Begin Again escrita por Nina Spim


Capítulo 1
Chapter One


Notas iniciais do capítulo

Então, eu voltei.
Essa história tem estado na minha cabeça por muito tempo, mas não sabia quando teria a oportunidade de escrevê-la. Acabou que eu me distanciei muito do seriado no último semestre e somente agora a "inspiração" para escrever sobre Glee deu as caras.
Espero que gostem ♥



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Parte I – Você chegou cedo, se levantou e esperou.
Eu caminhei até você.

(Begin Again, Taylor Swift)

Faltam exatamente cinco horas. E, enquanto isso, eu reavalio a minha vida em trinta segundos:

1) Rachel Berry, nascida e criada até os 18 anos em Lima, Ohio.

2) Mudei-me para Nova York para estudar na NYADA, uma das mais conceituadas escolas de música do país.

3) Ainda em Lima, encontrei o amor da minha vida. Só que ele foi embora.

4) Ainda em Lima, tive uma segunda chance no amor. E, felizmente, esse está comigo até hoje. Faz oito anos.

5) Estou prestes a estrear pela segunda vez na Broadway, um lugar que é a minha casa.

6) Vou me casar dentro de um mês.

Antes de sair do carro que me leva para o New Amsterdam Theatre, respiro fundo. Preciso dar conta disso.

O primeiro sonho que floresceu em mim, ainda muito criança e ingênua, foi o de estar nos palcos. Onde eles fossem, não importava muito. Gostava da encenação, dos olhares, das palmas. Em festas de família, eu era responsável por entreter os mais velhos. Minha família e amigos dela foram o meu primeiro público. Depois que meus pais perceberam que minha obsessão pelos palcos não tinha passado (acho que eles tinham a ideia de que seria apenas uma fase), começaram a me questionar: o que eu faria lá em cima? Eu sabia fazer de tudo um pouco. Sapateado, ballet, dança livre, contar histórias imaginárias... Mas foi somente quando assisti ao musical de O Mágico de Oz que percebi que a preocupação de meus pais não precisava mais ser encarada assim. Eu tinha oito anos quando me adentrei no meu primeiro teatro da Broadway e, a partir de então, eu sei onde é meu lugar.

Eu vivo de música. Na verdade, posso dizer que eu sou música.

E é completamente ridículo da minha parte estar tão nervosa! Estou envolvida neste segundo projeto há quase dois anos. Estreei em Funny Girl, aos 20 anos. Não foi um fracasso. Disseram que eu, com toda a minha inexperiência, honrei Barbra Streisand. Não nego que meu ego inflado adorou saber disso. A peça (que era Off-Broadway) se sustentou por três anos e meio. No último semestre das apresentações de Funny Girl, um diretor me procurou. Eu estava extasiada com a Fanny, não esperava sair desse papel tão cedo. Mas então lá fui eu aceitar meu novo desafio: Eliza Doolittle. Fiquei estarrecida por estar ganhando algo assim. Como superar Audrey Hepburn (que, é claro, já está na mente de todos quando se trata de Eliza)? Como encarar vestir a pele de outra personagem, se ainda não estava preparada para deixar de ser a Fanny? Mas a oportunidade foi agarrada e com ela aprendi muito.

Eu estava viajando pela primeira vez com a Fanny. Era bom, era gratificante. Mas ter ganhado Eliza e ter investido tanto trabalho me fez enxergar que é isso que os atores fazem: repetem a si mesmos que precisam de mais. Superação de um fracasso é algo que todo ator tem de aprender. Porque não dá pra viver com medo de tentar.

Agora estou aqui. Encaro a placa do teatro. O dia está nublado e um pouco frio. São cinco da tarde e tudo o que preciso fazer é encarar o medo.

Eu sou a Eliza, convenço-me. Ganhei o papel, não é mesmo? Como posso não sê-la, se sinto seu coração bater no meu peito? Respiro fundo de novo.

