Believe in Yourself escrita por Murasaki


Capítulo 24
Papoula




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–Sua criatura imbecil! – A veia na testa de Tails dilatava, e o ódio corria pelos vasos sanguíneos do raposo.

Lumina deu um meio sorriso no canto direito da face jovial:

– Meus amiguinhos, quanto tempo... Pyro lhes mandou considerações...

– Mande-as de volta! – O raposo não estava para brincadeiras. – O que você fez com Blaze? – Tails já sabia que não iria receber resposta.

Silêncio.

– Diga! O que você fez com ela?! – Tails tentou se mover em direção à raposa provavelmente para agarrá-la pelo pescoço e estrangulá-la, mas Silver o segurou.

– Calma aí... – Falou o ouriço prateado pacificamente, como se recitasse um poema.

– Calma?! Como posso ter calma! – Tails berrava, mas ainda se dirigia a Lumina. – Você não tem coração, não tem sentimentos!

De repente os olhos de Lumina, ficaram distantes, e o brilho carmim em sua marca no pulso desapareceu. Pôs as mãos na cabeça e começou a falar coisas desconexas:

– Não, não... eu v... sim, você vai! Não que... Desculpem! Desculpem! Socorro! – As últimas palavras foram ditas de uma maneira tão distinta que não pareciam ter saído da mesma boca que tanto ameaçou-os.

Mas rapidamente a terrível Lumina volta e a marca começa a brilhar novamente.

O que foi isso? Foi como se houvessem duas pessoas dentro de seu corpo! – Silver estava impressionado.

– Controle-se. – A raposa parecia falar sozinha. Depois, olhou para seus oponentes. – Tails, Amy e o ouriço prateado Silver... – O último nome fora citado juntamente com um golpe quase invisível que o levou a se chocar contra a parede mais próxima. O impacto gerou um grande estrondo. – Vou te levar à Pyro, ainda precisamos de você...

A pressão era tremenda.

– Lumina, nos mate se desejar, mas deixe a garota e Silver em paz... – Tails gritava, esbaforido.

A raposa maligna gargalhou.

– Vocês não entendem nada mesmo, não é? Não é possível que sejam tão burros.

– Do que está falando? – A voz de Amy demonstrou estar alterada também.

– Não posso matar vocês. – Amy e Tails esperavam que qualquer outra coisa exceto aquilo pudesse sair dos lábios da raposa. Na verdade, parecia tão absurdo e ilógico que eles pareciam não entender.

– Como? Do que está falando? – Tails questionava sem parar...

– Vocês acham que é tudo um improviso? Que o guardião poderia ser qualquer um, que essa coisa de marca Rosa Negra surgiu de uma hora para outra – Um breve silêncio – Tudo já estava planejado... Inclusive vocês.

Os dois heróis ainda estavam sem entender absolutamente nada.

– Mas como assim "nós"? – Amy gritou.

Lumina cerrou os dentes para não deixar escapar a frase, mas não aguentou:

– Você e Tails são os protegidos!

Protegidos? – Amy não sabia o que pensar, mas aquela palavra não lhe soou tão estranha.

– Como assim? – Tails estava aflito. A agonia percorria por cada centímetro de seu corpo pequeno.

Lumina parecia estar perdendo a paciência. A pequena raposa inclinou o rosto em direção a Silver inconsciente. Abriu os lábios novamente:

– Posso ser condenada por ter dito isso. – A frase foi pronunciada com um tom de sarcasmo evidente – Tails, Amy, está no sangue de vocês dois! Vocês são a pedrinha no sapato de Pyro. Você, por exemplo, – aponta para Tails – é o descendente de Nari, a raposa do amuleto Rosa Negra.

Os olhos confusos de Tails se mantinham fixos em Lumina.

– Você nunca soube por que nasceu com duas caudas, não é raposo?

Depois do silêncio dele, a gargalhada irritante de sua oponente ecoou novamente pelo local vazio.

Tails não tinha nada o que responder. Uma gota de suor frio descia por sua testa.

– Era de se esperar... Vocês sabem tanto das vidinhas inúteis como a de Eggman, e não sabem nada sobre vocês mesmos? Impressionante.

Em uma fração de segundo, os olhos bem abertos presenciaram Lumina pôr as mãos sobre a cabeça novamente. As palavras desconexas não eram mais pronunciadas, mas sim cuspidas rispidamente. Lágrimas rolaram do seu pequeno rosto, e a expressão de uma criança em desespero surgiu do nada.

A pequena raposa gritou, o que assustou até a loba que ainda soluçava nos braços acolhedores de Amy Rose.

Depois ela simplesmente foi-se. Havia saído correndo pelo lado oposto ao que Tails, Amy, Silver e a pequena loba estavam.

