Porvir escrita por Lura


Capítulo 3
Família Scarlet


Notas iniciais do capítulo

Depois de séculos, olá!

Sei que negligenciei bastante esta fanfic e, como daqui para o fim do ano minha vida só ficará mais corrida (estou cursando o último semestre da faculdade), resolvi postar para que ela não ficasse tanto tempo esquecida.

Sobre o capítulo, eu gostei bastante deste. Ele foi bem difícil de desenvolver, pois eu estava sem inspiração (comecei a escrevê-lo assim que postei o anterior, e só terminei hoje, quase dez meses depois!!!). O título será explicado no decorrer dele.

É isso. Espero que gostem.



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Família Scarlet

Magnolia - x807

A madrugada tinha sido agraciada com o brilho mais intenso da lua, espantando o breu habitual e dando lugar a um meio termo, nem escuro nem claro, que apesar de não exibir nitidamente o ambiente, iluminava o suficiente para que mesmo sem as luzes da cidade, qualquer um pudesse caminhar evitando possíveis acidentes.

Para a maioria das pessoas, isso era ótimo. Mas não para o homem em questão, que por causa da alta luminosidade, se esgueirava pelos becos de Magnolia, tão sorrateiramente quanto um gato, usando do negrume de sua capa para misturar-se as sombras que encontrava. Nunca ser percebido era seu lema.

O indivíduo parou aos fundos de uma velha, porém grande, casa, que tinha uma clássica fachada de frente para o rio, o que a tornava um tanto imponente. Ele nunca passava a sua frente. Sempre se contentara com a porta traseira. E já era bom o suficiente.

Após remexer os bolsos por alguns minutos, tirou de lá uma chave dourada coberta pela ferrugem, colocou na fechadura, destrancou e entrou mais que depressa, trancando a porta novamente. Só então, respirou aliviado. Tinha conseguido mais uma vez: Chegar em casa sem ser visto.

A sensação de alívio durou pouquíssimo tempo, sendo substituída pela certeza de ser observado. Apreensivo, olhou para os lados, na certeza de que nenhum dos moradores dali estariam acordados, pois já passava das três da madrugada.

Mesmo não encontrando ninguém, o desconforto permanecia. O homem já tinha decidido fazer uma ronda pela casa, quando sentiu algo cair sobre sua cabeça, bloqueando sua visão.

Atordoado, o indivíduo gritou, falseando alguns passos e finalmente caindo de costas no chão. A pancada contra o assoalho, provocou um forte barulho, que certamente não passou despercebido pelos demais habitantes da casa, pois passos mais que apressados vindos do andar superior puderam ser ouvidos imediatamente.

Quando teve as vistas finalmente desbloqueadas, não teve a chance nem mesmo de abrir a boca.

Vislumbrou rapidamente um par de olhos verdes o encarando no escuro, que mesmo com a pouca luz, se mostravam muito vivos, emoldurado por vários cachinhos vermelhos. Contudo, a visão de uma ruiva furiosa, portando duas espadas, escorregando de pé pela metade do corrimão, e saltando em seguida para cair exatamente ao seu lado foi o que realmente chamou sua atenção. Outras duas ruivas menores corriam escada abaixo, logo atrás.

— Rose? - A ruiva maior, que trajava uma camisola clara que cobria apenas até onde suas coxas começavam e já tinha uma das espadas apontadas para o recém-chegado, perguntou, olhando para a pequena criança que estava sentada sobre ele.

Em resposta, a garotinha fechou seus dedinhos sobre o tecido da máscara verde que cobria o rosto do homem, e gritou animada:

— O PAPA VOLTOU!!! - Anunciou, tirando a máscara com um puxão, revelando o rosto tatuado e deixando mais visíveis seus cabelos azuis.

— Mystogan! - A ruiva exclamou aliviada, fazendo com que suas espadas desaparececem em um brilho dourado. Havia dois meses que Jellal tinha saído em missão e não tinha dado notícias na última semana. - Por que não avisou que estava chegando? - Questionou, sentindo toda a adrenalina do susto amolecer-lhe o corpo.

— Gomen Erza - Ele pediu. - Eu queria fazer uma surpresa. - Contou, sem graça.

