Anti Sociedade - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 14
Uma possível nova chance.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Adiantada, trago agora capítulos mais rápido, pois minha família me convenceu a entrar para um concurso, cujo melhor original será publicado. Me desejem sorte, :3!
E, a partir de agora, os capítulos serão narrados pelo... MICHAEL!
Boa leitura!



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Os olhos de minha amiga encaram o vazio, e refletem a luz do sol. Seu rosto se torna inexpressivo e sua pele fica fria. Levanto o rosto para o Spartan, que está medindo seu pulso, e ele confirma, balançando a cabeça positivamente. Helen está morta.

Não sei bem ao certo o que fazer. Ela era minha amiga, e a vi ser morta na minha frente, sem dó ou piedade, por uma pessoa da qual confiava há poucas horas atrás. É uma sensação da qual gostaria que ninguém sentisse.

Meus olhos percorrem todo o perímetro. Os rebeldes ao fundo, estão sendo dispersos pelos guardas, do outro lado, os líderes estão esperando Édson Murray – É impressão minha, ou ele está segurando lágrimas? - puxar Helen e Raja para longe de nós. A gente ainda está em choque. Apesar de estarmos em um lugar fechado, com pessoas armadas contra nós, não achei que isso fosse acontecer. No fundo, ainda confiava que a Kelly poderia convencer o pai a não fazer isso. Força do costume.

Sinto duas mãos me pegarem pelo braço, e percebo que estamos sendo levados de volta a nossa cela. Viro o rosto para trás, e apesar do homem que está me carregando ser largo, consigo ver de raspão umas pessoas com roupas especiais colocando o corpo da Helen em uma maca. Não importa o quão próximo você era ou não da vítima, ver alguém morrendo é desconcertante.

Todos os rebeldes já estão de volta em suas celas, menos a gente. O que está carregando a Clare abre a porta da nossa e a coloca dentro, mas os que carregam os outros e eu não param.

–Moço, o nosso lugar é ali também. – Aviso, com a ponta do dedo para a porta.

–Amigos só podem ficar juntos durante as refeições. Regras de superiores. – O homem responde. “Ótimo, mais uma coisa para nos atrasar.” – Penso.

Sou deixado na cela do lado. Se não fosse a localização, não reconheceria a aula de artes sem os cavaletes ou os quadros alegres dos alunos. Os rebeldes olham espantados para mim, quando sou praticamente jogado para dentro, mas depois voltam a contemplar o nada. Me sento em um canto e fico pensando na vida. Se eu pudesse voltar no tempo e avisar a todos o que iria acontecer com a base, com toda a certeza, faria isso sem pensar duas vezes na consequência. Em meio aos meus devaneios, só percebo que Wave senta ao meu lado quando o mesmo tosse.

Não faço a menor ideia do que ele quer. O rapaz é desiquilibrado e sempre nos afasta, com a exceção dos rivais e da Helen, por causa das aulas.

–Algum problema? – Pergunto como quem não quer nada.

–E você ainda pergunta. – Ele responde amargamente, quase cuspindo. – Fomos traídos, presos, e o caramba, e você ainda pergunta se tenho algum problema.

–Esqueceu de seus problemas mentais. – Acrescento baixo.

–Esqueci do que!? – Ele vira-se raivosamente para mim. Parece que não foi tão baixo assim. – Venho me abrir para alguém que não gosto, e sou esculachado antes mesmo de falar. – Ele se levanta e me olha de cima, muito irritado.

–Wave, não estou com paciência para te ouvir reclamar. Se não percebeu, também estou muito bolado com isso! – Respondo quase gritando, e me ponho de pé. Para minha incrível sorte, o cara mede 2 cm à mais que eu, me deixando na desvantagem.

Wave segura minha camisa pela gola e me puxa para cima, o suficiente para meus pés não tocarem mais o chão. Tento soltar a mão dele de mim, mas é em vão.

–Eu vim falar da Helen, sua amiga, pela qual deveria estar pagando luto. – Percebo que alguns rebeldes nos encaram. – De certa forma, também fui culpado pelo que aconteceu. Vi que o plano ia falhar, mas deixei para ver do que ela era capaz. Com certeza alguém entre nós, rebeldes, ia morrer. Talvez fosse até eu quem matasse, mas não esperava que a menina fosse tão avoada a ponto de cometer um deslize tão grande, mesmo depois de tudo que a ensinei.

–Então é isso!? Está com raiva porque uma aluna esqueceu da lição e vem tirar satisfação com um amigo dela!? – Contra ataco, mesmo sabendo que se a situação fugir do controle, ele venceria. – Estou nem um pouco surpreso por isso ter vindo de você!

–Não é esse o problema, imbecil! – Wave me segura contra a parede, e é possível perceber um desconforto em seu rosto. – O problema é... – Ele não completa a frase. Começa a tossir descontroladamente e cai para trás, me puxando junto pela camisa. Ao cair no chão, eu acabo parando deitado em cima dele, e alguns guardas chegam.

