*Narrativa em Primeira Pessoa*

Tive um sonho estranho. Sonhava que um certo elfo loiro cantava algo para mim, mas eu não conseguia entender o que ele dizia, mas... A sensação era boa e quente no meu coração. Eu me sentia feliz de ouvi-lo. Até que um homem aparecia cantando uma música mais alta e forte, ele era alguém que eu conhecia, alguém que eu achava que estava morto… Minha atenção era desviada de Legolas. O elfo tentava me chamar de volta, mas sua voz não passava de um sussurro levado pelo vento...

_Peregrina? Acorde, vamos.

Senti algo sacudindo gentilmente meu corpo. Que inferno. Quem eu preciso matar para poder dormir mais?! Resmunguei algo e me virei. A voz insistente continuou.

_Preciso pegar você no colo para que possa acordar?

Através da neblina do sono na qual eu me encontrava me lembrei de já ter ouvido aquela frase... Aquela voz... Legolas!

Levantei a cabeça de supetão e bati minha testa contra a maldita testa do elfo. Nós dois exclamamos de dor.

_Qual o seu problema?! Não pode acordar suavemente como qualquer outra garota? -Enquanto massageava a minha própria testa vi que Legolas fazia o mesmo. Bem feito.

_Eu não sou igual a qualquer garota! -Pronto, já vamos começar com uma briga matinal. _E isso não teria acontecido se não estivesse em cima de mim, seu tarado!

_Eu não estava em cima de você! Só estava fazendo um favor e a acordando já que parecia estar desmaiada de tão profundamente que dormia e eu não sou um tarado!

_É sim! Eu não me esqueci do que você disse no lago!

Aragorn se aproximou de nós dois para por fim a briga. Devo dizer que ele tem a mania irritante de parar todas as brigas do grupo.

_Tarado? Quem é tarado? -Gimli logo veio atrás para ver o que estava acontecendo. Ótimo. Agora o circo esta armado e tem plateia.

_Ele! Esse elfo idiota! -Não pensei duas vezes antes de apontar o dedo para Legolas e contar para Aragorn e Gimli o que ele tinha me dito no lago.

_Como assim? -Pude ver que Gimli segurava seu machado com mais força.

_Ele tentou tirar a minha roupa e disse que gostaria de me ver nua! -Ok, não foi bem assim, mas eu adorei ver a cara de terror que Legolas fez quando eu contei isso. Claro, depois ele me fuzilou com os olhos, mas não liguei. Ele que fique irritadinho.

_Ah, Legolas... Isso não se faz, meu amigo. -Aragorn suspirou e balançou a cabeça com decepção para seu amigo elfo.

_Seu maldito! Como ousa fazer isso com uma dama?! Vou te ensinar uma lição! -Tive a satisfação de ver Gimli erguendo seu machado e tentando acertar Legolas, mas o idiota tinha movimentos e rapidez élfica então pode desviar do golpe facilmente.

_Não foi nada disso! Eu não fiz nada! Foi só um mal entendido! -Aragorn olhou bem para o rosto de Legolas e pareceu acreditar nele. Merda.

_Gimli, meu amigo, abaixe seu machado. Legolas diz a verdade.

Ao que parece a palavra de Aragorn era lei, porque o anão abaixou mesmo seu machado, saiu resmungando e foi senta-se perto dos hobbits.

_Bom, tenho que admitir que Aragorn tem algo que nos faz segui-lo. Ele só precisa cortar melhor esse cabelo...

Quando acabo de falar é que percebo os olhares curiosos de Legolas e Aragorn sobre mim.

_Não tenho muito tempo para cuidar do cabelo, Peregrina.

Ah, não... Eu estava perdida em pensamentos e acabei falando em voz alta! Eu simplesmente odeio a minha mania de pensar em voz alta! Tentei consertar o que tinha dito, mas só gaguejei. Ainda podia ouvir Legolas rindo do que eu disse.

_Elfo, fique quieto, você não pode rir de nada, você tem cabelo de mulher. -Com isso a risada de Legolas morreu e deu lugar a uma carranca, mas agora quem ria era Aragorn enquanto se afastava de nós. Bom, pelo menos ele não ficou com raiva de mim...

_Se já estão com energia para conversas e brincadeiras, então vamos seguir viagem! Vamos, de pé! -Gandalf falava tudo isso enquanto fazia gestos para nos levantarmos. Observei que ele parecia de bom humor.

