que esse encontro seja meramente para me dizer “Feliz sete aniversários atrasados! Prometo que vou no nascimento do seu terceiro filho. Só me perdoe, claro, se me atrasar e acabar chegando só no aniversário de cinco anos do menino, mas você sabe como é o trânsito aéreo hoje em dia”.

Olhei mais uma vez no espelho, conferindo se meu cabelo não havia saído da presilha. Por sorte, estava como das últimas dezessete vezes que fiz a mesma coisa. Andei um pouco em círculos para me garantir de não acabar caindo da escada e passando uma vergonha na frente de toda a sociedade importante de Londres. E, claro, isso também incluía meu adorável padrasto e minha mãe, o típico casal estranho. Ele era sério, impassível, e jamais parecia rir na vida. Ela, por outro lado, transbordava vida, inteligência e não deixava de ter aquele... ar de mãe. Entretanto, minhas teorias apontavam que ela só era assim porque, bem, havia me parido.

Minha decisão havia sido ir no carro com Dominique, Teddy, Louis e Scorpius — que, de acordo com minhas fontes mais recentes, era amigo de ambos os garotos. Victoire, por sua vez, havia preferido ir com Lily, Molly e Lucy, coisa que deve ter sido muito difícil de passar pela aprovação de seus pais.

No caminho, fui brincando com um jogo qualquer no celular de Scorpius, com ele discutindo sobre as melhores estratégias ao meu lado. Quando chegamos ao nosso destino, precisei de ajuda para descer do carro sem mostrar minha calcinha. Droga de sociedade e suas festas tão sociáveis.

Assim que olhei para a porta, vi aquele par de olhos verdes tão familiares me assombrando, como se seguisse meus passos.

James Sirius Potter estava na minha frente.

Meu coração gelou, podia sentir a palma das minhas mãos gelando, e minha respiração se tornara rarefeita. Céus, que merda estou fazendo aqui? Ou melhor, qual é o problema dos meus pais em permitir tal coisa? Já tinha começado a me arrepender de esperar que o dia fosse ter alguma dose de perfeição.

— Hey, o que aconteceu? — questionou Scorpius, segurando meu braço de forma protetora.

— Erm... nada. Vamos entrar. — o puxei pelo braço que estava cruzado com o meu, tentando não tropeçar no meu próprio salto.

— Olha, eu sei que é meio que uma má hora, mas saiba que esse fim de semana um olheiro vem ver meu jogo. Gostaria que você estivesse lá.

— Oh, claro. Qual é a faculdade em questão? Não se é muito comum universidades em Londres que deem bolsas para esportistas.

— Isso, talvez, porque não seja pra uma faculdade britânica...

— O que você quer dizer com isso?

— Eu vou pra Princeton, Rose. Nos Estados Unidos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixem suas opiniões para melhorar a fanfic, ok?
XOXO, Mayy