Haviam se passado três meses desde o incidente na lanchonete.... meu duelo contra aquele cara drogado. Ele acabou sendo internado numa clínica de rehab enquanto eu tive que durante estes três meses visitar uma psicóloga. Os encontros com ela eram bem chatos, todos estavam com medo de eu ter desenvolvido algum trauma devido ao que eu passei durante aquele dia. A psicóloga me proibiu de jogar Yu-Gi-Oh ou qualquer outra cardgame pois segundo ela isso poderia me fazer lembrar do perigo que passei e assim me fazer mal. Após um tempo vendo que não estava tendo progresso ela decidiu me deixar jogar, porém apenas durante as sessões e somente contra ela. Coitada... ela comprou o deck inicial do ano e me desafiou, várias vezes, com ele... era impossível perder para um baralho assim. Após algumas semanas derrotando ela várias vezes e a ensinando um pouco a jogar direito ela chegou a um veredito: Eu tinha algum problema na minha cabeça pois qualquer pessoa normal teria desenvolvido algum trauma devido ao que passei, porém eu não tinha nenhum. Segundo ela eu era a pessoa mais estranha que ela tinha conhecido. Então fui finalmente liberado para poder voltar a minha vida normal.

Durante estes meses eu acabei sendo entrevistado por algumas emissoras de TV locais, uma nacional e até mesmo uma internacional. Mas como estava privado de fazer muitas coisas devido ao tratamento psicológico eu não consegui aproveitar muito meus 5 minutos de fama, não pude nem ficar muito tempo com meus amigos. Mas hoje seria diferente, nós havíamos combinado de nos encontrar hoje para podermos conversar e jogar um pouco.

Eu estava saindo da minha casa para poder os encontrar quando noto uma coisa estranha na caixa de correio, havia uma correspondência bem grande nela que não cabia direito na caixa, chegando até mesmo a uma parte dela ficar pra fora. Me aproximo e retiro a correspondência para ver o remetente: Tokyo, Japan. CONAMI Corporation.

A empresa que produz as cartas de Yu-Gi-Oh havia me enviado uma carta?! Abro ela correndo para ver o que tinha dentro. Uma carta e um texto.

“Caro Sr. Reyo Mottaoi.

Nós da CONAMI Corporation estamos enviando esta carta como um modo formal de mostrar nossa admiração a bravura demonstrada por você há três meses. Nossos jogos são desenvolvidos para trazer diversão a que os joga, nos sentimos envergonhados pelo o que aconteceu. Mas também estamos orgulhosos por você ser um jogador de um de nossos produtos. Suas ações inspiraram milhares de pessoas ao redor do mund...”

– REYOOOOO! Vem comigo rápido seu filho da puta!! Para de ficar ai lendo correspondência.

Era um de meus amigos.

– Fábio? Por que você tá tão apressado assim?

– Porra to tentando te ligar há um tempo!

– Meu celular tá carregando...

– Não importa, vem logo. O Lyro me ligou a alguns minutos, assaltaram ele!

– Ele foi assaltado?!

– Sim vamo lá ajudar ele!

Guardo a correspondência apressadamente e corro para alcançar Fábio.

– Onde que o Lyro tá?

– Ele tá nas docas, ele tava bem assustado quando me ligou.

– Porra mas ele nunca carrega nada de valor, mesmo suas roupas não são de marca. Pra que alguém iria querer assaltar logo ele?

– Vamo correr mais rápido, ele deve estar em perigo.

Várias pessoas na rua estavam olhando para nós enquanto corríamos. Não havia nenhum posto policial por aqui perto e o número da polícia estava dando ocupado, de uns tempos para cá a quantidade de crimes havia aumentado bastante. A melhor opção de Lyro era mesmo nós dois.

As docas eram divididas em duas partes, uma em que ficava o caís e os barcos. Esta estava sempre cheia de pessoas, não havia como ele ser assaltado por lá, e caso fosse as pessoas poderiam socorrer ele, não havia motivo para ele nos ligar. Porém a outra parte das docas era onde ficava a carga trazida pelos navios e onde ficava o estoque de grandes lojas da cidade, este depósito era vazia durante o dia pois a maioria dos carregamentos são feitos de madrugada, tinha que ser nesta área que ele estava.