— E conseguiu. - Erza respondeu. - Quase me matou de susto! - Reclamou. - Faz ideia do que eu senti quando acordei com um grito e percebi que Rose não estava ao meu lado? - Perguntou.

— E eu quase fui literalmente morto. - Ele falou, lembrando que ela praticamente saltara sobre ele com espadas em punho.

O homem de cabelos azuis segurou a garotinha e levantou-se com um salto, fazendo com que ela gargalhasse.

— Eu estava com saudades do papa! - A menina choramingou, agarrando-se ao peito dele.

— Papa também estava com saudades de você, Rose. - Ele respondeu, devolvendo o abraço e afagando os inúmeros cachos escarlate.

— Rose! - Erza chamou, levemente irritada. - Você não pode ficar fugindo da cama desse jeito! - Ralhou. - Mama ficou muito preocupada!

— É que eu vi que o papa estava chegando, e quis fazer surpresa. - Explicou a criança.

— Você viu? - Mystogan perguntou.

— Vi! - A menininha respondeu, animada.

— A magia de Rose está ficando mais aguçada. - Agatha, a filha mais velha do casal, que assim como sua irmã tinha observado tudo até então, explicou.

— Como? - Mystogan perguntou.

— Ninguém sabe. - Ruby, a filha do meio, respondeu. - Mas agora ela faz previsões incríveis. E raramente falha. - Completou.

Jellal encarou a filha caçula preocupado. Ela era muito nova para alcançar níveis tão altos de magia. Temia pela segurança dela. Ainda mais na situação em que o país se encontrava.

— Agora não é hora de conversarmos sobre isso. - Erza encerrou o assunto. - Vamos voltar para a cama. O pai de vocês deve estar cansado, e eu particularmente não estou muito melhor.

Ordem dada e Agatha e Ruby subiram imediatamente as escadas, rumando cada uma para o seu quarto.

— Eu vou dormir com o papa! - Rose gritou, agarrando-se ainda mais a Jellal.

— Hai, hai. - Erza concordou. - Mas vamos todos dormir! - Enfatizou. - Nada de brincar agora!

O casal e a criança também seguiram para o andar superior, caminhando para o quarto no fim do corredor.

Assim que adentrou o ambiente, Erza rumou para a cama, puxou o cobertor e se acomodou embaixo dele. Jellal deitou Rose ao lado da mãe, que imediatamente passou os braços em torno da filha.

— Papa! - Rose gritou, estendendo os bracinhos.

— Papa vai se trocar. Ele respondeu sorrindo.

O mago se livrou de todos os tecidos que compunham sua roupa habitual, e vestiu uma camiseta velha e uma bermuda confortável. Sentindo o cansaço pesar, deitou no espaço vago que a cama de casal oferecia, também abraçando Rose. Imediatamente, sentiu as vistas escurecerem.

Ele não sabia dizer quanto tempo tinha se passado, mas foi incomodado por fortes cutucões, até que abriu os olhos, incomodado.

— Erza? - Piscou confuso, olhando para a Ruiva que estava agachada ao seu lado. - O que foi? Perguntou sonolento.

— A Rose já dormiu. - Ela falou.

Olhando para o lado, Jellal se deparou com a garotinha que suspirava pesadamente, chupando o dedinho polegar da mão direita, hábito que, infelizmente, Erza e ele não conseguiram evitar. Constatando que a menina realmente dormia, virou para a mulher com um olhar interrogativo, fazendo com ela ela rolasse os olhos para cima.

— Vem! - Ela chamou, puxando o mago pelos braços, que levantou aos tropeços.

— O que que foi? - Ele perguntou, cansado.

— Você ficou dois meses fora. - Erza lembrou. - A gente vai tirar o atraso. - Determinou. - Agora! - Completou, saindo do próprio quarto e entrando no que ficava logo a frente, fechando a porta em seguida.

Ah, ele não tinha esquecido disso. Simplesmente, não dava pra esquecer.

Acontece que mesmo 15 anos e três filhas depois, o fogo de Erza não tinha diminuído nem um pouco. Na verdade, parecia até aumentar com o decorrer do tempo. Melhor para ele.

Jellal realmente tinha acreditado que o momento dos dois ficaria para outra oportunidade, já que Rose tinha ido dormir com eles, mas pelo visto Titânia não se conformaria em ter que esperar mais do que o estritamente necessário.