...

Novamente tudo estava escuro naquela imensa sala. Sonic planejava esperar as luzes acenderem para tentar conversar com quem estivesse na cápsula ao lado. Mas escuridão parecia sem fim. Nunca pensou que fosse admitir isso, mas sentia-se deprimido e sem qualquer pingo de esperança.

Tudo que era de bom em minha vida foi tirado. Minhas corridas pelo mundo, minhas horas lutando com Eggman, dias com meus amigos... Tudo... Já não vejo tanta razão pra continuar. – Mas por impulso, se sentiu movido a bater na própria face. – Não, não, não... Não posso desistir agora... Tails e Amy precisam de mim vivo! – Fechou os olhos novamente, apesar de saber que isso em nada comprometeria sua visão já que o ambiente permanecia escuro.

Mas as luzes se acenderam. E a surpresa de Sonic foi bem maior do que esperava:

– Blaze? – O ouriço não acreditava no que estava vendo. Não pareceu real, inicialmente. – Blaze, Blaze! –Sonic não parava de chamar pelo seu nome. Nem se passasse toda a vida ali gritando ele iria acordá-la.

Blaze estava ouvindo.

A gata abriu os olhos lentamente. Achava que estava sonhando, pois a realidade era quase que impossível. Estava ouvindo a voz de Sonic. Assim que abriu os olhos, precisou de segundos para ajustar sua visão novamente. A ilusão se desfez para dar lugar à realidade:

– Sonic?

– Blaze, você está me ouvindo?

– Sim, sim! – Blaze também parecia eufórica...

– Q-quer dizer que eles te pegaram também? Tails e Amy, alguma coisa aconteceu com eles?! – Sonic fez um esforço grande para não gritar a última frase.

– Não, eles estão bem... Eu acho... Não se preocupe, estão com Silver – Na verdade, a felina tinha incertezas quanto à frase que enunciara. Não sabia se Silver estava realmente curado. Mas confiava nele.

– Mas como eles conseguiram te derrotar? E por que te prenderam aqui? – Sonic jogava os punhos contra a barreira física em uma tentativa involuntária e frustrada de causar algum dano.

– Sonic, temos algo em comum. É uma história longa. - Blaze mostra o tornozelo para o ouriço. - Somos, como posso dizer... Somos guardiões.

O quê? A mesma marca?! - As coisas estavam desordenadas na mente de Sonic. Desde que fora encarcerado ali, ele foi perdendo, aos poucos, a distinção entre a realidade e a utopia, já que os seus pesadelos também tinham como tema preferido, o confinamento. Precisava - na verdade, necessitava - de explicações mais claras.

– Blaze, me explique tudo.

A gata lilás respirou fundo e pôs as mãos sobre a face.

– Sente-se, Sonic, temos muito que conversar...

Blaze estava disposta a revelar cada detalhe.

...

Dois dias depois.

Amy varria a pequena sala do bangalô e empurrava a sujeira porta afora. Observava que o sol já havia se escondido. Era reconfortante para a ouriça ver o sol mais uma vez após ficar em um mundo onde ele não aparecia. Ao pé da porta, deu um suspiro. As coisas aconteciam rápido demais e todos ainda estavam confusos. Principalmente depois da crise de Lumina. Teria sido uma farsa? Mas só agora Amy podia pensar e processar todos os fatos com mais calma.

Dias atrás, assim que saíram da loja destruída, Tails contatou uma ambulância que levou Silver e o pai da pequena loba o mais rápido possível para a urgência. A cidade não era muito moderna, mas tinha um hospital competente.

Silver tivera apenas ferimentos leves. Um médico o examinou. Está bem, só precisa descansar – Amy lembrou-se das palavras clichês do doutor em sua mente. Esse parecia ser um bom remédio para tudo.

Mas não para o pai da pequena loba.

Ele havia pedido muito sangue, tanto que não tiveram condições de fazer muita coisa por ele, apenas o possível para eliminar seu sofrimento. Quando esteve inconsciente, ele murmurou o nome de sua filha inúmeras vezes. Brine... Brine... Brine... - A sua voz grave ainda ecoava na mente de Amy. Depois, chegou a acordar por alguns momentos e Brine sempre esteve ao seu lado - às vezes Amy também. Sallo... Era esse o seu nome. A ouriça já havia até perdido as contas de quantas vezes ele a agradecera por estar cuidando da sua menina. Talvez fosse o efeito do analgésico. Ou talvez porque já soubesse o que iria acontecer...

