Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 8
Fortune




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Noxus, naquele momento…

– A Grande Barreira, Guerra Rúnica do Terceiro de Akhet, Guerra Rúnica do Primeiro de Shemu, Regnald Ashram… Kalamanda. Como algo assim aconteceu? Quem, quem poderia ter organizado algo assim? – O general Du Couteau sussurrava consigo mesmo enquanto fazia anotações frenéticas e conferia dados ao mesmo tempo.


As datas não tinham muito em comum entre si, mas os acontecimentos batiam. Ele precisava mostrar aquilo para alguém antes que fosse tarde. Pegou uma das pulseiras eletrônicas que projetavam telas, mas o sistema estava completamente fora do ar. O Instituto estava incomunicável.


Levantando-se da poltrona ao lado da lareira com os papéis em mãos, ele se dirigiu para a porta dupla de madeira, quase girando sua maçaneta. Quase.


– Tsc, tsc. Que desperdício, general. – Uma voz feminina sussurrou das sombras do cômodo, próxima das janelas. Sua capa, nas sombras, confundia-se com as cortinas. – Nunca te achei particularmente inteligente, ainda assim, suponho que devo te parabenizar. Você descobriu tudo.


– Acha mesmo que as pessoas vão deixar isso acontecer? Que as coisas vão ser do jeito que vocês querem? – Ele questionou, enquanto tentava abrir a porta, agora magicamente selada. A magia dela era muito forte.


– Quem vai nos impedir? – Sua voz era debochada e infantil ao mesmo tempo, embora ele suspeitasse que apenas a ironia mantinha aquele deboche. – Aquela sua filha do Instituto? Ou talvez, sua outra filha, a deformada. – Ele ouviu a gargalhada na escuridão, enquanto cerrava os punhos em ira. – Já sei! O homem do ano: Brandon Beck. Não, acho que esse já está morto.


– Vocês mataram Brandon Beck como mataram Regnald? – Perguntou, espantado, enquanto se afastava da porta com passos curtos. Ganhar tempo era essencial.


– Hahaha. O bom e velho Regnald, não é? Não matamos nenhum dos dois, sabe? Mas se fosse conveniente, nós teríamos feito. Se ele tivesse se aproximado tanto da verdade quanto você…


– Certo, certo. Vocês realmente são capazes de qualquer coisa. Até fizeram uma aliança com Viktor. – Ele pegou uma faca escondida nas costas da poltrona.


A mulher saiu das sombras, revelando o seu rosto, para o espanto de Du Couteau. Ela. Tudo fazia mais sentido. Não importava quanto tempo se passasse, ela sempre tinha aquele rosto.


– Eu não diria que foi uma aliança. Huhuhu. Você devia ver o que ele está fazendo em Zaun. Daremos um jeito nele depois também.


O general gargalhou, encaixando a faca na mão, longe do olhar dela. Com a outra mão, coçou a barba branca. Só teria uma chance de pará-la ali e apagar aquela mancha da história gloriosa de Noxus. Assim que ela ergueu o cajado, Du Couteau levantou a mão que segurava a faca, arremessando-a precisamente na testa da bruxa.


Quando o corpo caiu sem vida, ele respirou aliviado. Ainda assim, sentia algo de estranho. Na área do peito talvez. O que era aquilo? Olhando para baixo, ele viu o símbolo da família Du Couteau. O símbolo que eles gravavam, sobretudo, em suas facas mortais. Suja de sangue por ser cravada em um corpo humano. Seu sangue e seu corpo.

– Como… - Balbuciou, com o sangue escorrendo da boca para a barba, sem entender o que acontecia. O cadáver da bruxa ainda estava inerte no chão, até se desfazer diante de seus olhos.

– De fato. – Ele ouviu o que seriam as últimas palavras que ouviria. A voz infantil da bruxa demonstrava tédio. – O mundo é muito diferente para aqueles que não conseguem ver além do que é colocado a frente dos seus próprios olhos.

E tão rapidamente quanto surgiu, LeBlanc partiu, sem sequer se deliciar com o assassinato, deixando o corpo sem vida do general para sua filha, Katarina, encontrá-lo pela manhã, bem como ver o escritório do jeito que sempre esteve. Exceto pelas anotações do general, que agora alimentavam o fogo da lareira. Ele fracassou. O mal venceu.

