The Road Behind Us escrita por Ethereal Serenade


Capítulo 4
Capítulo 4 — Chess


Notas iniciais do capítulo

Hello people!

11 leitores e 4 favoritos! Que números bonitos de se ver, considerando o tamanho do fandom de TLOU aqui no Nyah!. Isso é muito bacana, e eu fiquei super feliz com isso =D Sejam bem-vindos, meus caros, desejo ótima leitura a vocês e espero que acompanhem — mesmo que seja na penumbra, como fantasminhas. — e gostem de The Road!

O capítulo tá bem light. Aos poucos vou introduzindo novos personagens, nas situações certas. Os próximos podem parecer parados — como este. — mas não desanimem; a ação não tardará muito a chegar. Uma pequena aventura está sendo preparada para nossos personagens. É só ter um pouquinho de paciência (^-^) Afinal, eu, como autora, aprendi com os erros de FwU de não fazer tudo acontecer de uma vez, e agora estou colocando em prática essa lição.

Os capítulos agora tem títulos, yey o/ Acho bonitinho quando tem algum título, por mais bobinho e simples que seja. Enfim, pura frescura da autora akjsakljdlqwj

Ah, e antes que eu me esqueça, esse cap foi dividido em duas partes. Semana que vem saí o cinco, que é, basicamente, o final dos acontecimentos deste.

Boa leitura, people!



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— E então, o que você acha da cidade?

Ellie não sabia o que responder. Pela manhã, e agora mais atenta aos detalhes, a cidade lhe parecia a coisa mais incrível que já tinha visto na vida. Pessoas na frente de suas casas conversando, várias crianças brincando há alguns metros dali, e alguns adultos passeando calmamente a cavalo; era tudo tão diferente do que ela estava acostumada, tudo parecia tão vivo, alheio, distante da realidade do mundo lá fora.

— É incrível.

Maria sorriu.

— Vê aquela casa ali, a branca? — Apontou para uma casa enorme, que aparentava de três andares e tinha várias janelinhas. — Chamamos de Grande Casa. Algumas pessoas que conseguem cuidar de quem precisa moram lá, e se alguém sofre algum tipo de acidente, há quartos para recebe-la.

— Vocês têm médicos aqui?

— Temos todo tipo de pessoa.

Continuaram a caminhada pela cidade. Ellie viu uma pequena minúscula casa totalmente vedada, e perguntou a razão daquilo. Maria explicou que se tratava do que todos chamavam de Caixa Forte, onde o que realmente importava era o porão; era lá que guardavam todo o armamento que eles haviam conseguido estocar ao longo do tempo. Maria contou um pouco sobre a cidade logo quando seu grupo chegou — descobriu em seu relato que sua família se resumia inicialmente ao seu pai, e os dois, junto de mais algumas pessoas começaram a reconstruir a cidade. Como era um lugar pequeno e relativamente isolado, seria um lugar oportuno para se fixar. E, bem, estamos aqui até agora, Maria finalizou. Ellie não deixou de notar um resquício de orgulho quando ela terminou a narrativa. Se estivesse em seu lugar, Ellie também se orgulharia de ter reestruturado uma cidade inteira contando apenas com as mãos de poucos amigos.

Aos poucos, velhos receios que Ellie tinha em relação a ela foram se dissipando. Eram os mesmos que sentira quando ficara em sua companhia pela primeira vez na usina, e isso se devia ao fato de não estar habituada a estar com alguém sem Joel estar por perto. Sequer percebera quando a conversa fluíra até chegar a velhas histórias contadas nas zonas de quarentena, sobre gostos em comum e até mesmo sobre alguns medos, embora nada muito incisivo ou particular. Já se sentia confortável na companhia dela, como nunca esteve com outra pessoa em muito tempo.

Chegaram próximo do portão que dava as áreas da floresta. Havia um casebre integrado a um estabulo nas proximidades, e era possível ver os cavalos, bem como ouvir seus relinchos.

— Você gosta de cavalos, não é? — Maria percebeu que Ellie observava os animais com interesse. — Quer ir até lá?

— Claro.

