Minha criada entrou em meu quarto sem bater na porta, não me importei. Ela trancou a porta e foi até mim, sua bochechas coradas. Passei a mão pelo seu cabelo preto e sorri, era macio como uma almofada e brilhava com a luz das velas. Aproximei meu rosto do dela e a beijei. Emily respondeu ao beijo, mas timidamente, ela era tão tímida... Após um tempo me afastei e comecei a me despir.

– Vou me banhar. Por favor, saia.

– Sim senhorita.

Entro em minha banheira cheia de água quente e relaxo o corpo, mesmo sabendo que iria ter que escolher alguém para me casar. "Pode ser qualquer um, desde que seja um nobre" Minha mãe disse. Queria que Emily fosse nobre, assim poderíamos nos casar. Será que ela aceitaria? Aceitaria o pedido de casamento de sua princesa? Da pessoa que havia aberto seu coração dois atrás, só para ela? Apesar do que parece, Emily foi a pessoa que se declarou primeiro, e assim que ouvi as palavras dela... Meu coração se encheu de amor. Como se fosse a primeira vez que a visse de verdade. Baixinha, de cabelos loiros presos em duas tranças que davam a volta em sua cabeça, olhos cinza e sem brilho, pele clara, mas um pouco morena por conta das longas horas de trabalho embaixo do sol, suas mãos cheias de calos e a voz baixa, como um sussurro. Eu amo Emily, mas até mesmo ela sabe dos perigos deste amor. Ambas somos mulheres, isso é um pecado e adoro como isso soa. Pecado. Sou uma pecadora e não me importo, o amor que sinto é verdadeiro e sei que Deus irá me perdoar por lutar pelo que sinto. Mas não posso fugir de meu destino, devo me casar com um nobre e me tornar rainha, nem que Emily se torne minha amante secreta, vou ficar ao lado dela para sempre.

Alguém bate na porta e sei que não é Emily, não pelo fato de a pessoa ter batido na porta, mas por que Emily bate na porta em um ritmo melancólico.

– Entre! - Saio da banheira e me enrolo em uma toalha.

– Lucinda! Como ousa ainda não ter se preparado para o baile quando o Príncipe do sul já chegou!? Ele é o melhor Príncipe que você poderia querer, agora coloque aquele vestido que preparei para você e venha dançar! - Emily veio do sul... Sorrio.

– Talvez você devesse chamar o Príncipe para o meu quarto e ver se ele gosta de-

Ela dá um tapa na minha cara e seguro o riso.

– Como ousa!? Nunca diga algo desse tipo na frente das pessoas!

Ela sai marchando do meu quarto, começo a rir quando ela bate a porta, mas logo fico com raiva dela.

– O que você está fazendo aqui!? Sua empregada idiota! Eu falei para todos os empregados irem para a cozinha! - Minha mãe está brigando com minha bela Emily!?

Saio do meu quarto e vejo uma marca de mão no braço e outra no rosto de Emily. Fico furiosa.

– Emily! Que bom que apareceu, preciso de ajuda para fechar meu vestido. Eu a chamei mãe. E não brigue com minhas criadas por mim, eu mesma posso fazer isso. - Minha mãe sai andando e abro um pouco a porta, mas não o suficiente para Emily passar, assim ela tem que se espremer entre mim e a porta. Fecho a porta e a tranco. Emily pega um vestido azul gelo de cima de minha cama e o estende para mim. Eu sorrio.

– Ah não. Você é minha criada e eu lhe peço que me troque.

Abro meus braços e sorrio maliciosamente para ela.

– Lucy... Sua mãe está uma fera comigo. - Ela diz baixinho, provavelmente com medo de minha mãe a ouvir. - Não acho que seja uma boa idéia.

– Acalme-se minha doce Emily. Não vou deixar nada acontecer com você.

Ela tira minha toalha, e o ar frio do inverno me envolve, mas em vez de colocar meu vestido, empurro Emily para minha cama e fico em cima dela.

– Eu te amo, Emily e vou fazer tudo por você até que a morte nos separe.

– Amén.

Beijo seus lábios e ela me responde com mais firmeza. Passo a beijar seu pescoço e ela suspira. Sorrio para ela, que me abraça pela cintura. Beijo-a mais uma vez antes de levantar e realmente começar a me trocar. Coloco o vestido azul gelo de minha mãe, que é muito bonito para minha mãe ter o escolhido. Coloco um sapato de salto branco, Emily faz uma maquiagem simples, mas sofisticada e começa a trabalhar em meu cabelo. Ela o prende em uma trança e depois faz um coche com algumas mechas soltas, para dar um pouco de charme. Por fim, ela coloca minha coroa em mim, feita de prata com pedras azuis. Me olho no espelho, sou alta, pele clara, olhos azuis e cabelo ruivo, como fogo. Abraço Emily, pois sinto algo dentro de mim que não terei mais outra chance de fazer isso.

Ela me beija e me encara nos olhos, seus olhos cinzas brilham de emoção. Eu a pressiono contra a parede e a beijo, sem me conter, enfio minha mão por baixo de sua saia, mas alguém bate na minha porta o que me faz parar. Emily suspira, desapontada. Eu sorrio.

– Você queria mais? - Sussurro para ela e aperto sua coxa.

– Vou atender a porta. - Ela responde, mas pisca para mim.

Nos ajeitamos e finjo estar escolhendo um colar no meio de minha jóias. Emily vai até a porta e a destranca. Meu pai entra.