Quando chegamos na área de depósito começamos a procurar. Começo a procurar dentro dos armazéns porém a maioria deles estava trancada.

– AQUI ACHEI ELE! TÁ NO PÁTIO PRINCIPAL. – Fábio grita.

Corro por becos finos entre alguns armazéns até chegar no pátio, várias empilhadeiras estavam estacionadas nele. Fábio estava ajoelhado bem no meio do pátio, seus pés e mãos atados, em sua boca estava uma toalha amarrada que o impedia de gritar. Ajudo Fábio a desamarrar ele e o colocamos de pé.

– Você tá bem cara? Agente te ajuda a ir para um hospital. – Diz Fábio.

– Não precisa... eu tô legal não me machucaram muito... – Ele estava quase chorando.

– Pegaram alguma coisa sua? Documentos? Celular?

– Não eles não pegaram nada... apenas...

– O quê? Fala ai pra gente poder te ajudar.

Lyro estava se contendo para não chorar.

– Eles pegaram as minhas cartas.

– Ahh mas pegaram só isso?? – Fabio estava confuso.

– Mas seu deck só tem cartas baratas ele deve valer no máximo 30 reais. Eles não pegaram mais nada?! Se foram só as cartas agente pode te dar algumas pra você montar um deck igual ao seu antigo...– Eu também estava confuso, isso não era motivo para ficar assim.

– Não... é que ontem eu comprei dois boosters na loja. Por isso que chamei vocês hoje para jogar, queria mostrar as minhas cartas novas...

– E quais cartas você tirou?

– Comprei um booster da coleção “O Legado do destemido” e um booster do “Galactic Overlord”. Ai eu tirei um “Evilswarm Exiton” e um “Number 101: Silent Honor ARK”...

– O QUE?!

– CÊ TÁ DE BRINCADEIRA!!

– Não... eles roubaram estas cartas também...

– MAS ELAS VALEM 250 REAIS JUNTAS!!

– 250 REAIS CARALHO!!

Nós dois não estávamos acreditando. Estas duas cartas são extremamente raras e caras. Agora fazia sentido o Lyro estar desse jeito. Ele nunca teve muito dinheiro para poder comprar cartas, sempre teve que jogar com cartas baratas e usadas que só são vendidas quando não são mais usadas competitivamente. Finalmente poder ter cartas caras deve significar muito pra ele, ainda mais por ter as tirado na sorte. //e não ter desembolsado todo esse dinheiro igual muitas pessoas fazem.

– Quantos ladrões eram?

– Acho que dois, eles me seguiram mas estavam mascarados. Me trouxeram para cá antes de pegar as cartas. Eu liguei para você quando percebi que não daria para fugir deles...

– Mas e se eles ainda estiverem por perto? Nós podemos os encontrar e pegar elas de volta. – Eu conhecia esta região, era perto de onde eu morava.

– Vamos procurar pelos arredores então! – Fábio concorda.

Nós decidimos procurar primeiro no caís, mas todas as pessoas lá eram turistas, nenhum deles pensaria em roubar cartas. Procuramos pelos quarteirões por perto, perguntando até mesmo para lojistas se eles haviam visto duas pessoas estranhas por perto, porém não obtemos sucesso algum. Todos na rua pareciam normais e não tínhamos informações suficientes para facilitar a busca. Continuamos a procurar nas ruas até que Fábio para e começa a olhar um pouco para o céu.

– Espera um pouco gente. Para que algum ladrão iria querer roubar apenas cartas? Além disto como ele sabia que você tinha elas? Ele deve ter visto você ontem com as cartas. Por onde você passou?

– Uhh.. eu abri os boosters dentro da loja de cardgames. Fiquei um tempo lá olhando para elas mas não conversei com ninguém. Após sair da loja ainda andei um pouco na rua olhando para elas, mas as guardei após alguns minutos...

– Quem te roubou sabia que você tinha estas cartas. – Fábio continua seu raciocínio. – Mas mesmo assim o seu celular deve valer mais que elas. Quem te roubou não é um ladrão qualquer, é alguém que não sabe onde vender um celular mas que sabe onde vender cartas... ou que usa elas. – Acho que agora já entendi o que ele quer dizer... – Vamos para a Loja de Cardgames! Quem roubou as suas cartas vai passar por lá para vender!