–--------

Parece que foi ontem que eu discutia com Ofelia e Doran a possibilidade de Marc Tryndamere ser inocente. Eu tinha uma teoria muito boa sobre onde ele teria sofrido o controle mental que o levara a nos atacar. Teria que ser o tipo de lugar onde só um bárbaro imortal entrasse sem muita dificuldade. Um lugar que só permitiria que os fortes sobrevivessem. Um lugar durão, sombrio, assustador. Ah, e tinha que ter aranhas gigantes. Checado, checado, checado. Ah, e checado. Foi assim que a Ilha das Sombras nos saudou.


– Ionianos, piratas, fantasmas e agora aranhas. Eu realmente odeio você. – Riven falou, com seu rosto de fúria parcialmente oculto pela névoa. Eu podia ver diversos outros vultos lutando contra as aranhas ao meu redor. E também o grito de dor daqueles que falhavam.


– Podia ter sido muito pior. Já ouviu falar de um lugar chamado Icathia? Eu morri lá uma vez. – Retruquei, chutando para longe uma aranha um pouco maior que uma bola de basquete.


– Homenx, continuem atirrando! Atirrem! – Eu ouvi Gangplank gritando à distância. Aparentemente, todos estavam com problemas.


Eu não saberia dizer quanto tempo a peleja durou, mas foi certamente um dos maiores massacres da história. Para ambos os lados. Para onde se olhasse podia ver, piratas caídos com feias marcas de mordida e sangue. Muito sangue. Riven e eu continuávamos vivemos, pelo menos. Até onde eu podia vê-la, não aparentava ter sido mordida.


– Como ouxa tocarr em mim, xua maldita?! – Gangplank exclamou, poucos minutos após o término do combate. Conforme a névoa do Tormento se dissipava, deixando apenas a névoa tradicional do lugar, eu podia ver a mulher ruiva apontando uma pistola para o pirata, agora amarrado em uma árvore cinza. Todas as árvores daquele lugar tinham que ser cinzas?


Minhas decisões nem sempre são bem pensadas. Eu aprendi, do pior jeito, que pensar nem sempre é o melhor jeito de fazer as coisas. De vez em quando, você só precisa agir:


– Não! – Intervi entre a pistola da ruiva e o pirata amarrado, com os meus braços estendidos. Todos me olharam como se eu fosse louco, talvez eu seja. – Você não pode matá-lo!


– Você tem alguma ideia do que esse homem fez? Saia da frente! – A ruiva exclamou, enquanto tentava conseguir um ângulo para acertá-lo.


– Eu te prometo que ele vai pagar pelo que quer que tenha feito, mas não desse jeito! O Tormento acabou e precisamos pensar em como sair daqui, todos nós… - Fiz uma rápida contagem antes de me desapontar. – Cinco.


– O Tormento não acabou. – A mulher de cabelo preto que havia nos atacado nos destroços do navio falou. – O Tormento não acaba até que todos estejam mortos.


Olhei para Riven, em parte esperando por uma solução. Ela provavelmente era a favor de matar Gangplank e as duas. Ok, ela provavelmente também queria me matar depois de tudo que precisamos enfrentar por minha causa. Suspirei, procurando desesperadamente por um plano. À medida que meus olhos desviavam, eu conseguia ver algo incomum entre as árvores. Um brilho.


– A menos que possamos sair daqui antes. – Coloquei a mão na frente do cano da pistola dela, abaixando-a. – Por favor.


– Não temos um navio e os seres mais sombrios do mundo provavelmente estão vindo nos matar. – Riven interveio. – Qualquer coisa parece ser melhor do que isso. Você tem alguma ideia?


Assenti, me afastando deles, em direção ao brilho. Cada passo que eu dava na terra fazia um barulho estranho, era quase impossível passar sem pisar em pessoas ou aranhas mortas. Então eu a vi. Metálica, em formato de coroa circular. Linda tal qual sua primeira versão ou a versão final, a que quase me matara. Minha Dobra Dimensional construída pelas mãos de Kristofer.


Toquei lentamente a sua superfície, fechando os olhos enquanto as lembranças afloravam. Não vívidas, como o cronodisplata que eu era teria, mas simplesmente lembranças. Percebi então que essa tinha sido a última base de Kristofer e Lissandra, antes deles se moverem para Shurima. E então, Icathia. Absorto em minhas contemplações, não percebi quando ela se aproximou de mim, até que meu ombro fosse tocado:


– As suas amigas foram reconhecer o território e fazer armadilhas, depois que você saiu vagando sem dar explicações, sabe? – A pirata me falou, sentando-se em uma cadeira próxima. Kristofer e Lissandra realmente tinham abandonado muitas coisas naquele pequeno acampamento. – Você não disse o seu nome.


