'Merda! Merda!' Grito enquanto bato as mãos no painel do carro, descarregando toda a raiva - o medo, ganhando uma bronca de Korsak em seguida.

'Que diabos, Jane? Tira tua bunda magra desse carro e venha ajudar.' Ele ordena enquanto sai do carro.

Tommy é o próximo e Frankie, impressionado demais, fica me olhando até que pergunta, 'Jay, tudo bem?' Eu acho que a pergunta engloba mais do que a mim, mas para ser sincera não tenho um pingo de paciência com ele naquele momento.

'Mexa-se, Frankie!' Eu berro enquanto saio do carro, o frio bate no meu rosto sem piedade, mas eu sei que poderia ser pior se não tivesse uma fogueira gigante na minha frente. Corro o mais próximo que consigo da ambulância, o chão sob meus pés liso e escorregadio.

Algumas pessoas estão gritando. Homens, mulheres. Uma criança? Só então noto que tem carros parados na beira da estrada, pessoas com a cabeça fora da janela, estudando assim como eu a situação.

O que faremos agora?

'Korsak, você acha que conseguimos passar?' Eu pergunto já preparando outras opções caso a resposta seja...

'Não. De jeito nenhum. A explosão foi bem em cima da ponte, Jane!' Ele balança os braços para me impedir de avançar, fazendo o próprio caminho de volta. Ele pára do meu lado e ficamos olhando o fogo vermelho cortando o céu cinzento.

'Merda, Korsak. O que vamos fazer agora?' Sinto flocos de neve pousando no meu rosto e virando água logo em seguida. Tenho um nó na garganta, porque sei que se não sairmos dali... estamos mortos. Assim como as pessoas daqueles carros em chamas.

'Parece que nos resta duas opções.' Ele diz, a voz distante. Olho para ele na expectativa. 'Morrer queimados ou morrer congelados.'

Engulo em seco. Se não fosses tão sério; se fosse em outra situação... Eu teria rido, talvez teria feito uma piada. Mas o fogo queimando tão forte a ponto de secar o gelo do meu rosto, a ponto de arder meus olhos, me amedrontava diante da terrível situação.

Estamos presos entre dois opostos. Fogo. Gelo. A perspectiva não é das melhores.

'Talvez... a gente consiga passar a noite. Tentamos na manhã?' Eu sugiro. Afinal até lá o fogo já terá se apagado.

'A temperatura vai cair essa noite, Jane. Vai cair muito.' Ele me lembra. Eu balanço a cabeça enquanto observo a fumaça negra subindo ao céu. Não temos outra opção, temos?

'É melhor a gente acender nossa própria fogueira.' Eu digo quase num sussurro.

Korsak vira para mim, sei que ele está tão desanimado e sem esperanças só pelo jeito que seu ombro está caído. Ele coloca a mão no meu ombro e suspira, abra a boca para dizer algo e...

'Jane!'

Não.

'Jane!'

Me viro amaldiçoando. Por que? Ela deveria ter saído antes, porque ficou até o último momento?

'Angela!' Eu grito de volta e ando a passos apressados até ela. 'Você... Você não passou!' Jogo as mãos no ar, irritada com ela.

'Não tinha jeito. Eu precisei... Jane. O hospital.'

'Você deveria ter partido com os outros enfermeiros!'

'Nós não conseguimos mover um paciente a tempo. Muitas complicações.' Ela arfava enquanto falava.

Eu corro a mão pelo meu cabelo. Tudo bem. Para que entrar em pânico? As coisas podem terminar bem, não podem? Afinal, é só uma tempestade.

'Vamos voltar.' Eu falo. Aceno para Frankie e Tommy. 'Vamos voltar, nos abrigar. Espalhem para as pessoas nos carros. É melhor se ficarmos juntos.'

'O que?' Angela me pergunta, olhos abertos em pânico. 'Mas falaram que a gente deveria... Sair.'

'Vê a passagem? Estamos ferrados, Angela.' Aponto o dedo para o fogo, as palavras saem mais duras do que eu planejava.

'Maldito lago.' Angela suspira.

'Maldita sorte.' Korsak adiciona.

'Maldita neve.' Frankie replica.

Todos olhamos para Tommy como se esperando a vez dele. Ele dá de ombros. 'Deixei minha pizza pela metade.' Ele diz, pensativo.

E nós começamos a rir, talvez de desespero.