– Seja grande, pequena estrela – Carl me diz. Ele é o motorista contratado desde que tudo começou. Conheço-o tão bem quanto ele me conhece. Sei que sua esposa morreu de câncer há dez anos e que sua filha mais velha está na Austrália estudando Biologia. Sua neta mais velha, de 12 anos, adora quando a deixo assistir aos ensaios. Diz que “quer ser como eu”.

Sorrio, tentando passar uma imagem diferente daquela que sinto. Seguro a mão dele, já meio enrugada, e a aperto.

– Obrigada por tudo, Carl.

Ele sai de seu lugar, dá a volta no carro e abre a porta para mim. Aprumo-me quando já em pé no asfalto. Pareço apenas mais uma garota qualquer sob a placa do teatro. Lembro-me da minha primeira vez dentro de um lugar tão especial. Eu tinha ficado boquiaberta. Mesmo que os últimos cinco ensaios tenham sido aqui, bem onde estrearei novamente, não consigo evitar estar boquiaberta. Mas penso que Carl está certo, preciso ser grande. Preciso parar de agir e de me sentir como se fosse aquela Rachel Berry inexperiente na estréia de Funny Girl.

Entro pela lateral do teatro, destinada para os atores e que me levam para a coxia. Jesse, meu par no musical, vem ao meu encontro na mesma hora. Penso que precisa deixar de lado todo o gel no cabelo e respirar um pouco mais calmo. Ele parece eufórico. Mas eu entendo: é o primeiro papel dele – o primeiro em destaque. Ele é Henry Higgins, o professor de fonética. Apesar de ele ter a mesma idade que eu, nada que uma ótima maquiagem não esconda este fato.

– Você não está nervosa, não é? Seria muito bom se você não estivesse, porque eu estou. E, sabe, dizem que é muito bom estar perto de pessoas que lhe transmitam calma quando se está sob pressão e querendo sair correndo. – Jesse dispara, mexendo no cabelo, mesmo que ambos saibamos que ele nunca teve essa mania.

Conheci-o no último dia de audições para o elenco. Andrew e eu estávamos quase certos de que já tínhamos achado o meu par, quando Jesse apareceu. Contracenamos sem esforço algum a cena em que Eliza se encontra pela primeira vez com Henry. E Jesse foi delicado e constante. Perfeito para o papel. A nossa conexão foi imediata, tanto é que, agora, ele é um dos meus melhores amigos. Dizem que nesse meio ninguém é amigo fiel nem verdadeiro de ninguém, mas Jesse é incrível, tanto como ator quanto como amigo.

Agarro a mão dele que não para de detonar o penteado que, provavelmente, levou uns quinze minutos para ficar pronto.

– Você não vai sair correndo. Nós estamos prontos. Sinto isso, Jesse. – respondo a ele. Preciso ser sensata. E ele precisa ser também. Arrumo os fios que ele atrapalhou, para que tudo fique em ordem de novo. – Venha, vamos ouvir a Julie mais uma vez pra relaxar.

Cumprimentamos muitos dos outros atores que aqui estão e seguimos para o camarim que foi reservado somente para mim. Tina, minha assistente, está falando no celular com alguém e, quando eu e Jesse entramos, ela aponta para um boque enorme de rosas vermelhas que descansam sobre o tampo do balcão de maquiagem. Ela passa nos nós sorrindo e vai embora, fechando a porta.

– Tenho inveja do fato de, mesmo que seu noivo não esteja na cidade, sempre consiga estar presente. Desse jeito, como vou arrebatar seu coração? – Jesse brinca. Ambos sabemos que somos melhores amigos; ele nunca insinuou nada. E eu nunca achei que ele estivesse dando em cima de mim. Meu noivo, Finn, acha exatamente o oposto.

Vou até o arranjo e encontro um cartão.

Quebre a perna!

Com amor e muita saudade,

Finn.