Já ia me levantado quando fui interrompida pelo elfo. Ele olhava intensamente para mim e não pude evitar fazer o mesmo com ele. Aqueles olhos azuis sempre me prendiam, não importava qual situação.

_O que você disse não foi verdade. Eu não tentei tirar sua roupa, mas se você quiser eu posso transformar essa mentira em verdade...

Legolas declarou isso enquanto se aproximava de mim. Seu belo rosto estava a poucos centímetros do meu. Aquele céu azul dos seus olhos me fitavam com... Desejo? Não sei, só sei que minha respiração ficou presa na garganta, senti minhas pernas bambas e um curioso formigamento no meu baixo ventre. Uma parte de mim, uma parte bem pequena, devo dizer, queria dar um soco na cara dele por dizer esse tipo de coisa pra mim, mas... A maior parte do meu ser queria que ele cumprisse sua declaração.

Eu não imaginava que Legolas podia ter um lado assim, um lado mais ousado... Talvez nem ele mesmo soubesse desse seu lado.

Mas como eu não sabia o que fazer ou responder, apenas fiquei olhando de volta com toda intensidade que eu tinha e vi Legolas passando a língua entre os lábios, os deixando úmidos, preparados. Meu coração disparou. Acho que posso estar tendo uma taquicardia ou enfartando de vez. Tanto faz. Eu não me importava com mais nada.

_Legolas! Peregrina! Vamos! -Sam gritou nos chamando e ambos demos um pulo de susto. Meus olhos estavam arregalados e minha respiração um pouco falha. E posso dizer que Legolas não se encontrava em um estado melhor que o meu.

O elfo se levantou rapidamente e me ofereceu sua mão para me levantar. Recusei sua mão prontamente e me levantei sozinha, segui andando para perto do grupo que já começava a se mover. Não olhei para trás. Não queria olhar para ele. Não queria me perder naqueles olhos. Mais do que isso, não queria pensar no que tinha acontecido.

Não, não vou pensar em nada disso. Se concentre, Peregrina. Você tem uma missão! Ajudar a destruir o Um Anel! Só isso importa. Pelo resto do dia ignorei Legolas.

Então andamos, andamos, andamos e para variar um pouco, andamos mais. Eu não tinha muitos problemas com aquela rotina de acordar cedo, caminhar o dia inteiro e só parar a noite por algumas horas para dormir. Fui treinada para aguentar mais do que isso, mas o que me preocupava era os hobbits. Cada dia eu via como eles estavam mais cansados e como Frodo parecia sofre muito mais que os outros, provavelmente por influencia do Anel. Definitivamente aquela jornada não era para ser feita por hobbits... Mas às vezes o destino tem planos diferentes.

Depois de mais alguns dias de viagem, agora já fazia semanas que tínhamos saído de Valfenda, paramos ao pé de uma montanha coberta de neve para descansar. Já fazia dias que eu não falava direito com Legolas, sempre o ignorava ou saia de perto quando ele tentava se aproximar. Mas os outros integrantes da sociedade falavam mais comigo, devo dizer que depois da clareia algo parece ter mudado e todos se sentiam mais a vontade para conversar comigo. Não era estranho eu e Frodo trocarmos ideias, eu e Gimli fazendo piadinhas de Legolas pelas suas costas ou eu e Gandalf conversando. O único que ainda não me aceitava muito bem no grupo era Boromir, ele não se aproximava muito e só falava o necessário comigo, mas pelo menos ele não me olhava como se quisesse me matar, isso já era muito.

Estávamos sentados sobre algumas pedras. Gimli e Gandalf discutiam sobre a melhor rota que devíamos tomar, não me meti na conversa, afinal não conhecia muito bem a geografia da Terra-Média. Legolas estava um pouco longe, com sua típica cara de idiota e olhando para o horizonte.

Eu preferia ficar olhando a cena de Pippin e Merry aprendendo a lutar com Boromir. Aquilo era hilário, mas também era bonito de ver como ele gostava dos pequenos.

Duvido que uma pessoa assim possa ser má... Boromir só deve estar confuso.

Até que em um determinado momento Boromir sem querer acaba cortando a mão de Pippin. Meu coração bateu mais rápido de preocupação na mesma hora, pedi que o Ar me erguesse do chão e literalmente voei até onde Pippin estava.

_Pippin?! Esta está tudo bem? Deixe-me ver esse corte! -Eu sabia que não era nada demais, mas não pude evitar a preocupação. Manter a sociedade segura era parte da minha missão.

