Depois de gravarmos a última cena no coliseu com milhares de figurantes sendo os fãs, o diretor decidiu dar uma palavra e subiu ao palco para chamar a atenção de todos.

– Certo pessoal, a cena ficou ótima… Linda entrada Kyoko-chan. Gostaria de agradecer ao trabalho de cada um de vocês… Tsuruga-kun a expressão era o que eu estava procurando. Agora vamos voltar ao hotel e eu gostaria de pedir que todos descansem bem pois amanhã estaremos indo para Barcelona

Não nos vimos mais depois da última gravação, voltamos para o hotel em ônibus diferentes portanto não pudemos nos falar na volta. Quando cheguei ao saguão ela já não estava lá e agora fico pensando o que será que ela deve está fazendo… Volto minha direção para o relógio digital localizado na parede e ele marca 23h29min. Todo o elenco foi dividido em quartos que estão sendo pagos pela direção do filme, meu colega de quarto, o cara que está fazendo Yakishe da banda não deu nem sinal de vida e no momento isso me faz feliz pois gosto da sensação de poder ficar sozinho. Eu queria um quarto só para mim mais este hotel não tinha mais quarto, ou eu dividiria ou iria ter que ficar em um hotel diferente e se escolhesse um lugar diferente ela iria ficar longe de mim...

As 4h da manhã acordo suado, lembro-me de ter tido um pesadelo mais ainda não consigo entender que tipo de pesadelo poderia ser capaz de me fazer chorar… Passo a mão em minhas bochechas e elas estão quentes… Pergunto-me se estou com febre. Noto a água ainda escorregando sem minha permissão. O quarto está calmo e lá fora as estrelas ainda dão seu brilho ao azul-escuro, o único barulho no quarto é o som do ronco do meu colega. Levanto-me da cama e procuro em minha mala qualquer sinal de algum papel e uma caneta. Acho uma agenda com poucas folhas sobrando e uma caneta vermelha. Sento-me na varanda olhando as estrelas e lentamente as palavras se transferem da minha mente para o papel.

As sete da manhã em ponto, todos já estão no Hall de entrada do hotel. Há uma correria para verificar se todos os atores estão prontos para ir e se estão mesmo todos lá.

Dentro do avião não tenho muita oportunidade para falar com ela, algumas meninas não me deixam só e ela está acompanhada de algumas pessoas da Staff. Uzui-san é uma das meninas que conversa alegremente com ela. Daqui posso ver seus grandes olhos âmbar dourados brilhando enquanto falam abertamente de algo que daqui não consigo ver. Aos poucos algumas outras pessoas se juntam e agora entendo que ela está falando de Paris, da época em que esteve lá.

– Tsuruga-sama, atuar com você, tem sido incrível! – Diz a moça da qual não me lembro o nome.

– Puxa, obrigada… Você também é uma ótima atriz. – Agradeço.

– Tsuruga-sama, você é incrível! Todas morrem por você. – Diz outra moça.

– Ah, que inveja da Mogami-sama! – Uma delas de cabelo curto comenta.

– Ela nem é tão boa assim, só conseguiu esse papel por que é amiga do diretor. – Uma ruiva diz nada discreta.

– Ela é muito boa. Chegou aqui pelos próprios métodos, merece toda a atenção. Se sentem inveja deveriam se empenhar para conseguir irem aonde querem. Se me dão licença. – Digo escondendo a irritação e me afastando para ir para a outra janela.

Chegamos em Barcelona e estão todos um pouco cansados. A viagem atrasou algum tempo. As horas passaram-se rapidamente e fizemos algumas gravações. Preciso dizer que sinto falta de conversar e andar com ela. Nesse momento sinto que preciso dos lábios dela, que preciso do doce beijo e que será mais chato ainda se tiver que aguentar toda a noite para conseguir chegar até ela.

– Reeeeeeeeeen! – Ouço uma voz feminina me gritando. Quando me viro me deparo com ela…

– Alice? – Uma ex…

– Ren! Que saudade! A quanto tempo querido. – Ela fala comigo em inglês, com seu sotaque russo.

– Alice, a quanto tempo.

