Várias pessoas estão conversando, algumas andando e outras apenas esperando. O piso fazia o barulho dos passos se intensificar mais alto. Havia várias mesas em que a maioria já estava ocupada, neste horário sempre haviam muitas pessoas por aqui. A mesa era quadrada feita de granito, em cada mesa haviam dois bancos que cabiam duas pessoas.

Eu estou aqui esperando um antigo amigo, meu deck está em mãos, todas as cartas foram colocadas nele por um motivo, mesmo não sendo um baralho competitivo, ele fora construído com as melhores cartas que eu tinha de modo a ser o melhor possível em qualquer situação, se havia alguma verdade nas estórias sobre o coração das cartas então era neste baralho em que eu deveria confiar. Eu era um duelista e eu estava....

– Aqui está o seu pedido.

– Ahh, obrigado.

A atendente coloca a bandeja com o hambúrguer em cima da mesa.

...eu estava com fome.

Enquanto como olho para o relógio, já se fazia vinte minutos que estava aqui esperando por ele. Tudo bem que ele havia enviado uma mensagem mais cedo dizendo que demoraria um pouco para chegar mas estava demorando demais, e eu já tinha chegado um pouco atrasado. Normalmente nos encontrávamos nesta lanchonete antes de irmos para a loja de cardgames onde grande parte dos jogadores da cidade se reuniam para jogar não só Yugioh mas também Pokémon, Guerra e outros jogos.

Olho em volta para ver se havia alguém conhecido por perto ou ao menos outra pessoa que estivesse com cartas para poder jogar comigo, apesar da popularidade de Yugioh ter aumentado muito devido ao filme lançado há dois meses parecia que ninguém aqui dentro também jogava.

Olho para baixo desanimado tentando pensar em algo para fazer quando escuto um barulho vindo da porta de entrada.

– Rápido!! Feche a porta antes que eles entrem aqui!

Era um homem alto, ele estava cansando de tanto correr, muito assustado e em sua mão que tremia muito, uma pistola carregada.

Ele corre para o meio da lanchonete e quando percebe que algumas pessoas estavam levantando de seus bancos grita:

– Parem aonde estão! Ninguém pode sair daqui senão eles virão atrás de mim! – Ele olha para a porta. – Qualquer um que tentar sair eu vou atirar, eu não quero morrer! Eu não vou morrer!!.

Ele começa a andar de um lado a outro com uma mão na cabeça e a outra apontando a pistola para as pessoas presentes.

– Mas eu tenho que morrer, eles não vão parar de me perseguir. Nunca vão desistir eles querem uma ALMA. Mas é isso! Eles querem uma alma, não precisa ser a minha pode ser de outra pessoa. – Ele anda até uma das mesas perto das janelas e coloca um baralho em cima da mesa – Eu desafio vocês para um duelo! O perdedor perderá sua alma.

Ninguém sabia o que dizer, todos estavam espantados. A mão dele estava tremendo mais.

– Se ninguém se oferecer eu serei forçado a atirar em todos aqui dentro!

Havia mais de vinte pessoas, não era possível atirar em todos só com uma pistola, mas, mesmo assim, seria possível matar umas nove... e eu não estava muito longe dele provavelmente seria um dos primeiros a levar um tiro.

– Vamos! Alguém apareça!! – A mão dele tremia mais ainda.

Será que seria possível eu ganhar? De todos presentes aqui parece que eu sou o único que consegue jogar direito mas...

– Você! – Ele aponta para uma garota de minha idade – Você será minha oponente, venha para cá.

– E-Eu não posso jogar! Não tenho nem um baralho, nunca cheguei a jogar nenhuma partida...

– Não importa, você jogará com um outro baralho meu.

Ela se levanta e anda em direção a ele bem devagar, estava morrendo de medo, não conseguiria vencer, ela morreria. Isto era...

– Errado! Eu serei seu oponente. – Me levanto de meu banco olhando diretamente nos olhos dele, não poderia deixar isto acontecer.

– Um duelista?! Então venha será melhor duelar contra você, a sua alma os deixará mais satisfeitos.

Ando em direção a ele, olho para a direita e vejo uma expressão de alívio no rosto da garota que ainda estava amedrontada. Todos estavam olhando para mim, alguns espantados outros pensando se havia algo que poderiam fazer para acabar com isto tudo.

– Nós jogaremos aqui – Ele diz enquanto assenta em uma mesa ao lado das janelas com sua pistola apontando para minha cara. Ele coloca sua outra mão em um bolso e retira um baralho.

– Não precisa, eu jogarei com meu próprio deck. – coloco meu baralho em cima da mesa. – Como serão as regras?

– Uma partida, formato avançado, 8000 pontos de vida para cada um, quem chegar primeiro a 0 morre, – ele aponta a pistola para as outras pessoas que estão na lanchonete. – se alguém tentar fugir todos morrem.

Ele volta a olhar para mim, para bem dentro de meus olhos.

– DUELO!

Eu hesito.

– ...duelo.

– Eu começo. – Diz ele ansioso.

– Invoco um monstro virado para baixo em modo de defesa e coloco uma carta virada para baixo. Termino meu turno.