No fim da noite anterior, Sallo pediu pra ficar a sós com Brine pra conversar. Amy respeitou aquele momento e saiu. Foi uma longa conversa. A demora preocupou a ouriça, que resolveu entrar horas depois. Encontrou Brine adormecida no peito de seu pai. E ele já estava morto.

Logo que ela acordou, os amigos ficaram desconcertados em como dar tal notícia para a garota. Mas o pai, de alguma forma, havia preparado a filha para aquele momento. Ela encarou a morte com bastante maturidade, as lágrimas escapavam sutilmente.

A tradição de Shield era cremar os corpos em uma solene cerimônia que acontecia lá mesmo no hospital. Logo pela manhã, fizeram isso e entregaram as cinzas para a pequena, que logo segurou o recipiente com força.

Quando você estiver pronta. - Disse Amy para Brine, acerca de decidir o que faria com as cinzas.

De volta à realidade, um pequeno ruído no sofá chamou sua atenção. A lobinha arroxeada estava lá, deitada em um cochilo agitado. Seu edredom havia saído do lugar. Amy foi até ela, e ajeitou a coberta com cuidado para não acordá-la. Mas a pequena loba abriu os olhos lentamente. A expressão cansada fez a ouriça sentir pena.

– Ela vem, não é? – A voz rouca da criança ecoou quase como um sussuro.

– Ela quem? – Amy não havia entendido.

– Lumina. – Respondeu a pequena. Amy mordeu os lábios antes de responder:

– Não, meu bem. Não vamos deixar n-... - Sentiu vontade de jurar que não deixaria "nunca". Mas "nunca" era uma palavra muito forte. Como podia dizer aquilo sabendo que até a sua própria segurança estava comprometida?

– Ela vem sim... Eu sei que vem. Ela sabe tudo sobre mim.

– Como assim, querida?

Os olhos da lobinha se fecharam por um segundo e meio. Quando abriu-os novamente, o brilho de uma lágrima que logo iria brotar apareceu.

– Lumina me enganou. A mim e... e a meu papai. - As palavras já começavam a se embolar.

Amy ficou calada esperando que ela prosseguisse.

– Ela fingiu ser boa conosco por todo esse tempo. Todos os dias ela ia à loja para ajudar meu pai. Ela era muito legal comigo. E o meu pai também gostava muito dela. Eu e Lumina brincávamos todos os dias. E eu... – Um soluço interrompeu sua história. – Eu dei para ela uma pulseira também, para sempre sermos amigas. – E então, a pequena desatou um choro silencioso de vez.

Amy ouviu atentamente cada palavra que a pequena loba disse. Seria possível que uma pessoa como Lumina pudesse ter um coração? Resolveu conhecer melhor aquela criança:

– Me conte, você por acaso tem alguma tia, ou tio com quem possamos conversar?

A pequena loba fez uma careta como se tentasse lembrar algo em suas mais remotas lembranças. Depois de alguns segundos, respondeu:

– Tia Atalí. Mas ela mora um pouco longe.

Amy então se achegou mais à loba e resolveu abrir o jogo:

– Querida, preciso te contar uma coisa. Queríamos poder te levar para sua tia imediatamente. Mas você está correndo um perigo enorme se ficar aqui nesse planeta. Por isso, você precisa ficar conosco por algum tempo. Somos seus amigos e vamos te proteger dos inimigos com todas as nossas forças. Você entende?

O olhar da pequena revelava um milhão de dúvidas e questionamentos. Mas ela balançou a cabeça afirmativamente.

Tudo estava tão conturbado na mente dela. Mas precisa confiar em alguém.

Amy fez um esforço para retirar toda aquela agitação de sua mente. E o pior: ao seu lado havia uma criança em luto que há pouco tempo se tornou órfã. Era inimaginável o sofrimento daquela filha. Amy levantou a mão e colocou na pelugem macia da lobinha, consolando-a. Precisava mudar o rumo da conversa. Abriu um sorriso e começou a falar:

– Sei seu nome, mas ainda não fomos apresentadas devidamente! Podemos começar de novo? Meu nome é Amy Rose. Qual o seu nome? – Perguntou a ouriça.

A lobinha se remexeu.

– Brine.

– Praze, Brine. É um lindo nome. Assim como você – elogiou Amy tocando na ponta de seu nariz.

Algo como um pequeno sorriso surgiu por uma fração de segundo no rosto de Brine. Minutos depois, ela já estava adormecida.

...

Tails andava em círculos pelo seu quarto. Seus pés eram ágeis, pois ele negava-se a ficar parado.

Protegidos. Desde que voltara daquela loja, esta palavra lhe soava como uma pancada sobre uma ferida aberta.

De repente, a brisa soprou mais forte e o vento estava mais presente.

E Tails já sabia quem estava com ele.

– Tikal?


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