Os Outros escrita por AKAdragon


Capítulo 1
A Outra


Notas iniciais do capítulo

Meus pais? Mortos.
Irmão? Não tenho.
Estado mental? Morta.
Estado físico? Congelada.
Você deve estar se perguntando por que uma garota de 16 anos está dentro de um lago congelado. Bom, era para ser apenas um dia de inverno normal, mas não acabou do jeito que imaginávamos. Ouve mortes. Três. Ou deveria ter sido três mortes. Uma pessoa sobreviveu. Será? Meu nome é Riley, e eu sou uma Outra.



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Acordei cedo mesmo sendo um sábado. Não podia perder a hora ou não iria viajar com meus pai pela primeira vez. Mesmo tendo 15 anos, nunca havia viajado com eles. Pessoas de negócios, mas muito gentis. Mesmo que tenham ligado de ultima hora e decidido festejar meu aniversário de 16 anos um mês antes da data – Caso ao contrário, estariam viajando no dia. Prendo meu cabelo em uma trança para traz, apenas minha franja fica para frente. Coloco uma calça de couro preta que minha mãe havia me dado de presente ano passado – não que ela vá se lembrar – Uma regata preta, um suéter preto e minha jaqueta de couro vinho preferida – presente de minha avó alguns meses antes de morrer – E minha bota preta de caminhada. Me olho no espelho e assopro a franja para longe do olho. Minha mãe odiava isso em mim. Sempre odiou quando a franja caía no olho das pessoas, escondendo seus segredos. Passo brilho labial rosa e uma pequena camada de blush – sou muito pálida então não posso exagerar muito na maquiagem – Encaro minhas unhas quebradas. “Deveria ter ido para a manicure ontem”. Olho para um esmalte preto que está em cima de minha penteadeira. Isso serve. “Mamãe vai ficar furiosa quando perceber que eu não paguei alguém para fazer o trabalho”. No final, minhas unhas estão perfeitamente pintadas. Trabalho de profissional. Nunca irão notar.

Uma buzina toca e eu corro até a porta da frente. Meus pais descem do carro. Minha mãe olha para mim e volta à atenção para o celular. Meu pai acena para mim e abre os braços. Sei o que isso significa, sempre soube. Mamãe está de mau humor e vamos ter que aturá-la o dia inteiro. Eu o abraço e cheiro seu casaco grosso. Ele cheira a tinta de impressora e café.

- Bom dia, querida. – Ele beija a minha testa. – Está pronta para patinar?

- Patinar! – Eu dou um pulo e junto às mãos como se estivesse rezando. – Eu amo patinar!

- Que bom. – Diz minha mãe. Sua voz é fresca e impaciente. – Agora vamos. Quanto mais cedo irmos, mais rápido saímos.

Ela é a primeira a entrar no enorme carro e não diz mais nada. Mamãe é como uma princesa mimada, não aceita quando as pessoas negam o que ela diz. Seu cabelo é castanho escuro e seus olhos são azuis. Sua pele é morena, mas sei que não passa de um bronzeado artificial. Estamos no inverno e sua pele não é mais escura que a minha. Meu pai é gorducho e musculoso ao mesmo tempo. Seu cabelo é preto e seus olhos são verdes-esmeralda. Não pertenço a essa família. Tenho a pele mais clara da cidade, olhos cinzas e sem brilho, meus cabelos são loiros com algumas mechas brancas. Algumas pessoas me chamam de rainha do gelo, mas não me importo. Gosto quando as pessoas me diferenciam do resto. Por que eu sou, e sempre vou ser. Riley King, filha de Amanda e Rocus King. Os melhores executivos de todo o estado.

Sou rica? Sim.

Abuso disso? Não.

Gosto de chamar a atenção? Não.