Nós corremos para a loja, realmente fazia sentido o que Fábio estava falando, mas mesmo assim... como nós faríamos para saber qual era a carta roubada? Mesmo avisando a todos sobre isto qualquer um vai querer comprar a carta, não há como comprovar que ela é roubada... talvez o vendedor saiba o que podemos fazer, ele tem experiência nesse ramo a muito tempo e sempre trata bem os jogadores.

Chegamos em frente a loja. Kingdom era seu nome. Ao nos aproximar as portas automáticas abrem. Lá dentro estava com muitos jogadores já. Haia um grande grupo amontoado na parte direita da loja assistindo a um duelo.

– Vou lá checar aquele pessoal, as suas cartas vão chamar atenção se alguém as jogar juntas. – Fábio vai rápido em direção às pessoas assistindo o duelo.

Eu e Lyro entramos devagar olhando em volta para ver se tem alguém conhecido. Escuto uma voz de deboche me chamando.

– REYO! Finalmente você apareceu! Cansou de ficar escondido em casa?

Ele estava do meu lado assentado em umas das messas a minha esquerda, a mais perto da porta de entrada. Não conhecia essa pessoa. Atrás dele estavam mais duas pessoas porém não estavam assentado com ele, pareciam que estavam esperando algo.

– E quem seria você?

– Eu sou Gildo.– Ele estende a mão para me cumprimentar.

– Ele começou a jogar faz um pouco mais de dois meses. Já o vi aqui algumas vezes poré ele não vem muito, nunca o vi em um torneio.– Lyro me diz enquanto o cumprimento.

Vejo um sorriso abrindo em sua boca e seus olhos faziam um movimento para baixo, como se ele quisesse chamar a atenção para mesa em que ele estava assentado. Eu olho para baixo e vejo jogados em cima da mesa tanto “Exciton” quanto “Silent Honor ARK”, ao lado deles estava um deck com o monstro ás que Lyro sempre gostou de usar. Instintivamente pego este deck e olho as cartas dele. Eu reconheço todas. Era o deck de meu amigo, o deck que ele usara há quase um ano com todas as suas cartas já desgastadas de tanto serem usadas. Então percebo, estas cartas poderiam ser para a maioria das pessoas apenas papéis sem valor porém para Lyro elas significavam muito, recordações de todas as vezes em que ele havia jogado conosco e com outras pessoas, isto é o verdadeiro significado para “coração das cartas”. E elas haviam sido roubadas por estas pessoas na minha frente. Olho para ele nervoso.

– Você roubou as cartas de Lyro!.

– Ora ora, não venha me acusar assim sem provas. – Ele dá um pequeno sorriso enquanto abana as suas mãos. – Se você quer tanto estas cartas por que não duela por elas?

– Você fez isto tudo apenas para poder duelar comigo?!

– Eu proponho que tenhamos um duelo de compromisso.

– Duelo de compromisso? O que é isto?

Rylo começa a me explicar.

– Quando você duelou pela sua vida na lanchonete, havia uma câmera de segurança lá dentro. O vídeo de você duelando virou viral. Baseado no seu duelo as pessoas criaram os “duelos de compromissos”. São duelos em que os duelistas normalmente apostam alguma coisa, além disto eles são filmados por várias pessoas que servem de testemunhas e depois colocam os vídeos na internet. Se um dos duelistas não cumprir com o que ele concordou antes do duelo ele sofre “ostracismo”, ou seja, nenhum outro duelista pode duelar ou trocar cartas com ele. Isto está sendo praticado pelo mundo todo, muitas pessoas já sofreram de ostracismo e existem até uns casos em que isso foi parar na justiça...

– E o você ganha por ter um duelo de compromisso contra mim?!

– Hahá você é famoso, foi o seu duelo que criou isto tudo. Se eu te derrotar num duelo de compromisso EU ficarei famoso.

– Tá eu aceito duelar contra você.

Ele levanta e começa a gritar.

– DUELO DE COMPROMISSO AQUI. EU CONTRA REYO!!

– Mais da metade das pessoas da loja se aproximam entusiasmados conversando entre si.

– Ok, se eu vencer eu quero as cartas do Lyro!

– E se eu ganhar... eu quero as SUAS cartas!!