— Mas aqui é o quarto da Rose. - Jellal olhou o ambiente completamente cor de rosa, já parcialmente iluminado pela aurora, incomodado.

— Idaí? - Erza perguntou. - Ora por favor, nós nem precisamos da cama para isso. - Concluiu, literalmente atacando o companheiro com um beijo. Jellal, já completamente desperto, correspondeu de imediato.

— Céus, você é incansável! - Ele exclamou, quando a falta de oxigênio de ambos exigiu uma pausa.

— Por que ficou tanto tempo fora de casa? - A ruiva perguntou, entre um beijo e outro, enlaçando as pernas em torno dele.

— Depois Erza, depois. - O mago respondeu, apertando as coxas da mulher e a sentando em cima da cômoda.

Cerca de uma hora depois, ambos voltaram, exaustos, ao quarto de casal e deitaram ao lado da pequena Rose, que por ter o sono tão pesado nem mesmo percebera a ausência dos pais.

Jellal adormeceu, um sono profundo e sem sonhos, acordando novamente incomodado ao ser cutucado.

— Papa! Papa! - A voz aguda de Rose ecoava pelo quarto.

Jellal abriu um dos olhos apenas o suficiente para vislumbrar a ruivinha em meio a escuridão.

— Rose… - Resmungou.

— Vamos brincar?! - A menina convidou animada, exibindo duas espadas de plástico. Jellal sorriu.

— Não podemos esperar para brincar de manhã? - Tentou convencê-la.

— Mas a manhã já passou. - Rose respondeu, tristonha. - E agora é noite de novo… E o papa não acordou. - Choramingou.

Assim que ouviu as palavras da filha, Jellal levantou assustado. Não podia acreditar que passara o dia inteiro dormindo!

Entretanto, o cheiro de tempero se espalhava pela residência, denunciando que já estavam na hora do jantar. E ele que tinha prometido passar na Fairy Tail de tarde para conversar com o mestre...

— Yosh! - Falou, pegando a menina no colo. - Prometo que vou derrotar você após o jantar. - Sorriu para ela, carregando-a para fora do quarto.

— Não! - Rose rebateu, estreitando os olhos ameaçadoramente em direção ao pai. - Você vai perder! - Garantiu.

— Que mocinha confiante! - Jellal provocou, descendo as escadas. - Mas o papa andou treinando, sabe? - Contou. - Ainda não posso derrotar a mama, mas com certeza vou vencer a Rose. - Afirmou.

— Não, não, NÃO! - A garotinha gritou, enquanto adentravam a sala de jantar. - Rose já viu que o papa vai perder! - Revelou. Jellal estacou, olhando-a admirado.

— Isso tem acontecido com muita frequência? - Voltou-se para as filhas mais velhas, que já aguardavam na mesa de jantar.

— O tempo todo. - Ruby respondeu. - É quase como um oráculo vinte e quatro horas. - Comentou, aborrecida.

— A magia dela evoluiu muito em apenas dois meses. - Jellal comentou preocupado, colocando Rose na cadeirinha infantil. - As previsões ainda vem aleatoriamente? - Questionou as filhas novamente.

— Agora ela está aprendendo a controlar. - Agatha, que até então distraia-se comendo um pedaço de bolo de morango, respondeu. - Quer ver? - Perguntou. - Rose, quando Ryuuji virá aqui em casa novamente? - Questionou, na clara tentativa de atingir a irmã do meio que, irritada, fuzilou-a com o olhar.

— Eto… - A caçula levou o dedinho aos lábios e olhou para cima, como se estivesse apenas pensando na resposta para um problema simples, e assim permaneceu por cerca de vinte segundos, até que seus olhinhos verdes se arregalaram em satisfação. - Na hora da sobremesa! - Revelou, animada.

— Nani? - Ruby sobressaltou-se. - Então tenho que me trocar! - Falou, levantando-se atrapalhadamente.

— Oe! - Jellal chamou, levemente incomodado. - Precisa se trocar apenas porque Dragneel virá aqui? - Questionou.

— Claro. - Ignorando o tom azedo do pai, assentiu. - Ainda estou com o uniforme da Academia. Não quero que ele fique me perturbando dizendo que não tomo banho. - Completou, deixando o cômodo.