Posso sentir o olhar dos policiais em cima de mim enquanto atravessamos um pedágio. Tenho sono, mas sei que se dormir, minha mãe vai arranjar uma desculpa para ir embora e me deixar sozinha com meu pai – não que eu o odeie, mas gostaria de ter um dia mais animado ao lado deles. O campo de patinação está cheio, o que faz minha mãe ficar mais estressada ainda. Após muito tempo de discussão, minha mãe finalmente convence o guarda do ringue de patinação a separar um espaço apenas para nós – obviamente ela usou dinheiro como argumento. A área reservada é bem longe e solitária. Minha mãe nem se incomoda em colocar os patins, ela apenas senta em um banco e volta à atenção para o celular. Estou sozinha com meu pai. Colocamos os patins e vamos para o gelo.

- Eu aprendi alguns truques novos no inverno passado.

- Você se importaria de me mostrar? – Meu pai parou e me observou em silêncio enquanto eu dava pulos e giros no ar. Quando terminei, ele começou a bater palmas e percebi que minha mãe me observava com um leve sorriso no rosto. Retribui o sorriso, fazendo-a parar de sorrir e voltar à atenção ao celular. “Se ela não liga para mim, por que se importou em ficar grávida? Provavelmente sou um acidente...”. Patinamos praticamente o dia inteiro e quando chega o anoitecer, algo mágico acontece.

Minha mãe coloca os patins e vai patinar junto comigo e com o meu pai.

Eu e meu pai estamos de queixo caído. Ela olha para nós e dá de ombros.

- É aniversário dela. Temos que cantar parabéns.

- Esperem. – Digo antes que eles saiam do ringue. – Eu tenho um outro truque que gostaria de mostrar.

- Muito bem. – Minha mãe cruza os braços, impaciente. Enquanto meu pai sorri.

Começo a pegar velocidade e pulo, durante toda a manobra tudo está normal. Então, no meu pouso, o gelo se quebra. Sinto tudo ao meu redor congelar, então, mais ao longe, vejo meus pais caindo na água. Estico a mão e alcanço a borda do gelo. Quando finalmente consigo voltar a superfície, corro até onde meus pais estavam. Consigo puxá-los para cima, mas quando vejo, eles já estão congelados. Lágrimas escorem pelo meu rosto.

- Por quê? – Digo entre lágrimas. – Eu só queria mostrar o meu truque... Por quê? Pai! Por favor! Perdoe-me!

Sinto algo gelado em minhas mãos e quando vejo, estou congelando também. Olho em volta, mas não vejo nada que possa me esquentar. Tudo está escuro e frio. Escuto uma voz perto de mim, uma voz feminina. Ela diz algo e uma voz rouca responde. Passos. Leves e ágeis. Então, minha visão volta. Estou deitada no ringue de patinação. Meus pais ao meu lado. Vejo várias pessoas, policiais, bombeiros. Então, uma velhinha chega se aproxima e estende a mão para mim.

- Riley. – Sua voz é rouca e macia. – Venha, temos que tirá-la do rastro dos humanos.

- Humanos?

- Aqui, vista isso. – Ela me entrega uma capa azul-gelo com um floco de neve desenhado em branco atrás. – Rápido.

Visto a capa e tampo meu rosto com o capuz.

- E agora? – Em um piscar de olhos, estou no enterro de meus pais. Estou no fundo da capela, observando todos. Tios e tias distantes choram pela morte deles, mas não ouço ninguém falar nada sobre mim. Minha avó mais velha se para ao meu lado e sorri.

- Então você é um deles. – Ela vira para mim e me estende um broche de prata com R e um floco de neve. – Sempre soube que nossa família iria ter um Outro.

- O que é um Outro?

- Desculpe querida. Não entendo a língua de vocês. – Ela prende o broche em minha capa. – Mas deixe-me lhe dar um conselho: Se esconda nas sombras. Não deixe ninguém saber sobre você. Fuja de nós.

- Mas... E meus pais? – Apontei para o funeral.

- Ninguém se lembra de você. É como se você nunca tivesse existido. Espero que essa seja a sua pergunta. Bom, preciso voltar agora. Sua tia vai ficar louca se me ver falando com um “estranho”.

Ela riu e caminhou calmamente de volta para sua mesa. Toquei o broche que ela havia me dado e pensei no que havia dito. “O que é um Outro?”.


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Notas finais do capítulo

Após ler todas as minhas 98 histórias, achei que essa era uma boa história para tentar desenvolver mais... Espero que gostem...



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