Finn está em Chicago no congresso internacional de formação de professores. Ele se formou na área há dois anos e é completamente apaixonado pela profissão. Desde o começo de nosso relacionamento, há sete anos, Finn tem me apoiado na minha carreira. Ele tenta entender a minha ausência em certos períodos e aceitar que contracenar com alguém do sexo oposto não significa que eu precise tirar a roupa sempre (na verdade, isso nunca aconteceu nos palcos. Acho que fico feliz).

Fico mais tranquila por saber que Finn tenha preparado essa surpresa mesmo que esteja longe. Deixo as flores e o cartão onde estão e, antes de nos acomodar nas poltronas da sala, ligo o iPod com a seleção que fiz das músicas originais do musical. Jogo as minhas sapatilhas para longe e tento relaxar.

{...}

Estou com vontade de chorar, mas sei que seria esquisito. As palmas me engrandecem e sinto-me tão grande quanto Carl me disse para ser. Todos estão em pé, aplaudindo o show. Eu e Jesse estamos de mãos dadas e parece que ele está se segurando para não me abraçar.

As cortinas descem e sinto as lágrimas no meu rosto.

– Obrigado por não me fazer correr – Jesse me diz, todo sorridente e orgulhoso. Não que pudesse expressar algo diferente. Ele foi um arraso. – Nós conseguimos! A BROADWAY É FINALMENTE NOSSA! – ele grita.

O New Amsterdam Theatre tem capacidade para quase 2.000 pessoas e My Fair Lady re-estreou hoje porque Mary Poppins, o musical atual encenado aqui, foi realocado para o começo da semana. E ele tem razão: estamos de fato na Broadway. Nada de Off-Off-Broadway, ou Off-Broadway. Os críticos, agora, vão saber meu nome em primeiríssima mão. O musical teve uma publicidade bombástica e espero que todas essas palmas que ainda ecoam nos meus ouvidos sejam transcritas em inúmeras matérias de jornais e resenhas críticas.

Eu amo a minha vida, penso antes de descer do palco.

Parte II – E se você se perder

Eu vou encontrar você.

(Find You, Zedd)

Descobri minha profissão depois de ter ingressado em Yale, em Direito. Fui a um workshop sobre fotografia e, dois meses depois, tranquei a faculdade e fui para Nova York fazer um curso de seis meses com uma das fotógrafas mais jovens e mais promissoras do estado, Santana Lopez. Na época, ela tinha uma assistente que não sabia diferenciar um obturador de um diafragma. Durante o curso, fui me aproximando dela e de Santana e, hoje, elas são as minhas duas melhores amigas. Dividimos por quase um ano um apartamento pequeno, até que elas se mudaram para um loft. Fiquei sozinha no apartamento, pois estava no meu nome. Os seis meses terminaram e Brittany decidiu se afastar do trabalho para se dedicar ao seu hobby preferido: a dança. Então, eu fiquei como assistente de Santana em seu ateliê. Fiquei lá por quase dez meses, até que me candidatei para uma vaga de fotógrafa na revista semanal Variety. Para minha total surpresa, fui aprovada.

Trabalho na Variety há três anos. Adoro o que faço, apesar de ter de lidar com muita gente difícil. O chefe de departamento é muito paciente, mal dá pra reclamar do Sr. Schuester. Mas, como ele sempre me coloca para trabalhar com o Noah Puckerman, às vezes dá muita vontade de bater de frente com o cara – mesmo que eu saiba que Sr. Schue não tem culpa nenhuma pelo fato de Puck ser um cafajeste. Puck é um ótimo jornalista, entretanto. Já ganhou dois prêmios Cabot. E ele só é três anos mais velho do que eu!

O lado ruim de trabalhar com cultura é que sempre vai encontrar alguém que se acha superior a você na área. Ainda que eu seja uma simples fotógrafa, isso machuca demais meus ouvidos.

