Eu sempre fui uma garota simples, mesmo que mimada demais pelos meus pais. Eu era filha única. Meus pais eram filhos únicos. Então já sabe, todo mundo era bem mimado. Eu não tinha tios e nem primos, o que me deixava triste sendo a única criança na família.

Mas com o tempo eu acostumei.

Aos 19 anos fui pra Nova Iorque. Cidade grande. Big dreams. Era incrível, aqueles prédios enormes, as buzinas por todos os lados, gente andando apressadamente e sem poder te dar uma informação se quer. Sim, eu fiquei perdida no meu primeiro dia. Tive que dormir na estação do metrô, até encontrar alguém que me pudesse dar ajuda.

Meu celular? Eu… Não tinha. Sempre fui contra essas tecnologias. Adoro meu toca discos, os meus vinis, porta retratos. Tenho até uma câmera Polaroid.

Os anos passaram, conheci muita gente legal e divertida. Eu tava feliz. Mas ainda sentia que um enorme vazio me consumia por dentro. O que era, eu não sabia. Passei por cinco psicólogos diferentes, ninguém me deu uma resposta concreta.

- É só depressão. Um comprimido desses por dia e vai ficar ótima. - Era ridículo. Eu não queria comprimidos, queria respostas!

Então, numa tarde de sol, estava num cafeteria perto do meu apartamento, lendo jornal enquanto bebia chá. Haviam varias oportunidades de emprego. Acho que era isso, precisava de um emprego novo. Bob era um péssimo patrão. Ele me chamava pra sair, e isso me irritava muito.

- Posso me sentar aqui? Prometo que não incomodo. - Era uma voz masculina. Mas não tinha prestado atenção, dei de ombros e continuei com minha leitura. Era um jornal inteiro de anúncios de vagas, mas nada me atraia.

- Acho que vou ter que continuar no meu emprego mesmo. - Disse abaixando o jornal e finalmente vendo o rosto do cara. Ele me sorria, conforme a luz do sol batia na minha cara, deixando tudo preto. - Como eu odeio a luz do sol! - Disse me escondendo por debaixo do jornal.

- O sol é bom. Só precisa ser apreciado do jeito certo.

- Não existe jeito certo pra apreciar o sol! - Disse me levantando, com o jornal ainda na minha cabeça.

- Haha. Você é bem engraçada. - Disse ele, tirando o jornal da minha cabeça. - O sol já se foi. Pode ficar tranquila agora.

- Obrigada. - Peguei o jornal, meu copo de chá e me levantei, saindo da cafeteria. - Como essas pessoas gostam de se intrometer na vida dos outros.

- Concordo, garota. - Dizia uma moça negra, corpulenta e que sofria com o sol tanto quanto eu, que estava parada ao meu lado. Estava atravessando a rua, quando senti alguem me puxar pelo braço. Era ele.

- Qual o seu problema?! - Disse, me escondendo do sol, novamente, com a ajuda do jornal.

- Eu… Desculpa, mas é que… Ahm… Esse jornal é meu. Você estava sentada na minha mesa, lendo o meu jornal.

- Ah. Isso explica o porque de um jornal tão grande estar em cima de uma cadeira numa cafeteria lotada. É… Não sei o que dizer. Desculpa?

- Me chamo Adam. - Foi embaraçoso, mas foi assim que a gente se conheceu.