Pela Estrada a Fora escrita por AninhaPah


Capítulo 2
A Primeira Visita


Notas iniciais do capítulo

Nove anos depois



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Os anos haviam se passado, meu aniversário de 15 anos estava chegando e como sempre, os risos dos outros jovens eram os mesmos. Os mesmos apelidos, as mesmas brincadeiras insanas para me colocar medo ou o jeito de me afugentar. Eu era a menina da floresta, aquela que não era bem vinda na cidade.
Desde pequena, sempre ouvi rumores ensurdecedores sobre minha casa, diziam que estavam nos mantendo lá, no caso de o lobo sentir fome e resolver entrar na cidade.

Irônico dizerem isso a anos e nunca termos visto um só vestígio de lobos por perto. Ás vezes me pergunto até quando irão manter essa história boba para assustar crianças.

Hoje em dia, minha mãe me deixa entrar sozinha na floresta, mas para pegar água em um rio que passa a cinco minutos ali e colher ervas medicinais para ela fazer seus remédios. A poucos anos, minha mãe se tornou curandeira, a idade veio depressa para ela. Queria ter mais tempo para compartilhar minhas futuras aventuras, porém de nada me adianta dizer. A vida não dá segunda chance ou vida eterna.
Minha mãe costuma recordar o tempo em que deixava meu cabelo amarrado e eu chegava com ele todo cheio de folhas. Pois me esgueirava pelos arbustos em busca dos coelhos. Não os vejo a muito tempo, nem deixo mais os doces lá na entrada.

–Filha, poderia buscar mais ervas? Essas vão ser úteis para mais dois remédios apenas.

–Sim mãe.

–Não esqueça de pegar sua capa, pelo caso de esfriar.

Há dois anos atrás, minha mãe recebeu de um viajante, alguns panos para pagar por um remédio contra alergia. Ela escolheu um vermelho, alegando ser o que minha avó costumava usar para fazer roupas. Após a saída daquele Mercadante, ela se sentiu no dever de me deixar algo bonito a se vestir, pensando que me ajudaria a encontrar um marido honrado.

O pano era aveludado, vermelho por inteiro, até a linha de sua costura era vermelha da mesma cor, para não desmerecer a peça.

Costumava usar em dias frios, apenas para ir até o riacho. Hoje era um dia especial, precisava me sentir amada por alguma coisa ou alguém. Um de meus passatempos, desde que pude entrar na floresta sozinha, era banhar-me nas águas do riacho. Meu coração estava em paz com aquela água cristalina. Em tempos frios, minhas roupas surradas, colavam-se a meu corpo, a fim de impedir que alguém pudesse me ver despida.

Assim fiz, ao adentrar a floresta, comecei minha incessante busca pelas ervas que minha mãe tão venerava. Não eram tão fáceis de achar, mas minha paciência era uma dadiva.

O riacho me chamava, precisava encontrar-me com ele. Era como se fossemos amantes. Eu conhecia suas águas, ele conhecia as curvas de meu corpo e acariciava-me com a intensidade que suas águas estivessem a correr.

Coloquei as ervas que encontrei em minha cesta, deixei-a no chão e dirigi meus passos em direção ao som das águas a passar. Enquanto me aproximava, ouvia alguns sons diferentes. Eram risos de duas pessoas próximas ao rio, aparentemente fazendo algo que achavam imprudente. Me escondi por detrás de algumas árvores, em um local que não pudessem me ver, começando a observar o que estava acontecendo.

–Ei, não tem gente aqui. Pode relaxar.

–Tem certeza? Podem nos ver.

–Vem, vamos dar um showzinho a eles então.

Notei que conhecia aquelas vozes, eram da filha do padeiro, Marjorie e de seu primo-irmão Stefan. Estava curiosa com o fato de vê-los naquela situação de depravação e desejo. Queria poder ver mais a fundo o que acontecia, então me inclinei um pouco mais, apenas me afastando de vez em quando para ninguém me ver.

Acabei percebendo como ele tirava a roupa dela, já toda molhada e a tocava como se fosse um animal devorando sua presa. Via os olhos dela se fechando quando ele parecia mordê-la e seus gritos eram ouvidos meio abafados, mas ouvidos. Eles estavam fazendo algo contra as regras da cidade e deveriam ser punidos. Estava ainda pensando no que dizer aos pais deles quando senti a falta de minha cesta. Tentei sair com cuidado de lá e andar silenciosamente até as ervas.

Mais algumas horas e teria todas a meu ver, em perfeitas condições, para o preparo das poções. Logo que terminei parte de minha colheita, senti alguém tocar meu ombro, me fazendo derrubar a cesta com as ervas.

–Desculpe, eu não queria assustá-la.

–Tudo bem. Eu que estou um pouco distraída.

–Depois do que viu... Deve estar com medo do que dizer...

–C-Como...

–Eu estava passando e vi você olhando por entre aquelas árvores.

–Q-Quem é você? Nunca te vi na cidade.

–Sim. Eu moro na floresta. Sempre passo por aqui enquanto caço. Bela capa.

–Não posso falar muito, preciso ir pra casa.

Abaixei e comecei a pegar as ervas caídas, enquanto esperava que aquele homem fosse embora. Mas ele abaixou e começou a me ajudar, estranhamente sabendo quais ervas eu estava colhendo. Eu não dirigia o olhar a ele em momento algum, terminei apenas o que precisava fazer e me levantei para ir. Enquanto caminhava para longe, ouvi ele rir baixo enquanto parecia me encarar, dizendo que esperava me ver novamente em breve.

Meu corpo arrepiou por completo, quando ele pronunciou meu nome ao final da frase. Seria ele a pessoa que me visitava pelas manhãs a pegar os doces? Caçador... Talvez tenha caçado meus coelhos. Andei o quanto pude, mas parei em frente à entrada da floresta, olhando para minha casa e pensando no que dizer a minha mãe sobre meu atraso.

Ouvi passos atrás de mim, mas sabia que era ele, escondido na escuridão a me observar. Não sabia se entrava em casa ou se andava em direção a cidade, na esperança de não ser mais seguida.

Para meu desespero, minha mãe apareceu na porta com uma expressão de impaciente e começou a me questionar sobre a demora. Inventei uma desculpa para ela acreditar que as plantas estavam acabando no local em que eu pegava então tive de ir a um lugar um pouco mais longe. Em dias bons como esse, ela não se preocupava em me questionar. A menos que não tivéssemos o que estávamos precisando para sobreviver.

Aquela foi a primeira noite em que ouvi um lobo uivar.

Me encolhi embaixo das cobertas, onde era meu único esconderijo naqueles dias frios. Enquanto o sol não irradiava, era meu único sustento de felicidade. Não conseguia dormir, ficava me lembrando daquela cena odiosa em meu riacho e aquele homem a me conhecer tão bem.

Comecei a imaginar como seria nosso novo encontro. Queria algumas respostas, então torcia para que as ervas acabassem mais rápido que da última vez. Pena que a cidade não compra com tanta frequência assim. Fico horas a pensar em ser alguém útil, mas não serei com a angústia em meu coração de não ter minha família completa novamente. Não descansarei até ter respostas e se ele me segue tanto, deve ter todas as respostas que preciso.


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