Gelo e Calor, Negação e Atração escrita por Blue Butterfly


Capítulo 1
I




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Tudo aconteceu muito rápido.

Primeiro a notícia na tv: o tipo de notícia que você se pergunta se é uma pegadinha; que te faz parar o que está fazendo para prestar atenção, primeiro em curiosidade, depois em deboche, e depois, finalmente, em compreensão.

Me dei conta tarde demais. O ceticismo sempre foi maior do que eu, e só acredito em certas coisas quando vejo acontecerem. Infelizmente...

Era real. Estava acontecendo.

A forte tempestade prevista seria devastadora. Alguma coisa sobre a mudança climática dos últimos anos - uma conversa que só ouvia de vez em quando na tv, quando estava em casa cozinhando e ligava o aparelho para não me sentir tão só - algo que não sei nada à respeito.

Os habitantes foram avisados com um dia de antecedência, várias vezes. Por dever - eu sou uma policial - ajudei a esvaziar a cidade que não era muito grande. A regra era simples: mantenha a calma. Tome o controle. Ajude as pessoas a se manterem calmas. Saiam o mais rápido possível. Num período de vinte e quatro horas evacuamos grande parte da população. Algumas pessoas se recusaram a sair - era sempre assim, os teimosos ou pré-potentes que acreditavam poder lidar com aquilo. O que pudemos fazer? Nada. O tempo investido em insistência seria um precioso tempo perdido, um tempo que deveria ser usado na orientação de outras pessoas. Então, não insistimos muito.

Vinte quatro horas.

Crianças acordadas no meio da noite. Cães latindo, pessoas gritando coisas apressadas uma para as outras. Caos. Acidentes nas estradas - não fatais. Pressa, pressa, pressa.

Uma noite em claro tentando acalmar a população. Fizemos o máximo que conseguimos, mas no final da tarde, onde supostamente deveríamos ter algumas horas a mais pela frente, aconteceu.

Tudo o que consegui pensar foram nas pessoas: Frankie, meu irmão caçula. Angela, uma enfermeira que conheci alguns anos atrás, quando fui baleada pela primeira vez, realmente irritante e inegavelmente gentil. Korsak, sargento da unidade em que eu trabalhava, meu melhor amigo, um homem honesto e sensato. Tommy, amigo de infância de Frankie, tão aventureiro que chegava a ser quase irresponsável.

A neve caía furiosamente quando Korsak, na porta da delegacia, gritou para mim: 'Jane, é agora ou nunca!'

Apressada, juntei meu casaco e me dirigi para a porta.

'Vamos pegar Frankie, Tommy, e Deus queira que Angela já tenha partido. Mas quero conferir.'

'Não temos muito tempo restante!' Ele disse pressionando. É claro que não tínhamos.

'Então é melhor você pisar no acelerador, meu velho.' Eu gritei por cima do carro antes de me enfiar lá dentro.

Recolhemos meu irmão e Tommy primeiro. Angela vivia duas quadras de onde eu morava agora, mas não encontramos ninguém lá. Eu fiz uma oração silenciosa. Pedi para que ela tivesse partido com a última ambulância - os doentes dos hospital foram removidos também.

Rumamos ao norte, a saída principal da cidade. A única saída da cidade. Não poderíamos ir de encontro à tempestade, então a saída norte seria. Estavam todos quietos no carro, observando o progresso lento da viagem, tensos com a possibilidade de... bem, do que quer que pudesse nos acontecer. Até que finalmente vimos luzes vermelhas piscando e um fio de esperança teceu-se na minha mente. Olhei para Korsak que estava dirigindo e me atrevi a sorrir. Talvez estivéssemos nos aproximando da ultima frota de carros. Talvez não estivéssemos sozinhos, afinal de contas. Tavelz eu não teria notado que a luz vermelha - da ambulância - não estava se movendo adiante se, poucos segundos depois, uma explosão não surgisse metros à frente.

Talvez, eu pensei naquele mesmo momento enquanto via o fogo se destacar no branco infinito à minha frente, eu não sobreviva.


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