O Lado Bom De Amar escrita por Gabbi Sandin


Capítulo 2
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Todas as pessoas encontram alguém para amar. Com pelo menos até 14 anos, uma pessoa já amou e lutou por alguém.

Não me julgo diferente, mas, especial. Considero-me uma pessoa especial pelo fato de eu nunca ter me apaixonado. Mas, também me considero especial por acreditar que posso me apaixonar. Quando no fim de tudo, eis que surge a verdade: Sou especial. Especialmente condenada a fazer com que seres inocentes – ou não tão inocentes assim – se apaixonem por mim. E a verdade é que com meus 16 anos incompletos, já tive dois namorados que acreditaram que eu os amei. O fim de tudo, você já pode imaginar: lágrimas, discussões, acusações e mais lágrimas. Não posso me julgar. É tudo muito automático.

Agora estou no meio de um terceiro relacionamento. Marcelo Medeiros, 17 anos. Um anjo de pele clara e olhos verdes. Menti para mim mesma – a exatamente cinco meses e oito dias atrás – que eu gostava dele de verdade. E claro, não demorou muito para que eu demonstrasse isso á ele. Agora, estou arrependida e quero voltar a ser uma garota solteira.

Marcelo não tem culpa alguma. Me amou e fez de tudo para que eu me sentisse bem durante os nossos longos dois meses e meio de namoro. Mas vou terminar isso logo antes que eu cometa o mesmo erro pela terceira vez. Quero muito continuar sendo uma amiga para ele, mas, não acho que isso vai ser possível. Pois além de todas as suas qualidades, Marcelo é um garoto muito sensível.

Infelizmente a maior parte do tempo, fico imaginado como é amar alguém de verdade. Eu não faço ideia de como seja esse sentimento. Vejo pessoas, juntando suas vidas através de matrimônios, e fico me perguntando, como será que podem se amar tanto assim, a ponto de quererem passar o resto de suas vidas juntos? É um sentimento bonito e assustador ao mesmo tempo. Sei muito bem apesar de nunca ter amado, que o amor além de cego é maluco.

Então, decidi que tenho que sair dessa. Não posso ficar pensando muito em amor agora. Tenho muita pouca idade e a única coisa que tenho que levar a sério – obrigatoriamente - são os estudos. Iria terminar com Marcelo na manhã seguinte. Sendo ruim, ou sendo péssimo.

* * *

Acordei com o coração mais acelerado que o normal naquela manhã. Olhando através das pequenas frestas que minhas cortinas deixavam, vi que o céu ainda estava escuro. Peguei meu celular para fazê-lo parar de despertar e me deixar dormir mais um pouco. Fui atraída pelos números grandes que indicavam a hora, 5h33! Droga! Estava atrasada.

Peguei a primeira camiseta que vi na minha frente assim que pulei da cama. Vesti meus jeans de sempre e um All Star (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=146700868). Ao mesmo tempo que tentava domar meu cabelo – hoje eu não teria tempo para tomar banho – escovava os dentes. Não sei como consegui, mas, quando estamos com pressa vamos além dos nossos limites – que aliás, impostos por nós mesmos. Peguei apenas uma maçã para comer no caminho e minha mochila surrada que logo coloquei nas costas. O ponto de ônibus ficava a 15 minutos da minha casa.

Durante o trajeto no ônibus me enchi de perguntas. Como Marcelo vai reagir? Como as coisas vão ficar entre nós? O que será que Cecília iria achar disso? Ah! Que se dane! Ela era minha amiga, mas, não sentia o que eu sentia. Aposto que ela tomaria a mesma atitude. Foi a resposta que tive para a minha dúvida em relação a minha amiga.

Cecília era praticamente minha única amiga. Claro, eu conhecia muitas outras garotas, mas elas eram apenas colegas. Nós nos conhecemos esse ano mesmo, quando ela entrou na escola. Seus pais eram meio maluquinhos então ela decidiu vir morar com sua tia – casada, vale ressaltar. Ela reclamava um pouco da vida de tempos em tempos e confesso que demorei a me acostumar com tantas reclamações diárias. Hoje em dia, eu apenas concordo com quase tudo o que ela fala.

