Anti Sociedade - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 19
Mais Sacrifícios São Necessários


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo! A história já está acabando, mais um ou dois capítulos no máximo, e talvez um epílogo. Leiam as notas finais. Vai ser bem importante! Ah, e ontem foi meu aniversário, então hoje teve uma saída especial. Por isso o capítulo só está sendo postado agora.
Boa leitura!



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–Quinto round seguido! – Lola comemora quando eu mais uma vez caio de cara no chão. Dessa vez meu nariz sangra. – Acho que já chega de humilhar esse frangote, né? Está até me dando vontade de depenar galinhas.

Simplesmente não posso deixar que ela me vença assim tão fácil numa luta! Afinal, eu sou importante para a resistência rebelde ou não sou? Limpo o sangue que escorre pelas minhas narinas com o braço e me levanto, esperando estar com cara de ameaçador.

Um novo gancho na minha lateral, combinado com um soco no estômago é o suficiente para me fazer cair de novo. Tudo bem. Confesso que talvez seja melhor parar a luta. E parece que Spartan também, pois está esticando o braço para me dar uma bandeirinha branca. Apesar do sorriso de deboche dele, aceito-a e a levanto antes que minha adversária possa me atacar mais.

–Esse aí foi insistente, mas não deu nem para começar! Quero o próximo!

Ren e Joseph entram no ringue para tentar me ajudar a levantar e o Spartan do lado de fora, faz o favor de pelo menos posicionar onde que vou descer, depois de ficar rindo desde que a luta começou.

–Michael, que ideia foi essa de encarar a Lola? Deveria ter parado no máximo no terceiro round. – Joseph está com cara de que quer me dar um tapa, mas ao mesmo tempo deve estar achar que os que recebi foram o suficiente.

–Por mim do primeiro não passava. Me fez perder dinheiro na aposta, espero que esteja feliz com isso. – Ren tem o tom meio brincadeira, meio desanimado. Se é que isso é possível.

–E eu, então? Apostei que iria desistir antes mesmo da luta começar. – Spartan fecha o círculo de comédia com minha cara com chave de ouro. Fazer piada com os outros é engraçado, mas quando é com você, não tem.

–Ora, o que posso fazer se o boxe não se iguala ao que minha incrível performance pode fazer? – Digo convencido enquanto tiro as luvas de boxe e coloco de volta numa caixa ao lado do ringue.

–Nem o jiu-jitsu, nem o caratê, ou o judô, ou luta livre, ou taekwondo, e muito menos o muay thai.

–Muito obrigado por me lembrar, Joseph. – Acho que meu tom de ironia saiu um pouco abafado ao meio da risada dos outros. Mas, apesar de tudo, acho que ele não falou isso com essa intenção.

Nesse momento, eles param de rir para ouvir o juiz anunciando que agora quem lutaria com a Lola é o Wave.

–Caramba! Essa luta eu não perderia por nada! – E parece que não é só o Spartan que não a deixaria passar em vão. Várias pessoas saem de onde estavam para ver a luta.

– Bem, depois disso tudo, acho que estou meio alérgico a luta. Vou aproveitar que os tiros ao alvo estão vazios.

–Quer que eu vá com você, Michael? Talvez eu possa fazer o milagre de tornar sua mira menos fracassada que sua luta.

–Apesar desse comentário, vou aceitar a sua proposta, Ren. Estou tão cansado que vou precisar de alguém para segurar meu braço enquanto atiro.

–Enquanto isso, Joseph e eu vamos ficar aqui torrando nosso dinheiro. – Antes de nos afastarmos um pouco, consigo ouvir a conversa dos dois. – Então, Joseph, quem você acha que vai ganhar, que eu aposto nele.

–Então, e acho que a fisionomia do Wave tende a ter maiores proporções de vitória sobre a Lola, mas por outro lado... – Ficar do lado de alguém inteligente para ganhar dinheiro é algo muito feio, Spartan. Tomara que dessa vez ele esteja errado.