Compro uma carta e olho para minha mão, quatro monstros e duas mágicas.

– Invoco Bela Caçadora de Cabeças(1600ATK/800DEF) em modo de ataque e coloco uma carta virada para baixo. Ataco sua carta virada para baixo com minha Caçadora.

Ele dá um pequeno sorriso. E vira sua carta para cima.

– Carvão Inpachi(100ATK/2100DEF). Você perde 500 de vida.

– Termino meu turno.

– Ativo Enterro Tolo e envio Rei Caveira para o cemitério. Ativo controlador de inimigos sacrificando Carvão Inpachi para ganhar controle de sua Caçadora. Sacrifico a Bela Caçadora de Cabeças para invocar Comandante Arquidemônio(2500ATK/1200DEF) em modo de ataque. – Estou sem nenhum monstro e ele já tem um com 2500 de ataque em campo?! – Ativo o efeito do Comandante Arquidemônio para invocar por invocação especial em modo de defesa o Rei Caveira que acabei de enviar para o cemitério. Te ataco diretamente, menos 2500 pontos de vida. Sua vês.

Droga, estou com 5000 de vida enquanto ele ainda tem 8000... preciso de tempo para poder invocar algo...

– Coloco um monstro virado para baixo e termino meu turno.

– Coloco o Rei Caveira em modo de ataque e invoco o Tanngrisnir das Bestas Nórdicas(1200ATK/800DEF) em modo de ataque. Ativo a minha carta virada para baixo Strike Slash que aumenta o ataque de meu Rei Caveira em 700 pontos neste turno. Ataco com o Rei Caveira sua carta virada para baixo.

– Raposa de Fogo(300ATK/200DEF). É destruída.

– Não só isto, Strike Slash também faz com que o monstro ganhe dano perfurante, ou seja, você toma de dano a diferença entre o ataque do Rei Caveira e a defesa de sua Raposa de Fogo. Você perde 3000. – Estou só com 2000 de vida... – Continuo lhe atacando diretamente com Tanngrisnir e Comandante Arquidemônio!

Ele aponta a pistola para bem no meio de meus olhos , seu braço está relaxado...eu não posso perder assim!

– Invocação Especial!! Finalizador de Batalha!

– O quê?!

– Quando atacado diretamente o monstro Finalizador de Batalha pode ser invocado em modo de defesa da minha mão. E não é só isto, ele também termina a fase de batalha. Não vou te deixar me derrotar tão fácil assim!

– Termino meu turn...

– Na sua fase de encerramento, o efeito da Raposa de Fogo é ativada. Ela é invocada em modo de defesa no meu lado do campo. Minha vez.

Compro uma carta. Antes de jogar olho para meu oponente, durante todo o tempo desde que entrou aqui ele fica olhando para lá fora pelas janelas apesar de não ter ninguém lá fora... mas seus olhos estão vermelhos... ele provavelmente está drogado e tendo alguma halucinação! Toda essa coisa de que ele está sendo perseguido é apenas imaginação dele.

– Como você tem dois monstros do mesmo atributo em campo posso invocar sem sacrifícios Alector, Soberano dos Pássaros(2400ATK, 2000DEF).

– Ativo o efeito de Alector na Raposa de Fogo para negar seu efeito.

– Por quê você iria querer fazer isto?

– Seu efeito a impede de ser sacrificada para uma invocação, mas agora eu posso usar ela e meu Finalizador de Batalha para invocar... o Dragão Branco de Olhos Azuis(3000ATK/2500DEF)! Batalha, ataco com o Dragão Branco o seu Comandante, e com Alector o Rei Caveira!

– Seu Alector tem um ataque menor que o Rei Caveira, ele é destruído.

– Ativar carta mágica, Cálice Proibido! Alector tem seu ataque aumentado em 400 pontos até o fim do turno, seu Rei Caveira que é destruído. Você recebe um total de 800 pontos de dano por causa destas batalhas. Finalizo meu turno. – 7200 de vida... agora viro o jogo, não vou perder deste modo!

Ele compra uma carta e olha um pouco para seu baralho.

– Chegou a hora... Ativo Fissura, como Alector é o seu monstro mais fraco ele é destruído, coloco uma carta virada para baixo e termino meu turno.

Esta carta virada para baixo... não foi a que ele comprou agora, será que acha que perdeu e está blefando?

– Invoco em modo de ataque Kunoichi(1800ATK/1000DEF), Ataco Tanngrisnir com o Dragão Branco. Você perde 1900 de vida.

– Por ter sido destruído em batalha Tanngrisnir invoca dois Tokens de Bestas Nórdicas em meu campo.

– AQUI É A POLÍCIA, LARGUE A SUA ARMA E SAIA IMEDIATAMANTE. – A polícia está aqui?! Será que eles vão conseguir entrar e prender este cara?

– Eu não vou sair! Não posso! Tenho que terminar este duelo primeiro! – Meu oponente grita furioso para os policiais do lado de fora.

– ESCUTE RAPÁZ, NÓS SABEDOS DA SUA SITUAÇÃO, PODEMOS CONVERSAR MELHOR AQUI FORA...