Mas pelo menos estou em Nova York. Gosto daqui. É melhor do que a minha cidade natal, que é um buraco. Só os que realmente se esforçam saem de lá e me orgulho por poder afirmar que eu me esforcei para ser alguém. Sei muitos colegas de escola ficaram lá, sem ambição alguma. É claro que sei de poucos, também, que conseguiram o mesmo feito que eu e fico feliz por constatar que nascer em Lima não significa que você será um fracassado pelo resto da vida.

{...}

Na reunião geral de núcleo, Puck diz que recebeu um release de um musical. A revista abrange temas como cinema, negócios e entretenimento de forma geral. Por isso, não é raro que recebamos propostas para averiguar novidades culturais.

Gosto muito de música, não porque fui criada numa família dotada de dons artísticos. Para falar a verdade, a minha família é muito tradicional e entediante. Mas não freqüento muito a Broadway. A única vez que assisti a um musical já faz algum tempo, e era Off-Broadway. Pouco sabia da trama e é claro que não fazia ideia do soundtrack. Não foi decepcionante. Não posso dizer que aquilo foi uma porcaria. Porque – acredito eu – mesmo para se estrear na Off-Broadway a pessoa tem de ter certo preparo e talento.

Sr. Schuester dá a pauta para Puck.

Penso que, talvez, exista uma possibilidade de que me safar dessa. Mas então Puck lança uma piscadela para mim e bate seu ombro no meu.

– Parceiros, Fabray? – ele me pergunta de forma cínica. Rolo os olhos, mas não contesto. Não adianta. A segunda fotógrafa, que se juntou à equipe há pouco tempo, está fora para cobrir um evento numa galeria, de modo que sobra apenas eu.

Puck começa a discorrer que já fez alguns contatos e que conseguiu falar com a assistente da atriz principal do musical. É claro que nem preciso dizer que ele conseguiu uma exclusiva. O Puck sabe conquistar o que for quando quer.

O nosso expediente vai até às seis da noite (temos uma carga horária de oito horas), de modo que nosso trabalho para a matéria semanal fica agendado para após o nosso horário normal, às onze da noite. Puck sugere que tentemos comprar os ingressos para assistirmos a peça. Eu digo que não sou eu a repórter e que, se ele precisa de maiores informações, ele que vá sozinho. Puck faz uma careta para mim e fica absorto no seu computador. Minutos mais tarde, ouço-o no telefone perguntando se há ingressos sobressalentes. Quando ele termina, está triunfante.

– Adivinha quem conseguiu entrar no show? – ele me pergunta, todo se gabando. Dou de ombros.

– Quem é a entrevistada?

Fui a uma palestra sobre Fotojornalismo promovida pela Variety e aprendi que é muito bom conhecer o que se está fotografando. Se é uma pessoa, você precisa saber sobre o que é a matéria que está sendo escrita e qual é a profissão dela. Isso quer dizer que você, enquanto fotógrafo, saberá qual ângulo abordá-la e qual enquadramento é o melhor. Por isso, preciso saber quem é a atriz principal que concedeu alguns minutos para uma entrevista com o Puck.

– É aquela garota de Funny Girl – ele me diz.

– Barbra? – arregalo os olhos. Isso parece impossível. O quê, a Babra Streisand voltou aos palcos?

– Não. Aquela que estourou há uns anos na Off-Broadway – Ele volta seus olhos para o computador, lê algo e diz: – Rachel Berry.

Minhas sobrancelhas se erguem, mas não consigo formular uma resposta imediata. Sinto meu rosto perder a cor, na verdade, sinto-me como se fosse desmaiar. Minhas pernas estão fracas. Cruzo os braços rapidamente e franzo a testa.

– Rachel Berry? – esse nome soa muito estranho na minha voz. Faz tanto tempo que não o profiro em voz alta. – Hum. E ela continua na Off-Broadway? – Que estranho! Por que não sei mais nada sobre ela? Ah, sim... Eu prometi a mim mesma deixar que o destino fizesse a sua parte. E parece que ele não quer que eu a esqueça.