~~’’~~

Sinto sua falto nesse exato momento, fiquei esperando que ele viesse até mim no avião mais já deveria saber que ele não viria. Seria completamente exposto e ele estava conversando com várias mulheres naquela hora. Eu sei que é estritamente profissional mais eu senti ciúmes… Talvez eu tenha feito errado em me apaixonar pelo homem mais sexy do Japão.

Noite passada acordei e fiquei olhando as estrelas, gostaria que ele tivesse as visto também, não pude evitar escrever uma música…. Agora me vejo cantando-a embaixo no chuveiro quente enquanto imagino a sintonia em minha cabeça.

(Obs: Essa música originalmente é Skyscraper – Demi Lovato)

Skies are crying, I am watching
Catching teardrops in my hands
Only silence as it's ending
Like we never had a chance
Do you have to make me feel like
There is nothing left of me?

You can take everything I have
You can break everything I am
Like I'm made of glass
Like I'm made of paper

Go on and try to tear me down
I will be rising from the ground
Like a skyscraper!
Like a skyscraper!

As the smoke clears, I awaken
And untangle you from me
Would it make you feel better
To watch me while I bleed?
All my windows still are broken
But I'm standing on my feet

You can take everything I have
You can break everything I am
Like I'm made of glass
Like I'm made of paper

Go on and try to tear me down
I will be rising from the ground
Like a skyscraper!
Like a skyscraper!

Go, run, run, run
I'm gonna stay right here
Watch you disappear, yeah, oh

Go, run, run, run
It's a long way down
But I am closer to the clouds up here

You can take everything I have
You can break everything I am
Like I'm made of glass
Like I'm made of paper, oh

Go on and try to tear me down
I will be rising from the ground
Like a skyscraper
Like a skyscraper
Like a skyscraper
Like a skyscraper

Fico tentando entender como as letras podem fluir assim facilmente enquanto encontro-me aqui nesse lugar confortavel e quente. Onde será que meu amor está? Por que não pode estar aqui comigo agora? Não. Não foi o que eu quis dizer, penso somente que ele deveria estar perto de mim e não o sinto a não ser distante… Algo em meu coração diz que uma coisa ruim irá acontecer e essa será a prova do nosso amor.

Será que ele me ama tanto quanto eu o amo? Talvez as pessoas digam “eu te amo” como se fosse algo como de se dizer, mas não é a isso que me refiro… Não quero dizer “Daisuki” e sim “Aishiteru” por que essa é a profundidade do meu sentimento ele… Será que é difícil acreditar que eu, membro nº 1 da seção Love me é capaz de amar novamente? Falando em Love me, sinto falta da Moko-san, faz tanto tempo que não nos falávamos, me pergunto se ela voltou a amar e conseguiu se formar com louvor na Love me.

Não queria ter parado de falar com ela, ainda sim depois dos três anos que se passaram ela continua sendo minha melhor amiga, isso é algo que não irá mudar… Minha primeira amiga. Fico contente por poder dizer assim, eu deveria ligar para ela mas acho que ligações interurbanas são uma fortuna…

As gravações vão acontecer dentro de duas horas, ainda tenho algum tempo para passear e conhecer Barcelona embora não queira fazer isso sozinha. Procuro na bolsa o celular e disco o número de Ren. Após algumas chamadas a ligação cai na caixa eletrônica e decido mandar uma mensagem.

– Oi… Sou eu… Eh… Você, bom… Você gostaria de fazer um passeio? Eu gostaria muito de conhecer a cidade com você. Beijos… – Digo e desligo.

Passaram-se duas horas e não consegui falar com Ren ainda. Todos estão se encaminhando para o próximo cenário do filme.

– Preparados? Ok. Ação!

– O que a fez mudar? – Pergunta Natsukia.

– Eu apenas… – Então ela olha para o horizonte. – Me cansei…

– O foi tão doloroso?

– Não sei… Talvez eu não me sinta a altura… Me acostumei com as noitadas, o sexo, a bebedeira mas acho que ainda não estou muito pronta para isso… Sempre que o vejo com outras…

– Quem?

– Heiden!

– Oh… Você está com ciúmes?

– O quê?! Claro que não. – Ela cora.

– Meu deus! Corrigindo… VOCÊ ESTÁ MORRENDO DE CIÚMES!

– Merda, Natsukia-san, pare com isso! Não estou com ciúmes…

– Então o que é?

