Contos Que Eu Invento Quando Estou Com Vontade escrita por Amgis Carlus


Capítulo 2
Afogado - Parte 1 – Amante da Solidão




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Não sou alguém sociável. Já fui um dia. Talvez as decepções tenham me tornado assim. Sinceramente, não me lembro da última vez em que tomei a iniciativa para falar com um desconhecido, principalmente se fosse uma garota. Eu sempre achei que receberia um não ou um olhar estranho e que seria julgado. Por isso não me aproximo de mais ninguém. Quem eu já considero meu amigo, que alias, é apenas uma pessoa, eu converso e ajo normalmente. Fora isso, eu ignoro, desprezo, maltrato e faço o máximo para manter todos longe de mim.

Ás vezes aparece um que não se importa com isso. Que parece gostar disso. A pessoa toma a iniciativa e tenta se aproximar de mim. Só que ao ver com o que ela está lidando, ela rapidamente se afasta e, claro, mantém as outras pessoas que ela conhece, afastadas de mim também. Só que uma vez a cada um longo tempo, aparece alguém que aparenta se importar mesmo e que não desiste por qualquer motivo. E isso aconteceu comigo também. E o pior é que foi uma garota que fez isto.

Eu agi como eu sempre fazia. Entrei na sala de aula, sentei em minha cadeira no canto da sala e fiquei escutando música. Ninguém olhou para mim e nem eu para ninguém. Fiquei ali como sempre e quando deu o intervalo, eu saí e foi a mesma coisa: ninguém olhou para ninguém. Mas quando voltei, havia algo diferente: Uma garota estava sentada na carteira, onde anteriormente, eu estivera sentado. Eu logo percebi que aquilo era uma afronta. Mas nem dei importância. Fui para outro canto e continuei com meus fones no ouvido.

No dia seguinte, eu cheguei e olhei para o canto onde normalmente costumava ficar. Lá estava ela de novo. Tudo bem. Fui para o outro canto da sala. Quando voltei do intervalo, ela agora estava no outro canto da sala, onde eu estivera sentado mais cedo. Aquilo já começou a me incomodar. Eu percebi que havia alguma coisa acontecendo. Alguma armação ou algo parecido. Então nem perdi meu tempo. Saí da sala e não voltei mais naquele dia.

No dia seguinte, quando entrei na sala, lá estava ela novamente no meu lugar. Fui para o outro lado da sala como no dia anterior e quando deu a hora do intervalo, eu não saí da sala. Até porque não havia motivos para eu sair mesmo. Tudo o que eu fazia no intervalo todos os dias era andar sozinho pela escola passando em frente a todos, mas sem falar com ninguém. Então não havia motivo para eu sair da sala mesmo. Por um momento, achei que havia tomado a melhor decisão e que eu deveria ter feito isto há muito mais tempo. Só que aí veio o pior. Todos saíram da sala, exceto ela. E com isto, ela não desperdiçou a chance: Foi para onde eu estava sentado.

“Oi”

Eu estava com os fones no ouvido. Assim fingi que não havia ouvido. Ela repetiu o ‘oi’ mas eu continuei sem responder. Com isso, ela apelou para sua segunda artimanha. Escreveu num papel e o pôs em cima da minha mesa.

“Oi. Meu nome é Loriety. Qual o seu nome?”

Sem me mexer, apenas movendo os olhos, li a frase. Depois olhei para ela. O rosto era bonito, o corpo também. Cabelos pintados de prata com olhos verdes, pouca maquiagem, sem nenhum acessório chamativo. Só podia ser mentira. Provavelmente ela apostou alguma coisa com as amigas dela, perdeu e elas a jogaram para cima de mim. Mas eu não iria cair nessa. Depois de cinco segundos vendo seu rosto, fechei meus olhos e voltei a me concentrar em minha música.

Só que os golpes ainda não haviam acabado. Ela escreveu uma segunda frase no papel.

“O que achou da minha aparência? Aliás, você é um lindo garoto.”

Nossa como eu ri daquilo por dentro naquele momento. Realmente ela era uma atriz. Mas logo depois, uma raiva subiu em mim. Porque ela estava ali? O que ela queria de mim? Porque logo eu? Eu sempre ficava quieto em canto sem perturbar ninguém. Porque ela tinha que me perturbar? Com isso, antes que eu acabasse caindo no jogo dela ao demonstrar essa reação de nervosismo, peguei minha mochila e saí da sala. Quando estava na porta, pude ouvi-la gritar, mas fingi que não havia ouvido.

“É um prazer conhecê-lo!” – Foi o que ela gritou.