Estamos no telhado da base. No mesmo lugar que comemoramos o aniversário de Helen ano passado. É uma das poucas vezes que o céu corresponde a hora de verdade, 17 horas, porque está parcialmente nublado, mas graças a um material que reveste o vidro, por mais sol que faça, nunca ficaríamos torrados.

Já que as salas de luta corporal e tiro ao alvo foram transformadas em celas, mandaram montar tudo o necessário para o treinamento aqui em cima. Coitados, pensando que iremos lutar a favor deles... De qualquer forma, tem vários centros de lutas específicas, sacos de pancadas espalhados e área separada para tiro com armas de fogo, de longo alcance sem ser de fogo, e de curta distância, que é para onde estamos indo. Durante o caminho até acenamos para as meninas, que estão massacrando um manequim com um punhal. Quem diria que elas poderiam ser tão sanguinárias... Agora que eu percebi, a Nádia e o Parker são os únicos que não estão aqui. Me pergunto onde eles se enfiaram dessa vez.

Ren me dá várias dicas de como utilizar aquelas armas. Principalmente por causa dele tenho melhorado bastante nesses dois dias que treinamos, levando em consideração que eu quase nunca havia tocado numa dessas antes. Mas, ele é tão bom em mira e para ensinar, que logo algumas pessoas roubam o meu professor para si mesmas. Fico por um tempo treinando sozinho, até que Kelly aparece.

–Deixa eu adivinhar. Está atirando tão bem assim porque está fingindo que a figura de pessoa é um dos líderes?

–Talvez... – Nós dois sorrimos com minha resposta.

–Vim falar com você sobre o “Minhoquinha”. Sério mesmo que há necessidade com esse apelido logo agora?

–O que posso fazer se você parece uma? É magrela, mole e tem um cabeção.

–E você, então? Vou começar a te chamar de Vareta de Salto a Distância, já que é fino e longo que nem uma.

Antes que pudesse responder esse novo apelido com um comentário maravilhoso sobre alguma coisa dela, ouço o barulho da porta abrindo lá atrás. Ao me virar, vejo que foi o líder Zaire Khumalo quem entrou.

–Com licença. – Quem não havia se virado para eles antes, se virou agora. – Queria a atenção de todos para dizer que podem treinar só mais um pouco, mas daqui cerca de uma hora, iremos começar a apagar a memória dos rebeldes, já que o apagador de memória ficou pronto mais cedo do que prevíamos. Até daqui a pouco. – E ele sai pelo mesmo caminho por onde entrou.

Dá para ver nitidamente a expressão de pânico na cara da Kelly. Até eu estou com o coração na mão. Nós ainda tínhamos uma noite inteira para acabar de treinar, mas agora só temos no máximo uma hora. Na verdade menos, para pôr o plano em ação, teríamos que iniciá-lo um pouco antes da hora marcada. Mais ou menos... agora. Estamos todos esperando para ver qual ser a ordem da Kelly. Depois de alguns instantes, ela pega um rádio do cinto dela e aperta o botão para falar:

–Raja, você está pronta para mexer no computador?

A resposta veio abafada para mim, mas deu para destacar um pouco que ela disse que não e mais alguma coisa. Kelly aperta novamente o botão e diz:

–Tudo bem, mas vai lá pegar o arquivo correndo.

Após o mandamento da Kelly, dá para ver a Raja correndo para fora da sala. Com certeza, indo pegar o tal arquivo que não está com ela.

Kelly se vira para a gente e declara:

–Enquanto ela vai pegar o vírus, precisamos que alguém fique vigiando o corredor para ver se alguém aparece. Quem se habilita?

–Eu vou. – Ren prontamente se oferece, atrás de mim.

–Não, Ren. Você é o melhor de todos em tiro aqui. Precisa se certificar quanto às armas. Mais alguém.

–Eu! – Levanto minha mão, após ver que ninguém mais quer fazer o trabalho. Se não conseguir fazer a parte de batalhar direito, pelo menos terei servido para alguma coisa.

–Ok. Todo mundo, vai se preparando, pois daqui a pouco a mágica começa! – Ela avisa ao pessoal. - Venha comigo, Michael! – Ela sai correndo para fora da sala e faz sinal para que eu a siga.