– Sua mãe está louca lá embaixo e me mandou buscá-la.

– Diga que já vou, tenho mais algumas coisas para fazer, não quero parecer desleixada perto do príncipe. - Me virei para ele. - O que você acha desse corpete? Estou magra o suficiente? Sinto que estou estufada! Emily concordou, preciso de um corpete mais justo, coloque isto na lista de compras quando for viajar amanhã, papai.

– Claro. Claro. O que você quiser.

– Há muitas pessoas lá embaixo?

– Mas é claro! Estão todos ansiosos para saber com quem a Princesa do Norte irá se casar!

– Claro, claro... Pode voltar para a festa, vou ajeitar este vestido.

Ele sai do meu quarto. Emily tranca a porta novamente e olha para mim. Vou até ela e a puxo para minha cama.

– Desta vez, você não me escapa. - E enfio minha mão em sua saia.

Após arrumar meu corpete, que realmente estava muito largo, saio do meu quarto e desço para o salão de baile. Todos olham para mim quando entro e enquanto atravesso o salão até o Príncipe do Sul. Ignoro seu nome, não me importo, só preciso me casar e estarei livre da minha mãe e assim poderei ficar com Emily...

É meia noite e sinto que já dancei com todas as pessoas do mundo, não sinto meu pés, mas sei que estou dançando pois o mundo há minha volta está girando. Até que chega o momento de eu escolher alguém para me casar. Fico na frente de todos, entre o trono de meus pais, mas alguns passos mais para frente. Vejo de longe Emily me encarnado do canto do salão e tenho vontade de gritar "Eu te amo Emily! E irei me casar com você!" Mas sei que isso apenas faria com que nos queimassem na fogueira, ou apenas Emily. Eu teria que viver sem ela... Talvez seria melhor ser queimada agora, não me importo muito... Não consigo imaginar minha vida sem ela.

– Diga, minha filha. Que jovem terá a grande chance de se casar com você e se tornar o rei do norte? - Meu pai está tenso, mas diz calmamente o discurso preparado por minha mãe. Eu o ignoro e me concentro no meu plano. Casar o Príncipe de Norte, e passar o resto da minha vida ao lado de Emily.

– Diga, Lucinda. - Minha mãe sussurra para mim entre os dentes. "O discurso já acabou?".

– Eu irei me casar com o-

Uma flecha de fogo passa raspando pelo meu rosto. Todos gritam e olham para a entrada do salão, mas não há ninguém. Então o pânico começa, todos começam a correr desordenadamente, até que alguém derruba um castiçal, fazendo as enormes cortinas pegarem fogo. Em alguns minutos o fogo já alastrou por várias áreas do castelo. Sou puxada por várias empregadas, mas não presto atenção em nada. Preciso encontrar Emily. Fujo das empregadas do castelo e corro de volta para o meu quarto, onde encontro-a de joelhos com a cabeça apoiada em minha cama. Corro até ela e a ajudo a levantar. Percebo um enorme ferimento em seu abdômen, que mancha seu vestido de empregada. Rasgo o vestido e seguro a tentação de ver seu corpo para examinar o ferimento. Ela geme de dor e levanta a mão ensanguentada para mim.

– Lucy... - Ela sussurra. - Fuja.

– Não! - Sinto lágrimas em meu rosto. - Por favor, não faça isso comigo!

– Fuja.

– Eu disse que faria de tudo para proteger você... Por favor...

– Fuja, por mim. Eles ainda estão aqui.

Olho em volta e percebo alguém me observando por trás de um espelho. Me levanto e aperto a mão de Emily, que também está chorando. O homem prepara a flecha.

– Lucy... - A voz de Emily está mais fraca, mas não me importo. Eu morreria por ela. E vou.

– Princesa Lucinda você é mais leal aos seus criados do que imaginava. - O homem diz.

– Eu morreria por Emily.

No momento que ele soltou a flecha beijei Emily. A flecha acertou meu ombro esquerdo, gritei de dor.

– Eu te amo Emily. Com toda a minha vida.

– Eu te amo Lucy. Com toda a minha vida.

O homem acertou mais duas flechas em mim, uma no meu pescoço e outra em meu peito.

– LUCINDA! - Minha mãe entrou em meu quarto, mas já era tarde demais. Eu e Emily, abraçadas em minha cama. Frias como gelo.

Mas algo aconteceu. Eu acordei no meio da floresta, flores vermelhas ao meu redor. Uma velhinha usando roupas simples chegou perto de mim e me entrou uma capa vermelha escura.

– Quem é você? Onde estou? Onde está Emily?

– Você está na floresta do norte, minha querida. E sinto em dizer isso, mas Emily não está mais entre nós.

– O quê!? Não... Não... Emily... - Caio de joelhos no chão, a capa em minhas mãos. Uso-a para secar minhas lágrimas e percebo que há uma chama gravada nas costas da capa.

– Não se preocupe, você se encontrar com ela novamente. Mas agora, Lucy, venha comigo, conheço um lugar seguro para nós.

– Mas... E meus pais? Eles devem estar atrás de mim... - Passo a mão pelos lugares que as flechas haviam me acertado. - Eu levei flechadas... Eu... Tinha morrido...

– Venha comigo Lucy, e eu lhe explicarei tudo.

– O que aconteceu?

– Você foi escolhida. - Ela colocou a capa em mim, prendendo-a com um pingente em forma de "L" com uma chama. - Você é uma Outra.