– Se liga, Fabray! Não viu as placas? – Puck revida com grosseria – Ela está em todos os lugares com um relançamento de My Fair Lady. Como se aquela insuportável da Audrey já não fosse um porre... Não acredito que estou me prestando a isso. Musicais! Odeio meu trabalho.

– Faltou você fazer a dancinha da vitória quando conseguiu o ingresso – lembro a ele, subindo uma das sobrancelhas.

– É, porque eu gosto de dinheiro.

Rolo os olhos.

Volto para a minha mesa. Digito o nome de Rachel no Google. Faço uma busca rápida. Há imagens e mais imagens glamurosas dela em capas de revistas musicais. Ela está diferente. Mais adulta. Mal lembra aquela Fanny Brice ingênua de quase três anos atrás.

Não consigo mais me concentrar. Preciso fazer alguns tratamentos em algumas fotografias, mas saio toda hora do meu posto para buscar café e olhar mais uma centena de imagens de Rachel. A certo ponto, Puck olha para mim e me inquire:

– O que há contigo?

Mas eu não sei responder. Sinto-me uma pré-adolescente que está a duas horas de ir ao show do seu ídolo preferido. É ridículo.

Quando bato o ponto, Puck me diz:

– Passo no seu prédio às nove.

– A entrevista é depois das onze, não?

– Você vai ao show, minha cara. Nem tente dizer não. Eu comprei, não há devoluções.

Fico indignada. Impaciente, respondo:

– Espero que consiga vender o segundo ingresso na hora, porque eu não vou ao show.

– Odeia tanto assim musicais? Ou também quer boicotá-lo em nome da Audrey Hepburn? Ouvi dizer que muitos fizeram isso...

Não sei o que fazer. Não estou preparada para assistir Rachel atuar de novo. Esperava que isso nunca mais voltasse a acontecer e que, especialmente, eu nunca mais fizesse nossas vidas se reencontrarem.

– Ok. Eu vou. – estou engolindo toda a minha raiva para que ele não a veja nos meus olhos. Puck sorri satisfeito para mim.

– Ótima decisão. Vista algo bem sexy, ouviu? – e daí vai embora.

{...}

Não sei por que estou fazendo isso pela sétima vez, mas encaro meu diminuto reflexo no espelhinho de mão. Meu vestido vai até os joelhos e é estampado de um jeito delicado. Meu cabelo está preso de um modo que parece que paguei pelo menos 50 dólares por ele, mas apenas o prendi num coque baixo com alguns grampos. Talvez sejam as flores. Por que escolhi esse maldito headband romântico?

Devolvo o espelhinho de volta à minha bolsa de mão e torço os dedos. Caramba, está tudo errado! Parece que vou parar de respirar a qualquer momento a partir de agora.

– O que aconteceu com o vestido sexy? – Puck pergunta de repente. Estamos no carro dele. Até então, estávamos em completo silêncio.

– O que aconteceu com o seu bom senso? – revido.

Ele solta uma risada baixa.

– Você é engraçada, Fabray – ele pontou. Odeio que ele me chame pelo sobrenome! Não é nem um pouco legal da parte dele, sendo que somos colegas desde o primeiro dia em que consegui a vaga na revista. – Se quiser elogios, posso fazê-los. Não sabia que você era tão ligada à aparência assim.

– Não sou – digo entre dentes.

– Então, qual é a parada?

– Nenhuma. – respondo com a paciência estourada, e ele ri de novo.

Passa-se algum tempo, até que Puck inicia outra conversa, que apenas me desconcerta mais ainda.

– Viu o outro show dela? Da tal da Rachel? Seria antiético da minha parte perguntar quem ela prefere beijar? St. Jesse, ou o cara que fez par com ela em Funny Girl?

Puck é, definitivamente, a pessoa mais equivocada do mundo para exercer a profissão que tem. Não sei como consegue ser tão bom, juro.