–Então, vocês estavam lutando, não é? – O homem retira o olhar do Wave, que está desacordado, e o passa para mim. – Você de novo!? Não acha que está causando problemas demais por hoje? Terei que novamente te mudar de cela! – Ele me segura pelo braço, e com a outra mão disponível, pega um rádio do cinto, aperta um botão e fala com o objeto praticamente colado na boca dele: - Por favor, um médico na antiga sala de artes.

Dito isso, o homem tranca a cela e me leva até a penúltima, onde antigamente era a aula de fotografia, só que sem câmeras ou murais de foto. Provavelmente, nenhuma das salas permaneceu com o que tinha antes. Me pergunto onde eles teriam colocado todo o material das salas. O homem faz o mesmo que o último: abre a porta, me joga dentro, e depois tranca-a de novo.

Seguro as duas mãos na grade e me ajoelho. Isso não poderia estar acontecendo. Até agora, tenho esperança que seja só um pesadelo, e que irei acordar. Mas, são essas desilusões, como a morte de Helen, a traição de Kelly, ou a briga com Wave, que me fazem perceber que estou vivendo a mais pura realidade. Minha mente não conseguiria fabricar essas barbaridades.

Vejo uma mão com o canto do olho. Tento olhar o máximo que consigo por entre as grades, e consigo ver o Parker fazendo o mesmo. Ele está sorrindo para mim. Com um olhar triste, mas está com um sorriso de piedade. Me esforço para passar meu braço pela grade e fazer com que minha mão toque na dele, e permaneçamos de mãos dadas. Tento sorrir de volta para ele, apesar de que provavelmente não estar com uma cara muito boa. Parker contribui, dando uma pequena piscadela, demonstrando que percebe meu desconforto.

E são esses momentos que me fazem perceber que ainda vale a pena viver outras desilusões, se encontrarei esses lapsos de felicidade no caminho.

...

Algum tempo depois de ter mergulhado em meus próprios pensamentos, ouço um barulhinho vindo da cela ao lado, e o Parker larga minha mão abruptamente. Levo um susto, e rapidamente me levanto e tento olhar pelas grades. Não consigo ver ninguém dentro da cela.

–Parker. Você está aí? – Cochicho, para que nenhum guarda suspeite. – Parker!

Não obtenho respostas. Isso tudo está ficando cada vez mais esquisito. Me volto para a minha cela, me apoiando na grande. As pessoas aqui não parecem ter ouvido nada. Estão o mais normal que conseguem estar. Algumas conversam cabisbaixas, outras cantarolam músicas, tenho até a impressão de ter visto alguém marcando a parede com a unha aquelas marcas que os presidiários faziam para contar o dias. Procuro com os olhos algum conhecido, mas, tirando um rapaz com quem sai uma vez, não vejo mais ninguém.

Chuto o ar, frustrado. Parker deve ter apenas se cansado de tanto ficar com o braço para fora.

Se passa mais uns minutos, quando vejo uma parte da parede se abrir. Esfrego uma mão nos meus olhos, achando se tratar de algo de minha imaginação, mas percebo que outros rebeldes também parecem perceber. Por um momento, a solução mais sólida que arranjo é que estamos tendo uma alucinação múltipla causada pelo stress, mas depois vejo que isso seria muito difícil. É nessas horas que você mais deseja alguém como Angel do seu lado, achando um absurdo que você pense uma bobagem dessas e te explicando o correto que nem uma enciclopédia.

Ando até mais ou menos o meio da sala, junto com outros, tão curiosos quanto eu. Me preocupo por uns instantes com a possibilidade de um guarda nos ver, mas nenhum deles parece observar de verdade dentro das salas.

O que quer que esteja empurrando a parede está com dificuldade. Dá para ouvir o esforço da pessoa ou coisa pressionando contra o concreto. Felizmente, não é tão alto, se fosse os guardas viriam aqui e nos tirariam da sala, ou algo do tipo. Finalmente, uma pequena porta toma forma, e é totalmente aberta. De lá de dentro, a Raja aparece.

“Não é a Angel, mas serve.” – Foi o meu primeiro pensamento, depois me lembrei da situação. “Espera. Ela está do lado dos governantes. O que está fazendo aqui?”

–Olá. – Ela diz baixinho. – Sou a Raja. Talvez vocês tenham me visto com os líderes, mas juro que estou aqui para ajuda-los. – Ela olha para cada um de nós, e quando o rosto passa por mim, acena. Balanço minha mão de volta. – Preciso de alguém daqui que os represente. Se der certo, todos os rebeldes poderão reconquistar a base! – Ela anuncia, e antes que o pessoal fale qualquer coisa, avisa: - Mas falem baixo! Não posso ser descoberta.

