Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 19
Pureza


Notas iniciais do capítulo

Before - League of Legends já tem mais de um ano! É uma honra estar sempre conhecendo os meus personagens e introduzindo novos, assim como é uma honra ter vocês como leitores. Agradeço a todos os comentários e visualizações até aqui. A história é de vocês e para vocês. E que venham mais anos!



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Ao acabar de contar a história, Brandon se permitiu respirar. Tinha feito curtas pausas enquanto relembrava e contava tudo que aconteceu. O ambiente de Mt. Targon o deixava mais à vontade, mais tranquilo. E Leona ajudava muito naquilo:

– Me parece que vocês já têm um plano e não é isso o que você busca. – Leona comentou, com os cabelos ruivos radiando a luz do Sol, embora ela não se desse conta disso. – Você quer uma certeza de vitória, e isso, Brandon Beck, eu não posso te dar. Ninguém luta batalhas vencidas, a vitória só surge no final.

– Como a lua? – Ele arriscou, dando um sorriso com um olhar de soslaio.

– Eu deveria executá-lo por falar isso. – Respondeu, tentando parecer sombria enquanto contia o riso.

– Eu te contei a minha história. – Ergueu as mãos em defesa. – Quer me contar sobre ela? – Perguntou, antes de mover os lábios silenciosamente formando apenas uma palavra. – Diana.

– Eu realmente não acho prudente falar sobre isso. – Replicou, um tanto mais séria e preocupada. – Ela era simplesmente diferente de nós. Tanta raiva e escuridão acumuladas, eu não entendo. E não sei se quero.

Brandon assentiu, com a cabeça baixa. Tinha ouvido murmúrios dos guerreiros de Mt. Targon sobre a guerreira exilada por adorar a lua, e não o Sol. O que, naquele lugar, era uma grande heresia.

Mt. Targon era basicamente uma grande montanha cercada por outras grandes montanhas. No topo, uma pequena cidade brilhava radiante e, no centro da cidade, o maior templo que Brandon já tinha visto era erguido totalmente feito de ouro maciço. O símbolo dos Solari, uma águia ornamentada, brilhava imponente.

Tudo ali brilhava. Brandon não estranharia se começasse a brilhar também, contagiado pela maneira como o Sol se voltava para aquele lugar, como uma entidade senciente. Sentindo suas emoções e renovando suas energias, como uma bateria de 696.342 quilômetros de raio.

– Você sabe que eu vou tentar de novo, não sabe? – Ele questionou, suspirando diante daquela visão.

– Sim, mas foi muito bom te conhecer. – Falou, sinceramente, a guerreira solari. Durante séculos, o medalhão Solari de Ferro era cobiçado por forasteiros e nativos pelos mais diversos motivos. Durante séculos, todos morreram.

Ela mesma mal tinha sobrevivido a própria tentativa, anos atrás. Os espíritos ancestrais que protegiam o medalhão eram muito poderosos e exigiam uma qualidade muito específica do candidato: pureza. Ninguém nunca desvendou que tipo de pureza era requerida, mas aparentemente, ninguém a tinha.

Brandon ainda tinha calafrios, embora tivesse se acalmado enquanto contava a história. Ele quase não sobreviveu à experiência de tentar retirar o medalhão do seu altar. Leona o admirava por estar determinado a tentar de novo, mas tinha certeza de que, dessa vez, ele morreria como todos os outros.

Ele se levantou, batendo as mãos nas roupas para remover a terra. Com um sorriso triste, ela o acompanhou até a cidade do topo da montanha, onde encontraram Kristofer, Riven e Vayne, acompanhados de um soldado de Mt. Targon, encarregado de vigiar Kristofer: Pantheon.

– …Mas na verdade, eu queria ser um padeiro. – O gladiador contava, entre risos por trás do elmo, enquanto Kristofer revirava os olhos, Riven dava pequenas risadinhas e Vayne cochilava. – E vejam, companheiros, Leona e o guerreiro do cabelo preto.

– Eu não sou um guerreiro. Você não pode me chamar de outra coisa? – Perguntou Brandon, acenando para Riven. – Arauto oportuno da salvação bioenergética anti-homólogo de cabelo preto, por exemplo.

Pantheon franziu a testa: - O que isso significa?

– Não faço ideia. – O cientista deu de ombros. – Certo, se animem. Eu vou tentar pegar aquele medalhão de novo.

– Você vai morrer! – Riven exclamou, espantada.