Nem respondo a ele. Ficamos em silêncio de novo, acho que, finalmente, ele entende que não sou a melhor pessoa para se conversar.

Quando ele consegue estacionar, estou ansiosa e prestes a entrar em surto. Sei que é improvável que uma mulher de 25 anos tenha um surto no meio de uma sessão de estréia da Broadway, mas parece que amanhã estarei estampando os sites de fofoca. Forço-me para parecer sensata e equilibrada.

{...}

Os lugares que Puck conseguiu são péssimos, pois a sessão já estava praticamente lotada. Então, é provável que Rachel não faça a menor ideia de que eu, justamente eu, esteja prestigiando o seu retorno aos palcos. E ela foi incrível, mais uma vez. Não há palavras para descrever todas as canções ela que cantou de forma esplêndida.

Aparentemente, Puck sabe todo o protocolo que temos de seguir para conseguir a entrevista, pois é ele quem me guia pelo corredor do grande salão e, depois, chama a atenção de uma segurança e diz que é da imprensa. A mala que carrego com a câmera dentro parece ter vinte quilos. A mulher indica uma saída lateral e diz que dará aos bastidores. Em silêncio, seguimos as instruções. Há atores ainda trajados como seus personagens, mas Puck identifica uma asiática que parece muito profissional.

– Estou procurando por Tina Cohen-Chang – Puck diz.

– Pois não, sou eu. – ela responde, assentindo.

– Olá, Tina – ele oferece a mão a ela, que a aperta de modo ainda muito polido e profissional – Sou Noah Puckerman, agendei uma entrevista com Rachel Berry por intermédio de você ainda esta tarde.

Tina dá uma averiguada em mim e verifica a bolsa com o meu equipamento.

– Sim, sim. Isso mesmo. Variety, certo? Fico contente por vocês quererem uma exclusiva. Por aqui – e então ela caminha mais um pouco, e silenciosos, eu e Puck a seguimos. Saímos do salão comum e entramos em um corredor cheio de portas, uma ao lado da outra. Ela para numa porta amarela e bate. – Rachel? Esqueci de lhe dizer, mas tem um pessoal aqui querendo uma entrevista. Tudo bem se...

A porta se abre. A mesma mulher que visualizei a tarde inteira em fotos aparece com um hobby fino, todo prateado. Seu cabelo já está solto, e ela parece muito séria. Por um momento, ela olha para trás e sorri para alguém que está lá dentro.

– Pode me dar um minuto? Não parece altamente desprofissional eu me apresentar com isso? – vejo-a fazendo um sinal para o que está trajando e então ela ri. A voz dela soa exatamente igual à quando cantou: doce e aveludada.

A porta se fecha mais uma vez e Tina se vira para nós:

– Cinco minutos, eu garanto.

Há sofazinhos muito estreitos no corredor e Tina sugere que nos acomodemos em um deles e aguarde. Ela diz que, infelizmente, precisa vai cuidar de outros afazeres e nos deixa sozinhos no meio de um falatório exacerbado e gritinhos histéricos. Pego-me pensando que a Broadway é muito parecida com a escola.

Olho para a porta. Está escrito “Rachel Berry” em letras enormes e, abaixo, há uma estrela dourada.

– Espero que isso valha à pena – Puck resmunga. Nem me dou ao trabalho de dizer algo. Se vai, ou não, valer à pena, tenho apenas uma certeza: eu não deveria estar aqui.

A porta se abre mais uma vez e vejo Rachel usando um vestido curto, rendado, na cor pink. Seu cabelo está todo jogado para um só lado, de uma forma meio selvagem e sedutora. Meu rosto começa a esquentar quando, enfim, nossos olhares se cruzam e sua testa se franze. Ela estanca e abre os lábios tingidos da mesma cor que seu vestido.

Ela sabe quem sou eu. E mais: ela se lembra de tudo.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Beijos!



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