Jellal nem questionou. Sabia perfeitamente que o projeto de Natsu não precisava de motivo para sair atasanando as pessoas. Ainda assim, sentia que evitar azucrinações não era o único motivo que a filha tinha para se arrumar quando o garoto chegava. E não podia evitar de se entristecer por isso. Sua filha do meio já estava entrando na adolescência… E ele participara tão pouco de sua infância!

Suas três filhas, embora fossem igualmente ruivas, eram tão diferentes quanto poderiam ser.

Agatha, a primogênita, geralmente era inexpressiva, mas tinha uma personalidade calma e doce. Os cabelos curtos e repicados na altura do pescoço lembravam muito a Erza quando era criança, assim como a maneira de falar, sempre branda e gentil.

Entretanto, o jeito pacifista da garota dava lugar a uma frieza assustadora quando a irritavam. Assim como a mãe, era uma exímia espadachim, mas ainda não era capaz de estender o Kansou para suas armaduras.

Ruby era dois anos mais nova que Agatha e, para Jellal, era quem mais se parecia com a Erza atual, o que geravam alguns conflitos entre mãe e filha.

Os cabelos escarlates que alcançavam o quadril estavam sempre presos em duas maria-chiquinhas, e os óculos de grau lhe davam um ar de superioridade e inteligência, o que, de fato, não era só aparência.

A garota era um verdadeiro gênio, do tipo que nem precisa frequentar as aulas ou estudar para ser a melhor aluna da classe. Entretanto, mesmo agraciada com um QI tão elevado, a garota sofria por ter baixos níveis de magia.

Finalmente Rose, a caçulinha de apenas quatro anos, era o xodó dos pais e das irmãs. A garotinha hiperativa possuia lindos cachinhos ruivos, e era a única que tinha herdado os olhos verdes do pai.

Ao contrário de Ruby, Rose, desde muito cedo, começou a usar magia, para preocupação dos Erza e Jellal. O mago de cabelos azuis ainda se lembrava como foi complicada a época em que os poderes da garotinha começaram a se manifestar. Afinal, como explicar a uma criança que ela enxergava de duas maneiras distintas? Obviamente, a pequena cresceu confundindo o futuro com o presente.

— Oto-san, está tudo bem? - Agatha perguntou, ao perceber o estado quase catatônico do pai.

— Gomen. - O mago desculpou-se, sem graça. - Eu me distraí. - Justificou.

— Rose pensou que papa tinha dormido de novo. - A garotinha observou, curiosa.

— E você Agatha? - Buscando afastar o incômodo, Jellal puxou assunto com a primogênita, que imediatamente o encarou de forma serena. - Tem ido bem na Academia? Seu time tem feito muitas missões?

— Hmm… - A garota murmurou. - Tirando a implicância dos professores com a Fairy Tail, na escola está tudo ok. - Respondeu. - E o nosso time sai em missão sempre que Nashi ou os gêmeos não pegam detenção. - Contou, lembrando ao pai como sempre andava em boas companhias. - Mas nunca ganhamos muito, pois a maior parte da recompensa vai para cobrir os estragos que fazemos. - Concluiu, depressiva.

— Isso é tão nostálgico! - Erza exclamou, adentrando a sala de jantar carregando uma travessa de arroz e outra de purê de batatas com carne. - Lembro que quando éramos mais novos, nosso time também costumava destruir as coisas. - Contou, saudosa.

— Querida, vocês ainda destroem as coisas. - Jellal lembrou, fazendo-a suspirar, irritada. - Aliás, como vocês conseguiram destruir uma ponte e dois barcos? - Perguntou, curioso, lembrando-se da notícia que lera cerca de um mês antes, que descrevia a forma desastrosa que terminara uma das missões do Time mais Forte.

— Com dois idiotas usuários de gelo e fogo, claro. - Erza respondeu, indiferente.

— Nós nunca destruímos uma ponte. - Disse Agatha, puxando na memória todos os desastres protagonizados por seu time.

— Mas vão destruir uma torre! - Rose revelou, chamando a atenção dos pais e da irmã.

— Quando? - A mãe perguntou.

— Eto… - A ruivinha forçou a mente, tentando descobrir. - Amanhã… - Tentou - Ou depois de amanhã… - Ponderou, fazendo-os compreenderem que ela não sabia o dia certo. Afinal, a pequena ainda não tinha uma boa noção temporal.