Nos reunimos em um círculo fechado.

–Será que podemos confiar nela? – Uma mulher com metade do cabelo loiro, e outra metade escura pergunta para o grupo.

–Eu creio que devemos ter muito cuidado. A vi com os outros guardas mais cedo. – Um homem idoso expõe sua opinião.

–Acho que deveríamos dar uma chance para ela. – Um moço com topete e cheio de espinhas diz. – Afinal, pior que a manifestação fracassada de ainda a pouco, não pode ficar.

–Mas, então quem mandaríamos para lá? – Pergunto.

–Que tal você? – Uma mulher com uma criança no colo sugere.

–Eu? – Fico surpreso com a convocação.

–É mesmo. Você é amigo daqueles que fizeram o plano da super coleta de rebeldes de ontem. Deve se sair tão bem quanto eles. – Uma senhora idosa responde minha dúvida, o resto concorda com a cabeça.

Respiro fundo.

–Está bem. Então eu vou. – Afirmo e me viro na direção da Raja, sem antes ouvir dois meninos sussurrarem “E também ninguém por aqui sentirá a volta dele se não voltar.”. Ignoro o comentário, e a risadinha que o amigo do garoto deu em seguida. – Vamos lá, Raja.

Ela deu um meio sorriso para mim, e fez um gesto com a mão para que eu a seguisse. Primeiramente, achei que o espaço seria apertado, mas quando me abaixo para entrar, percebo que é como uma caverna, dá até para ficar em pé. Quando estou completamente dentro, Raja fecha a porta, dessa vez sem a mesma dificuldade que teve para abri-la.

Nós andamos um pouco em silêncio, até que ela o quebra:

–Sinto muito pela morte da Helen. – Ela me olha tristemente.

–Não foi você que a matou. – A lembrança do tiro de Édson volta com tudo na minha cabeça. – Mas, se estiver me levando para uma emboscada, não lembrarei que era minha amiga.

Raja tem uma expressão de arrependimento e desconforto. Já não sei mais o que se passa na cabeça dessas pessoas. Por que tudo aqui tem que ser tão complicado?

–Vocês não deveriam ter feito aquele protesto. Estava tudo indo nos conformes. Não podemos fazer nada quanto ao que já foi, mas podemos impedir futuros acontecimentos. Se nos deixarem explicar todo o plano, entenderão nosso lado. – Ela fez uma pausa. – Não me considera mais sua amiga?

Essa pergunta me pegou desprevenido.

–Acharia difícil de te considerar, depois de descobrir que estava do lado dos governantes, e nunca ter nem deixado implícito que algo assim poderia acontecer.

As bochechas dela coram, provavelmente de vergonha.

–E para o bem de vocês. Daqui a pouco, irá entender. – Raja tenta se recompor, e olha para mim. – É estranho te ver sem sorriso.

–Eu estaria sorrindo agora, se não tivesse desse jeito. – Dou mais uma vez um toco nela, a deixando cada vez mais sem jeito. Me arrependo dessa último, pois parece realmente que o que vai mostrar, irá nos tirar dessa situação. – Desculpa. Estou nervoso com tudo isso.

–Todos estamos. – Ela diz, dessa vez imparcial.

Andamos mais um pouco, até chegarmos, segundo os meu cálculos, onde seria o subterrâneo. O teto é baixo, tendo agora que me curvar para andar. O novo espaço é pequeno na vertical, e médio na horizontal. O único lugar que parece ter um teto um pouco mais alto é um pouco a frente, o que parece ser uma espécie de palanque.

–Se sente, daqui a pouco iremos falar. – Raja me orienta e vai para trás do palanque.

Vejo meus amigos um pouco mais para o canto, e sento ao lado deles.

–Oi, gente. Também foram escolhidos pelos rebeldes de suas celas? – Pergunto enquanto me sento ao lado deles.

–Ah, oi Michael. Com você também usaram a mesma desculpa de “próximo a Ren e Helen”? – Clare pergunta. Faço que sim.

–Até Wave e Jou estão aqui por desculpas semelhantes. – Ren comenta, apontando para os dois, que estão umas 3 fileiras de distância, colados no palanque. Aqui deve ter uma pessoa para cada cela.

–Parece que estão com medo de vir para cá, ou algo assim. – Angel fala.

–Não os culpo. Também fiquei com medo quando me sugeriram, por ficar do lado de vocês por um tempo considerável. – Nádia conta, um pouco aborrecida.

As conversas são interrompidas por um som de apito de cima do palanque, e quando vejo, a pessoa que pede nossa atenção é uma das que fiquei mais decepcionado por ver ao lado dos governantes.

Kelly está lá em cima, com um apito na mão, próximo a boca, e com um olhar determinado.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acham que eles estão tramando? E a narração do Michael?
Nos vemos no próximo capítulo!
Até a próxima, ;)!



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