– O que?! – Lyro estava assustado.

– Eu aceito!! Vamos começar logo com isto. – Me assento em frente a ele na mesa e coloco meu playmat em cima dela.

– Vou usar outro baralho meu. As cartas de Lyro são colocadas na beira da mesa. Uma partida, formato avançado. Oito mil de vida para cada um. Quem chegar a zero perde, tanto a partida quanto as cartas que apostou.

Ele dá uma risada enquanto compra cartas mão para sua mão inicial. Muitas das pessoas ao nosso redor já estavam com os celulares nos filmando.

– DUELO!

– DUELO! – Eu repito mais alto do que ele.

– Como foi eu que o desafiou deixo você escolher quem começa.

– Você pode começar.

– Certo, coloco um monstro virado para baixo em modo de defesa e termino meu turno.

– Invoco Dragão do Brilho(1900ATK/200DEF). Ataco sua carta virada para baixo.

– Espião do Guardião de Tumba(1200ATK/2000DEF). Você perde 100 de vida. O efeito flip é ativado, eu posso invocar um monstro “Guardião de Tumba” de meu baralho que tenha um ataque menor que 1500. Eu invoco a Maldição dos Guardião de Tumba(800ATK/ 800DEF) em modo de ataque, quando invocado, este monstro causa 500 pontos de dano. Você é previsível, fez o mesmo que no seu último duelo, atacou um monstro virado para baixo no primeiro turno sem considerar que ele poderia ter algum efeito ou uma defesa maior, parece que você não é grande coisa como todos falam.

Guardiões de Tumbas... este arquétipo é bem antigo, um dos primeiros a serem criados. Porém Lyro disse que Gildo começou a jogar a pouco tempo, ele escolheu estas cartas apenas por ser baratas? Será que ele realmente gosta do jogo ou tem algum motivo por trás disso? Será que começou a jogar apenas para poder duelar comigo?!

– Coloco uma carta virada para baixo e termino meu turno. Veremos quem cai na armadilha de quem agora.

– Descarto o Comandante do Guardião de Tumba para colocar em minha mão a carta mágica Necro-Vale diretamente do meu baralho. Ativo a magia de campo Necro-Vale, enquanto esta carta permanecer em jogo todos os monstros “Guardião da Tumba” ganham 500 de ataque e 500 de defesa, além disso, nenhuma carta pode ser ativada do cemitério. Ofereço meu Maldição do Guardião de Tumba como sacrifício para invocar o Chefe do Guardião de Tumbas(1900ATK/1200DEF), quando ele é invocado por sacrifício eu posso ressuscitar um monstro “Guardião de Tumba” de meu cemitério, eu escolho o Comandante do Guardião de Tumba(1600ATK/1500DEF) que descartei no início deste turno. Ataco seu dragão do Brilho(1900ATK) com meu Comandante(1600ATK), como ele é um Guardião de Tumba seu ataque é aumentado em 500 pontos, você perde 200. Ataco diretamente com o Chefe do Guardião de Tumba(2400ATK). Coloco duas cartas viradas para baixo e termino meu turno.

Estou com 4800 de vida já no meu segundo turno... parece que ele está jogando com um baralho competitivo, montado somente com cartas de Guardiões de Tumbas. O meu baralho foi montado somente com minhas cartas favoritas será que tenho alguma chance....?

– Anda estou esperando sua jogada. – Diz Gildo em um tom de deboche.

Então eu me lembro do que havia pensado antes do duelo começar, meu baralho pode não ter um tema mas ele fora feito com as cartas que eu mais gosto, é como se meu coração estivesse nele. Enquanto eu acreditar em meu coração sempre haverá uma chance.

– Eu compro. – Digo confiante – Ativo a carta mágica Buraco Negro. Todos os monstros em campo são destruídos.

– Como?!

– O que foi? Não conhece esta carta? Ela é bem antiga, quase todos tem ao menos uma cópia dela. Não vai me dizer que você não tem uma dela no seu baralho. Ativo minha carta virada para baixo, Chamado dos Assombrados para ressuscitar meu Dragão do Brilho, invoco Imperador Cavalo Marinho(1700ATK/1650DEF). Ataco diretamente com meu dragão e com meu Cavalo Marinho. Você perde 3600 de vida. Coloco duas cartas viradas para baixo e termino meu turno. Vamos lá não vai fazer nada?