Nós saímos às pressas, e paramos no final da escada.

–É o seguinte: Eu vou preparando o computador central, enquanto você vai vigiar para ver se alguém vai passar e estragar o plano, entendeu? – Ela sussurra perto do meu ouvido.

–Sim. Pode contar comigo.

Ela se vira e vai embora, na direção do computador, e eu fico sozinho.

Aqui em cima não tem guardas, pois teoricamente não era para ter rebeldes. Ando de um lado para o outro no corredor, a procura de alguém, enquanto assobio. Só para disfarçar, sabe como é. Mas, também por parte, por eu estar nervoso. Está para acontecer um grande acontecimento da história, e eu estou fazendo parte dele. Isso é legal e ao mesmo tempo me intimida. Isso é estranho vindo de mim, mas acontece que já fiz tanta besteira, que tenho a sensação de que só vou fazer mais. Como o que vai acontecer agora.

Nessa minha vistoria, passo pela ala do escritório dos líderes. Não teria nada demais para atrair minha atenção, se não fosse aquela porta entre aberta do escritório da Geovanna Moore. É a única que não parece estar trancada, e que há vozes saindo de dentro. Como já estou ficando um mestre da espionagem, acho que não tem muito problema dar uma olhada pela fresta.

Ao contrário da simplicidade do escritório de Édson, o de Moore é bem “pomposo”. O chão é recoberto de carpete vermelho – que ninguém usa mais há muito tempo – e as janelas sustentam cortinas da mesma cor, com fios amarelo bem forte, dando a impressão de serem feitos de ouro – Mas, detalhe: Se não estivessem penduradas nos cantos da janela, teria certeza de que é um tapete. Não sou um gênio como Angel ou Raja, mas dá para ver daqui que os móveis são feitos de mogno. As paredes são encobertas de quadros, com fotos antigas e mais recentes, mas só uma para cada pessoa, e estão montadas como se fosse uma árvore genealógica. Realmente, a última foto é da Geovanna e as duas primeiras daqueles caras, David e Scarlett. Ela está sentada atrás de sua mesa de trabalho, com o Parker e a Nádia na frente. O que já é muito estranho, o fato deles dois terem faltado o treinamento para vir para cá.

–Então, vamos finalmente ao assunto. Eu quis ver vocês para lhes fazer uma proposta. – Apesar da voz séria, a líder carrega um sorriso no rosto.

Parker e Nádia não falam ou se movem em suas cadeiras. Moore balança os dedos por cima da mesa, com muito cuidado para não arranhar o móvel.

–Talvez tenham ouvido falar do meu jeito com crianças. Eu adoro essas criaturinhas fofas, e quanto mais eu puder as salvar de um péssimo destino, melhor. O meu sonho é ter um filho, porém, além de não amar ninguém assim, já fiz exames e descobri que sou infértil. – Ela faz uma pausa e dá uma fungada. Na minha opinião, pareceu mais de resfriado do que te tristeza. - Então, a minha única saída é adotar. Normalmente eu escolheria crianças menores, bem no começo da vida mesmo. Só que, bem, desde que vocês chegaram e foram perguntar para mim onde é que se inscrevia para a aula de ciências políticas, eu me impressionei. Vejo em vocês dois bons traços para líderes. Chamei-os para saber se querem esquecer aqueles pais incompreensíveis que tinham e me chamarem de mãe. O que acham disso.

Os dois se entreolham e parecem concordar com o que irão fazer. Se esses caras aceitarem, eu os enforco depois. Eles teriam que contar todo nosso plano para ela, provavelmente. Colocariam tudo a perder. Eles dão as mãos e o Parker diz:

–Nós também gostamos bastante da senhora, e aceitamos sermos seus filhos.

A mulher dá um grande sorriso, e eu um grande lamento internamente.

–Mas, antes, tem uma coisa que nós temos que te contar. É sobre a Kelly e os novos... – Essa não! Ela vai mesmo contar sobre nós!

