Estamos andando lado a lado até chegarmos ao andar onde Kelly e Michael estavam com Renny. Ele está do jeito que me lembrava, tirando pelas roupas, que não eram mais de hospital, agora era uma blusa xadrez azul, jaqueta, calça escura e tênis, e pelos olhos, que agora estavam castanho avermelhados. Chegamos do lado deles.

–Gente, esse daqui é o Ren. Ele é legal e também vai ficar com a gente a partir de agora.

–Oi. Eu sou Renny Hierro, de Porto Velho, antigo Brasil, 14 anos, novato. - A voz dele ainda é muito baixinha, mas até que dá para ouvir.

–E aí, cara, firmeza? Eu sou o Spartan, de Toronto, antigo Canadá, 19 anos, e daqui a um mês, veterano. Toca aê - Ele levantou a mão, e ao contrário do que eu achava, Ren conseguiu levantar a dele e bateu na de Spartan.

–Sou Angela Malva di Venetia, ou melhor, Angel, de Roma, antiga Itália, 15 anos, veterana.

–E eu Clarissa Hans, ou Clare, de Doncaster, antiga Inglaterra, 16 anos, novata. - As duas o cumprimentaram.

–Prazer em conhecer.

As duas se afastaram e foi minha vez de me apresentar. Agora que estava mais perto, percebi que suas pupilas dilatavam, voltavam ao tamanho normal e diminuíam, além de se moverem rapidamente.

–Eu sou Helen Monteiro, de Niterói, antigo Brasil, 14 anos, novata.

–Helen… Então foi você que traduziu o que aquele médico falou antes de colocarem o tradutor em mim?

–Sim. - Ele ainda se lembra do meu nome? Mas que memória boa!

–Muito obrigado! Acho que se não fosse você lá, eu teria morrido sem entender o que ele estava propondo. - Ele me deu um aperto de mãos.

–Que isso. Também não é pra tanto!

–Na verdade, é sim. Temos pouquíssimas pessoas da améria latina, áfrica e ásia. Foram continentes que em sua maioria, não aguentaram tanto os ataques. - Kelly explicou.

–Mas Portugal também fala português, e fica na Europa. - Questionou Angel.

–E quantas pessoas de lá você conhece? - Spartan perguntou.

–Nenhuma.

–Então não fica se fazendo de sabichona o tempo todo.

Antes que Angel retrucasse, começou uma grande gritaria, e nós chegamos perto da grade para ver o que era. Muitas pessoas se aglomeravam lá no primeiro andar, com cartazes, e levantando as mãos para o alto, enquanto gritavam. Nunca havia visto algo assim em toda minha vida, aquelas pessoas pareciam tão cheias de vida e determinadas.

–O que é isso?

–Um protesto, reconheceria de longe. - Angel respondeu.

–E o que é um protesto?

–É quando várias pessoas se unem para lutar pela mesma causa.

–Por que haveria um protesto aqui dentro? A gente já não luta por um mesmo direito?

–Sim, mas… Como posso explicar?

–O seu professor já falou alguma coisa sobre a guerra fria?

–Ele comentou uma vez que o mundo havia passado por uma segunda guerra fria, mas não disse o que era isso daí não.