– Ótimo! – Kristofer replicou com um sorriso de orelha a orelha. – Digo, boa sorte, nobre amigo.

Leona deu um olhar gélido para ele antes de se voltar para Brandon: - Tem certeza de que você quer fazer isso?

– Há outras maneiras de ganhar uma guerra! – Pantheon concordou vigorosamente. – Eu, por exemplo, costumo arrancar as costelas dos meus inimigos para construir harpas.

A guerreira Solari colocou a mão no rosto constrangida.

– Harpas? – Brandon falou, sem conter um sorriso. – Parece interessante, mas nós precisamos de um item lendário. A menos que queiramos ir em até…

– Floresta Kumungu.- Completou Kristofer.

– Oh, eu gosto da floresta Kumungu. – Riven admitiu, batendo palmas de felicidade.

– Bons leopardos. – O cientista concordou, olhando de relance para Leona. Ela conseguia vê-lo além dele mesmo. Sabia quão preocupado ele estava.

– Ainda assim… – Riven se lembrou, a felicidade repentinamente cessando. – Você vai tentar pegar o medalhão, né?

– Posso estar prestes a fazer isso. – Ele balançou a cabeça em concordância, piscando para a guerreira noxiana. – Não se preocupe. Eu tenho um bom plano.

Os seis, com Pantheon carregando uma Vayne adormecida, foram até o templo. A estrutura ficava afastada da cidade por ser aberta para qualquer pessoa. Diferente da cidade, ele tinha sido feito totalmente de pedra vermelha, embora mantivesse o símbolo da águia banhada a ouro.

Mesmo sendo espaçoso por dentro, ele não mantinha grandes esculturas ou decorações especiais. Tudo que o templo precisava para assegurar o próprio valor estava ali. O medalhão era o próprio símbolo da águia, o original segundo diziam, mais ou menos do tamanho de uma mão aberta. Mesmo em cima de um precário altar de barro, ele iluminava sozinho o interior do lugar.

Como da vez anterior, Brandon sentiu uma lufada de vento ao entrar no lugar. Ele não sabia se aquilo era uma saudação ou um aviso de “vá embora”, mas não tinha tempo para interpretar sinais do vento. Tinha que se lembrar da sensação da última vez e tentar não falhar nessa…

“- Você tem certeza? Ninguém conseguiu remover isso. Nunca. – Leona perguntara na ocasião. Mal se conheciam, mas isso não a impedia de nutrir preocupação pelo cientista.

– O que acontece se ele não for puro? – Vayne foi mais rápida ao perguntar o que estava pairando na cabeça de todos.

– Morre. – A Solari tinha respondido com simplicidade.

– Então tudo vai ficar bem. – Brandon os tranquilizara. – Eu não morro fácil.

– Talvez você sobreviva, como alguns poucos fizeram. Eu, por exemplo. Contudo, não toque no medalhão a menos que tenha certeza. Não terá outras chances.”

E lá estava ele, tendo outra chance. Quanto mais a mão se aproximava do medalhão, mais quente ficava para ele. Brandon sabia que era o único a sentir a quantidade massiva de calor que o medalhão emitia. Os outros atrás dele, exceto Leona, só podiam especular. As gotas de suor que escorriam pela sua testa caíam no olho e em segundos suas roupas estavam ensopadas.

Ele sabia. Sabia que estava desafiando o próprio Sol ao fazer aquilo. Comprando uma briga que ninguém nunca tinha vencido. Desafiando as leis de tudo o que existia. Por um momento, ele questionou a si mesmo. Ainda não tinha tocado no medalhão. Podia aceitar aquele obstáculo como um aviso e sair dali. Procurar outro jeito de vencer e não uma certeza de vitória, como Leona dissera. Por que ele não fazia, então?

“Arrogância”, uma vozinha disse em sua mente. Ele não sabia se eram os espíritos do medalhão ou a própria consciência alucinando devido ao calor. Fosse o que fosse, a voz estava certa. Ele sempre tivera esse tipo de arrogância. Sempre tentando redesenhar os limites do possível porque podia. Ou pensava que podia. Seus dedos tremeram, a menos de um milímetro do medalhão. “Se eu não for digno, que essa seja a minha punição.”

Ele segurou a águia com os dedos entre a cabeça e sobre as asas douradas. Um choque percorreu o seu corpo e ele parou de senti-lo. O mundo ao seu redor se desfez, derretendo como se dentro do núcleo de um grande Sol. Tudo queimava e ardia sem machucá-lo. Correntes de fogo o prenderam pelas mãos e pernas. E os espíritos apareceram.