Ela não era uma garota difícil de lidar ou algo assim. Cecília tinha uma natureza incrível, e fazia com que todo problema que eu, exclusivamente eu, arrumasse se tornasse uma grande besteira. Você leva a vida muito a sério, ela sempre dizia isso pra mim em tom de brincadeira.

De uns tempos pra cá, Cecília anda totalmente diferente. Faz tempestades em copos d’água e é a criatura mais melodramática que eu conheço. Não sei se é falta de beijar na boca, ou um tipo de menopausa precoce. Está extremamente insuportável!

Assim que desci do ônibus, me vi em uma situação tensa.

– Angelina! Tudo bem? – Marcelo veio de braços abertos ao meu encontro.

– Oi. Tudo sim.

Ele me abraçou e me deu um beijinho na bochecha.

– O que foi? Está com sono? – Ele disse percebendo que minha cara estava amarrada.

– Não é que... A gente pode conversar um pouquinho?

– Tudo bem.

Marcelo pegou minha mão para atravessarmos a rua. Andamos um pouco mais em linha reta até afastarmos da escola. Então ele se sentou no parapeito de uma varanda de uma casa. Ao que tudo indica, abandonada.

Continuei de pé, apenas encostada.

– Bom é que... – Comecei já sem saber como começar – Não acho que nós estamos dando muito certo, sabe?

Ele ficou calado. E confuso.

– Você é um garoto muito incrível! Merece estar com alguém que te ame de verdade.

– Você não me ama de verdade? – Ele olhava para o horizonte, mais precisamente, para uma loja de materiais de construção do outro lado da rua.

– Gosto de você. Mas não te amo de verdade. – Fui sincera.

Ele continuou encarando a loja.

– Acho que fui enganado. Porque começou uma coisa que sabia que não iria terminar bem?

– Eu não sabia! – Gritei sussurrando.

– Sério, eu gostava muito de você Marcelo! Eu em momento nenhum brinquei com os seus sentimentos. Mas quando eu vi que tinha dúvidas quanto a esse sentimento, quis logo dar um fim nisso.

Ele deu um longo suspiro e abaixou a cabeça.

– Por favor, tente aceitar as coisas bem. – Era inútil dizer isso, mas... Não pensei em coisa melhor pra falar.

– Poxa, você acabou comigo de vez, Angelina. Já tem o seu mestrado e doutorado de destruidora de corações. Quer mesmo fazer faculdade?

– Não... – Já ia começar a debater sobre o meu futuro, quando percebi que esse não era bem o assunto – Desculpa se os nossos sentimentos não são os mesmos.

Ele ficou calado mais uma vez.

– Marcelo, sabe você tem apenas 17 e eu 15... Não vamos levar as coisas tão a sério agora. Adolescência uma fase da vida tão banal... Vamos tornar as coisas mais simples! – Eu praticamente repeti o discurso que Cecília sempre dizia. Pediria desculpas pelo plágio mais tarde.

– Eu realmente espero que você encontre alguém para amar. – Ele me olhou nos olhos, seus olhos grandes e verdes, estavam vermelhos – E quando você jurar amor eterno a essa pessoa e ela fizer o mesmo, jurar amor eterno á você, algo bem ruim aconteça! E aí, ela vai te dar um pé na bunda! Igual você está fazendo comigo agora. Eu te odeio! – Dizendo isso, ele saltou do parapeito e voltou andando em passos rápidos para a escola, limpando os olhos com a manga da blusa.

Dessa vez, fiquei encarando a loja de materiais de construção. Poucas pessoas saiam de lá carregando algumas sacolas. Será que a vida delas era tão chata quanto a minha?

De repente me dei conta de alguns fatos. Todas as mensagens trocadas, as músicas com letras significativas, as partidas de vídeo game que jogávamos, as idas ao cinema no sábado á noite, as poucas – que eu acreditava serem verdadeiras – promessas feitas, os planos para o futuro, a faculdade no exterior... Tudo o que vivi com aquele garoto de 17 anos que mais parecia um anjo do que gente, já virara passado.

Peguei minha mochila e fui andando devagar para a escola. Já tinha perdido o primeiro horário e agora teria que fazer milagre para me deixarem entrar.

A própria palavra já diz: passado é o que já passou, passado! Repeti isso pra mim várias vezes. Infelizmente, o passado deixa algo que nos acompanha no presente e vai nos acompanhar no futuro: as drogas das lembranças.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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