– Não sei… Eu queria que ele estivesse comigo aquele dia… Talvez eu esteja sendo egoísta mais queria apenas isso nesse dia.

– Poxa querida, sinto muito.

– Eu também… Mas, ficou ruim?

– Não, você está surpreendentemente linda. Após essa música eles devem dar uma pausa para trocar de roupa e depois continuarão o show. O que vai fazer?

– Não sei ainda…

– Precisa enfrenta-los.

– Eu sei disso.

A música acaba e os integrantes da banda voltam ao camarim e começam a mudar de roupa. Yumi está sentada no sofá lendo um livro enquanto Yoshi se aproxima dela.

– Ei princesa, você está muito chateada?

– Não.

– Tem certeza?

– Sim.

– Absoluta?

– Sim.

– Mas não está mesmo nem um pouco chateada?

– Não. – Ela responde perdendo a paciência.

– Acho que está sim.

– Não estou!! – Ela grita.

– Agora está chateada?

– Sim. – Ela cora e os dois começam a rir. – Onde está o Heiden?

– Ele disse que ia fazer algo importante.

– Mi-chan, não fique chateada com a gente… Não queríamos tê-la deixado sozinha no seu aniversário. – Yakishe diz.

– Isso Mi-chan! Passaremos essa noite com você em homenagem ao seu dia. – Diz Takumi que agora também se apegou a ela.

– Obrigada pessoal, adoro todos vocês. Sabem disso não é?

– Corta! Ótima cena, vamos a próxima… Ren ainda não apareceu? Vamos continuar gravando as cenas que ele não aparece.

Quando os rapazes voltam ao palco Yumi continua conversando com Natsukia ( Natsukia é a empresaria que toma conta dos shows e programa os PV’s que a banda irá fazer. Diferente de seu agente. )

– Sabe Yumi, uma vez eu me apaixonei também…

– E como foi?

– Você nunca se apaixonou antes?

– Não…

– Bom, é algo doce, diferente… O nome dele era Marcus. Eu o conheci quando ele fez uma viagem de negócios no Japão. Ele era da America Latina… Um belíssimo argentino. Mas não foi só a beleza dele que me encantou… Ele era diferente de qualquer pessoa que eu tinha conhecido. Marcus tinha uma filha, ela era linda e se parecia exatamente com ele. Um dia, sua filha ligou e estávamos juntos em um jantar ele prometeu a ela que iria chegar a tempo para comemorar o natal. No início fiquei um pouco magoada por não poder passar o natal com ele mais fiquei demasiadamente feliz por ele ter se comprometido com sua criança…

– E vocês não estão mais juntos?

– Marcus queria muito voltar para sua filhinha, Ângela. Mais o clima estava horrível e muitos aviões não puderam sair. Infelizmente o dele foi um dos primeiros e ele embarcou no avião. Durante a viagem, um raio atingiu o avião e ele caiu em meio ao oceano. Nunca acharam os restos do avião. As vezes eu me perguntava se Marcus não poderia ter sobrevivido ao acidente.

– Nossa… Que horrível.

– Sim… A filha de Marcus era a última coisa que lhe sobrara… Ela não tinha mais ninguém, então quando recebi uma ligação dizendo que poderia ficar com Ângela eu pensei bastante e resolvi que aceitaria. Ângela tinha cinco anos na época, e ficou bastante fechada… Depois conseguimos nos acostumar, hoje quando vou viajar para distante ela me pede com carinho para ter cuidado e diz que o amor dela irá me proteger. Ela me chama de “mamãe” , olhe… Estou lhe contando isso para que entenda que as vezes o amor só acontece uma vez para alguém. Você pode ter achado a oportunidade de amar então não a desperdice, mas se for segui-la tenha em mente que não deve desistir ok? Por que se desistir do amor apenas amargura irá sobrar em seu coração…

~~’’~~

Olho no relógio e noto que estou super atrasado para a gravação, eu deveria ter uma cena gravada hoje, mais agora parece que as filmagens já devem ter sido encerradas. Dou mais uma olhada no relógio então volto a encarar a bela loira de olhos azuis na minha frente.

– Então Ren? – Me pergunta e lembro-me de que não prestei muita atenção as últimas coisas que ela disse.

– Desculpe, Alice… Poderia repetir?