– Coloco um monstro virado para baixo e termino meu turno. – Ele estava nervoso.

– Ofereço meu Imperador Cavalo Marinho como dois sacrifícios.

– Dois?!

– Sim, seu efeito é poder ser usado como dois sacrifícios para a invocação de um monstro de atributo luz, também é uma carta bem conhecida. Eu invoco o Dragão Branco de Olhos Azuis(3000ATK/2500DEF). Dragão do Brilho, ataque a carta virada para baixo!

– Maldição do Guardião de Tumba, pelo seu efeito você perde 500 pontos de vida.

– Mas mesmo assim seu monstro é destruído. Vai continuar assim causando apenas danos pequenos? Vou te mostrar o que é um ataque de verdade. Dragão Branco, ataque diretamente com seu Ataque de Luz Branca! Termino meu Turno.

As pessoas que estavam assistindo o duelo estavam comentando... sobre mim! Parece que elas estavam achando o modo como eu estava jogando era bem legal. Agora que eu percebo, eu estou diferente. Normalmente com tantas pessoas olhando para mim era para eu estar tímido e ansioso porém eu não estava me sentindo assim, pelo contrário eu estava confiante e até conseguia provocar meu oponente para o desconcentrar. Eu me lembro da última vez que fora na psicóloga, ela havia dito que talvez o que passei naquele dia na lanchonete pode ter me afetado de algum modo que não havia se manifestado ainda... será que...

– Meu turno. – Gildo diz enquanto compra uma carta. – Ativo minha carta virada para baixo, Rito de Espirito que me permite ressuscitar um monstro Guardião de Tumba de meu cemitério. Eu escolho meu Espião do Guardião de Tumba(LV4 – 1200ATK/2000DEF). Invoco da minha mão o Guarda do Guardião de Tumba(LV4 – 1000ATK/ 1900DEF). Utilizo meus dois monstros nível quatro para fazer uma SOBREPOSIÇÂO!! Erga-se das sombras, seja a luz que todos querem seguir, e destrua quantos forem necessários para isso! Invocação XYZ, apareça, Evilswarm Excitom Knight(1900ATK/0DEF)! Termino meu turno.

É uma das cartas que Lyro conseguiu ontem! Mas porquê ele fez a invocação dela se não utilizou seu efeito? Será que ele apenas quer chamar a atenção das pessoas aqui em volta?

– Minha vez! Vou terminar este duelo agora. Dragão Branco, ataque Excitom Knight! Dragão do Brilho, ataque diretamente em seguid...

– Eu removo um material XYZ para poder ativar o efeito do Excitom.

– Ele pode ser ativado durante o meu turno?!

– Durante a minha fase principal ou durante a sua fase de batalha. Para este efeito ser ativado meu oponente precisa ter mais cartas em campo ou na mão do que eu. Você possui dois monstros em campo, duas cartas viradas para baixo e duas cartas na mão enquanto eu possuo apenas 4 cartas na minha mão e um monstro em campo. Sendo assim as condições para a ativação de seu efeito estão completas, TODAS as cartas em campo além do Excitom são destruídas, porém até o final deste turno você não tomará mais nenhum dano, o que não importa muito pois este é o seu turno. – Gildo dá uma pequena risada.

– Termino meu turno... – Estou agora com apenas duas cartas na minha mão, enquanto que Gildo ainda tem quatro cartas sem contar um monstro em campo....não há nenhuma carta em minha mão que pode me salvar agora... eu tenho que sobreviver ao próximo turno!

– Invoco Emboscador do Guardião de Tumbas(1700ATK/0DEF). O ataco diretamente com Excitom(1900ATK) e com o Emboscador, que devido ao efeito do Necro-Vale tem seu ataque elevado a 2200! Você perde 4100 pontos de vida. Termino meu turno.

Estou com apenas 200 pontos de vida... ele tem um monstro com mais de 2000 de ataque e além disto pode destruir tudo que eu colocar em campo utilizando o efeito de Excitom caso eu decida atacar...

– Eu compro....