As duas se dirigiram até o estabulo. O lugar era uma construção que misturava madeira e tijolos, e tinha cheiro de palha e esterco. Cada cavalo tinha seu pequeno compartimento cercado, e Ellie se aproximou de um para acariciar o focinho. Eles eram incrivelmente dóceis, o que fez sorrir.

— Maria? Ei, que surpresa vê-la por aqui. — Disse uma voz há alguns metros de onde elas estavam.

Um rapaz loiro surgiu do interior do estabulo, carregando um balde d’água. Ao ver Ellie, ele a cumprimentou com um aceno. Dirigiu-se, a um dos lotes de cavalo e depositou a água na vasilha do animal. Era um pouco mais baixo que Maria por questão de centímetros, tinha olhos escuros e uma cicatriz no lábio superior.

— Tommy saiu com o irmão tem algum tempo. — Ele se aproximou ao encontro das duas. Em seguida, olhou para Ellie. — Você seria a filha dele, certo?

“Filha” pensou, ligeiramente surpresa. No fim das contas, ao que parecia as pessoas acreditavam que ela era realmente filha de Joel. Aquilo gerou uma curiosa sensação de branda alegria. Ellie assentiu em resposta.

— Hansel. — Ele limpou a mão direita rapidamente na calça e a estendeu para cumprimenta-la.

— Ellie.

— Ela gosta de cavalos, como você. — Maria informou. — Por que não mostra a ela alguns deles?

Ellie olhou de relance para ela, um tanto quanto aturdida. A ideia de ficar só com outro estranho ainda não era muito convidativa, levando em consideração que estava a pouco tempo ali. Maria, por sua vez, lançou um olhar encorajador, com um discreto aceno.

— É mesmo? — Ele sorriu. — Bem que eu precisava de alguém para ajudar a cuidar deles. Sabe, Will ainda não está recuperado.

— Dê tempo a ele. As pessoas têm formas diferente de lidar com as perdas. — E colocou uma mão sobre o ombro de Ellie. — O que você acha?

— Ah... Tudo bem.

Maria se despediu dos dois, alegando que iria tratar de alguns assuntos com uma mulher chamada Carla. Perguntou se Ellie conseguiria voltar sozinha, e por um instante ela iria solicitar para que Maria viesse e a levasse de volta, mas achou que seria um incomodo. Decidiu ficar ali, já que Joel havia passado por lá para pegar um cavalo, poderia retornar para casa com ele.

Após algumas palavras trocadas rapidamente, Ellie acabou se prontificando a ajudar Hansel nos cuidados com os cavalos, ao passo que enquanto ele ia falando sobre cada um ia realizando as tarefas. Trocaram o feno que servia como abrigo e comida, encheram as vasilhas de água e em alguns casos limparam os lotes que se encontravam sujos.

— Então — Ele falou, após algum tempo em silêncio. Eles estavam limpando as selas de montaria sobre uma mesa. — É verdade? Que você e o irmão do Tommy cruzaram o país inteiro até chegarem aqui?

Ellie se surpreendeu com a pergunta. Desde a comemoração no refeitório, onde todos tomaram conhecimento dela e de Joel, nunca havia parado para pensar se sabiam da história até chegarem ali. Agora que pensara na questão, será que haviam boatos sobre sua chegada até a cidade? A ideia de ser motivo de conversa de pessoas que ela não conhecia soou um tanto desagradável.

— Bem, é. De certa forma.

— E como é lá? Digo, nas zonas de quarentena.

Ele a encarava curioso.

— Ah, bom... Eu passava a maior parte do tempo nas escolas militares, então não via muita coisa. — O que não era verdade; Sempre que tinha chance, e quando contava com a companhia de Riley, não foram poucas as vezes que se aventurara nos territórios além dos muros da zona. Porém, não via motivo algum para entrar naquele assunto. — Havia soldados em todos os cantos. Você nunca esteve em uma?

— Não. — Respondeu. — Cresci em um grupo de sobreviventes antes de vir p’ra cá. Muitos de nós nunca colocaram os pés em uma zona dessas. E vocês tinham mesmo treinamento militar?

— Tínhamos. Todos os dias.

