Pela Estrada a Fora escrita por AninhaPah


Capítulo 6
Te Traga De Volta




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Minha mãe me mandou ficar em casa, enquanto ela buscava as ervas que me pedia. Comecei a ver o quanto era real. Não podia ser real, minha prisão eterna, seria em minha própria casa.

Sempre acreditei que estar sozinha era a punica opção para nunca mais sentir dor. Sempre procurei por respostas que nunca puderam me desvendar. Queria tanto encontrar alguém que abra meus olhos e me torne novamente alguém. Nunca me senti tão sozinha em toda minha vida e, sentir essa dor retornar a meu peito, me torna prisioneira de um ciclo vicioso onde fechar meus olhos e rezar para ser perdoada, se tornavam a canção mais triste a me confrontar. Sou a filha daquele que, por minhas convicções estúpidas, teve sua vida posta à prova e recebeu um fim trágico. Não mereço que eles tenham pena, podem me matar quando estiverem se sentindo bem. Hoje eu sei que não sou nada, além de lembranças ruins que nem mesmo me lembro.

–Pai. Se puder me ouvir... Desculpe.

Tranquei-me em meu quarto por toda a semana, sem água ou comida. Não queria nem mesmo sentir os raios de sol em meu rosto. Seriam anos difíceis aqueles. Minha imagem seria refletida apenas em minha capa no varal a balançar com o dançar do vento. Aquele que nem mesmo me lembraria como era. De hora em hora, pensava em sair. Minha saúde ficaria debilitada, minha morte seria inevitável e minha mãe poderia repousar tranquila, tendo sua vida novamente normal.

Aquela angustia com o tempo foi amenizando, fui parecendo ficar mais velha – ou pelo menos achava que sim – enquanto a seca encontrava a cidade de surpresa. Precisariam de ir a floresta para buscar alimentos. Não teriam outra escolha, mas o medo da “fera” era mais importante do que a sobrevivência? Parece que eu não era a única deixada para morrer sem amor, a cidade também. E pensar que a poucos tempo atrás, eu realmente acreditava no final feliz.

A garota atípica com um final desses? Não era um princesa de contos de fadas, nem mesmo tinha uma fada madrinha ou longas tranças. Eu era comum. Nascida em uma família humilde, com seu sustento vindo de coisas simples para a sobrevivência de todos. A floresta sempre foi minha casa. A ficha só cai quando estamos à beira da morte?

Minha sede era castigante, meu corpo necessitava de uma gota que fosse para saber que estava ali, que tudo era real. Mas não era real pra mim. Não podia ser. Não podia querer sair, sem ele estar lá. Desde aquele dia, nunca mais uivou para mim, nem mesmo veio me ver. Será que fiz algo de errado e isso causou sua separação? Minhas lágrimas secavam ao tocar minha pele, meu corpo debilitado precisava daquele calor novamente para me reviver. Onde está você?

Tenho teorias sobre meu lobo e sobre aquele cara com o qual me encontro quando mais preciso. Não o vejo a muito tempo também. Será que o lobo domou sua alma? Me neguei a ser forte e acabei indo em direção a água da chuva que caia. Precisava saciar minha cede para ele ver que estava viva ainda... Queria ter sentido seu coração.

Será que é errado sentir algo assim por um animal? Nunca senti por nenhum humano. Nunca quis tanto, desejei tanto, suspirei tanto para ter novamente seus olhos sobre mim. Apenas a me observar.

As batidas na porta, feitas por minha mãe, não mais existiam. Ela compreendeu minha dor e decidiu me deixar partir para novas aceitações de vida. Me deixou crescer sozinha, para conhecer qual seria minha realidade a partir do dia em que selaram meu coração.

Procurei por ele novamente. Não como uma amiga, mas como uma paciente precisando de seu médico. Da porta de minha casa, não se podia ver a floresta direito. Notei uma luz por entre a floresta, tentei esperar para ver quem era, mas me senti no dever de zelar pelo bem estar de minha mãe e fechei a porta.


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