_Me perdoe! Não tive a intenção! -Boromir vinha caminhando na direção de Pippin quando este se libertou das minhas mãos e pulou sobre Boromir, o derrubando, logo Merry fez companhia a ele e os três começaram uma lutinha de brincadeira.

Não pude deixar de rir diante daqueles três e sua brincadeira. Além de rir da minha própria preocupação à toa.

Então algo aconteceu e me pegou totalmente de surpresa. Boromir puxou minha mão de repente e eu cai para frente, acabei deixando escapar um gritinho ridículo, me preparei para levar algum golpe dele e levantei os braços em um gesto defensivo, mas ao abrir os olhos pude ver que ele sorria para os pequenos.

_Ataquem ela! -Ele mandou e Pippin e Merry pularam em cima de mim. Fui atingida por um terrível e impiedoso ataque de cócegas!

Sério, você podia me jogar de grandes alturas, ok isso.

Podia tentar me afogar, tudo bem.

Podia atirar em mim, tá tranquilo.

Podia me estrangular, sem problema.

Mas não me faça cócegas! Eu sou completamente fraca contra isso!

Eu gargalhava alto e me debatia sem conseguir parar e isso só parecia motivar os hobbits para continuar. Pippin e Merry percorriam minha barriga fazendo cócegas em todos os lugares.

_Parem! Parem! -Nem eu conseguia me levar a sério. Não existia nenhuma autoridade na minha voz.

Enquanto era atacada pelos hobbits, vi pelo canto do olho Legolas voltar correndo quando ouviu meu grito e preparar uma flecha para aceitar Boromir quando ele me puxou, mas então o elfo pareceu compreender a situação e viu que ninguém estava me machucando de fato, posso jurar que o vi suspirar com uma expressão de alívio. Devo ter visto errado.

_Chega, não queremos que Peregrina morra sem ar. -Aragorn vinha andando em nossa direção. Troquei um olhar com Merry e Pippin, nós três pulamos no guardião ao mesmo tempo e o enchemos de cócegas. Boromir estava sentado perto e ria de tudo. Todos riam.

Eu me senti... Feliz.

_Suas pestinhas! -Aragorn reclamava conosco quando finalmente tínhamos parado com a brincadeira, mas fazia isso rindo, então não tinha peso nenhum.

_Estou com fome, Merry. Essa luta me abriu o apetite.

_Qualquer coisa o abre o apetite, mestre Pippin! -Boromir exclamou isso e todos riram. De repente percebi que partilhava gargalhadas com Boromir. Olhei curiosa para ele e quando ele viu meu olhar, desviou o rosto e voltou a sua carranca natural de quando eu estava por perto. Suspirei.

_Ora, mas é verdade! -Pippin cruzou os braços.

_Acho que tenho algo que você pode gostar, Pippin. -Eu disse isso e revirei mentalmente meu Espaço Dimensional, o mesmo Espaço onde guardava minhas armas, uma muda de roupa, alguns itens e... Achei! _Reequipar Chocolate. -Estendi minhas mãos e uma barra de chocolate apareceu.

_O que é isso? -Pippin chegou mais perto de mim para olhar melhor a embalagem.

_Isso é um doce de Pandora. É uma das melhores coisas que existe no mundo! Além de dar energia e te deixar feliz! -Sério, eu amo chocolate e ainda bem que tinha algumas barras esquecidas no meu Espaço Dimensional. _Todo mundo ama chocolate em Pandora! Aqui, experimente e veja se gosta também. -Abri a embalagem e parti uma fileira para Pippin comer. Primeiro ele cheirou o pedaço e depois deu uma grande mordida. Tive a satisfação de ver seus olhos brilharem e ele suspirar de prazer ao comer. Essa é a reação que se espera de alguém que gosta de chocolate.

_Merry, experimente também. -Parti outro pedaço para ele e depois para Aragorn, que olhou desconfiado, mas no final comeu e eu sei que gostou.

Parti mais um pedaço e me virei para Boromir. Estiquei minha mão e ofereci timidamente. Já quase esperava um grito ou xingamento, mas ele aceitou o chocolate e ainda agradeceu! Nem preciso dizer que fiquei feliz. Talvez minha relação com Boromir esteja melhorando. Mesmo que somente um pouco.

Dei chocolate para todos até só sobrou Legolas sem um pedaço. Mesmo o achando um idiota irritante, não iria negar chocolate a ninguém.