Hansel a encarava impressionado, como uma criança que acaba de ouvir a história mais fantástica de sua vida.

— Ah cara... Nós sempre queríamos entrar nas zonas, p’ra ver como é. A gente encontrava algumas pessoas que vinham de lá, mas nunca consegui escutar muita coisa. E sempre tinha tantos soldados vigiando, a ideia de entrar lá era meio impossível.

— Pshh, tinha várias maneiras de entrar e sair de lá sem ser visto. — Ellie comentou com descaso, relembrando das variadas maneiras que ela e Riley encontravam para transpassar os muros. As lembranças lhe fizeram esboçar um meio-sorriso.

— É? Mas você não acabou de dizer que vivia no colégio militar?

Ellie se retraiu no mesmo instante, permanecendo em silêncio. Hansel apenas sorriu tranquilamente.

— Ei, não precisa ficar assim. Não estou te obrigando a falar nada. Não precisa contar o que não quiser.

Terminada a tarefa, os dois encaminharam as selas para um pequeno compartimento sem janelas próximo. Não havia mais nada a ser feito, portanto Ellie e Hansel sentaram-se à mesa e continuaram a conversar acerca das zonas, onde basicamente ele perguntava todos os detalhes do funcionamento do lugar, enquanto que ela respondia com base no seu escasso conhecimento, puramente fundamentada com coisas que viu ou ouviu ao acaso.

— E eram frequentes os ataques dos Vagalumes?

— Mais ou menos. Quando saí de Boston, houve um ataque onde muitos ficaram feridos. — Recordou-se de Marlene quando surgiu com Joel e Tess, e ela se encontrava ferida. A lembrança parecera ter muito mais tempo do que realmente tinha. — Antes aconteciam mais, e eram mais intensos.

Passos rápidos vinham em direção onde eles estavam. Ellie se virou e viu uma garotinha que não deveria ter mais do que sete anos, e era semelhante a Hansel em muitos aspectos: o mesmo rosto de traços afilados, o mesmo cabelo loiro e os mesmos olhos escuros como carvão. Usava um vestidinho azul e carregava consigo uma caixa retangular de madeira, pintada com quadradinhos brancos e negros. Ao ver Ellie, ela pareceu se tornar um pouco acanhada, fitando-a com curiosidade.

— Olá Missy. — A menina se sentou ao lado dele. — Ah, você encontrou?

Ela desviou o olhar de Ellie para responder com um aceno, voltando a encara-la novamente com o mesmo ar de curiosidade.

— Ellie, essa coisinha pequena e calada é a minha irmã. — Ele passou a mão nos cabelos de Missy, bagunçando-os um pouco. — Missy, cumprimente a garota.

Ela pareceu hesitar, limitando-se apenas a olhar para Ellie. Segundos depois, estendeu timidamente sua pequena mão.

— Oi.

— Sabe jogar? — Ela perguntou de repente, indicando a pequena caixa.

— Ah não. — Hansel soltou um suspiro. — Escute, desde que ela encontrou esse jogo pergunta a qualquer um para poder jogar com ela. Quando começa com uma coisa, continua até torrar a paciência de todo mundo.

Ellie sorriu, e Missy correspondeu, apesar de sua timidez inata. Olhando-a com atenção, ela possuía pequenas sardas salpicando o rosto, especialmente no nariz. Ellie se voltou para a caixinha sobre a mesa.

— O que é?

— Xadrez. — Hansel respondeu. — Já jogou?

— Já ouvi falar. Como se joga?

Hansel abriu a caixa pelo pequeno fecho metálico que havia no meio da placa de madeira. Missy se precipitou retirando várias peças vermelhas e negras, todas cuidadosamente esculpidas e vernizadas. O rapaz virou a caixa, deixando-a aberta. Ellie se atentou de que havia pequenas letrinhas no canto de cada quadradinho, e letras pela lateral.

— Não é difícil, depois que se aprende os movimentos das peças.

— Esse aqui é o peão. — Missy se adiantou, segurando uma pequena pecinha vermelha arredondada, cujas várias e várias semelhantes estavam sobre a mesa. — Você normalmente começa com ele. Ele anda um quadradinho, e não pode voltar. E só come os outros na diagonal.