– Fico contente que tenha vindo até Barcelona e pudemos nos encontrar… Foi uma surpresa vê-lo.

– Concordo… E como vão os seus desfiles? – Alice é modelo.

– Ah, o mesmo de sempre… Estou me preparando para o desfile da nova coleção de Louis.

– Entendo…

– E você? O que faz por aqui?

– Estou no meio de uma gravação para um filme…

– Oh, mesmo?

– Sim, sim.

– E qual é o nome do filme?

– Dream Of Love.

– Que nome legal…

– Sim…

– Ren…

– Diga?

– Eu gostaria muito de falar com você… Sobre nós.

– Nós?

– Sim, Ren… Não sente falta do nosso relacionamento? Eu nunca esqueci você… Pensei que talvez, se eu lhe dissesse que iria embora, talvez notasse que gosta de mim.

– Alice…

– Não Ren, por favor. Ouça. Eu continuo, mesmo depois desses três anos a ter sentimentos por você… Eu conheci outra pessoa…

– E isso não deveria ser bom?

– É, sim… Nos ficamos juntos um bom tempo depois que você e eu terminamos… Por um momento eu achei que o amava… Então estava tudo perfeito… Íamos ter um bebê e acabei perdendo a criança.

– Alice, eu sinto muito…

– Eu imagino que sim. No início eu sentia muito também, mais depois de perder a criança vimos que não daria mais certo. Nosso relacionamento terminou. Eu já imaginava que acabaria assim… – Ela começa a chorar. – Eu sempre me pegava pensando e lembrando de você.

– Alice desculpe mas…

– Você tem outra pessoa não é? Não é por isso que não consegue dizer nada além do meu nome? Pra variar você sempre foi assim… Distânte, frio… Nunca consegui realmente me sentir especial para você. Eu fui especial? Bom, não responda. Eu tenho certeza que não. Você sabe o que é amor? Foi bastante do que eu senti e a dor de quando você me deixou simplesmente ir foi muito grande.

– Alice, não acho que seja justo ficar com alguém se você não é feliz com essa pessoa… Gostaria que tivesse seguido em frente com sua vida. Admito que naquela época eu não sabia o que era esse sentimento e até então nunca tinha sentido ou mesmo provado o que era isso.

– Então significa que agora entende?

– Bom, estou tentando… Sabe eu meio que acabei me apaixonando pela pessoa errada e no final acho que ela acabou meio que sendo a certa. Ainda é difícil me acostumar com isso… Eu realmente não sei o que dizer para que você possa me perdoar por não ser você essa pessoa. Quando revelou seus sentimentos por mim eu fiquei sem reação então seu nome era a única coisa na qual eu poderia recorrer. Desculpe.

– Entendo Ren, realmente me deixa triste que não seja eu sua pessoa especial. E espero que alguém possa me fazer ser especial como você deve fazer com essa pessoa. Eu espero que vocês dois sejam felizes.

– Obrigada, Alice.

– Eu que deveria agradecer por não ter sido rude comigo em momento algum.

– Você sabe que eu não faria isso.

– Pode me dar um abraço? Será o último e irei embora. Espero que possamos ser amigos, sinto falta da época em que conversávamos abertamente.

– Claro.

Puxo-a para mim e a abraço apertado. Seu cabelo macio e curto ainda tem o mesmo cheiro que tinha a três anos atrás, abraça-la é algo bom, mas não é como se ela fosse a Kyoko… Odeio a ideia de comparar mais realmente queria estar abraçando a Kyoko nesse momento… Sinto falta dela, a calma que ela transfere ao meu corpo e minha alma são com toda certeza de um nível totalmente sem comparações.

– Veja Ren, acho que temos uma fã.

Me viro e a vejo, nos encarando com os olhos cheios de lágrimas, a brisa leve empurrando seus cabelos. Uma caixa que tem o nome de uma confeitaria jogada no chão enquanto ela permanece em choque nos olhando. Solto na mesma hora Alice que me olha confusa enquanto continuo a observar a reação da Kyoko.

– Kyoko… – Tento me aproximar e como reflexo ela dá um passo para trás.

Ela continua a dar passos pequenos para trás então se vira e corre, como se estivesse sendo perseguida.

Eu não acredito que a fiz chorar…