Brandon não sabia quantos eram. Suas formas eram como vapor de chá, dissipando-se e reunindo-se vez após vez. Os rostos eram disformes. Velhos, crianças, bebês ou adultos. O tempo não fazia sentido para os mortos. Eles eram todos e nenhum. Era os juízes daquele mundo.

– O filho da máquina – Eles o chamavam de “filho da máquina” por uma razão que ele não entendia. - voltou para mais.

Os espectros riram entre si, animados.

– Ele não carrega o dom. Os impuros me irritam. – Murmúrios de concordância ganharam força na roda de espíritos que o cercava.

– O que eu preciso fazer para possuir o medalhão? – Perguntou desesperado, sentia as correntes apertando cada vez mais forte, como acontecera na sua última falha.

– Morra como nós! – Um dos espíritos exclamou. – Todos os que tentaram e falharam! Somos, ao nosso modo, possuidores do medalhão e do poder dos Solari. Encontramos pureza na morte.

– Eu não posso morrer! – Ele replicou, mas dessa vez não estava se gabando das habilidades do vírus ZAC. Era um lamento, um pedido.

– Todos morrem, filho da máquina. Eu, você, o mundo. Sua guerra continuará com ou sem você. E, com ou sem você, haverá um vencedor.

As algemas se apertaram com mais força, o fogo começava a incomodar.

– Eu faço qualquer coisa! – Soluçou, debatendo-se sem sucesso. Os espíritos se aproximavam mais e ele sentia o desespero que cada um deles sentiu na hora da morte. Seu interior se esvaia junto com a esperança.

“Brandon”

As mãos fantasmagóricas se aproximavam dele e ele sabia de alguma forma que elas podiam tocá-lo. Aquilo o assustava tanto que fechou os olhos.

“Brandon”

– Tudo que eu quero é proteger o mundo! Tudo que eu sempre quis! Por que vocês não me ouvem?

“Brandon!”

Ele abriu os olhos. Leona estava parada diante dele, com a mão estendida e o sorriso gentil de sempre.

– Filha do Sol! Filha do Sol! – Os espíritos ficaram levemente exaltados e desorganizados. Alguns berraram ameaças enquanto outros faziam reverências.

– Pegue a minha mão. – Ela sussurrou para o cientista, que ouviu a voz da Solari como se fosse o único som do mundo.

– Eu não posso. – Choramingou, mostrando as correntes de fogo. – Não posso me mover.

– Oh, meu doce cientista. – Ela deu uma pequena risada. – Não posso ficar por muito tempo, eles não vão deixar. – Apontou para os espectros que se organizavam novamente em seu ritual de execução. – Vou ter que soltar o medalhão. Parece que quebramos algumas regras aqui, não? – Ela riu novamente. – Seu corpo real está morrendo lá fora. Se apresse.

– Como… Como eu me solto? – Retrucou, se irritando com a calma da guerreira.

– Executem! Executem! – Um dos fantasmas bradava.

– Conte sua história para eles. Você se mostrou ser muito bom nisso. – Ela respondeu, sorrindo, enquanto desaparecia. – Boa sorte, doce cientista.

– Minha história?! – Ele exclamou quando ela sumiu. – Leona! Isso não me ajuda! Leona!

Os espíritos voltaram a cercá-lo. Ele olhou nos olhos, ou onde deveriam ser os olhos, de um deles. Buracos cinzas, quase transparentes. Ele já tinha visto olhos mais assustadores na escuridão. Os olhos verdes que ameaçavam consumir tudo com a fome infinita do Vazio. A lembrança o fez estremecer e, por um segundo, os espíritos tremeluziram.

Ele não sabia se tinha sido a própria imaginação, mas decidiu seguir o conselho de Leona. Não tinha mais tantas opções:

– Ok, vocês têm tempo? – Os fantasmas grunhiram raivosamente como resposta. – Ótimo, eu tenho algumas coisas para dizer antes que vocês me executem dolorosamente. Eu quase já fui executado dolorosamente. O nome dele era Cho'Gath, um monstro do vazio. Devorador implacável. A pior coisa que eu já vi. Nunca senti tanto medo na vida. Vocês? Não me assustam nem de longe, porque esse já é o meu medo.

Alguns deles não tornaram a constituir forma após evaporar, deixando um lamento no ar enquanto sumiam, mas a maioria continuava avançando.