Ellie não pode de deixar de sorrir diante da explicação da garota. De repente, ela já não estava tão acanhada como segundos antes aparentava estar.

— E se você chegar ao outro lado do tabuleiro com um desses, ele pode se transformar em qualquer outra peça. — Acrescentou Hansel.

Missy puxou a caixa transformada em tabuleiro para perto de si, arrumando as peças com precisão. À medida que ela o fazia, Hansel ia explicando os movimentos de cada uma. Ellie assimilou as informações que considerou crucial: quando o rei leva um xeque-mate, o jogo termina; o rei está em xeque, retire-o do xeque; não perca a rainha tão cedo; combine movimento entre os bispos e torres; os cavalos pulam sobre as outras peças, porém andam apenas em “L”.

A irmã de Hansel pediu para jogar a primeira partida com Ellie. Ele alegou que ela era uma jogadora que não tinha piedade alguma, e cinco jogadas depois ela entendeu o motivo dele ter dito isso e lhe deu total razão: o bispo negro de Missy estava encurralando seu rei na diagonal direita, e o único lugar para onde o rei vermelho de Ellie poderia ir era para o quadrado ao lado, porém a rainha negra já estava na mesma fileira. Se avançasse o rei para frente, o cavalo de Missy já a aguardava.

— Acho que é Xeque-mate. — Missy disse com um ar inocente, enquanto sorria.

— Eu disse que ela não tinha piedade alguma.

Mais partidas foram jogadas, e mais derrotas se acumulavam para Ellie. Ela tinha que admitir, a garota era mesmo boa no jogo. Ou talvez Ellie é que fosse muito ruim, considerando que era seu primeiro contato com o jogo. De toda forma, após cinco partidas, ela finalmente conseguira usurpar uma torre de Missy, embora tal manobra tenha lhe custado sua rainha.

— Não jogue suas peças em movimentos arriscados. É ruim. — Disse Missy.

Três partidas depois, ela compreendeu que o ponto principal do jogo era bolar uma estratégia. Era muito diferente das Damas com a qual estava habituada, mas era muito mais interessante. Na última partida, Ellie conseguira os dois cavalos e cinco peões, e mesmo tendo perdido, estava feliz com o que conseguira.

O portão próximo rangeu, seguido de trotes de cavalo. Ellie se virou para a porta do estabulo, e tão logo Joel e Tommy apareceram, trazendo os cavalos pelas amarras da sela. Hansel se levantou para auxiliar os dois com os animais, e Ellie fez o mesmo, porém se dirigindo a Joel.

— Ei, Joel. — O saudou. Quando ele se voltou para encará-la, ela notou o quanto ele estava abatido. Antes que pudesse perguntar o que acontecera, sua atenção se dirigiu a Tommy, e as peças começaram a se encaixar na sua cabeça; ele estava com uma protuberância arroxeada no rosto, e estava com uma postura semelhante à de Joel.

— O que foi que aconteceu? — Murmurou para que apenas ele ouvisse.

— Conversamos depois. — Respondeu sucinto, soando um pouco amargurado, embora não fosse o que gostaria.

Joel se encostou a uma das pilastras, permanecendo quieto. A curiosidade remoía dentro de Ellie, e a contragosto ela aguardava o que quer que fosse. Há alguns metros dali, Tommy conversava com Hansel.

— Está tudo bem? — Ellie arriscou mais uma vez.

— Ellie... Depois.

Ela entendeu que o que quer que fosse, havia sido sério. Ficou em silêncio, esperando. Tommy terminou de falar com Hansel, e se voltou para o irmão:

—Amanhã, assim que o sol nascer, Joel. — Ele informou.

Joel assentiu, se dirigindo em seguida para fora do estabulo. Ellie o seguiu, acenando brevemente para Hansel e Missy. A menina, por sua vez, se levantou da mesa e correu até Ellie.

— Posso jogar com você amanhã?

— Claro que sim.

Missy sorriu, desta vez sem nenhum traço de sua timidez. Voltou para dentro do estabulo ao encontro do irmão.