— Bem… Vou falar para Nashi e Gael ficarem bem longe de qualquer torre nos próximos dias. - Decidiu a mais velha.

— É bom mesmo. - Erza murmurou em concordância. - Onde está Ruby? - Perguntou, se sentando, só então dando falta da filha do meio.

— Foi se trocar. - Jellal e Agatha responderam em uníssono.

— Na hora da janta? - A matriarca resmungou.

— Ryuuji vai aparecer daqui a pouco. - A mais velha justificou.

— Ah! - Exclamou a mãe, complacente. - Esses dois! - Exclamou, risonha.

— Como assim “esses dois”? - Jellal perguntou, desconfiado. Na verdade, desesperado seria o termo mais adequado.

— Nada, nada. - Titânia respondeu, enquanto se servia de purê.

O mago de cabelos azuis preferiu não levar a conversa adiante. Até porque, estava realmente faminto. Assim como Erza, serviu-se de uma generosa porção de purê e começou a atacar imediatamente.

Mesmo gastando cada fibra de seu corpo na tarefa de devorar a comida a sua frente - afinal, não era sempre que conseguia se alimentar decentemente em suas viagens -, não pôde deixar de se incomodar com o relacionamento que sua filha do meio vinha mantendo. Na verdade, não era essa a questão. O que realmente o incomodava, era o fato de não poder agir como pai o tempo inteiro.

Jellal era muito grato pela oportunidade que Makarov lhe oferecera. O antigo mestre da Fairy Tail tinha pedido que ele se passasse por Mystogan, para que investigasse as atividades suspeitas do Conselho Mágico e das Guildas das Trevas a favor da Fairy Tail. Em troca, ele seria um membro extraoficial da guilda, podendo usufruir de suas dependências e até mesmo realizar missões. Mais do que isso, tal proposta lhe permitiu realizar seu maior sonho: Construir uma vida ao lado de Erza.

Porém, a vida que escolhera, tinha seu preço: Jellal ainda era um criminoso procurado. Mesmo que tivesse constituído família, para segurança de sua esposa e de suas filhas, ele não podia ser ligado a elas. Tanto que ele e Erza não eram casados no papel.

Assim, nenhuma das meninas tinha seu sobrenome. Todas eram "Scarlet", como a mãe. Aliás, elas sequer conheciam seu nome verdadeiro. "Jellal Fernandes" não existia na vida das filhas. Para elas, ele era apenas Mystogan.

Além disso, logicamente, ele não podia mostrar livremente seu rosto em público, o que o impedia de desenvolver atividades simples e corriqueiras, chateando-o profundamente. Ele nunca tinha levado suas filhas para a escola. Nunca tinha ido a uma reunião de pais. Passeios ao ar livre eram raridade e só aconteciam em locais muito isolados. Ser privado de tais momentos, por vezes, fazia com que ele se sentisse menos pai.

Mas o mais difícil de tudo, era explicar a situação para as crianças. Jellal não queria que elas soubessem que ele era um criminoso procurado. Também temia que elas descobrissem todas as atrocidades de seu passado. Porém, com o passar do tempo, tudo ficava mais difícil de se ocultar. As meninas sempre faziam perguntas que Erza já não sabia como responder.

Para completar, muitas vezes, ele recebia missões que o obrigavam a passar meses viajando. E com isso, ele tinha perdido inúmeros momentos importantes da vida de suas filhas. Ele tinha perdido os primeiros passinhos de Ruby e as primeiras palavras de Rose. E céus, ele só descobrira que Erza estava grávida de Agatha quando ela já estava no oitavo mês de gestação, pois, na ocasião, passara quatro meses em missão, e a esposa não tinha lhe dito nada quando se comunicavam, para que ele não se preocupasse.

— Ryuuji ainda não chegou, né? - Seus pensamentos foram cortados pela voz de Ruby, que entrou afobada na sala de jantar. Ao perceber os olhares de seus familiares voltados para si, ela corou. - Não que eu esteja esperando por ele! - Tentou justificar, comprometendo-se ainda mais.

— Claro. - Agatha concordou, ironicamente.

— Coma alguma coisa, Ruby. - Erza ordenou.

— Não estou com fome. - A garota respondeu.