_Aqui, pegue. -Minha voz saiu mais áspera do que eu esperava, mas Legolas pegou o pedaço e deu uma pequena mordida. Será que ele tinha que ser elegante em tudo o que fazia?! Bufei irritada e ele me olhou sem entender.

_Então, gostou? -Não que eu me importasse com a opinião dele e nem nada disso...

_Sinto minha boca explodindo de sabor! Um sabor doce! Nunca comi nada assim. Tem mais? -Legolas já estendia a mão em busca de mais. Olhei para a embalagem e ainda tinha um pedaço, o meu pedaço no caso, mas eu não me importava de dá-lo para o elfo com cara de idiota. Ele tinha gostado e... Embora me recusasse a admitir, tinha ficado feliz em agrada-lo e mostrar uma coisa boa de Pandora...

Espantei esse pensamento bobo da minha mente antes que ele tomasse forma.

Não, não pense nisso, Peregrina.

_Tem mais um. Tome. -Entreguei meu pedaço a ele, mas Legolas parou e me olhou.

_Não tem mais? E você?

_Tenho mais algumas barras, mas não vou abri-las agora. De qualquer forma, não quero. Pode comer.

_Não. Esse pedaço é seu. Pode comer. -Agora Legolas que me oferecia de volta o chocolate.

_Não quero. É seu agora.

_Não. Você que vai comê-lo.

_Não vou. -Cruzei os braços e plantei os pés no chão.

_Vai sim. -Legolas parecia determinado em me fazer comer.

_Ah, é? E como pensa que vai conse... -Não tive tempo para terminar a frase porque o elfo loiro estúpido puxou e arrancou a parte de baixo da minha máscara, revelando a parte inferior do meu rosto. _Está louco?! Eu vou te mat... -Mais uma vez fui interrompida quando Legolas sem nenhum aviso enfiou um tablete do chocolate na minha boca. Não tive alternativa se não mastigar e engolir.

_Vou conseguir assim. Você pode comer sozinha ou eu te dou na boca. Você escolhe. -E lá estava aquele sorrisinho convencido que eu odeio. Como alguém pode aguentar conviver com ele? Legolas é insuportável!

_Me da isso aqui. Eu como sozinha, seu idiota. -Murmurei enquanto pegava o chocolate e comia.

Elfo idiota.

_O que é aquilo? -Sam perguntou olhando para horizonte.

_Só uma nuvem. Nada demais. -Gimli dava pouca importância ao fato. Legolas já tinha se virado para ver o que era e eu fiz o mesmo. Não era uma nuvem... Pareciam pássaros... Eu acho.

_São Crebain da Terra Parda. -Legolas gritou e todos começaram a se esconder. O que? Não entendi aquilo, como podiam ter medo de pássaros? Fiquei parada olhando os pássaros se aproximarem cada vez mais até sentir dois braços rodeando minha cintura e me puxando para baixo, fui de encontro ao corpo de alguém e essa pessoa me puxou novamente, só que deixa vez foi para debaixo de uma pedra.

_O que... ? -Tentei começar a falar, mas uma mão tapou minha boca, olhei para trás e vi que era Legolas quem me segurava junto de si. Ele se aproximou da minha orelha e sussurrou.

_Silêncio.

OK, acho que aqueles pássaros não são apenas pássaros bonzinhos. Devem ser inimigos e eu fui estúpida demais para perceber.

Pude ver quando o bando passou voando por onde estávamos nessa hora Legolas me apertou ainda mais contra seu corpo, como se quisesse diminuir o espaço que nos encontrávamos. Ele ainda tinha a mão sobre a minha boca, e como o idiota tinha arrancado uma parte da minha máscara, a mão dele estava diretamente contra a minha pele.

Então os pássaros foram embora. Talvez não tenham nos visto, mas duvidei disso. Todos ainda ficaram alguns minutos escondidos para ter certeza que estava tudo bem.

Virei novamente minha cabeça para trás, me aproximei o máximo que podia da orelha de Legolas, com isso deixando nos rostos muito perto, e sussurrei.

_Já é seguro sair? -Quando ele viu que eu queria falar, afrouxou o aperto da sua mão contra minha boca e eu pude me comunicar.

_Creio que sim. -Ele ainda mantia a mão no meu rosto e com surpresa senti Legolas roçar a ponta dos dedos suavemente pelos meus lábios... A sensação era tão boa. Suas mãos eram tão gentis, mas ainda sim firmes. Eu fechei os olhos e entreabri os lábios... Pude sentir a respiração de Legolas batendo no meu rosto.

Nossos lábios estavam tão perto um do outro...