Esta carta! Roubo Precipitado! O seu efeito é roubar um monstro de meu oponente com o custo de ele sempre receber 1000 pontos de vida no início de seu turno enquanto eu possuir o monstro dele. Ela pode mudar o jogo... ou ao menos poderia se a situação não estivesse tão ruim. Se eu pegar o Excitom e utilizar seu efeito eu perderia o controle dele já que Roubo Precipitado é uma carta de equipamento e seria destruída, não posso atacar também com ele pois seu ataque(1900ATK) é inferior ao do Emboscador(2200ATK). Caso eu pegue o Emboscador para atacar não adiantará pois Excitom pode o destruir com seu efeito durante a fase de batalha.... se eu pegar o Excitom e esperar até o próximo turno também não vai adiantar pois ele tem exatamente 200 pontos de ataque a menos que o Emboscador, se eu utilizo o seu efeito durante a fase de batalha para evitar receber estes 200 pontos eu acabo perdendo seu controle e recebo um ataque direto de 1900....

Eu olho para cima tentando pensar em alguma saída, vejo as pessoas em voltas olhando o jogo empolgadas, a maioria nem percebe que estamos duelando apostando baralhos... e neste caso minhas cartas preferidas junto com as cartas que meu amigo sempre sonhou em possuir porém nunca pôde devido a não ter dinheiro para as comprar....

Agora eu percebo!

Eu não devo tentar derrotar as cartas, Excitom não é uma carta do Gildo mas sim de meu amigo, Lyro, eu preciso confiar nas minhas cartas e nas cartas de Lyro para poder vencer esta partida. A fraqueza na estratégia de meu oponente que estou procurando para vencer não está nas cartas... mas sim nele!

– Eu ativo a carta mágica Roubo Precipitado! Enquanto ela permanecer em campo o Evilswarm Excitom Knight estará em meu controle, porém enquanto isso você receberá 1000 pontos de vida sempre que seu turno começar. Não vou deixar você terminar este duelo com uma carta de meu amigo. Antes de terminar meu turno coloco uma carta virada para baixo e invoco minha Bela Caçadora de Cabeças(1600ATK/800)!

– Háha! Você agora está blefando achando que vai vencer? Vou invocar minha outra carta XYZ, roubar sua Caçadora, uma de suas cartas mais famosas, com seu efeito e ainda por cima te derrotar com nenhuma carta na sua mão!! Isto está perfeito! Eu invoco o Herege do Guardião de Tumba(LV4 – 1800ATK/1500DEF) e faço uma sobreposição dele com meu Emboscador(LV4). Invocação XYZ, apareça Número 101: Silent Honor ARK(2100ATK/1000DEF). Retiro seus dois materiais XYZ para ativar seu efeito e equipar sua Bela Caçadora como um materi...

– Não tão rápido! Eu ativo minha carta armadilha Chifre Negro Celestial! Ela nega a invocação especial de um monstro e o destrói!

– O QUÊ?!

– Seu monstro que você acabou de invocar foi destruído e você não tem mais nenhum monstro em campo. Você já realizou sua invocação normal neste turno então não tem como invocar mais nenhum monstro. Pelo o que eu vi de seu baralho arrisco afirmar que você também não tem nenhuma carta mágica defensiva que possa o salvar de uma situação como esta, além disso você não utilizou nenhuma armadilha até agora para me atrapalhar, também arrisco dizer que não tem nenhuma carta armadilha em seu baralho que possa virar o jogo. Você poderia ter me vencido facilmente se tivesse me atacado com o Emboscador mas percebi que você não deixaria passar a oportunidade de ter uma vitória que me humilhasse, minha verdadeira armadilha foi invocar a Caçadora para que você ficasse tentado a fazer a invocação XYZ da outra carta de Lyro e utilizar seu efeito para equipar uma de minhas cartas mais famosas nele. Agora com você sem nenhuma defesa eu poderei realizar, no meu próximo turno, um ataque direto com Excitom e com a Bela Caçadora de Cabeças que reduzirá sua vida a zero. Eu pude ler claramente a sua mente, e por isso, EU VENÇO.

Todos em volta estavam calados olhando para Gildo. Seu momento de glória havia sido roubado. Ele então se levanta cabisbaixo lentamente enquanto recolhe as suas cartas que estavam em cima da mesa, sua mão tremendo de raiva. Vários celulares estavam focando nele.