Inconscientemente dou um pequeno gemido de surpresa, e os três olhas para a porta. Sinto os olhos deles sobre os meus, mas não tenho certeza se estão me vendo. Quando a Geovanna se levanta desconfiada e vem na minha direção, não me restam mais dúvidas. Saio correndo para a direção de onde vim.

No meio da correria olho para trás, mas antes de poder assimilar qualquer coisa, esbarro em alguém e caio no chão. Quando olho para cima, vejo que é a Kelly. Ela estende a mão para me ajudar a levantar.

–Onde é que você estava? Acabei de liberar a sala, mas a Raja ainda não voltou. – O tom de preocupação dela aumentou ainda mais. Dá para ver que ela se empenha para a proteção do pessoal, mas agora não é hora de reparar nessas coisas.

–A Nádia estava prestes a contar para a Moore sobre a gente, mas aí ela me ouviu e agora deve estar atrás de mim!

–O quê? Do que você está falando, Michael?

–Aí está ele. – A voz da líder ressoa atrás de mim, e quando me viro vejo que é ainda pior. Ela chamou os outros líderes para verem. – Ele estava me espionando. E a Nádia contou que ele na verdade é um rebelde disfarçado.

–O quê? – Solto sem querer. Na verdade não estou surpreso por ela ter contado que sou rebelde, mas sim por ter falado só de mim.

O olhar de Senhor Tanaka vai de mim para Kelly.

–E parece que sua filha está envolvida nisso, Murray.

Édson o encara zangado e passa para o lado de Kelly.

–Besteira. Minha filha não tem nada com isso. Só está no lugar errado na hora errada.

A Kelly e eu olhamos de um para o outro, e de nós mesmos para os líderes. Não podemos simplesmente sair, então temos que esperar o que vai acontecer.

–Então prove. – Zhaire tira de sua bainha uma faca, a coloca no chão e a chuta para a Kelly, que a pega, ainda meio confusa. – Se livre de seu colega, garota. Ou não consegue?

Kelly e eu entramos em choque. Nós entendemos o que ele quis dizer com isso. Quer que ela me mate para provar que ainda é leal a eles. Provavelmente estou com cara de cachorro abandonado na chuva, e ela está com medo vívido em suas feições.

–Não há necessidade disso, Zhaire. – Dá-lhe, Nerida! – Olha de quem ela é filha. Ele pode ir para a solitária com aquela mãe e o filho para ser executado em Casablanca também. – Retiro o que disse. Fica quieta, mulher!

–Exatamente por ser filha de quem é precisamos comprovar. – Zhaire continua encarando nós dois. – Então, você está com ele, ou conosco?

Nesse momento, a cara de Édson é suplicante Kelly olha para Zhaire, depois para o pai, encara a faca, e depois vira o rosto para mim. Aguardo silenciosamente a escolha dela. Qualquer uma que ela faça vai dar ruim, pelo menos para mim. Não há o que fazer. Ela pisca, e vejo que está tentando conter algumas lágrimas.

–Desculpa, Michael. É para o bem de todos. – Ela sussurra enquanto rapidamente me imobiliza com o joelho, prendendo meus braços atrás de mim. Já que não consigo lutar nada, não tenho chance alguma de me defender. Ela encosta a ponta da faca no meu pescoço e completa no meu ouvido: - Adeus, Varetinha.

Ela finaliza o golpe passando a lâmina da faca por todo o meu pescoço, e eu me engasgo com o sangue. Meu peso recai sobre Kelly, e ela tem que me colocar deitado no chão. Não consigo mais respondê-la, ou fazer qualquer outra coisa. Até mesmo minha visão começa a ficar turva. Helen saberia se defender aqui. Ela era muito boa com esse tipo de luta. Pelo menos agora vou para o mesmo lugar que ela, então minha amiga pode me dar umas aulinhas para eu não fazer feio de novo.


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Notas finais do capítulo

Novamente, a história será passada para a visão de outro personagem. Michael como narrador não durou muito, mas esse é o ciclo da vida de um personagem. Nasce da imaginação, deixa uma marca na história, e é morto. Espero que possam deixar passar mais uma vez um narrador morto na história.
Até a próxima, :)!



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