– Se qualquer um de vocês entrar aqui eu mato todas estas pessoas, vocês não podem fazer isto! – Ele se vira para mim – Continue o seu turno, ou será que você já acabou?

A polícia não vai entrar aqui dentro para nos salvar, seria muito arriscado com os reféns, sem contar comigo que estou bem perto dele e de sua arma, seria o primeiro a morrer caso algo de errado... tenho que continuar esse duelo, vencer ele é a minha única chance de sair vivo...

– Eu continuo minha fase de batalha, Kunoichi ataca um de seus tokens.

– Ativo a carta armadilha Waboku, neste turno eu não tomo mais nenhum dano de batalha e nenhum de meus monstros podem mais ser destruídos por combate.

– Termino meu turno. – Se ele tinha esta armadilha porquê não a usou antes?! Será que ele...

– Minha vez, ofereço meus dois Tokens como sacrifício! Eu invoco o Dragão do Vício Claro(???ATK/000DEF)!! Este é o seu fim, Dragão do Vício Claro ataque o Dragão Branco de Olhos Azuis!

– Mas qual é o valor de ataque do seu dragão?!

– Quando o Dragão do Vício Claro ataca um monstro o seu ataque se torna o dobro do ataque do monstro que ele está atacando, sendo assim seu ataque agora é de 6000!

Se eu receber este ataque a minha vida cairá exatamente para zero...

– Não tão rápido, você caiu na minha armadilha!

– O quê?! Mas não há nenhuma carta virada para baixo no seu lado do campo.

– Eu ativo da minha mão.... Honesto(1100ATK/1900DEF). Quando um monstro LUZ meu entra em combate eu posso o descartar para poder aumentar o ataque de meu monstro pelo valor de ataque do monstro de meu oponente que está o atacando, sendo assim... meu Dragão Branco fica com 9000 pontos de ataque! – Agora estou com 2000 pontos de vida e ele com 2300.

– Utilizo o segundo efeito do Dragão do Vício Claro, descarto uma carta para impedir a sua destruição, aciono o efeito da minha carta descartada , Broww o Caçador do Mundo Negro(1400ATK/800DEF), que me permite comprar uma carta quanto descartado. – Ele dá uma risada baixa – Termino meu turno ativando as Espadas da Luz Reveladoras! Agora meu monstro está protegido de ataques por três turnos, além disto coloco duas cartas viradas para baixo... mas vou as revelar apenas para você já perceber que venci esta partida, elas são as armadilhas Força Espelho e Chamado dos Assombrados.

– O que?!

– Sim, isto significa que mesmo que você destrua as minhas espadas você ainda não poderá atacar devido a minha força espelho, caso destrua meu dragão por algum efeito apenas para ganhar tempo isto não será de nada pois posso o ressuscitar com o Chamado dos Assombrados. Você desiste? – Ele aproxima a arma de minha cabeça.

Escuto a polícia voltando a tentar falar com ele... mas não consigo entender nada do que eles estavam falando, olho para fora e vejo no meio da multidão o meu amigo com quem havia combinado de encontrar aqui, havia pouco tempo que eu tinha voltado a jogar Yugioh, talvez eu fosse encontrar pessoas legais se eu fosse jogar mais com outros jogadores... talvez eu encontrasse novos amigos e até alguns rivais no caminho para me tornar o “Rei dos Jogos”, o “yu-gi-oh”, ao menos eu teria boas lembranças para o futuro... olho para a minha mão... e em seguido para dentro dos olhos dele.

– NÃO! E não precisarei nem comprar uma carta para lhe vencer neste turno! Eu ativo minha carta mágica Balanço de Memórias, que me permite invocar do meu cemitério um monstro normal. Minha Bela Caçadora de Cabeças volta ao campo. Agora tudo está pronto, ofereço meus três monstros como sacrifício...

– Três monstros?! Você está invocando um Deus Egípcio?!

– Não um deus... mas sim um rei! Eu invoco o Rei das Bestas, Bárbaros(3000ATK/1200DEF)!! Seu efeito é ativado, ao ser invocado tendo três monstros como sacrifício, TODAS as cartas de meu oponente são destruídas!

– Todas as minhas cartas... de uma vez só?!

É chegada a hora de terminar o duelo...

– Agora você não tem mais nenhuma carta em campo, nem em sua mão! Bárbaros, Ataque diretamente! – Ele fica paralisado – Seus pontos de vida são reduzidos a zero. EU VENÇO.

Ele começa a olhar ao seu redor com medo, movendo sua cabeça para todos os lados como se estivesse procurando um modo de fugir, seu corpo todo começa a tremer e então ele cai em cima da mesa, imóvel. Fico parado sem saber o que fazer, escuto o barulho de vários passos dentro da lanchonete e sinto um policial me retirando da cadeira e me empurrando para fora, enquanto saio não tiro os meus olhos de meu oponente, um outro policial checa o pulso dele e grita, eu já estava do lado de fora, perto de uma viatura quando vejo paramédicos entrarem na lanchonete e colocarem um desfibrilador no peito dele seguindo por vários choques... ele havia tido uma parada cardíaca?