O Lado Bom De Amar escrita por Gabbi Sandin


Capítulo 5
Capítulo Quatro




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Cheguei da escola muito cansada. O sol estava quente e o ar parecia não estar circulando naquela cidade no meio do nada.

Cecília não foi á aula hoje como o esperado. Passei a maior parte do tempo com Tomás, que, por sua vez me fez rir bastante. Marcelo foi á aula e parecia estar normal como todos os dias. Infelizmente, passou reto por mim todas as vezes que nossos cominhos se cruzavam, ele parecia não me enxergar. Talvez ele não quisesse me enxergar.

Coloquei um vestido velho para almoçar, não suportaria de jeito nenhum continuar com aqueles jeans sufocando minhas pernas.

Mamãe chegou em casa mais cedo que o normal. Geralmente eu almoçava sozinha ou com Verônica.

– Boa tarde, mãe. – Disse assim que ela passou pela porta – Foi liberada mais cedo hoje?

Ela colocou sua bolsa cuidadosamente em cima do sofá e sentou-se soltando um longo suspiro.

– Fui sim.

– Que bom! Assim pode me ajudar com o almoço. Verônica está lá em cima e eu me recuso a chamá-la para pedir ajuda.

– Tudo bem. Vai indo lá pra cozinha... Vou colocar esse uniforme pra lavar. – Ela disse apontando para a própria blusa.

Meus dotes culinários eram péssimos. Fiz apenas uma salada de alface e tomate enquanto minha mãe cozinhava o arroz. Tentei a todo custo aprender a cozinhar feijão, mas, era muito, muito difícil. Então essa tarefa ficou para minha mãe também. Acabei fritando alguns bifes acebolados depois.

Durante o almoço, mamãe ficou calada, o que era raríssimo. Verônica também ficou calada o que era impossível. Não durou muito tempo para que minha paz interior fosse embora.

– Mãe, já falou pra ela? – Verônica pegou um guardanapo para limpar sua boca enquanto falava.

Minha mãe fez que não com a cabeça, mas logo começou a falar.

– Hoje nós vamos a um jantar oferecido pelos pais do Rafael. Como ele convidou toda a família, Verônica pediu para eu te dizer, que é pra você se comportar bem diante da futura família dela.

Claro, irmãzinha! Não se preocupe, não vou arruinar suas chances de dar o golpe do baú. Não vou te envergonhar com nenhumas de minhas palavras grosseiras, porém, verdadeiras.

– Eu não quero ir nisso. – Respondi.

– Você precisa ir nisso. – Mamãe rebateu.

– Não acho que seja necessário. Sou a vergonha da família. O membro da família que não deu certo. Vim com um pequeno defeito.

– Por favor, Angelina, por favor. – Mamãe disse enquanto Verônica nos observava.

– Tanto faz. É a futura família da Verônica não a minha futura família.

– Se pra você tanto faz, eu decido. Você vai.

– Hoje á noite, esteja arrumada ás 8h00. – Completou.

Enquanto eu fazia meu longo dever de casa, peguei o celular para ligar pra Cecília.

– Angelina? – Sua voz continuava péssima.

– Oi Lia, sou eu. Tudo bem?

– Mais ou menos. E você?

– É... A vida não está fácil para ninguém.

– O que foi? Percebi seu tom de voz melancólico.

Ri um pouco antes de falar.

– Briguei com Verônica ontem á noite. As coisas estão ficando difíceis. E pra piorar minha mãe chegou mais cedo e estranha do trabalho hoje. E pra piorar ainda mais, tenho um jantar chato com a família insuportável do noivo tosco da Verônica nojenta.

– Uau. Não vou mais reclamar da minha gripe. Brincadeirinha! – Sua voz saiu esganiçada.

– Uau. Não vou mais reclamar da minha voz.

– Hahahaha.

– Brincadeirinha.

– Ah, ainda não contei nada disso para o Tom, então, por favor, se conversar com ele não comente nada por enquanto.

– Acha que ele é fofoqueiro? – Ela perguntou rindo.

– Não é isso. Sei lá, acho isso pessoal demais, sabe?

– Aham. Tudo bem, não falo nada. E o Marcelo?

– Ele está me evitando. Isso é ruim.

