Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 9
Sombras




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587173/chapter/9

Piltover, naquele momento…

Orianna Reveck estava de frente para a sala com todas aquelas máquinas estranhas que Brandon construíra durante seu período como professor da Universidade de Piltover. Ela visitara aquele lugar uma ou duas vezes, mas nunca se preocupou em entendê-las até aquele dia. Seu pai, Corin, gostava mais de tecmaturgia do que ela própria.


Tudo que ele fazia a empolgava. Desde a teoria da viagem no tempo até a Ilha da Doran, embora a criação favorita dela fosse a Liga. A Liga era perfeita em todos os aspectos. Apenas os mais fortes competiam, e mesmo com as batalhas ferozes que eles travavam quase todos os dias, eles eram amigos (a maioria deles, pelo menos). Talvez um dia, ela sonhava, fosse forte o suficiente para orgulhar o Instituto e Piltover como uma campeã.


– Algo a aflige, criança? – Ela ouviu Heimer perguntar, sem notar sua aproximação. O topete do yordle foi a primeira coisa que ela viu ao olhar para baixo. O topete que Brandon antigamente se preocupava em imitar. Uma das muitas coisas que o cientista favorito dela deixara para trás.


Heimerdinger ainda tinha o hábito de chamá-la de criança, embora ela estivesse crescida. Ela já era maior do que ele desde os três anos de idade! Ainda assim, o yordle favorito de Piltover (o que ela dizia bem longe de Ziggs ou Corki) era muito respeitado não só por Orianna como por praticamente todos os habitantes da cidade. Até Jayce, com aquele jeitão gostava de Heimer talvez menos apenas do que do próprio reflexo.


– Essas coisas que estão dizendo sobre Brandon, são mentiras, não são? – Ela perguntou, deixando transparecer toda a sua preocupação.


– Se você me perguntasse se eu acreditava que ele viajou no tempo, se casou com uma bruxa gélida, criou um dispositivo com o poder de destruir o mundo como conhecemos e contraiu uma rara doença temporal, eu diria que não. Veja como as coisas são. – Ele explicou, entrando no escritório e mexendo em alguns dispositivos que estavam ao seu alcance. – Se ele é o responsável por isso, se ele enlouqueceu, não importa. Ele sabe que um cientista nunca deve deixar de reconhecer suas próprias invenções.


– Porque é isso que nós, de Piltover, fazemos? – Ela arriscou uma resposta, com o lema de Brandon, fazendo o Yordle ficar um pouco triste, largando o aparelho que tinha em mãos e se dirigindo para a saída.


– Venha comigo. – Ele falou, simplesmente.


Os dois andaram até fora dos limites da Universidade, passando pela bela ponte e pelo rio, cujas margens outrora abrigaram os trabalhos que Doran fazia para quem quer que pedisse. Andaram praticamente por toda a Piltover até chegarem no cemitério próximo ao portão da cidade. O portão onde Brandon ficara esperando os pais voltarem durante anos.

Heimer a conduziu até um lugar especial do cemitério onde haviam dois túmulos praticamente juntos. A frase se completava entre os dois “Porque é isso que”;“nós, de Piltover, fazemos”. Então, ela se voltou para os nomes: “Isaac Beck” e “Lisanne Beck”.


– São os pais dele? – Perguntou, espantada, vendo o yordle assentir com a cabeça.


– Eu nunca perdi os meus para saber o que se passa na cabeça dele, mas posso te garantir que desde o dia em que ele aceitou a morte deles e me pediu para construir isso – Ele apontou para os túmulos – ele nunca mais foi o mesmo.


– Professor Heimerdinger! Professor Heimerdinger! – Caitlyn, a xerife de Piltover, apareceu repentinamente, ofegante, entregando diretamente nas mãos do yordle um pequeno tablet. – Nós temos problemas.


– Impossível. – Ele murmurou, vendo o conteúdo da tela, antes de ficar aterrorizado. – Dê o código vermelho. Evacue todas as pessoas o mais rápido possível. Todos para os abrigos! Não deixe um de fora. Orianna, minha criança, você deve ir.


– O que está acontecendo, professor? – Ela perguntou, insegura. Nunca tinha visto Heimerdinger daquele jeito.


– A Ilha de Doran lançou um ataque contra nós. Piltover vai ser destruída.

–-----


– Você pode levantar? – Eu ouvi uma voz perguntando, em meio ao barulho de diversos disparos. – Sério, eu não posso segurá-los para sempre.


Tentei abrir os olhos. Meu corpo inteiro estava dormente, embora aquele barulho me ajudasse um pouco a cair na realidade. Eu conhecia a sensação de outras épocas. Bem o suficiente para saber que tinha acabado de ressuscitar.


A sensação não era boa, ainda mais quando você acorda diante de um centauro demoníaco, um monstro verde com correntes, um rei metálico com uma clava e uma mulher azul que você via e então não via, em um ciclo infinito de aparecer e desaparecer. Para piorar, a única coisa entre mim e eles era agora um homem de sobretudo branco.