******

Ellie não vira o tempo passar; ficara tão absorta no jogo que sequer prestou atenção de que já era de tarde, e que seu estomago roncava dolorosamente. O céu estava se tornando acinzentado, e o sol estava encoberto por nuvens escuras. Ela se aproximou de Joel, e embora hesitante, tornou a perguntar mais uma vez:

— Como foi?

— Foi... Bom. — Ele olhou de relance para Ellie, e percebeu que ela o olhava com descrença por conta de sua resposta. — E o seu?

— Joel — Ela o chamou duramente. — o que foi que aconteceu com você e o Tommy?

Joel não respondeu. Acelerou seus passos, tendo em vista que a casa já estava logo adiante. Podia sentir o olhar de Ellie logo atrás de si, aguardando uma resposta que não fosse vaga. Ele entrou na casa sem dizer uma única palavra. Ellie fechou a porta, e indagou mais uma vez:

— Me responda alguma coisa, droga!

Joel não respondeu até chegar à sala de visitas, onde se afundou na poltrona e repousou o rosto em uma das mãos. Massageou os olhos, discorrendo sobre a questão que Tommy levantara: contar a verdade a Ellie.

Ellie se sentou no sofá que ficava de frente para a poltrona, esperando Joel lhe dar uma resposta. Cruzou os braços, e ficou encarando-o, sentindo uma crescente irritação crescer em si. Aquela mania dele deixar para depois certas coisas que ela perguntava a tirava do sério; depois de tudo que haviam passado, ele ainda insistia em esconder alguma coisa dela?

— E então? — Ellie retomou, ao ver que Joel abrira os olhos, embora olhasse para cima, repousando no encosto da poltrona.

Ele se ajeitou, e finalmente começou a falar.

— Nós apenas conversamos. Nada além disso.

— Ah, qual é Joel! Eu não sou uma criança, que merda. E eu vi como o rosto do Tommy estava! O que foi que houve entre vocês?

— Nós brigamos ok? — Ele elevou a voz. — Somos irmãos, essas coisas acontecem. Por que você se preocupa tanto com isso?

— Acho que eu deveria, não é? — Retorquiu exasperadamente. — Depois de tudo, acho que o mínimo seria eu me importar com você – com qualquer porcaria que acontece com você.

Joel não disse mais nada, se limitando a olhar para o rosto de Ellie. Talvez fosse mera impressão sua, mas os olhos dela estavam mais brilhantes que o normal. Ele suspirou profundamente, sentindo uma pontada de culpa por sua intransigência ter gerado aquela discussão sem motivo algum.

— Ellie — Ele disse baixinho. — Me desculpe, é só que... Eu e o Tommy temos... alguns problemas a serem resolvidos. E não é o tipo de coisa que se resolva em uma única conversa.

— Vocês discutiram, então?

— Você viu o rosto do Tommy. — Disse duramente. — Isso responde sua pergunta.

Ellie aquiesceu ligeiramente ressentida pela resposta. Sabia que Joel não iria falar naquele momento, não importasse o quanto ela tentasse insistir. Não aprovava, obviamente, aquela postura ainda tão reclusa por parte dele, mas respeitou; era algo particular entre ele e o irmão, e nem ela nem ninguém deveria se intrometer.

Joel, por outro lado, estava perdido em todas as possibilidades que lhe vinham a mente de quando chegasse o momento de ter que contar a verdade para Ellie. Não era algo que ele desejasse fazer, mas tinha absoluta certeza de que em algum momento, ela tocaria no assunto, e ele não teria mais como omitir aquilo. Ellie não era ingênua, e Joel não via mais como mentir, ou até mesmo como conseguir esconder por mais tempo. Quando considerava as possíveis reações de Ellie diante da história em sua integra, sentia um desagradável aperto no peito, acompanhado de uma sensação de torpor. Era como sentir medo.

Lá fora, o som estrondoso de um trovão cortou o céu, seguido da luminescência. A chuva caiu se intensificando rapidamente. Várias gotas batiam contra a janela, ruidosas.