– Brandon. Brandon Beck. – Comentei, sentindo algo estranho ao dizer o meu nome. Ele não soava mais tão familiar para mim, mas pela expressão em seu rosto ela com certeza o reconheceu sem fazer comentários. Me senti grato por isso.


– Eu me chamo Sarah Fortune. Ou Miss Fortune, como costumam me chamar. Olhe, obrigada por me impedir lá atrás.


Larguei o Cadinho de Mikael que estava analisando para olhar para ela. Não era apenas a primeira vez que alguém me agradecia em bastante tempo, ou o que parecia bastante tempo. Ela estava sendo sincera. Eu a tinha visto atirar em mais piratas do que já tinha visto alguém atirar pouco tempo atrás, mas ali ela estava, me agradecendo por impedi-la de atirar em um pirata.


– Não tem problema, eu acho. – Respondi, um tanto sem jeito. – Mesmo sendo uma pirata, você parece ser uma pessoa boa.


– Eu não sou uma pirata! – Ela protestou, irritada. – Eu sou uma caçadora de piratas. Então, como você vai nos tirar daqui?


– Eu desenhei toda a estrutura dessa máquina. Originalmente, ela serviria para viajar entre dimensões. Com sorte, posso transformá-la em algo que nos ajude. – Respondi, abrindo o console principal, com mais uma pequena lembrança de Icathia.


– Algo como uma máquina para viajar entre países? – Ela arriscou, esperançosa, me arrancando risos.


– Não sou muito do tipo engenheiro. É, eu sei, completamente inútil. – Expliquei, coçando a parte de trás da nuca. Meu cabelo não ficava tão ruim desde que estivera branco de cronodisplasia. Provavelmente, não era a pior parte.


– Sério? Eu tenho muita inveja de você. Digo, você fez coisas incríveis como a Liga e tudo que eu faço é atirar em pessoas. – Seu olhar se voltou para o chão, tristonha.


– Nunca é tarde demais para mudar de vida. A Academia de Piltover teria prazer em aceitá-la. – Sorri para ela, que me retribuiu o sorriso. A pessoa mais gentil comigo em uma ilha sombria estava sendo uma caçadora de piratas.


– Certo, tudo limpo. Vayne ainda está por lá. Sim, aquela nojenta que você me pediu para salvar se chama Vayne. – Riven surgiu por entre as árvores, reparando no acampamento tecnológico. – Vai me contar como sabia de toda essa… coisa?


– Não sabia. Tive um palpite. E você, quer me contar como fomos parar no Presságio da Morte?


– Aquela explosão nos jogou para cima, quando caímos, consegui segurar em uma daquelas coisas brancas e redondas. - “Módulos de fuga”, corrigi, enquanto imaginava a cena. – Enfim, consegui te pegar em pleno ar, mas aquele Warlock disparou um raio roxo contra nós e fomos perdendo altitude… Até cair no mar.


Fazia pouco tempo, mas quantas coisas eu tinha deixado para trás desde então? O Instituto, Ofelia, Doran, Sivir. Desconectei o alguns componentes do console. Talvez, se eu mandasse uma mensagem para Piltover, alguém pudesse nos resgatar antes do Tormento voltar. Infelizmente, mais uma ideia que deu errado.

– Ok, eles estão vindo! – Vayne trotou até nós, carregando um amarrado Gangplank enquanto uma risada sombria se intensificava ao nosso redor.

Os monstros brilhavam como fogo-fátuo. O primeiro deles era uma espécie de armadura centauro em posse de uma lança afiadíssima, seguido de uma armadura metálica que carregava uma grande maça com pregos de ferro pontudos. Por fim, hordas daqueles malditos fantasmas que nos encontraram no mar de Bilgewater.

O centauro avançou gritando “Esmaguem seus ossos!” antes de me acertar com a haste da lança, me fazendo ser jogado centenas de metros para frente até que uma árvore me parasse. Eu estava morto. E em breve, todos também estariam. Nós fracassamos. O mal venceu.


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