Que garota impertinente! Porque entre todas as pessoas, ela tinha escolhido logo a mim para fazer aquilo? O que havia de errado comigo? Aliás, o que havia de errado com ela! Tinha que ser armação. Não havia como aquilo ser algo natural.

Ao chegar em casa, me olhei no espelho. Meu óculos estava meio torto, meu cabelo estava grande, despenteado e era castanho escuro. Meu rosto tinha espinhas e minhas roupas já estavam um pouco velhas. Isso tudo sem contar a minha postura, que era parecida com a de um corcunda praticamente... É. Realmente era armação. Não havia como uma garota achar um garoto assim bonito. Não havia mesmo. Mas eu não estava nem aí. Aquilo não iria dar certo. Não comigo. Assim, abri um sorriso sarcástico, deitei em minha cama e fui para o computador.

No dia seguinte, não fui a escola. Aliás, fiquei a semana inteira sem ir. Meus pais pouco se importavam comigo, então nem ligaram. Para eles, eu poderia virar bandido, serial killer, o que fosse. E eles não diriam nada. Então não tive problemas.

Na semana seguinte, como eu me importava um pouco ainda comigo mesmo pelo ao menos, voltei a ir para a escola. Achei que as coisas teriam voltado ao normal e que meu lugar estaria disponível, como sempre esteve antes de aparecer àquela garota idiota. Mas quando entrei na sala e olhei para o canto, que antes era meu lugar preferido para ficar, lá estava ela novamente. Por um momento, fiquei com muita raiva, mas no instante seguinte, suspirei e fui para o outro lado da sala. No intervalo, eu saí como sempre fizera antes. Quando voltei lá estava ela no lugar onde eu estava sentado antes. Só que aí, veio o meu golpe. Eu sorri sarcasticamente e meus olhos brilharam, pois, se ela estava no lugar onde eu estava mais cedo, isto significava que meu lugar antigo estava livre. E como ela não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, eu havia vencido. Com isso, fui para o meu lugar de sempre. Mas só deu para sentar. Antes que eu pudesse saborear aquele lugar novamente, o professor estava na minha frente, me encarando.

– Esta garota disse que você está sentado no lugar dela. Por favor, vá para o seu lugar.

Como é? Lugar dela? Este é o ‘meu’ lugar. Aliás, porque está do lado dela? Você sempre me viu sentado aqui. Porque isto agora? Só podia ser um jogo mesmo. E realmente esta garota conseguira me irritar. Mas eu ainda não havia desistido. Eu saí apenas do meu lugar, que era ‘meu’ mesmo, e não dela, e fui para o lugar onde ela estava sentada antes. Se este era o plano dela para poder ter algum contato comigo, que pena. Ela havia fracassado. Ah, como eu sorria de felicidade por dentro. Poderia dizer que por dentro, eu estava brilhando de tão feliz que estava naquele momento. Mas só durou um momento mesmo. Porque logo depois, veio a minha queda.

– Irei passar este trabalho em duplas. As duplas serão: Amgis e Loriety...

Ai caramba. Nem consegui ouvir o resto. Ao ouvir aqueles dois nomes juntos, eu não pude ignorar. Olhei para o lado e vi o sorriso sarcástico dela em minha direção, do mesmo tipo do meu. Do tipo “Eu venci”. Eu pensei em recorrer no fim da aula, em falar que eu faria sozinho como sempre fiz meus trabalhos, mas aquele professor maldito estava municiado.

– Só irei aceitar os trabalhos que forem feitos em dupla. Quem fizer sozinho, mesmo que faça tudo certo, ganhará zero.

Maldito professor. Maldita garota. Agora eu realmente tinha certeza de que era tudo armado. Só que aí é que estava um detalhe: Eu era um vagabundo. Fazia apenas os trabalhos que eu queria. E aquele ali eu poderia muito bem ficar sem fazer. Só que mais uma vez, aquele cara tinha mais um veneno ainda para jogar.

– O valor do trabalho é a nota do bimestre. Ou seja, quem tirar zero, ficará com zero no bimestre, e um bimestre com zero numa matéria, significa reprovação.

Maldito! Ah, como eu queria matar aquele professor. Ele realmente, aliás, ela, pois só poderia ser obra dela, realmente havia pensado em tudo, em cada detalhe. Ao perceber que realmente não havia outra saída, não tive escolha. Vi que iria ter que fazer realmente o trabalho com aquela garota e entrar na droga do jogo dela.

1 x 0

Mas tudo bem. Eu ainda teria minha revanche. Mesmo que isso acabasse machucando aquela garota.


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