O silêncio entre ambos se tornou desconfortável para Ellie, principalmente pelo fato de que Joel se mantinha calado, com os olhos fechados, mergulhado em seus pensamentos. Decidiu puxar outro assunto, para amenizar aquele clima tenso — além de que ver Joel daquela maneira a deixava extremamente inquieta.

— Então... Ele lhe mostrou a cidade?

— Ah... — Ele se voltou para Ellie, piscando os olhos algumas vezes. — Sim mostrou.

— E... O que ele quis dizer com se encontrar com você amanhã? — Ellie se questionou internamente se não estaria se intrometendo novamente.

— Ah isso... Bom, eu vou até a usina. Acho que ele vai tentar me integrar aos vigias.

— Sério? — Ellie se animou com a possibilidade. — Cara, isso é legal. Eu posso também?

— O quê? Ellie...

— Joel, você já me viu atirar! — Argumentou. — Sabe que tenho uma boa pontaria.

— Eu prefiro que você fique aqui, por segurança. — Ellie bufou, embora não estivesse verdadeiramente irritada como demonstrou. — Deve haver alguma atividade que você goste na cidade.

Ellie teria rebatido prontamente, alegando com veemência que sabia muito bem como se cuidar. Porém antes que o fizesse, considerou que poderia acabar acarretando alguma discussão, e não queria que Joel ficasse ainda pior, como aparentou depois de ter tido uma com Tommy. Manteve-se em silêncio, acedendo, embora a muito contragosto.

— Ok, você venceu. Talvez eu... cuide dos cavalos. Satisfeito? — Joel assentiu com um sorriso discreto. — Mas eu vou me tornar vigia, você querendo ou não.

— Ah, disso eu não duvido.

E finalmente, Joel apaziguou seu animo, o que fez Ellie se sentir aliviada. Conversaram durante o almoço, falando principalmente sobre os postos de vigias e sobre as extensões da cidade. Então Joel se lembrou de que perguntara a Tommy sobre o rio, e tratou de conversa com Ellie sobre o assunto.

— Você queria aprender a nadar, não queria?

— Foi você que propôs. Mas sim, acho que seria legal.

— O que acha de irmos amanhã à tarde?

— Tudo bem. Ah Joel, você sabe jogar xadrez?

— Sei. Bem mal. Lembra que vimos um jogo desses na cidade do Bill?

Ellie vasculhou suas lembranças. Logo após a armadilha em que Joel ficara de cabeça para baixo, eles tinham chegado a uma lanchonete e um tabuleiro se encontrava sobre uma das mesas. Joel fizera menção de mexer nas peças, o que fez Bill se irritar mais uma vez, gritando para que não tocasse naquilo.

— Lembro. — Ellie suspirou, lembrando-se também dos acontecimentos subsequentes. — Parece ter sido há tanto tempo.

— As coisas passam depressa. — Comentou. — Mas por que você queria saber?

— Eu quero praticar com alguém. Aquela menina, a Missy, ela é cruel!

— Missy? Aquela garotinha do estabulo?

Ellie assentiu.

— Você perdeu para uma criança? — Ele indagou com descrença, e não pode deixar de rir diante daquele fato.

— Ah, Joel, dá um tempo! Você não faz ideia do quanto ela é boa.

— Na verdade, imagino o quanto você deve ser...

Ellie bufou, fingindo irritação diante do comentário. Joel apenas riu.

— Então, você me ajuda? — Perguntou.

— Talvez.

— Joel...

— Tá bom, eu ajudo. Meu Deus, vamos comer em paz pelo menos uma vez. — A sentença não saiu com ar de raiva ou irritação, e sim o total oposto. Apesar de todas as preocupações, das incertezas e sobre o que ele teria que fazer, momentos simples como aquele pareciam diluir quaisquer preocupações que tivesse em relação ao futuro; mesmo que fosse um apaziguador temporário, era o suficiente


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Notas finais do capítulo

Quando escrevi essa cena final, eu estava ouvindo a música tema, na versão "You and Me". Acho que combinou muito com o desenrolar da cena, principalmente com o finalzinho *-*
Mas pois é, é isso. Gostaram?

Nós vemos semana que vem o/
(se eu não morrer nesse ínterim. vida de vestibulando é um INFERNO! ;-;)