— Eu não te perguntei se está com fome, apenas mandei comer. - Titânia falou, levemente irritada.

— Você duas: Menos! - Disse Jellal, fazendo com que elas parassem imediatamente. - Ruby, coma pelo menos um pouco, por favor. - Pediu, sorrindo para a filha. O que ele não sabia era que Ruby não resistia a um sorriso de seu pai. Assim, mesmo que contrariada, sentou-se e começou a se servir.

O jantar seguiu tranquilamente e logo veio a sobremesa, o tradicional bolo de morango. Jellal achava incrível como a esposa conseguia reinventar a receita de tantas formas diferentes. A da ocasião era combinada com leite em pó, deixando-a realmente muito saborosa.

— Rose - Ruby chamou com a boca cheia. -, você não disse que o Ryu chegaria na hora da sobremesa? - Perguntou, entre uma garfada e outra.

— Ele já chegou. - A pequena respondeu despreocupadamente, enquanto se lambuzava com o glacê do bolo, fazendo com que os pais e as irmãs lhe encarassem, curiosos.

— Como já chegou, Rose? - Erza perguntou, carinhosamente. - Ninguém entrou aqui. Nós teríamos visto da sala se jantar. - Completou.

— Ele entrou pela janela do seu quarto. - A caçula explicou, apontando para Ruby, ao mesmo tempo que tentava retirar o creme esbranquiçado de suas bochechas. - E está mexendo nas suas coisas. - Avisou.

— NANI??? - Ruby e Jellal perguntaram em uníssono e se levantaram.

— AQUELE ENXERIDO!!! - Ruby gritou sozinha, enquanto corria em disparada para seu quarto. Jellal teria acompanhado a filha se Erza não tivesse o segurado.

— Deixe-os, Mystogan. - A maga guerreira pediu.

Com um bico enorme, o mago concordou. Mesmo que acreditasse piamente que era um baita desaforo um pirralho ficar invadindo o quarto de uma de suas princesinhas e ficar mexendo nas suas coisas. Bem, na verdade, era mesmo.

— SEU PESTE! EU VOU CORTAR SUA CABEÇA!!! - Todos puderam ouvir os berros de Ruby, que ecoaram pela casa. - PARE DE FUÇAR NAS MINHAS COISAS!!! - Esgoelava, com a voz rouca.

— Ela realmente é a sua cara. - Jellal comentou para Erza, que lhe lançou um olhar nada amigável.

— Agora Papa! - Rose chamou, sacudindo os bracinhos. - Papa disse que ia lutar com a Rose depois do jantar! - Lembrou, tentando se livrar da cadeirinha infantil.

— Primeiro, a sonhorita tem que tomar um banho, para tirar todo esse glacê do cabelo. - Erza interviu.

— Ahhh! - A garotinha resmungou, contrariada. - Rose quer lutar com o papa! - Protestou.

— Agatha, você pode dar um banho nela, por favor? - Titânia pediu para a primogênita, enquanto tirava as panelas da mesa.

— Hai. - A garota concordou.

Agatha retirou a caçula do assento e caminhou com ela no colo em direção ao banheiro. Jellal, para ajudar a esposa, retirou os pratos da mesa e a seguiu em direção a cozinha.

— Aqui. - Colocou os pratos na pia, enquanto pegava um guardanapo, para ajudá-la.

— Não precisa fazer isso. Pode descansar. - Disse Erza.

— Eu quero ajudar. - O mago respondeu, e ela não contestou. Sabia que ele se sentia mais útil quando ajudava com as tarefas domésticas. Jellal tentava compensar sua ausência de todas as formas possíveis, e isso a incomodava.

— O que está te chateando? - Erza perguntou, terminando de enxaguar um prato e passando para ele. Jellal esfregou a porcelana branca antes de responder.

— Elas estão crescendo. - Falou, baixinho, quase tristonho.

— Sim. - Titânia respondeu, lhe passando outro prato. - É assim. Os filhos crescem e começam a viver a própria vida. Me sinto incomodada também. - Confidenciou.

— Mas eu sinto como se tivesse perdido grande parte disso. - Jellal continuou. - Estive ausente em tantos momentos… É como se eu não estivesse participando de verdade da vida delas. - Emendou.