– E que tal o Marc? – Gritou para eles, que recuaram dois passos fantasmagóricos. – Meu melhor amigo, até que eu o deixei na mão. Falhei com ele, falhei com todos. Vocês realmente acreditam que sofreram? Aquele cara viveu por cerca de duzentos anos pensando apenas em vingança. Eu queria muito ajudá-lo e tentaria pegar esse medalhão quantas vezes fosse necessário se soubesse que isso o faria voltar. Não tenho medo de vocês, porque já tenho o meu arrependimento.

“Só um?”, ele pensou consigo, lembrando de cada vez que falhou. Cada vez que foi rude, arrogante ou esteve enganado. As lembranças afluíam pela sua mente, como que protegendo-o das mãos espectrais.

– Ele está se desfazendo de si! – Um deles gritou. – O filho da máquina está morrendo pelas próprias mãos!

– Morrendo? – Ele caçoou, sentindo os braços e pernas mais fortes. As correntes cediam e sua visão ficava melhor a cada instante. Os pensamentos corriam mais rápido do que ele imaginava ser possível. Nunca tinha se sentido melhor. – Não sejam estúpidos! Como se eu fosse morrer nas mãos sem pele de um bando de velhotes, condenados a lamentar pela eternidade protegendo um medalhão estúpido. Diferente de vocês, eu tenho alguém para voltar.

Ele pensou em várias pessoas. Heimerdinger, seu pai adotivo, talvez. Riven que o esperava lá fora. Doran, cuja cura ele tinha prometido encontrar. Marc Tryndamere, seu melhor amigo. Isabel Adhit e suas habilidades fariam dela uma ótima aluna. Ele também tinha prometido que ia ajudar Sarah Fortune a deixar a vida de caçadora de piratas no passado. Mas ninguém trazia à tona uma memória forte o suficiente. Ninguém, exceto Ofelia. E esse já era o seu amor.

Um a um, os espíritos começaram a explodir em fumaça. As correntes se desfizeram e ele caiu no chão, exausto.

– O filho da máquina nos derrotou. Dominou o Sol. – Concluiu o último dos espectros, o mais antigo.

– Então, o que eu sou agora? Filho do Sol? Tipo um irmão da Leona? – Ele brincou, se esforçando para ficar acordado.

– Não. – Concluiu tristemente o espírito, antes de se esvair. – Filho da morte.

Quando deu por si, estava no chão com o medalhão na mão. O altar de barro tinha derretido e as luzes de dentro do templo tinham desaparecido. Era mais um templo comum, novamente. Olhou para o lado. Leona sorria orgulhosa, Kristofer parecia levemente desapontado, Riven dava pulinhos de alegria, Pantheon fazia um gesto de aprovação e Vayne babava dormindo.

Ele ergueu a mão, exibindo o medalhão. Não que fosse necessário. Todos podiam vê-lo. Ele queria sorrir de volta, mas se sentia diferente. Aquela conquista não o tinha deixado satisfeito. Na verdade, ele estava mais triste do que jamais tinha estado. O sorriso de Leona deu lugar a uma expressão de compreensão:

– Pureza significa morte, não é? – Ela perguntou, deprimida, enquanto ele acenava positivamente com a cabeça. – Eu sinto muito, muito mesmo, Brandon.

– Pelo quê? – Ele perguntou, ainda que, intimamente, soubesse.

– Me fale sobre aquela garota que você gosta, Ofelia.

– E-eu não… - Ele balbuciou. Lembrava dela. Lembrava de como pensou nela segundos atrás, mas não sentia mais nada. Como se fosse outra pessoa.

– Você ainda quer ajudar o seu amigo Marc?

– Por que eu me daria ao trabalho? Ele está fazendo o que quer. – Respondeu rispidamente, antes de pôr as mãos na própria boca. Era como se um estranho estivesse falando por ele, mas, ao mesmo tempo, ele se sentia normal.

– Você não venceu. – Ela concluiu tristemente. – Tudo que você era, morreu. Esse foi o preço pago, Has Ka O.

– Filho da morte. – Ele traduziu inconscientemente, olhando para as próprias mãos. Ainda eram as mesmas, embora ele não fosse. A cada segundo, via cada vez menos sentido em quem era. – Eu finalmente entendi. – Ele se levantou, com o medalhão na mão. – Eu nunca venço. Não posso vencer. Mas eu prometo a vocês que não vou perder. Nem para o Warlock, nem para ninguém. Nunca mais.


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