O baralho de Lyro estava na mesa, eu havia conseguido salvar as cartas mas estava faltando algo. Seguro o braço de Gildo fortemente ao passar do meu lado enquanto saía.

– Você está esquecendo de algo.

– Já deixei o baralho que apostei em cima da mesa.

– E as duas cartas XYZ de Lyro? Elas também estavam na aposta.

Ele puxa o braço se soltando de mim e dá um passo em direção a saída porém ao olhar ao redor e ver todos aqueles celulares lhe filmando sua expressão de valentão muda para a de um menino chorão. Ele percebe que todos haviam filmado ele apostar as duas cartas XYZ também, caso não as me desse ele seria excluído por todos, sofreria ostracismo. Ele havia tentado se tornar popular mas agindo deste modo acabaria se tornando alguém com quem ninguém gostaria de estar por perto. Gildo retira as duas cartas de seu bolso e as joga na mesa. Sem nem mesmo olhar para trás ele sai da loja cabisbaixo. Atrás dele seus dois “amigos” o seguem.

Pego as cartas que estão jogadas na mesa, foram as duas cartas usadas contra mim neste duelo. Confiro o baralho que ele havia deixado e reconheço algumas das cartas que Lyro sempre gostou de usar, este era realmente o baralho que havia sido roubado dele hoje de manhã.

– Aqui estão as suas cartas. – Digo enquanto lhe entrego o baralho.

– Mas... você venceu o duelo. Elas são suas agora...

– Eu e Fábio dissemos hoje de manhã que o ajudaríamos a encontrar suas cartas roubadas. Estas cartas não são minhas, elas são suas, sempre foram.

– O..obrigado! – A expressão de felicidade era evidente enquanto ele conferia as cartas para ver se todas estavam ali.

Consegui recuperar as cartas de meu amigo e salvar as minhas. E fiz isto derrotando um baralho mais forte que o meu. Agora que paro para pensar... durante o duelo eu não estava agindo como eu mesmo. Eu raramente falo com pessoas que não conheço muito bem, como eu estava conseguindo intimidar Gildo durante o duelo? Eu estava humilhando ele apenas para o desconcentrar. Durante este tempo todo eu me senti confiante apesar de minha autoconfiança ser baixa. Durante um momento no duelo eu pude sentir como se eu entendesse a mente de Gildo, como se eu soubesse exatamente o que ele estava pensando, seus motivos por ter feito isto tudo e o que ele planejava fazer logo depois. Agora eu me lembro de ter visto ele algumas vezes, ele mora aqui faz tempo, nunca havia conseguido fazer muitos amigos e sempre teve problemas com sua família. Mas como eu estou conseguindo me lembrar de todas estas coisas? São lembranças rápidas de poucos segundos, sendo que ele nem era o foco de minha atenção quando o vi. Apesar disto elas foram suficientes para eu saber o que se passava no psicológico dele, o suficiente para montar aquela armadilha...

Além disto como eu sabia o novo efeito do Silent Honor ARK? Há dois meses uma errata para várias cartas havia saído, eu passei meus olhos correndo nela apenas para ver se haviam mudado alguma que eu tinha. Eu não tenho o Silent Honor. Não cheguei a ler a errata dela, apenas passei os olhos num post que tinha as novas erratas procurando alguma carta minha... Passar o texto na frente de meus olhos foi suficiente para que eu gravasse o efeito dela?

– Cara você deu mais de duzentos e cinquenta reais em cartas para o seu amigo assim do nada?!

– É! Isso é loucura!

– Que negócio é esse de cartas roubadas?

– Ei quer duelar comigo?

– Posso te adicionar no MSN?

– Qual a sua deck list?

– Aquilo foi muito maneiro!

– Qual o motivo pra você usar cartas estranhas assim?

– Você não tem extra deck?

– Meu e-mail é felip....

Quando percebo há várias pessoas em volta de mim tentando falar comigo. Agora que percebo, o duelo já acabou.

O duelo já acabou.

Estas palavras ecoam na minha cabeça. De repente sinto toda minha confiança indo embora, toda esta atenção, todas estas pessoas tentando falar comigo me deixa envergonhado. Não sei o que falar com elas, minha mente fica vazia. Alguns segundos atrás eu estava diferente porém agora eu estou agindo como sempre fui.... o que está acontecendo comigo!?!