— Jellal. - Erza parou de enxaguar uma faca e voltou-se para ele. - As meninas perguntam de você todos os dias. Agatha pensa que eu não percebo, mas ela acha a cor dos seus cabelos mais bonitos e queria que os dela fossem iguais. Ruby não admite, mas tem verdadeira adoração por você. Ela nunca me obedece, mas faz tudo que você pede sem contestar. E Rose, bem, ela fala de você a cada minuto. E eu estou ficando realmente preocupada, porque suas missões estão começando a aparecer nas visões dela. - Contou, parando um pouco para tomar fôlego. - Além disso, a primeira palavra que todas elas disseram foi “Papa”! - Completou, indignada. - Você pensa que não, mas é mais presente que muitos pais que passam o dia inteiro em casa. Pare de se martirizar! - Pediu, levemente irritada.

— Ok. - Ele sorriu não muito convencido, mas consideravelmente mais tranquilo. - Você sabe que seu discurso seria muito mais convincente e muito menos ameaçador se você não estivesse apontando essa faca enorme para mim, não é? - Perguntou, fazendo Erza encarar o objeto que tinha em mãos, envergonhada.

— Gomen! - Pediu, voltando a enxaguar a lâmina.

A ruiva passou a faca para o esposo secar e pôs-se a esfregar uma panela, concentrada. Porém, distraiu-se de sua tarefa quando sentiu dois braços a envolverem por trás.

— Sabe, eu tenho que dizer a Agatha que a cor do cabelo dela é muito mais bonito. - Comentou, abraçando a esposa. - Afinal, são iguais aos seus.

— Eu gosto dos seus. - Erza respondeu, largando a panela dentro da pia.

— Eu sou o homem mais sortudo do mundo. - Jellal continuou, pressionando-a contra a pia. - Porque eu tenho quatro ruivas lindas! Ninguém pode se gabar de algo assim. - Completou.

— Convencido. - A maga virou o pescoço, para encará-lo.

— Eu amo você. - Disse ele, olhando profundamente nos olhos castanhos da esposa.

— E eu amo você. - Erza respondeu, encarando os orbes verde-musgo do esposo na mesma intensidade.

E então, naquela mesma posição, os dois uniram os lábios, experimentando um beijo saudoso e ávido.

— PAPA… - Rose, que entrou na cozinha animada, estacou ao flagrar os pais no meio de um caloroso amasso.

Erza e Jellal, completamente constrangidos, se separaram em um salto e voltaram aos seus afazeres anteriores, como se nada tivesse acontecido.

— Ih, Rose! - Agatha, que estava logo atrás, exclamou. - Papa e Mama estão ocupados. Melhor voltarmos depois. - Completou, tentando puxar a caçula pela mão.

— Agatha! - A mãe repreendeu, envergonhada.

— NÃO, NÃO, NÃO!!! - A garotinha negou, batendo os pés. - Papa prometeu brincar com a Rose! Mama brinca com papa depois! - Determinou, cruzando os bracinhos, autoritária.

— Rose! - Erza exclamou, corando violentamente.

— Ok! - Agatha desistiu e saiu da cozinha.

— Vamos papa! - Rose chamou.

— Hai. - Jellal respondeu, agachando para ficar da altura da filha. - Você pode pegar es espadas Rose? - Pediu, afagando a cabeça da menina. - Leve-as lá para a sala, que o papa já vai. - Avisou.

— HAI!!! - A caçula gritou animada e correu para buscar os brinquedos.

Sem perder tempo, Jellal levantou-se e caminhou até a esposa e, quando a alcançou, a puxou pela nuca, dando-lhe um selinho demorado.

— Você ouviu. - Falou no ouvido dela, fazendo-a arrepiar. - A gente brinca depois. Agora eu tenho um duelo de espadas para perder. - Comunicou, jogando o guardanapo sobre a pia e deixando o cômodo.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?

Provavelmente, o nome do capítulo quatro será "Família Strauss." Vocês sabem de quem estou falando, né?

Eeee, se tudo der certo, o capítulo cinco se chamará Família Redfox. Estou doida para escrever logo este.

Enfim, espero que tenham curtido.

Ah! Eu também escrevo outras fanfics (inclusive, tenho uma concluída, que se passa no universo do anime). Deem uma conferida.

Até o próximo!



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