Não que ele fosse ruim, seus tiros realmente os repeliam. Ele usava duas armas: Uma negra e uma branca. A propósito, o design daquelas armas era diferente de qualquer coisa que eu já tivesse visto. Não eram muito… tecnológicas, e sim mágicas. Ele disparou uma saraivada final de tiros enquanto gritava “Isso acaba aqui… por enquanto”

– Ainda deitado? Vamos logo. – Ele agarrou meu braço enquanto corria, praticamente obrigando minhas pernas a se mexer, ainda que eu não as sentisse. – Oh, droga.


Eu não sabia o motivo dele falar “Oh, droga”. Por mais que estar em um lugar daqueles realmente fosse uma droga, eu sentia que o motivo não era apenas aquele. Então eu os vi. Esporos. Esporos no céu, lançados em nossa direção. Duvidava muito de que adiantasse prender a respiração contra aquele tipo de ataque.


– Malditos sejam, se segure. – Ele se agarrou em um cipó, praticamente atravessando uma fenda no meio da ilha. Caí na outra metade, com uma vontade de vomitar. Meu salvador não me daria tempo para isso. – Vamos! Vamos!


E corremos até que eu desejasse voltar para as aulas de educação física em Piltover. Ou só de física. Sentia falta de ser bom em alguma coisa. Enfim, entramos em uma caverna com a entrada praticamente coberta de musgos. Musgos cinzas, não verdes.


Não tive tempo de me sentir seguro ou de analisar a caverna que o homem tinha transformado em um tipo de casa ou base. Não quando centenas de vozes ameaçavam explodir a minha cabeça. Caí de joelhos no chão de pedra, com as mãos nos ouvidos, tentando detê-las. Era impossível, elas vinham de dentro, todas de vez. Todas ecoando.


“Meu, meu”;“Não pode escapar”;“Devia ter sido você”;“Que mundo sujo”;“Minha culpa, minha”;“Ele vai voltar”;“Não, as sombras não”;“Aranhas”;“Brandon, você fez isso, você fez isso”.


– Ei, você está bem? Droga, eles te pegaram. – Pude ouvir a voz dele vindo de fora. Quase como uma luz me puxando para fora das sombras que me consumiam, mas não tinha luz o bastante. Eu as ouvia, tão reais. Me faziam querer morrer.


– Me perdoe. Não fui eu. Não foi minha culpa. – Agarrei os braços dele com força, sem realmente vê-lo. – Eu tentei salvá-lo! Eu tentei, Marc!


Então, a imagem dele apareceu em minha mente. Do jeito que eu me lembrava dele. Poucas roupas da cintura para cima, apenas alguns velhos pedaços de armadura. A longa barba e a espada que Doran havia feito para ele:


– Hahahaha. – A imagem riu exultante. – Tentou? O que você fez além de trazer aquele monstro para o nosso mundo? O que é você? Quem lembrará o seu nome?


Então, uma a uma, as imagens apareciam. As pessoas com quem um dia me preocupei, todas queriam me matar porque eu condenei cada uma delas a morte. Era apenas justiça, como eu poderia culpá-los?


– Uma decepção para sua cidade. Como ousa dizer que é um cientista? Ninguém sabe quem é você. – Heimerdinger e Ofelia balançavam a cabeça, desapontados, tendo por plano de fundo os túmulos de Piltover. Orianna; Jayce; Vi; Caitlyn; Jinx, todos mortos. Lentamente, os dois também se desintegravam em cinzas.


Eu o vi, entre os espectros conhecidos que gritavam insultos e zombarias. Estendi minha mão na direção dele enquanto era derrubado pelas almas errantes.


– Doran, me ajude! Me ajude! – Implorei para o garoto, que segurava uma de suas invenções. A espada de Doran.


– Por que? – Ele perguntou, com um rosto sinceramente confuso. – Você não foi capaz de me salvar. Você é um nada, tão vazio quanto o seu legado.


Ele enfiou a espada em minha coxa. Abri os olhos. O homem havia atirado na mesma coxa com a sua pistola branca. A luz havia me alcançado. Eu estava suando, e a dor da perna não se comparava com o que eu havia passado:


– Obrigado. – Falei, um pouco envergonhado, sabendo que ele ouviu tudo que eu tinha gritado. – Agora você me salvou duas vezes e ainda não sei o nome.


– Lucian. – Ele falou, aliviado por eu estar vivo. – Ei, sua ferida!


Eu olhei para a minha coxa que cicatrizava secretando gosma verde e sorri. Ainda era bom em alguma coisa. Ainda tinha algum trunfo naquela batalha.

– Lucian, significa “nascido com a luz do amanhecer”. – Sorri como se tivesse contado uma piada muito engraçada e estivesse orgulho de mim mesmo. – Meu nome é Brandon. Brandon Beck.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Before - League of Legends II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.