– Ser evitada por um par de olhos verdes é ruim.

– Vou ter de arcar com as consequências, Lia. Que chato...

– Vou ter que ir ao médico agora, Angelina – ela espirrou – zinha!

– Tudo bem. Melhoras pra sua gripe.

– Melhoras pra sua vida.

* * *

Meu pai chegou naquela tarde de quinta-feira, assim, ás 8h00 todos estávamos prontos (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=146914327).

Foi tudo muito chato. Pelo menos pra mim. O jantar aconteceu em um restaurante italiano bem distante da minha casa que só servia massas, vinhos e água.

Os pais de Rafael pediram muitos itens do cardápio. Senti-me até um pouco mal com tanta comida ao meu redor.

Peguei apenas um pouco de macarrão, que o formato se parecia com o de uma concha pequena. Foi à única comida que consegui reconhecer. Tudo estava exposto á mesa de uma forma tão elegante e diferente.

Comi bem devagar, bebericando minha água servida em uma taça enorme, enquanto ouvia Rafael vangloriar Verônica de uma forma nauseante.

Depois do jantar, mamãe conversava animadamente com os pais de Rafael. Meu pai estava feliz, porém, mais calado. Verônica e Rafael sussurravam entre si, de vez em quando, riam baixinho.

Rafael era um rapaz diferente. Talvez elegante. Bonito não, apenas elegante. Vestia-se muito bem e seu cabelo estava sempre no lugar, muito bem arrumado.

Ao contrário, Verônica, sempre estava com seu cabelo preso em um coque com muitos fios fora do lugar. Seu cabelo, porém, era mais bonito que o meu. Mais claro e mais comprido. Os pequenos cachos nas pontas de meu cabelo, não apareciam no cabelo dela. Minha irmã também não se vestia muito de acordo. Nós não tínhamos muitas e muitas roupas, mas, ela abusava. Estava de Jeans! Em um jantar com a família do noivo! Eu ao menos usava jeans apenas na escola.

Glória, ao meu bom senso.

– Angelina, filha! Carlos te fez uma pergunta.

– Ah! Oi! Desculpa. Pode falar. – Que. Vergonha.

Ele riu do meu desconcerto e repetiu a pergunta:

– Qual faculdade pretende fazer? – Perguntou formal demais pro meu gosto.

– Hm... Faculdade? Não penso muito nisso ainda.

– Isso é o seu futuro. – Mamãe interveio.

Verônica me olhou frustrada.

– Mas, senhora Débora, - Rafael veio em meu socorro – na idade dela eu também não pensava em faculdade. Não pensava em nada! – E riu.

– E veja como está bem sucedido! – Ironizei, mas, eles não perceberam.

Rafael sorriu.

– Foi com muito esforço que consegui tudo o que tenho.

– Fico feliz que Rafael encontrou uma família com pessoas tão agradáveis. – Finalmente, dona Lúcia mãe de Rafael, falou algo que preste.

“Dona” porque havia muitas rugas em seu rosto. E que “preste” porque durante todo o jantar, ela apenas sorria e concordava.

Todos pareciam pessoas de mentira. Sorriam e elogiavam tudo. Preocupavam com o futuro e com seus “grandes” bens materiais. O dinheiro ali era um grande deus. Talvez todas as pessoas comuns tentavam ser agradáveis dessa forma. Nasci com um pequeno defeito, não agia assim.

Saímos do restaurante tarde. Depois de uma seção de despedidas, finalmente fomos pra casa. Verônica foi dormir na casa de seu noivo.

– Você não pensa mesmo em faculdade? – Meu pai me perguntou durante o trajeto de volta pra casa.

Pensei rápido.

– Ás vezes. Não é minha maior prioridade.

– Pois devia ser. Faculdade é o começo de uma vida.

– Angelina não pensa em vida. – Minha mãe irritou.

– Não mesmo. – Respondi.

Adultos, mais precisamente nossos pais, pensam e idealizam demasiadamente um futuro. Não para eles, e sim para nós: os filhos, suas marionetes sem vida. Nunca vivem o presente, nunca curtem o momento. Por isso estão sempre de mal com a vida. Não sabem vivê-la.


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Notas finais do capítulo

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