–Bem, basicamente, foi uma briga entre as duas maiores potências da época, onde cada uma tinha um sistema político econômico diferente, e buscavam países para se aliarem a eles, resumindo tudo. Mas, em 2775, quando começou a Idade Revolucionária, a potência Russa e a potência do Oriente Médio se juntaram, e recrutaram países como Índia e Coreia do Norte. O Estados Unidos ficou desconfiado dessa união repentina, e enviaram intensificaram a espionagem naquela região, até descobrirem um plano secreto para formar uma nação mundial única, juntando as forças bélicas dos dois. Quase nada havia acontecido entre os anos 2020 e 2770, além da criação e união dessas duas potências, já que a maioria dos países estava passando por várias crises internas muito pesadas, davam pouca atenção para os outros, apesar de terem vários avanços tecnológicos nesse tempo. Em 2780, a informação do plano da Rússia e do Oriente Médio vazou por vingança de um hacker, que havia sido expulso do sistema de espionagem norte americano, após descobrirem ser da Armênia, nação que era aliada da Rússia. Como as crises estavam se esgotando e a atenção dos países sobre um ao outro estava recomeçando, as pessoas estavam com essa novidade a flor da pele, e queriam manifestar sua opnião sobre tudo. Mas, com isso, as máscaras caem para todos, pois os países que estavam na área de influência da União Europeia e do EUA, inclusive o Brasil de vocês, haviam sido proibidos de permitirem feriados, finais de semana, ou férias, descobriram que no resto do mundo eles ainda existiam, e o Japão e todos os seus aliados haviam também acabado de formar um novo tipo de método de ensino, que são os tipos de escola que a gente conhece, politicante, empresariante, e escritoriante, além do horário de recolher. Para acalmar a situação, os líderes de todos os países foram chamados para uma assembleia, onde decidiram juntar as coisas que o povo desses países estavam reclamando, se não tinha um lugar melhor para se espelhar, esperavam que se conformassem, mas isso não aconteceu. Os ataques rebeldes ganhavam cada vez mais destaques, e esse foi o final da segunda guerra fria, pois em seguida, a Área russa e a Área média decidiram seguir com o plano original deles, principalmente agora que o mundo tinha comandos iguais, iria ficar mais fácil, e formou-se assim a terceira guerra mundial. Bombardeios, ataques nucleares, e tudo mais aconteceram no mundo todo, ONU, UNESCO, e outras organizações foram fechadas, e os rebeldes não paravam, até 2890, onde houve um recolhimento geral dos meios de comunicação, para que as pessoas não vissem o que estava acontecendo mundo afora, e como os países também acabaram, as cidades, metrópoles e megalópoles foram se fechando, como se estivessem se transformando em nações próprias, até formar o mundo que conhecemos hoje. Como a base foi fundada principalmente pelas pessoas da Groenlândia, que era um país meio alheio no momento, formou um padrão de sociedade novo, que é esse em que vivemos até hoje aqui dentro. Mas, esses caras querem mudar a forma politico econômica daqui. E também tem aqueles reclamando do mercado negro, ou então que já está mais do que na hora de tentarmos algo mais brusco para recrutamento para passar logo para a próxima parte, que é reconquistar o mundo.

–Ah. Mas que bela aula de história, ein?

–Pois é, né? Me empolguei.

–Ei, que horas são?

–15:10 - Michael olhou no relógio de pulso.

–Essa não! Preciso ir para a aula de luta corporal! Tchau, gente!

–Tem certeza? Ainda há tempo de desinscrever!

–Não, tá tudo bem! Até mais! - Depois disso, corri para a sala de luta corporal.

Quando abri a porta, algumas pessoas pararam o que estavam fazendo e me encararam, mas logo depois voltaram a seus afazeres. Fui até o último saco de pancadas e peguei luvas de luta, como a que os outros também estavam vestindo, e me sentei. Uns dois minutos depois, Wave chegou, e todos os alunos pararam de conversar e fizeram posição de continência ao lado de seus sacos de pancada, então fiz o mesmo.

–Podem começar o aquecimento. Daqui 5 minutos vamos para a aula normal.

Quando disse isso, alguns pegaram cordas e começaram a pulá-las, outros faziam flexões e abdominais. Resolvi então fazer a primeira opção. Peguei a corda que estava atrás de mim e comecei a pular. Foi quando ele me encarou, cuspiu a água que estava tomando no chão e chegou perto de mim:

–O que você está fazendo aqui?

–Ué, você não disse que precisava aprender a me defender? Concordo plenamente com você. Vim aqui aprender isso.

Ele franze a testa e põe a mão no rosto:

–Está bem, pode ficar em minha aula. Mas, nem pense em molengar, ou desafiar a mim ou a qualquer outra pessoa aqui, por que eu não estarei mais tão a fim de te defender.

Abaixo um pouco minhas sobrancelhas, tentando não demonstrar meu nervosismo.

–Nunca faria isso.

–Ótimo.

Wave volta para onde estava, pega uma capsula, que parece ser de um daqueles comprimidos que estava escondendo no casaco ontem, respirou fundo, e engoliu.

Passei o resto da aula aprendendo socos no saco de pancada. Acho que já sei dar um gancho. Mas provavelmente só acho mesmo.